sábado, 31 de maio de 2014

O poeta dos rochedos anónimos


Este poeta que vive no meu corpo,
este poeta que escreve nos meus seios, acaricia-me nos sonhos com tentáculos de insónia,
sussurra-me ao ouvido melodias intemporais, desenha em mim os silêncios da noite,
embriaga-se no meu corpo, e escreve, e sonha, e deseja-me...

Nunca fui desejada!

Olhava-me no espelho e via uma sombra gélida, com olhar de geada adormecida,
tinha nos meus braços o teu sorriso,
a tua boca,

Nunca fui penetrada!

Este poeta que vive no meu corpo,
habita num cubículo de areia,
chora,
e grita,
sorri, às vezes, não sorri... quando tem na mão a caneta da poesia,
veste-se de gaivota e poisa nos mastros mais secretos do rio da revolta,
chora,
e grita,
grita em mim as garras da paixão,
sou eu, sou eu... meu amor!
Seu eu que te ama,
sou eu... o poeta sem gravata, o poeta apaixonado, o poeta dos rochedos anónimos.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Maio de 2014

O abstracto


O abstracto,
quando o sorriso se transforma em chuva,
o abstracto silêncio das tuas palavras,
desfasadas,
misturadas nas pálpebras de um fio de luz,

O abstracto meu corpo, laminado pelas garras do amor,
o sítio negro do teu peito,
o cofre das tuas flores de papel,
o abstracto mar que corre no teu abdómen,
como neblina sobre o rio da saudade,

O abstracto...
o dia morre,
o relógio nocturno das tuas coxas..., abstractas, mergulham em mim como a âncora de madeira cansada,
e tudo parece adormecer em nós...
a cidade, a rua onde existe um quiosque de algodão e arde,

O abstracto facalhão que traveste a solidão em paixão,
a ressaca do esqueleto em módicas trinta e seis prestações,
o abstracto corpo sem alicerces,
dançando na copa da árvore das tuas tristes lágrimas...
e um barco entra em ti,

Vives no abstracto espelho,
suspenso nas gaivotas cinzentas das searas envenenadas,
uma fotografia diz-me que tu deixaste de ser menina,
hoje és uma pedra, abstracta e sem nome,
que desce a montanha do meu olhar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Maio de 2014

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Silêncio vulcânico


Do teu silêncio vulcânico,
pequenos milímetros de saudade,
pedacinhos de beijos suspensos nas andorinhas,
estrelas há, mas um cortinado opaco ofuscam o teu olhar...
sereno,
uma sentinela fuma vagarosamente o seu cigarro de sombras alcalinas,
e tu, tu pertencente ao círculo trigonométrico, embrulhas-te no cosseno do desejo,
havendo sobre ti alguns sobejantes sorrisos de Luar,

Ou...
talvez, ou talvez não pertenças tu às noites sonolentas das camas de veludo,
do teu silêncio...
as gargalhadas dos telhados cabelos que voam sobre a cidade,

A musicalidade das tuas pálpebras quando se escancara uma janela de acesso ao mar,
o barco do sémen encalhado nas tuas coxas de vidro,
uma jarra de hortênsias envergonhada, suicida-se,
e no pavimento da inocências alguns pingos de espuma do colorido amanhecer,
do teu...
… o silêncio vulcânico insemina-se e cresce sobre os teus seios de Primavera,
louca,
a sanzala saltita entre charcos e os desnudos pássaros com sabor a viagem...

Ou...
talvez, ou talvez pertenças tu a um sonho impossível,
semeada no jardim da solidão...
ou... ou do teu silêncio vulcânico... acordem as cinzas da madrugada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 30 de Maio de 2014

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Texto de Francisco Luís Fontinha - CONCURSO – EU TENHO UM SONHO... - PAPEL D`ARROZ


Braços de Luar...


Dizem-me que o teu corpo era de porcelana,
um amontoado de cacos, pedaços sem coração,
procuro..., procuro, procuro...
não os encontro na cama,
não os encontro nos telhados de zinco da sanzala envenenada,
e no entanto,
amo-os,
amo-os como se fossem uma jarra com dois braços de Luar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 29 de Maio de 2014

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Hei-de encontrar-te...


Hei-de encontrar-te
nas masmorras cinzentas do sonho
esquecer-me das noites em solidão
e voar sobre os cadáveres desgovernados das tuas mãos de pano
hei-te encontrar-te
no círculo mais secreto do teu corpo
disfarçada de nuvem
ou... ou vestida de neblina
hei-de encontrar-te
no rio da insónia com cabelos de nenúfar
na cama clandestina da madrugada
ou no sofá com lençóis de pergaminho desejo,

Sentir que há vida na tua boca
perceber que há flores nos teus seios doirados
sentir a água louca
descendo as tuas coxas que alicerçam soldados
sentir o beijo efeminado com perfume de menina
saltar as giestas cansadas da montanha assassina...

Hei-de... hei-de encontrar-te
nas masmorras cinzentas do sonho
galgar as sombras escadas dos edifícios amarelos
ou
ou esperar... esperar que tenhas vida
que sejas a manhã em construção
a estrela do amanhecer
hei-de encontrar-te
no vão do medo
como se fosses a mulher planeta da constelação do amor
encontrar-te
hei-de... hei-de encontrar-te no silêncio do teu orgasmo.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 28 de Maio de 2014

terça-feira, 27 de maio de 2014

A luta solitária


(para ti...
que estás a lutar)

Pega na tua arma
só tu o poderás vencer
não tenhas medo da dor
de partir
não tenhas medo de morrer
pega na tua arma
só tu o poderás vencer...
… e no final... e no final sorrir.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 27 de Maio de 2014

segunda-feira, 26 de maio de 2014

marinheiro naufragado


acordar sobre o titânio amanhecer
pegar nas tuas mãos de andorinha selvagem
agarrar o mar
se possível
esconder o mar na tua algibeira de cartão

sentir os teus braços no rio que corre dentro de mim
acariciar todas as rosas das tuas pálpebras de marinheiro naufragado
descansar sobre o teu peito
beijar-te
simplesmente beijar-te... gaivota adormecer.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 26 de Maio de 2014

domingo, 25 de maio de 2014

Noite de tempestade


Dentro de ti, as palavras que oiço,
as frases incompreendidas depois de poisarem nas tuas ténues mãos de areia,
os sítios proibidos,
a montanha escondida nas tuas pálpebras,
dentro de ti, o silêncio,
a ansiedade de partires...
o rio que desce pelo teu corpo até se entranhar nos alicerces da cidade,
a mesma cidade que te absorveu numa noite de tempestade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Maio de 2014

sábado, 24 de maio de 2014

Folha esquecida


Sentia-me aconchegado nos teus braços,
regressava a noite ao teu olhar,
e percebia que no meu corpo habitavam beijos de insónia,
lençóis de porcelana entranhavam-se nas tuas pálpebras de luar,
sentia-me envergonhado,
triste...
sentia-me aconchegado,
como se tu fosses um cobertor recheado de poesia,

Um livro não lido,
uma folha esquecida sob a mesa-de-cabeceira,
uma ribeira,

Sentia-me aconchegado nos teus braços,
adormecia,
e... e sonhava,
ouvia,
ouvia os pássaros,
escrevia,
escrevia nas tuas coxas as palavras proibidas,
as palavras... sentidas,

Um livro não lido,
uma folha esquecida sob a mesa-de-cabeceira,
uma ribeira,

O mar,
o mar quando se escondia nos teus seios de Primavera,
acordava o marinheiro sem pátria,
havia uma bandeira,
uma... uma casa que voava,
sentia-me aconchegado... nos teus braços,
os alicerces de uma cidade inventada,
em papel, uma casa do tamanho dos teus lábios...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Maio de 2014

poemas de morrer


morte
viagem sem regresso
destino
bilhete
desamarrar as cordas da saudade
voar
e partir...
a morte das palavras
escritas numa lápide de lágrimas
morte
quando o corpo cessa de escrever
e nos olhos de quem parte... nascem poemas com nome de “morrer”.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Maio de 2014

sexta-feira, 23 de maio de 2014

há um dia apelidado de “FIM”

foto de: A&M ART and Photos

há um dia apelidado de “FIM”
um dia sem esqueleto
um dia esquecido nas esplanadas da cidade sem nome
há um dia com silêncios disfarçados de melodia
um dia poético
um dia procurando palavras
no teu resgatado olhar
há um dia apelidado...
com medo e cansado
há um dia laminado
que nas tuas mãos inventa baloiços
e meninos sorridentes,

há um dia
um dia “filho da puta”
um dia que te levará sem destino
um dia... um dia apelidado de “FIM”,

há um dia eternamente recordado
um dia feio
um dia desamado
há um dia que o teu corpo vai vacilar
desistir
um dia com janelas e pálpebras de mar
há um dia que será a noite
há as lágrimas do sofrimento
que nesse dia
o dia cessa de caminhar
pára
STOP...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Maio de 2014

quinta-feira, 22 de maio de 2014

triste borboleta

foto de: A&M ART and Photos

sou uma triste borboleta
cansada de voar
um rio que deixou de correr para o mar
o barco
uma pedra a chorar
sou uma triste borboleta
com olhos de insónia
com asas de papel
com mãos de amónia
uma triste borboleta
eu sou
como as madrugadas de mel...

sou uma triste borboleta
em busca do Inverno
e desce a noite aos teus cabelos
e acorda o maldito Inferno
e deixo de viver
e deixo de habitar
os teus olhos sem palavras de escrever
sem as palavras de sofrer...
uma triste borboleta
cansada de voar
cansada de amar...
nas manhãs da manhã ensonada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 22 de Maio de 2014

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Os teus olhos

foto de: A&M ART and Photos

Os teus olhos no espelho que poisa no meu rosto,
do cansaço adormecido das palavras anónimas,
tu, meu amor, sussurras-me baixinho que serei eternamente tua,
acredito,
acredito que há no teu jardim rosas envergonhadas,
acredito,
acredito que os olhos que habitam no meu espelho,
um dia serão as minhas estrelas vadias,

Os teus olhos que dormem nos meus lençóis,
sós,
a aldeia escapa-se entre os dedos da tristeza...
e acredito...

Ofereço-te o meu corpo embrulhado em poemas de miséria,
eternamente tua, eternamente... ausente de ti,
regresso ao espelho e descubro os teus braços na sombra dos meus seios,
afago os teus cabelos enquanto a noite se veste de menina desajeitada,
de menina... de menina de uma outra cidade,
ofereço-te o meu corpo como se eu fosse a tua flor preferida,
a árvore sob a qual te deitavas quando se inventavam em ti os sargaços da manhã,
e partiam os barcos para o luar como pássaros em busca dos filhos em voos infinitos,

Os teus olhos que dormem e sonham nos meus lençóis,
tão distante, tu, homem sem local para aportares...
ofereci-te os meus abraços,
e tu,
e tu fingiste não ouvir,
disseste-me que o cais serve apenas para a partida,
e partiste,
sem regressar nunca,

Como as palavras,
depois de extinta a fogueira da paixão,
ouvia o silêncio dos teus livros...
e nada mais tenho a acrescentar a ti e de ti,

Os teus olhos que nunca me pertenceram,
os teus olhos que brincavam nas minhas coxas antes de eu levitar em direcção aos sonhos,
cerravas-os e partias como uma tempestade de areia...
a ti e de ti,
as conversas inacabadas,
as palavras não escritas, e não ditas,
os teus olhos, os teus malditos olhos que iluminavam um cubículo de papel...
e tinham tentáculos que conseguiam beijar o mar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 21 de Maio de 2014

Texto de Francisco Luís Fontinha – Divulga Escritor


terça-feira, 20 de maio de 2014

Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?

foto de: A&M ART and Photos

Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?
Enrolas-te em mim disfarçado de cobra, alicerças-te aos meus frágeis braços,
e,
navegas no meu ventre como uma caravela sem destino...
entranhas-te em mim e dizes-me que o teu nome é Primavera...
Primavera... finjo nem perceber,
cerro os olhos e sinto as tuas mãos de desejo laminado nos meus seios,
pergunto-te porquê... pergunto-te porquê eu, pergaminho de olhos verdes?

E a cada momento meu o teu corpo descongela,
ficamos apenas uma finíssima pedra de amor...
descendo a montanha da paixão,

Quem és?
Eterno nocturno com sabor a escuridão,
marinheiro perfumado que te enfaixas nas minhas coxas de areia,
e sinto... e sinto os meus gemidos no espelho dos teus olhos,

Ai... meu querido amor!
A paciência minha depois dos teus gritos de prazer,
depois de adormecerem as gaivotas no Tejo,
e tu,
tu sais de mim,
e tu...
e tu desapareces na neblina que engole a escadaria do prédio onde habitamos,
foges,

sem destino,
e eu, e eu como uma folha amarrotada nos dedos de um cinzeiro de prata,

Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?
Que oiço os teus cabelos no peitoril enquanto saboreias o teu último cigarro,
que oiço o bater do teu coração enquanto poisas a tua cabeça no meu peito...
e pareces-me uma rua sem janelas numa cidade sem telhado,
uma casa sem varanda,
uma casa... uma casa enfeitada com sombras e pássaros,
uma casa como tu,
uma casa onde me abraças e me dou conta que apenas te pertenço...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 20 de Maio de 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A manhã antes de acordar


Tínhamos dentro de nós
uma finíssima película de espuma
éramos dois espantalhos semeados no centro do trigo
sentados
olhávamos o espigueiro da preguiça
cansado
ao sol
deitado entre as ripas da solidão,

Tínhamos um punhado de desejo
e sentíamos as faces do vento nas nossas mãos de esmeralda
os diamantes iluminavam os teus olhos de sereia madrugada,

Tão louca
a noite
quando adormece no teu ventre,

Colocava os meus dedos nos teus cabelos
voavam como um colorido papagaio em papel doirado
ouvíamos as lágrimas do rio
que depois do luar... acorrentava barcos e marinheiros famintos
e tínhamos
e sentíamos...
o quê?
beijos transversais nas vidraças do poema,

Tínhamos...
… e era tão louca
a manhã antes de acordar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 19 de Maio de 2014

domingo, 18 de maio de 2014

A menina das palavras


Das palavras que me obrigas a escrever
oiço-as em teu dedos pincelados nos pérfidos desejos
reescrevo-as
e desenho-as no teu corpo mergulhado na amarrotada pele de seda
das palavras que me obrigas...
escrevo-as
dito-as
e finjo estar acordado,

Sei que as tuas tristes sílabas vagueiam no meu peito
como sementes esquecidas no vento
sei que nos teus lábios habitam agulhas de algodão
que servem para afugentarem as minhas palavras,

Das palavras que me obrigas a escrever
elas se acorrentam aos meus braços
fazes de mim um prisioneiro vadio
ou uma árvore sem coração
correndo sob a neblina do teu olhar
delas
apenas o perfume do néon que a cidade engole,

Mulher prisão
mulher inseminada das minhas tristes palavras
mulher de negro
mulher... mulher paixão,

Das palavras minhas que que obrigas a escrever
faço-o apenas porque os meus dedos deambulam no nocturno Oceano
escrevo-as
apago-as
afogo-as como mágoas
as palavras
as palavras que me obrigas a escrever
eu as escrevo para te silenciar...

Há mendigos palavras
homens enlatados descendo a avenida
há as minhas malditas palavras...
delas e elas... as palavras sem comida,

Uma duas três tristes palavras
uma duas três quatro... quatro vogais descendo as tuas coxas de iodo
uma janela peneirenta
e uma porta de entra roxa
e há uma varanda onde tu lês as minhas tristes palavras
aquelas que me obrigas a escrever
a vomitar sobre as páginas de um rosto em sofrimento
das palavras que me obrigas a escrever,

Há palavras obrigadas a viver
dentro de mim
e por ti...
por ti menina das palavras...

Há palavras que eu não quero escrever
há escrever sem palavras que recuso ler
há a menina das palavras
com correntes em aço
palavras prisioneiras
palavras amaldiçoadas
palavras que o púbis da caligrafia
semeia no corpo da menina das palavras.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio de 2014

Os círculos do desejo


Redefino-te entre os círculos do desejo
percebo das pálpebras do Oceano que o teu corpo flui na equação da recta
há nos teus seios de oiro uma velha parábola
que voa
e dorme
nas tuas mãos embrulhadas na curva de Agnesi,

És matemática que o homem acaricia
docemente
e resolve as equações de ti,

Redefino-te e sinto na tua boca o regresso do amor
sento-me em frente ao mar
e espero que cresça a noite
desenho na areia do prazer os lençóis onde adormeces
e absorvo-te na peugada estrelar das camélias em flor
e sei que habitam em ti todos os esconderijos da montanha...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio de 2014

sábado, 17 de maio de 2014

beijo feitiço


há um beijo feitiço nos teus lábios de saudade
há uma flor adormecida em tuas mãos
a penumbra manhã quando finge olhar-te
e desiste
há um biombo de ânfora perdido nas tuas pálpebras
e o beijo feitiço
voa como as palavras do poeta
nos seios de uma folha amarrotada,

há um beijo feitiço numa boca inventada
há uma menina traquina
há uma menina apaixonada...

há um beijo feitiço disfarçado de madrugada
estrelas em papel aprisionadas na mão da menina traquina...
há uma casa sobre uma árvore
com o nome de paixão
há um beijo
há um despedaçado coração
no feitiço
do beijo desejado.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014
(ao som do Planeta3)

tentáculos da saudade


sentei-me sob as lágrimas de ti
e fiz-me marinheiro do amor
corri
ouvi...
e escrevi
todos os sorrisos da tua flor,

voei nos teus cabelos de solidão
desenhei-te poemas sem sentido
fui um transatlântico anão
oceano nocturno dentro do teu coração
sou um homem esquecido na tua mão
sou um pequeno cortinado de veludo no vento perdido,

sentei-me sob as lágrimas de ti
e hoje pareço uma rua sem saída habitante de uma triste cidade
vivi
e senti
(os cansaços que o xisto absorve depois das miudinhas gotículas do desejo)
e vi...
o regresso da saudade.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014

falsos sorrisos


vendem-se falsos sorrisos
conquistam-se corações de espuma
que se embrulham em impregnados livros com sabor a solidão
escrevem-se falsas palavras
no corpo da insónia

desenham-se círculos nos seios da madrugada
choram as meninas do amanhecer
há rosas envenenadas
há rosas com vontade de morrer...
vendem-se falsos rios e falsas caravelas

vendem-se cidades de vidro
com ruas de porcelana
e corpos de nada
e corpos... e corpos de néon marinheiro
nos seios da madrugada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014

sexta-feira, 16 de maio de 2014

amanheceres triangulares


dizem-me os teus olhos
pequeníssimos lençóis de solidão
fios de seda em desejo coração
manhãs adormecidas e sem poiso
dizem-me os teus olhos
que há madrugadas quadriculadas
e amanheceres triangulares
dizem-me...
quando oiço o teu enfeitado sorriso brincando na calçada
e uma criança abandonada
aprisiona o teu olhar e me diz...
o que dizem os teus olhos.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 16 de Maio de 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

equação sem solução


o olmo cansaço do teu peito
há em ti a penumbra escuridão
sinto-te e sei que não pertences às coisas físicas
talvez não passes de uma equação
tão pobre
e sem solução


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 15 de Maio de 2014

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O medo inventa-se em mim


O medo inventa-se em mim,
cresce,
e sorri,
o medo aprisiona-me como aprisiona o paquete mergulhado em nuvens de dor...
o medo é assim,
o medo inventa-se,
e,
e espera pelo regresso da noite para adormecer no meu corpo,

Hoje, hoje não sinto a falta de um abraço,
um beijo,
ou... ou de uma simples carícia,

Hoje, hoje tenho medo,
medo do regresso do medo,
medo das tempestades de areia branca,

O medo inventa-se em mim,
vive como um crustáceo nas rochas da insónia,
caminha,
corre no corredor do amanhecer,
saltita nas janelas da madrugada,
o medo inventa-se,
e... e aparece num esqueleto de vidro mendigando na cidade dos sonhos,
e hoje, hoje não um abraça, e hoje, hoje não um beijo... hoje tenho medo...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 14 de Maio de 2014

terça-feira, 13 de maio de 2014

Habitante das nuvens de algodão


Não sei quem és, habitante dos meus sonhos,
não percebo a tua insistência de viveres em mim, enquanto durmo e invento círculos com mãos de prata...
e voas como um pássaro ferido, e ardes... como uma sanzala de papel,
não sei que és,

Entras e sais,
e... e nem uma simples carícia na despedida,
não sei quem és, porque me escolheste para habitar,
e entras,
e... e sais,
e sais sem me beijar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 13 de Maio de 2014

Poema de Francisco Luís Fontinha em Divulga Escritor


segunda-feira, 12 de maio de 2014

pincelados beijos


pincelados beijos
que escondem o teu sorriso
anáfora caneta sobre os teus seios de maré adormecida
aos lábios regressam os marinheiros
e todos os bandidos
pincelados beijos
do amanhecer mórbido
há ventos enfurecidos
e nocturnos corpos voando sob o silêncio da ponte de pedra...
o rio chora
o rio engorda
como uma gaivota que espera o nascer do dia...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 12 de Maio de 2014

domingo, 11 de maio de 2014

Cerejas de papel


O corpo é de espuma verde,
cintilam nela as cerejas de papel,
o corpo incendeia-se quando cresce a noite nas mãos do desejo,
e ouve-se o beijo,
deambulando nas orgias marés de Inverno,
o corpo em chamas, o corpo Inferno,
como lábios de mel...
a cidade desamarra-se do cais da liberdade,

O corpo é de espuma verde,
erva daninha nas encostas da montanha sem amanhecer,
o corpo brinca na lareira inventada dos olhos em verniz envelhecer,
o corpo ginga como uma moeda a morrer,
sei que vês os Oceanos marginais que a cidade embarca,
o corpo diminui, o corpo procura a sílaba tonta com perfume de naftalina, e há uma arca,
e há uma sombra, apenas com uma palavra e que não quero escrever...
o corpo é uma bala com nome de cidade,

A cidade a arder.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Maio de 2014

sonhos da tempestade


mergulho nos sonhos da tempestade,
depois, depois adormeço na espuma invisível do vento,
pergunto-me se existem cabelos de porcelana no teu sorriso,
dizem-me... dizem-me que o teu sorriso não me pertence,
há um exíguo cansaço no meu peito,
uma corrente de aço que me suspende ao Luar,
um constante fluxo de iões voando nas asas da gaivota madrugada,
mergulho em ti, mergulho nas tuas mãos de rosa ensonada,
mergulho no amanhecer,
sem o saber,
como um inocente corpo abandonado nas sombras da cidade,
como um esqueleto sem vontade de amar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Maio de 2014

sábado, 10 de maio de 2014

cubículo de trapos


habito num cubículo de trapos
e janelas de saudade
esta cidade é uma merda como todas as merdas que vivem em mim...
habito apenas porque me obrigam a viver sob as árvores da paixão
ruas desertas
ruas onde passeiam barcos
caravelas
e os demais corpos enrolados em estrelas de sisal

habito apenas por habitar
respiro
amo?
e fujo para o mar

habito nos sonhos que morreram na madrugada em flor
sei que me pertencem alguns dos esqueletos da insónia
sei que poderia ser rico... mas que se foda toda a riqueza

que se foda o verbo habitar
e a beleza

habito...
apito
sou um comboio sobre carris de aço
um corpo pesado e aprisionado às sanzalas de ontem
habito
apito
amo?
e fujo para o mar

e fujo da palavra... AMAR!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 10 de Maio de 2014

Candeeiros de xisto


O dia esconde-se entre os teus dedos e a sombra do veleiro com asas de papel,
do silêncio vento acordam as mangueiras de um quintal em pedaços de saudade,
e há corpos farrapos numa tela pastel,

Os teus lábios são cerejas voando sobre um Oceano de neblina,
parecem o rio quando se cansa de acordar,
os teus lábios são gritos de liberdade,
os teus lábios são os sonhos de uma menina,

O dia esconde-se nos teus dedos e há candeeiros de xisto saltitando na calçada,
sei que há palavras envergonhadas nos meus cabelos frangalhos, tristes... e velhos calendários,
o dia termina, o dia deixa de ser dia e procura a madrugada,

Há no teu olhar uma mágica fechadura com janelas de cortinado envelhecer,
uma mão poisa no teu rosto varanda onde sentado um menino,
brinca com bonecas de porcelana,
brinca... brinca com o término do dia, brinca... brinca com a imaginária cama,
e eu, eu espero que acordem os teus braços com pulseiras de amanhecer,
e tudo acaba com o toque do sino,

A aldeia cresce na montanha,
e tu desapareces como nuvens de encanto tapando o Sol poesia,
o dia,
o dia já ninguém o apanha...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 10 de Maio de 2014

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Cidade-mulher


Há uma cidade infinita onde habita o amor proibido,
há uma mulher vestida de cidade, com edifícios de cartão, com janelas e portas de entrada,
há uma rua que fica nos seios dessa mulher,
há uma varanda,
dela... o mar todos os dias avança,
corre como uma criança,
há uma cidade-mulher e proibida...
sem saber que é amada,

Há uma gaivota nos cabelos da mulher proibida,
e voa sobre a espuma fictícia das ondas em flor,
há uma cidade,
uma mulher...
e um amor,
todos... proibidos,

Há uma mão que pertence à cidade-mulher e não se cansa de acariciar o sorriso da Lua,
finge vertigens e enjoos,
transforma-se em miudinha chuva,
cai nos telhados de zinco,
ouvem-se sons melódicos e palavras poéticas,
há um homem sem cabeça que caiu em desgraça...
não come, não dorme e não sonha,
e acredita que a cidade-mulher um dia vai morrer nos lençóis do pergaminho linho,

Há uma madrugada,
tão triste... Meus Deus!
Sem estrelas, árvores ou... ou outras cidades-mulher,
há um rio encurvado no púbis da vergonha de amar... amar o que nunca poderá ser amado,
proibido,
como os cigarros que fumo às escondidas.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 9 de Maio de 2014

quinta-feira, 8 de maio de 2014

palavras dos teus olhos


não sei se vais conseguir
não sei se as minhas palavras podem ser escritas nos teus olhos
não sei se as tuas mãos são uma tela
ou um muro envergonhado...
... não sei porque queres fazer-me acreditar que há madrugadas de estanho
não sei porque há cortinados nas tuas pálpebras
negros
tão negros como a própria noite
não sei se vais conseguir...
não sei se te levantarás do imaginário sofá de trapos
tão antigo como os livros que leio
tão estranho como as palavras... as minhas palavras escritas nos teus olhos.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 8 de Maio de 2014

quarta-feira, 7 de maio de 2014

amor em trinta e três suaves prestações


despertavas como um relógio sonolento
de ponteiros afiados
cansado
despertavas em mim a claridade do dia ainda por nascer
crescias
e... e desaparecias entre as velhas folhas da árvore do sótão envergonhado
despertavas e brincavas sobre o meu peito de Oceano anónimo
dizias-me que eu era uma rua sem saída
da cidade com néons de meninas coloridas
sentia-me um náufrago procurando lençóis de linho
sentia-me um sem-abrigo correndo para a tua cama...
desaparecias e despertavas,

eu sonhava com barquinhos em papel
papagaios de pálpebras dilatadas
pensava que o Luar era o teu olhar prisioneiro na calçada dos esqueletos de vidro
e...
despertavas
e...
desaparecias
a cidade misturava-se no meu corpo
absorvia-me
e apenas alguns pedaços de mim sobejaram em Cais do Sodré...
e tinha no meu coração uma caneta de tinta permanente
pronta para escrever nos alicerces dos teus beijos,

eu voava
enquanto um dos meus cachimbos se masturbava nos meus lábios
e sentia o fumo a invadir-me
e sentia-me foragido
perdido na montanha do amor
amava
era amado
e agora não sou nada...
desaparecias
e despertavas
e eu esquecido na calçada dos esqueletos de vidro...
eu... um transatlântico sem apito na boca.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 7 de Maio de 2014

terça-feira, 6 de maio de 2014

andorinhas de Maio


perdi-me de ti enquanto voavam sobre nós as andorinhas de Maio
perdi-me de ti como se fosses uma boneca de porcelana
um fantasma esquecido na nossa cama
perdi-me de ti... perdi-me de ti quando acordava a madrugada
abriam-se as janelas do amanhecer
entrava em nós o vento agreste dos pedaços desassossegados que enfeitavam os teus desnudos ombros de árvore abandonada
perdi-me de ti como se perde uma criança na montanha
ou... ou quando morre uma gaivota vestida de palavras,

perdi-me de ti quando caminhavas entre sombras
e sons trazidos de uma Lisboa em tons de saudade
tinhas nos seios o silêncio do Tejo
e das tuas mãos
o meu esqueleto chapinhava nas rosas do jardim despovoado
havia no teu cabelo um marinheiro faminto
desgovernado...
perdi-me de ti sem perceber que existe um veleiro no meu peito,

sentado
esperava que acordassem as insignificantes lareiras do desejo
havia em ti um livro
um caderno
um... um beijo
havia em ti os lábios da noite que gritavam poesia
e eu
eu sentia... que... que me perdia de ti.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 6 de Maio de 2014

segunda-feira, 5 de maio de 2014

fim de tarde


oiço-te no cansaço da noite
escreves-me
oiço-te em pequeníssimos fios de gatafunhos com sabor a saudade
folheio o teu corpo
página por página
sinto nos dedos o odor da tua pele bronzeada pela claridade do fingido orgasmo
oiço-te
e desejávamos o silêncio dos peixes,

a caneta morre entre nós
uma réstia de tinta é semeada no teu corpo com a língua do vento
oiço-te
e sinto...
as palavras prisioneiras nos teus seios
o arame-farpado da madrugada suspenso na nossa janela
sobre ti um mar de espuma com olhos de Luar
e desejávamos o silêncio...,

a doçura dos teus lábios
escreves-me
e oiço-te,

e sinto-te sob a neblina clandestina dos marinheiros em flor
sei que existe um cais onde aportarás longínqua mulher dos sonhos
de papel crepe
voando
e oiço-te quando as escadas de acesso às tuas pálpebras
rangem
e choram
como crianças antes do fim de tarde junto ao mar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 5 de Maio de 2014

domingo, 4 de maio de 2014

casa da paixão


esta casa sem mãos
esta casa com paredes de papel
esta casa sem janelas
porta de entrada
sem música
ou... palavras,

esta casa disfarçada de corpo
o teu corpo vestido de granito
esta casa
este grito,

esta casa sem amor
nem luz
nem... nem flores
esta casa vadia
escondida nas árvores do quintal imaginário
coitada desta casa apaixonada
que sofre
que vive...
esta casa
uma casa embrulhada em poesia
esta casa sem paixão...
esta casa... uma casa sem coração.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 4 de Maio de 2014

pedaços de liberdade


não tenhas pressa de morrer
voa como os pássaros embrulhados em pedaços de liberdade
ouve a canção da madrugada
escuta as minhas palavras
pega na minha mão
vamos sonhar com o mar
não tenhas pressa em partir
viajar
porque quando descer a noite sobre ti
haverá sempre uma língua de Luar
haverá sempre um espelho com o teu sorriso...
que nunca deixará que eu te esqueça,

ouve-me
não tenhas pressa de te ausentares dos meus braços
não tenhas pressa de morrer
não
não acredites no que ouves
escuta o silêncio do amanhecer
e vamos brincar
como o fazíamos junto à Baía de Luanda
quando inventávamos barcos
e pequenos fios de luz com sabor a saudade
ouve-me
não,

não tenhas pressa de morrer
voa
voa sobre os telhados de zinco das sanzalas de porcelana
saboreia a chuva miudinha
salta sobre os charcos invisíveis do entardecer
vive
vive sem sofrer
vive... vive acreditando que ainda existem manhãs de Primavera
vive... como se fosse hoje o teu último dia
e acredita
e não tenhas pressa de morrer
… não.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 4 de Maio de 2014

sábado, 3 de maio de 2014

poema de ninguém

foto de: A&M ART and Photos

embainhas-te no meu corpo como uma bala perdida
há na tua mão a espingarda do desejo
oiço entre as sombras e os sons metálicos
pigmentos do teu olhar envidraçado na cidade do feitiço
às tuas pálpebras de pergaminho
vêm a mim as insignificantes flores da paixão
das tuas palavras
as lágrimas da solidão
sem medo
rompem a montanha das árvores de papel
há luz na cabana
e uma cama que nos espera...

(estarás vivo, meu poema de ninguém!)

há dentro de ti uma janela
um telheiro com odores de Carvalhais
um velho espigueiro aproxima-se do teu coração
e entre as frestas das ripas em madeira cansada...
os teus beijos
como nuvens de espuma
saltando
e brincando na eira
cruzo os braços
e espero o regresso do paquete teu corpo
há âncoras de sémen nas palavras da madrugada
e uma flor deita-se nos teus seios de silêncio.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 3 de Maio de 2014