sexta-feira, 26 de julho de 2024

 

Também és sensível, também és flor

Poema

Também és amor,

Cama

Também és a madrugada

A palavra

Também és poesia

E o dia.

Também és a paixão, também és o mar…

Também és estrela

E o luar.

Também és sensível, também és o desejo

Também és a Primavera,

Beijo.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

 

Encosto o meu sexo às tuas nádegas-mar deste oceano de encanto, beijo-te o ombro, com os meus dedos, escrevo no teu sexo,

Desejo-te tanto…! A noite mergulha nos teus seios de amêndoa, as estrelas fingem silêncios,

Nos teus olhos de prazer.

 

O teu corpo é um livro, são mil páginas de gemidos, que saboreio com os meus lábios.

O barco para o Barreiro apita, e um luar de esperma vagueia no teu ventre…

É quase manhã!

quarta-feira, 24 de julho de 2024

 

Procuro-te nas águas sintéticas do silêncio, e duvido, se te encontrarei, algum dia. O sol derrete os teus seios de insónia; desenho-os e acaricio-os, imagino-te numa cama de minerais acesos, à janela do quarto, se o teu quarto tem janela, está a lívida madrugada, aos poucos, ergue-se e masturba-se contra o cortinado.

O teu corpo é um desejo de luz, à mercê dos meus dedos. O teu corpo não é o teu corpo, o teu corpo, para mim, é um sonho impossível,

Uma mão que a noite lança contra o luar, coloca-a no sexo até conseguir na fímbria de um espelho, o orgasmo.

Tu és poema. És o poema mais lindo que eu já li, no entanto, o teu corpo é uma lâmina de medo: o medo.

terça-feira, 23 de julho de 2024

 

Se eu te desejo, e a amargura da vida deixa em nós, pedras, sombras, migalhas de noite desperdiçadas, a pensar em ti, a sonhar em ti,

Em te desejar.

 

Se eu te desejo, não é por engano, por capricho, não é vaidade, desejar-te,

Se eu te desejo

É porque te amo.

 

Se eu te desejo, e os teus olhos são o silêncio de um desejo,

 

Se eu,

Te desejo.

 Nunca o meu sexo até então tinha sido acareciado por um homem,


Sexta-feira, era greve de transportes, Lisboa fervilhava, de pessoas e de carros, e tinha menos de trinta minutos para apanhar o comboio em Santa Apolónia, e mesmo correndo, nunca chegaria a tempo, chovia uma fina película de saudade, de casa, dos amigos. Na altura tinha amigos. Hoje não tenho nenhum amigo.

Comecei a correr, às vezes atravessava a avenida, feito louco, às vezes olhava para o rio e pedia-lhe um desejo. 


Um automóvel apitou, eu olhei, o vidro baixou, para onde eu ia, Santa Apolónia, ele que sim, eu entrei. Aos poucos, em soluços, o trânsito infernal, e parecíamos um caracol. De onde eu era, que era de Alijó, o que eu fazia na tropa, e percebo que o meu sexo estava a ser apalpado, juntei os joelhos, as carícias aumentavam, 


O meu sexo começou a diminuir de tamanho, comecei a transpirar, pensei em foder-lhe os cornos, eu logo que não, porque ele era militar e muito bem graduado,

E quem se fodia era o fontinha. Começo a ver ao longe Santa Apolónia, e pensei, no primeiro vermelho, abro a porta e salto,


Contra o rio.

Consigo finalmente libertar o meu sexo das garras do desejo.


Faltavam sete minutos para a partida, e ainda não tinha bilhete. A bilheteira tinha fila, consegui convencer a menina que estava a ser atendida a dar-me a vez,

Muito obrigado,

Entrei no comboio faltavam dois minutos; nesse fim-de-semana não tive uma única ereção.

Estranha, a mão do homem

Que acariciava o meu sexo.

domingo, 21 de julho de 2024

 

Belém era um cemitério de paneleiros e de prostitutos que habitavam no subsolo do desejo, que a troco de quase nada, depois guerreavam-se para ver a quem tinha pertencido o melhor broxe da noite.

Ao outro dia ainda traziam pedacinhos de migalhas de esperma do jantar do dia anterior,

E era quase sempre um BMW o vencedor.

 

Depois, apressadamente, agarravam-se à primeira puta que encontravam. Agarravam-lhes nas nádegas, enquanto elas em pé e de pernas afastadas, e de mãos encostadas à parede, já tarde, faziam a contabilidade do dia, em total indiferença…, eles, vinham-se na fimbria raiva dos sentidos e com alguns escudos no bolso.

 

Eles saíam, elas juntavam as pernas, puxavam as cuecas, puxavam de um cigarro e acabavam quase sempre nos riscos de uma prata de alumínio ou algumas vezes, num silêncio de coca.

 

Eu tinha uma namorada que se encontrava comigo sempre no final da tarde, junto ao Padrão dos Descobrimentos, dávamos a mão, sentávamo-nos junto ao Tejo e fumávamos um charro, depois acabávamos a escrever coisas num caderninho ou a lermos poesia em conjunto,

Às vezes íamos ao Casal Ventoso, e aí, quase sempre, uma alegria infinita se apoderava de mim, e fazia-me feliz,

 

E talvez seja essa a felicidade que me falta neste momento.

 

Ela deitava a cabeça no meu colo, eu afagava-lhe o cabelo, enquanto se perdia de olhares com as luzes da outra margem do Tejo. Sempre este Tejo que nos levava a procurar a primeira pensão disponível e deprimente e barata; os nossos corpos abraçavam-se num qualquer andar das redondezas, da janela recebíamos o cheiro único daquele rio poético e mítico. E éramos apenas um corpo…

 

Sem sabermos que hoje eu estaria aqui, sempre à espera de um barco, sempre, sempre à espera dos corpos mutilados por um punhado de prazer,

E hoje não sei a que mundo pertences…

E talvez seja essa a felicidade que me falta neste momento!