despertavas como um
relógio sonolento
de ponteiros afiados
cansado
despertavas em mim a
claridade do dia ainda por nascer
crescias
e... e desaparecias
entre as velhas folhas da árvore do sótão envergonhado
despertavas e
brincavas sobre o meu peito de Oceano anónimo
dizias-me que eu era
uma rua sem saída
da cidade com néons
de meninas coloridas
sentia-me um
náufrago procurando lençóis de linho
sentia-me um
sem-abrigo correndo para a tua cama...
desaparecias e
despertavas,
eu sonhava com
barquinhos em papel
papagaios de
pálpebras dilatadas
pensava que o Luar
era o teu olhar prisioneiro na calçada dos esqueletos de vidro
e...
despertavas
e...
desaparecias
a cidade
misturava-se no meu corpo
absorvia-me
e apenas alguns
pedaços de mim sobejaram em Cais do Sodré...
e tinha no meu
coração uma caneta de tinta permanente
pronta para escrever
nos alicerces dos teus beijos,
eu voava
enquanto um dos meus
cachimbos se masturbava nos meus lábios
e sentia o fumo a
invadir-me
e sentia-me foragido
perdido na montanha
do amor
amava
era amado
e agora não sou
nada...
desaparecias
e despertavas
e eu esquecido na
calçada dos esqueletos de vidro...
eu... um
transatlântico sem apito na boca.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 7 de
Maio de 2014
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