terça-feira, julho 08, 2025

 

Os teus medos, os meus invernos, a roupa quase nua, no poço habita a sílaba manhã de uma garça

O louco senta-se sobre a pedra que se esconde na mão de uma abelha

E depois, lê

E pensa.

Apenas queria ser, o teu poema

 

Se o Herberto o quisesse, ele enlouquecia

Eu não preciso de o querer, porque já nasci louco

Porque já nasci poeta e fiz-me um tolo

Porque semeei as sementes da alvorada, num punhado de terra

Que transportava, clandestinamente, na algibeira

 

Se eu pudesse, em vez de enlouquecer

Eu preferia sentir o fio de mel que brota nos teus olhos

Eu preferia ser, o rio, que banha os teus seios

Se eu quisesse, não queria ser louco como o Herberto…

 

Apenas queria ser, o teu poema.

teus olhos, onde voo

 

Voo nos teus olhos, meu pedacinho de silêncio

cânfora manhã dos primeiros pingos de chuva

flor aliena que nas minhas mãos se ergue em direcção ao céu

terra que se esconde nas lâminas de espuma do teu corpo

teus olhos, onde voo

quando acorda o dia.

 

Voo nos teus olhos, minha pétala de insónia

meu livro de poesia, onde escondo a noite

e mergulho neste labirinto que apelidaram de vida

corpo submerso no teu corpo

e se na tua mão acordar uma flor desenhada…

isso é

(impulse),

paixão vestida de desejo.

segunda-feira, julho 07, 2025

O meu nome

 

Deram-me um nome, vestiram-me de luz

Lavaram-me com as nuvens da noite anterior

Fizeram-me o favor, e vestiram-me umas sandálias em couro, e calçaram-me

Os meus primeiros calções

 

Desse nome pouco ou nada recordo, mas tive um nome, e tive, também, uma alcunha

Vivi numa montanha de espigas, brinquei no centro de massa da última tarde deste século

Depois veio o fogo, transpirou a chuva

 

Nas suas tristes sílabas, tive um jardim em prata, tinha alcunhas, tinhas pedaços de madeira

Alguém as apelidou de sombra, e outros

Lhes chamavam de primavera

Ou até de ribeira

 

E o que resta de mim, é apenas este nome

É e só, a lágrima disfarçada de viúva-alegre, sabia-o longo que rompessem as chuvas do penúltimo relógio no último cais de embarque

Veio-se, e percebeu que todo aquele sémen era e só algumas palavras à procura de uma vírgula, sempre que acordava o senhor Alberto, na mão

 

O meu nome.

em lágrimas

 

em lágrimas, os lábios da chuva quando a branquida manhã é apenas um lençol esquecido sobre a cama,

quando à janela do teu quarto, o vento entra e assobia como uma pétala dançando ao som do destino,

como são doceis as flores do meu jardim, como são afáveis, os cabelos da minha seara,

e em lágrimas, os lábios da chuva quando a branquida manhã é apenas um lençol sobre a água de luz dos teus olhos,

 

em lágrimas.

Talvez os figos não sejam de mel

 

Talvez os figos não sejam de mel, talvez os teus lábios saibam a sal

Talvez os loucos sejam as crianças mais felizes do universo

Talvez os poetas sejam as crianças mais loucas da floresta

Talvez deus nunca tenha existido, talvez nos teus olhos não existe e nunca existiu,

No doce mar dos teus olhos,

Talvez um dia eu seja a noite, e o meu corpo

A sombra

De um embondeiro…

 

Talvez um dia eu não precise de ir trabalhar,

Um dia, a esta hora, um dia

Nos teus braços…

Do teu olhar

 Quero escrever um poema no teu corpo, meu amor

No teu corpo, meu amor, um poema de mar

Quero escrever um silêncio, nos teus lábios, meu amor

Um silêncio de amar

Meu amor, flor em luar

 

Quero desenhar no teu corpo, meu amor

A cânfora manhã do teu olhar, meu amor…

No teu olhar o salgado mar