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terça-feira, 16 de abril de 2024

Melanoma

Escuras, frias, são as vizinhas da tempestade

Pára, escuta e avança, sobre a montanha desanimada por ter um cancro,

Um melanoma no cume mais alto, uma tragédia…

Ver todas aquelas árvores em morte aparente, caindo uma a uma sobre o chão lamacento da dignidade.

 

Pára, escuta e avança, Porto-Campanhã – Lisboa, Santa Apolónia…

E Santarém era um minúsculo ponto no meu corpo, quando eu sabia pelo calor ou pelo frio, o sentido do meu destino.

Ainda hoje recordo esse vento envergonhado, que do exterior, obedecendo à teoria da relatividade, entrava e saía, como uma abelha.

 

Escuras, são frias, as vizinhas da tempestade

Corpo que se esconde na página de uma mão, quando essa mão, pertence a Deus, e Deus, pertence-te como te pertencem as flores da Primavera.

 

Que dizer a tudo isto.

Que nada mais há a dizer.

Que são escuras, que são frias, as vizinhas da tempestade,

E as noites minhas.

E as noites guardadas.

 

(Francisco – 16/04/2024)

O sonho

O bisturi que disseca o sonho, há uma flor de Primavera numa jarra de espuma, e o bisturi, disseca o sonho, em pedacinhos, em pequenas e minúsculas imagens,

 

O poeta-legista de caneta-bisturi na mão

Apontando ao que restou do sonho, a porta de saída para a outra margem do rio, onde as páginas de um livro e os seus filhinhos, procuram uma côdea de pão, para enganar a tarde.

O bisturi na mão do poeta, precisa de cortar, precisa de serrar, cada imagem do sonho, cada segundo de felicidade do sonho…

 

O sonho não pode viver. O sonho precisa urgentemente de morrer, alguém tem que assassinar o sonho, antes que ele seja dia.

Antes que ele seja hoje.

Antes que ele seja eu.

 

E o bisturi-poeta, ou a caneta-poeta, talvez seja poeta-caneta-bisturi…

Talvez seja hoje,

Talvez.

Acredito que é hoje. (que o sonho vai ser assassinado)

 

(Francisco16/04/2024)

A cidade

A cidade morre dentro de uma garrafa de água mineral

Sem desculpas

Sem o martírio de viver

De ter que viver

Dentro de uma garrafa de água mineral

Desce a avenida Doutor Sá Carneiro

A cidade quase não sente

O café sobre a mesa

Curto no sorriso

Doce como os lábios

Sobra a mesa

Um livro

Um poema

 

A cidade já não é o que era

Era luz

Era Primavera

Hoje é a noite

Hoje é o Inverno

Um inferno

 

A cidade fervilha a cidade apaixonada por uma livraria

E cresce dolorosamente

Uma ervilha

 

E cresce uma criança em flor nesta cidade

Muitas árvores e muitas pétalas sonolentas como a geada

Muitas mãos em cansaço e muitas estrelas sem madrugada

Sem nada

Nada

 

A cidade me mata a cada dia que passa

A cada disparo de uma máquina fotográfica

A cada rio que os meus olhos vêem

E vêem os teus olhos

Naquele rio

 

A cidade é malvada.

 

(Francisco – 16/04/2024)

Limbo

Não sei porque me esqueço de ti

Não sei porque oiço o cuco

Manhã cedo

Não sei porque transformo as horas de dormir

Em horas de pensar

Em ti.

 

Não sei porque oiço esta música

E penso em ti

Manhã cedo

Quando o cuco acorda

E vê nos teus olhos…

O dia mais lindo do limbo.

 

(Francisco)

As maias

Amo-te

E no entanto

As maias já estão em flor,

E os teus olhos, mesmo ranhosinhos…

São lindos, como as maias,

Em flor.

 

(Francisco)

Flor do teu cabelo

Tão luz é a flor do teu cabelo

Tão manhã é o sorriso do teu olhar

Tão desejo em te pegar

Tão desejo em te abraçar.

Tão luar é o silêncio dos teus lábios

Tão luz é a flor do teu cabelo

Tão perto de mim

Tão longe dos meus olhos

Os teus olhos

O teu jardim.

 

(Francisco – 16/04/2024)

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Poema

O cão entretido no seu cantar

O pássaro às voltas com o seu ladrar

Uma flor que escreve na paisagem

Ou um pedaço de vento

Que transporta a madrugada

O cão que já não ladra

Um minuto de chuva suicidado na janela

Um pedinte que pede cigarros

Enquanto outro pássaro

Fuma charros

E vende no mercado cobras de brincar

 

Um sítio que já foi um sítio

E agora é apenas uma barcaça

Um rio que hoje é mais fino do que um cabelo

E mais teimoso do que este poeta

 

O circo que já não é circo

E hoje é um consultório médico

Era criança

Hoje já é homem

Era cão

E hoje é disco voador

Na cabeça do papa

 

O cão que quer ser gato

O pé que se queixa do sapato

Um ladra

O outro canta

O cão entretido no seu cantar

O pássaro às voltas com o seu ladrar

E o poema, aqui, à espera de terminar

 

(Francisco)

15/04/2024

Flor de pólen sorrir

Minha flor de pólen sorrir, minha manhã em pétala envergonhada

Quando há uma hora destinada

Há uma hora definida

Num relógio com pulso ornamentado

Há uma hora certa na partida

Há uma hora para te amar

Sem medo da noite sofrida.

 

Há uma hora encarnada

Na palete suspensa na parede cinzenta

Há uma hora certa, uma hora apaixonada

Pela voz que lamenta

Na voz encarcerada.

 

Há uma voz, minha flor de pólen sorrir, há uma voz distante

Que corre para o mar

Há uma voz, meu amor, há uma voz certamente

Nas lágrimas do teu chorar.

 

(Francisco)

15/04/2024

ATÉ QUANDO

ATÉ QUANDO ESTE VIVER

ATÉ QUANDO ESTA MENTIRA

ATÉ QUANDO SER

UMA PEDRA QUE SE ATIRA

 

ATÉ QUANDO ESTE ESCREVER

SOBRE OS FINOS LÁBIOS DO MAR

ATÉ QUANDO EU VOU SOFRER

COM ESTES VERSOS DE AMAR

 

ATÉ QUANDO ESTE VIVER

ATÉ QUANDO ESTAS NOITES DE INFERNO

ATÉ QUANDO EU CONSIGO SOBREVIVER

À PRIMAVERA VESTIDA DE INVERNO

 

ATÉ QUANDO

 

(Francisco – 15/04/2024)

Encanto

Me encanta a tua simplicidade de ser

Me encanta a tua simplicidade de viver

Me encanta o teu cabelo disfarçado de vento

Que se passeia no meu pensamento

 

Me encanta o encanto

Me encantam as flores e as mãos do sofrimento

Me encantam os teus olhos de mar

E me encantam os teus lábios de luar

 

Me encanta encantar

Com o teu corpo de árvore sofrida

Me desencanta a despedida

 

E me encanta a noite vestida

Me encanta a vida

Me encanta te amar

 

(Francisco – 15/04/2024)

São quase horas

São quase horas, estão em visita, as horas

São quase estrelas, são quase mentiras

São todos os relógios, são todas as horas

Vítimas do meu sofrer, na mendicidade deste corpo

Descendo cada vez mais fundo

Ao mais fundo que tem o poema

 

São quase horas, são quase mortes, são quase corpos

São quase manhãs que esperam outras tantas quase

Madrugadas

Mesmo eu sendo um quase engenheiro

 

São quase horas, são quase palavras, são quase feridas

Manhãs sofridas, acendalha que transporta o vento para a janela

E ao final do dia

O silêncio fiscal de uma polvorosa lua

 

Sou quase gente, sou quase paixão, sou quase amado

Sou quase círculo de luz com olhos verdes

Sou quase eu, quando só a noite percebe porque choravam as acácias da minha infância

 

São quase horas, as horas

 

 

(Francisco – 15/04/2024)

domingo, 14 de abril de 2024

Assassinato

 

Acabei de assassinar este poeta. Não haverá noite de núpcias.

 

(Francisco)

paixões - fotografia

 

(lagos do Sabor)

A gata da minha vizinha que toca piano

Puxo de um cigarro, vou à varanda, talvez alguma coisa me inspire, e vejo e oiço a gata da minha vizinha a tocar piano; pensei, porque não a gata da minha vinha que toca piano?

 

Speakeava francês

E falava alguns números complexos

Que se estudam em matemática

Em que existe uma parte real

E uma outra parte

Imaginária.

 

Também a gata da minha vizinha

Que toca piano

Que speak francês

E muito pior do que isto

Ainda é virgem;

No horóscopo e afins,

- é imaginária.

 

Na minha infância

As sanzalas eram de prata

Hoje

Hoje não sei como se chama a minha terra

Hoje não sei as cores da minha terra.

 

Hoje

Hoje não sei como se chamava a minha mãe

Hoje

Hoje não sei como se chamava o meu pai

Hoje não sei como se chama a gata da minha vizinha

Talvez se chame Aurora

Talvez se chame Cristina

Talvez não se chame

Talvez se chame Primavera.

 

Hoje

Hoje não venho para aqui falar da minha vida pessoal,

Hoje preciso de escrever alguma coisa,

A gata da minha vizinha que toca piano.

 

 

A gata da minha vizinha que toca piano

 

 

Os seus dedos eram tão finos

Como os finos fios loiros da seara.

Eram tão finos e tão belos

Como os primeiros silêncios de sol,

Eram tão finos, os seus dedos,

Eram tão finos como a última lágrima do luar…

 

E quando os seus dedos de tão finos

E de tão belos

Se esquecem que estão sobre as teclas do piano…

E dançam como margaridas.

 

Os seus dedos eram tão finos

E eram tão belos

Como o pôr-do-sol

De tão belo e de tão fino…

 

Os seus olhos e os seus lábios e o seu cabelo eram fão finos e tão belos

Como os seus dedos

De tão belos e de tão finos

Sobre o Ré Ró…

De tão belos.

 

 

Não é isto que eu quero.

Não. Não é isto que eu quero escrever sobre a gata da minha vizinha que toca piano, e que durante a noite, me delícia nos meus momentos de insónia.

 

 

Alguma coisa irei escrever sobre a gata da minha vizinha que toca piano...

 

 

(Francisco

14-04-2024)

 

GOSTO DO HERBERTO CADA VEZ MAIS,

MAS É TÃO DIFÍCIL LÊ-LO…

Fotografia

Quando uma pedra te pede pão

E tu não tens pão para lhe dar

Quando uma criança te pede um sorriso

E tu apenas tens lágrimas para lhe dar

 

Quando um cigarro te pede um pulmão

E tu apenas tens um cancro para lhe dar

Quando a Primavera te pede um beijo

E apenas tens uma fotografia para lhe mostrar

 

(Francisco

14-04-2024)

Amor

Nesta última fase do poeta, ele não se cansa de cantar o amor e sua amada; se é que existe amada.

Não o fará tão cedo, isto é, escrever sobre o amor…!

O que é o amor?

Sentir e não ver?

Ver, sentir e não poder tocar?

Será o amor

Uma flor?

Um verso…?

Um beijo inventado nas mãos da lua?

Ou será o amor apenas uma palavras; AMOR.

 

 

(Francisco)

o poeta no seu esconderijo...


 (Francisco)

A rapariga que pesca corações

Tenho uma árvore enfeitada com corações

e conheci uma rapariga

que no final da tarde antes de adormecer o dia

sentada na margem direita do rio do amor

pesca corações

 

eu ia a passar

(ao longe um barco me acena)

eu ia a passar e senti no peito

uma leve picada de sorriso

era ela

(ao longe um barco acena-me e envia-me beijos)

era ela a pescar o meu coração

 

tenho uma árvore enfeitada com corações

com os corações pescados pela rapariga

que conheci sentada na margem direita do rio do amor

no final da tarde antes de adormecer o dia.

 

 

(Francisco)

sábado, 13 de abril de 2024

Viagem de sonho

O meu problema não é amar-te loucamente

O meu problema é o custo elevado do arroz da carne do peixe de tudo da gasolina dos cigarros…

Vês, meu amor?

Muito mais complicado do que amar-te

É o custo elevado das coisas

 

No entanto

Não me queixo

Porque havia eu de me queixar?

 

O meu problema não é amar-te loucamente

O meu problema são os poemas são os livros que escrevo e que leio e que não me canso de ler e de escrever…

Esse sim um grande problema

 

O meu problema não é amar-te loucamente

O meu problema é amar-te loucamente

 

 

(Francisco)