oiço-te no cansaço
da noite
escreves-me
oiço-te em
pequeníssimos fios de gatafunhos com sabor a saudade
folheio o teu corpo
página por página
sinto nos dedos o
odor da tua pele bronzeada pela claridade do fingido orgasmo
oiço-te
e desejávamos o
silêncio dos peixes,
a caneta morre entre
nós
uma réstia de tinta
é semeada no teu corpo com a língua do vento
oiço-te
e sinto...
as palavras
prisioneiras nos teus seios
o arame-farpado da
madrugada suspenso na nossa janela
sobre ti um mar de
espuma com olhos de Luar
e desejávamos o
silêncio...,
a doçura dos teus
lábios
escreves-me
e oiço-te,
e sinto-te sob a
neblina clandestina dos marinheiros em flor
sei que existe um
cais onde aportarás longínqua mulher dos sonhos
de papel crepe
voando
e oiço-te quando as
escadas de acesso às tuas pálpebras
rangem
e choram
como crianças antes
do fim de tarde junto ao mar.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 5 de
Maio de 2014
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