Os teus medos, os meus
invernos, a roupa quase nua, no poço habita a sílaba manhã de uma garça
O louco senta-se sobre a
pedra que se esconde na mão de uma abelha
E depois, lê
E pensa.
poesia, pintura & quase engenharia
Se o Herberto o quisesse,
ele enlouquecia
Eu não preciso de o querer,
porque já nasci louco
Porque já nasci poeta e
fiz-me um tolo
Porque semeei as sementes
da alvorada, num punhado de terra
Que transportava,
clandestinamente, na algibeira
Se eu pudesse, em vez de enlouquecer
Eu preferia sentir o fio
de mel que brota nos teus olhos
Eu preferia ser, o rio,
que banha os teus seios
Se eu quisesse, não
queria ser louco como o Herberto…
Apenas queria ser, o teu
poema.
Voo nos teus olhos, meu
pedacinho de silêncio
cânfora manhã dos
primeiros pingos de chuva
flor aliena que nas
minhas mãos se ergue em direcção ao céu
terra que se esconde nas
lâminas de espuma do teu corpo
teus olhos, onde voo
quando acorda o dia.
Voo nos teus olhos, minha
pétala de insónia
meu livro de poesia, onde
escondo a noite
e mergulho neste
labirinto que apelidaram de vida
corpo submerso no teu
corpo
e se na tua mão acordar
uma flor desenhada…
isso é
(impulse),
paixão vestida de desejo.
Deram-me um nome,
vestiram-me de luz
Lavaram-me com as nuvens
da noite anterior
Fizeram-me o favor, e
vestiram-me umas sandálias em couro, e calçaram-me
Os meus primeiros calções
Desse nome pouco ou nada
recordo, mas tive um nome, e tive, também, uma alcunha
Vivi numa montanha de
espigas, brinquei no centro de massa da última tarde deste século
Depois veio o fogo,
transpirou a chuva
Nas suas tristes sílabas,
tive um jardim em prata, tinha alcunhas, tinhas pedaços de madeira
Alguém as apelidou de
sombra, e outros
Lhes chamavam de
primavera
Ou até de ribeira
E o que resta de mim, é
apenas este nome
É e só, a lágrima disfarçada
de viúva-alegre, sabia-o longo que rompessem as chuvas do penúltimo relógio no último
cais de embarque
Veio-se, e percebeu que
todo aquele sémen era e só algumas palavras à procura de uma vírgula, sempre
que acordava o senhor Alberto, na mão
O meu nome.
em lágrimas, os lábios da
chuva quando a branquida manhã é apenas um lençol esquecido sobre a cama,
quando à janela do teu
quarto, o vento entra e assobia como uma pétala dançando ao som do destino,
como são doceis as flores
do meu jardim, como são afáveis, os cabelos da minha seara,
e em lágrimas, os lábios
da chuva quando a branquida manhã é apenas um lençol sobre a água de luz dos
teus olhos,
em lágrimas.
Talvez os figos não sejam
de mel, talvez os teus lábios saibam a sal
Talvez os loucos sejam as
crianças mais felizes do universo
Talvez os poetas sejam as
crianças mais loucas da floresta
Talvez deus nunca tenha
existido, talvez nos teus olhos não existe e nunca existiu,
No doce mar dos teus
olhos,
Talvez um dia eu seja a
noite, e o meu corpo
A sombra
De um embondeiro…
Talvez um dia eu não
precise de ir trabalhar,
Um dia, a esta hora, um
dia
Nos teus braços…
Quero escrever um poema no teu corpo, meu amor
No teu corpo, meu amor,
um poema de mar
Quero escrever um
silêncio, nos teus lábios, meu amor
Um silêncio de amar
Meu amor, flor em luar
Quero desenhar no teu
corpo, meu amor
A cânfora manhã do teu
olhar, meu amor…