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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Vida de marinheiro



Triste a vida de marinheiro,
Prisioneiro
Neste porto sem nome,

Estes socalcos me enganam
E abraçam o rio da saudade,
Estes socalcos lapidados na sombra da noite
Quando regressa a verdade,
E tenho no corpo o medo da revolta,
E tenho nas mãos o silêncio que não volta,
Estes socalcos da triste vida de marinheiro,
Prisioneiro
Neste porto sem nome…
E distante da madrugada,

Nem idade,
Nem dinheiro,

Triste,
Triste a vida de marinheiro
Assombrado pelo amanhecer do desejo
Que se perde num beijo…

Nem cidade,
Nem dinheiro,

E no tempo se esquece o coração de prata
Das marés loiras que o mar desajeita
E rejeita
Contra a corrente,

Triste a vida de marinheiro…
Triste,
Triste na cidade ausente.



Francisco Luís Fontinha
17/02/17

sábado, 7 de março de 2015

As mãos de um sábado...


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


habito dentro deste livro inacabado
existo porque gritam as palavras
e os sonhos amargurados
não tenho tempo para olhar o mar
nem percebo o cheiro deste rio envenenado pelo silêncio
um cigarro
mal-educado
apagado
sessenta anos encurralado nestes socalcos sem nome
habito
dentro
do livro inacabado...

os tristes sorrisos das lanternas da solidão
vendo-me
vende-se
tudo
nada
coisas estranhas
esta calçada
viva
vivo
apagado
não tenho
o tempo

nem a vida
de marinheiro
sou um barco enferrujado
sou o aço triturado pelas mãos de um sábado...
apenas
outras coisas
como as simples janelas de uma prisão
prisão
a prisão
do meu falar...
habito
habitar no teu peito de livro encalhado.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Março de 2015

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Vida de marinheiro


Adoro esta vida de marinheiro,
sem porto para aportar...
nem coração para ancorar,
adoro esta noite,
apenas esta,
porque a solidão se entranha em mim como um vicio...
ou uma jangada de saudade,
adoro esta vida de marinheiro,
sem pouso,
sem... sem Oceanos para sonhar,
sem as amarras das palavras,
sem as ruas da cidade,
adoro esta vida de marinheiro,
sem glória,
sem vaidade para oferecer,
adoro
esta
vida
… de marinheiro...
com medo de sofrer,


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2014

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Marinheiro


Marinheiro
cansado das palavras sem título
que se acomoda com as tempestades
marinheiro... invisível
come saudades
e... e alguns versos
não dorme
não consegue sonhar
e não acredita no futuro...
marinheiro infernal
que veste um esqueleto de algas
e cobre o cabelo com o jornal
marinheiro ensanguentado
que finge olhar as estrelas
e o luar
marinheiro
cansado das palavras...
dos barcos de papel
e dos Oceanos de prata
marinheiro embalsamado que se esconde na praia
imagina corpos enlatados
e pássaros em silêncio...
ouve os sons melódicos da noite
como se a noite fosse música
ou... ou um poema em ascensão
ou... ou um poema com odor a morte
marinheiro
marinheiro das palavras
marinheiro sem sorte
e ele não sabe que junto ao Tejo
habitam as lágrimas do espelho da solidão...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 25 de Novembro de 2014

domingo, 14 de setembro de 2014

Enxada do cansaço


Quem és tu marinheiro
que habitas o meu corpo salgado...
que me aprisionas aos rochedos do medo
e te escondes nos esconderijos do silêncio
invento nomes
quando ela passa por mim
como o luar agachado na madrugada
de mão dada
com uma loira menina
como os muros de xisto
de socalco em socalco
oiço a enxada do cansaço lapidar os corações de pedra
e tu
marinheiro
dentro de mim como uma jangada
quem és tu marinheiro
que apodreces os meus ossos de cristal
e ela
tão bela
sem nome
sem... sem pedestal
caminha
palminha
os montes de papel com odor a amanhecer
sentada numa esplanada de brincar
oiço-as
as enxadas amaldiçoadas
no altar do Oceano
mulher que me acorrentas às palavras
e sofro
e sinto no meu olhar o teu nome que não o sei
quem
quem és tu marinheiro
que habitas o meu corpo salgado
meu amor
vou apelidar-te de Caravela
sem vela
sem rumo
correndo o meu corpo salgado
e tu
marinheiro
serás eternamente o meu comandante
que a solidão guiará até ao cais da ansiedade...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 14 de Setembro de 2014

sábado, 23 de agosto de 2014

Bufunfa...


Procurava nas penteadas espigas de milho,
o sabor amargo de amar,
deitava-me sobre o chão frio do granito ensanguentado da eira,
pincelava o luar de madrugada,
e procurava...
adormecia sem o perceber,
porquê?
e se era aquele o momento de o fazer!
o sino ouvia-se ao longe,
o horário deixou de fazer sentido,
tal como o calendário,
procurava... e nunca as encontrava...

As chaves do espigueiro telintavam numa algibeira furada,
que servia de esconderijo a um corpo emagrecido,
cansado,
e ferido...

Havia lágrimas nos olhos das frestas do espigueiro,
a madeira envelhecida... rangia... parecia um homem desiludido com a vida,
acordavam-me para o jantar,
e fazia de conta que não ouvia...
nem sentia...
o vento soprar,
e eu procurava... e ele em pequenos círculos... me abraçava,
acreditava que das pálpebras dos pinheiros fugiam as estrelas em papel,
acreditava que à resina regressavam as plumas fluorescentes das meninas de cartão...
e nunca vi o mar acorrentado ao granito ensanguentado da eira,
nem os barcos, nem os marinheiros com odor a sexo,
e no entanto... havia uma mulata que dançava na eira só para mim,

O zinco da sanzala gritava,
e um menino em calções chorava grãos de pólen,
não havia abelhas para me consolarem...
nem... nem mangueiras sombreadas nas mãos dos mabecos enfurecidos com o meu sorriso,

Bufunfa...
o kimbundu poético da paixão dos pássaros,
o voo silencioso dos dentes de marfim sobre a mesa da sala de jantar,
uma ténue luz que iluminava o capim que jazia nas bermas da estrada,
caminhava, caminhava... e não tocava no granito ensanguentado da eira,
brincava com os papagaios de papel inventados nos seios de um coqueiro,
cintilavam em mim as gazelas, os elefantes... e ao meu lados os entristecidos marinheiros...
e procurava...
adormecia sem o perceber,
porquê?
e se era aquele o momento de o fazer!
Levantar-me do chão frio do granito ensanguentado da eira.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 23 de Agosto de 2014

domingo, 13 de julho de 2014

Este poema com o nome de beijo!


Horrível,
este poema sem marinheiro,
feliz deste barco embrulhado no vento,
desgovernado,
só...
só... e em sofrimento,
faltam-lhe as palavras,
faltam-lhe... faltam-lhe os encantos dos murmúrios de Inverno,
este poema... filho do Inferno,
que arde na lareira do desejo,
horrível...
este poema com o nome de beijo!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Julho de 2014

domingo, 29 de junho de 2014

A tua voz não pode gritar!


A tua voz me entristece,
quando sei que deixou de existir em mim o verbo amar,
a minha cidade, lá longe, tão longe... que nunca a conseguirei alcançar,
dormir nela,
acordar cedo, e abrir a janela,
a janela que tenho no meu peito,
há gaivotas, e há um corpo que envelhece,
a tua voz... a tua voz me enlouquece,
e no entanto, sou obrigado a viver acorrentado a este silêncio sem nome,
a esta vergonha de perder sem ser encontrado,
... não sendo habitado,
nesta sanzala de papel...

Este esqueleto de gesso que carrego e me deito,
sem perceber que há lábios de mel, que há lábios de desejo..., lábios consumidos pela fogueira de beijar,
esta voz me entristece,
como a água do rio que se evapora,
e levita,
e procuro-te, e procuro-te...
e me dizem... aqui ninguém mora,
aqui... aqui ninguém... chora,

Aqui é proibida a escrita,

Os tentáculos do amor,
os seios de uma flor antes de acordar,
as cordas de nylon que ancoram a tua dor...
ao cais de embarcar,

A tua voz me entristece,
o teu corpo vacila na tempestade de sonhar,
o calendário não cessa de correr...
e come-te em pedacinhos,
a tua voz enfraquece,
e transforma-se em versos desesperados,
versos odiados,
versos de escrever...
a tua voz me entristece,
antes de alguém desenhar no tecto das tuas pálpebras a madrugada,
ainda não zarparam os barcos da minha infância,
ainda... ainda não encontrado o verbo “AMAR”...

A tua voz não pode gritar!

A tua voz é um feitiço,
uma nuvem vagueando sobre o Tejo,
a tua voz é um marinheiro mórbido, um marinheiro embriagado na esplanada do beijo...
há cadeiras apaixonadas, há sorrisos travestidos de amanhecer,
a tua voz não pode cessar, a tua voz... não pode morrer,
a tua voz... não é o meu verbo “AMAR”...
que... que deixou de ser,
que... que deixou de sofrer...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 29 de Junho de 2014

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Hoje, hoje... nada para escrever!


Hoje,
sou um marinheiro sem embarcação,
um pedaço de madeira sem mar,
hoje, hoje... nada para escrever,
faltam-me as palavras,
faltam-me... os teus silêncios sem madrugadas,
hoje,
sou um marinheiro sem embarcação,
um rio sem encontrar as tuas lágrimas,
hoje, nada... nada para escrever,
porque hoje,
hoje sou um ínfimo cadáver nas páginas de um livro...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Junho de 2014

segunda-feira, 26 de maio de 2014

marinheiro naufragado


acordar sobre o titânio amanhecer
pegar nas tuas mãos de andorinha selvagem
agarrar o mar
se possível
esconder o mar na tua algibeira de cartão

sentir os teus braços no rio que corre dentro de mim
acariciar todas as rosas das tuas pálpebras de marinheiro naufragado
descansar sobre o teu peito
beijar-te
simplesmente beijar-te... gaivota adormecer.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 26 de Maio de 2014

domingo, 30 de março de 2014

Esconderijo da solidão

foto de: A&M ART and Photos

Sacias-te na minha sede mergulhada em perfumados cachimbos de prata,
encontras em mim a doce corrente do aço clandestino da saudade,
sei que existo porque escrevo-te palavras, vãs palavras que o tempo come, e alimentam as tempestades da dor,
sacias-te em mim como se eu fosse um marinheiro escondido na escuridão da cidade,
procurando engate, procurando o prazer sem o prazer... no inanimado mundo da morte,
procurando mãos silenciosas para argamassarem o meu corpo aos cais do desgosto,
e sinto-me uma ténue folha de papel esquecida no teu ventre,
sacias-te nos meus olhos, e cerro-os para me ausentar de ti,
palavra, palavra do engano que sente o sofrimento,
e... dizes-me que todas elas são inconstantes equações trigonométricas,
cansadas,
tão cansadas como as tuas mãos poisadas no meu rosto de lata...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 30 de Março de 2014

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Das garças, chegada a noite, sempre uma janela que se encerrava

foto: A&M ART and Photos

Deixamos de ouvir os murmúrios das garças, chegada a noite, sempre uma janela que se encerrava, uma porta com os gonzos empenados, talvez sofrendo de bicos de papagaio, espondilose lombar ou artrose, ou dobradiças enferrujadas, ou
de coração frágil
Ou porque ontem tínhamos onde nos sentar e hoje, hoje não cadeiras, hoje não bancos, hoje... que raio se passou hoje, que coisa, que nem um banco livre para poisarmos as pernas, descansarmos o rabiosque, nada, parece que nos abandonaram, como a elas, que as deixamos de ouvir, ou morreram, ou
e pior do que frágil, às vezes bate desmesuradamente, velozmente como um cavalo acabado de nascer, um inútil, ou
Ou uma triste mão como lágrimas de tempestade, que sem segundas intenções, pegava em nós, e acariciava-nos os nossos cabelos de enxofre, e sentíamos essas mesmas mãos, lisas, duchista, a percorrerem os nossos corpos acorrentados à baliza que ficava ao fundo do recreio, queriam que eu jogasse futebol, eu jogava mas inventava mentalmente personagens dentro de mim, e sabia que no futuro tu, olhavas-me no passado, como hoje, eu
olho-te no futuro,
Morreste já, como as estrelas que quando as vimos nascer, provavelmente, digo, quase de certeza, já morreram também como tu, perguntas-me
porquê?
Imagina a tua imagem longínqua de mim, sobre uma montanha de areia, imagina que essa imagem é reflectida e vem até mim, demorando milhões de anos luz, poderás concluir que quando a tua imagem me abraçar, tu, já não existirás, Certo?
olho-te no futuro, tens quatro filhos, já és avó, mal podes com as pernas, demoras uma infinidade a subir as escadas para o sótão da vaidade, quando atinges o patamar, abres a porta quase encharcada de bicho da madeira, ela range, e começa aos poucos a decompor-se como um corpo hirto mas morto, defunto, e de uma janela onde costumávamos ouvir as garças, é hoje uma parede de betão, sem acesso ao telhado, não temos divã, e os livros que tínhamos deixado ficar nas estantes, também eles, morreram, em pedaços, são agora poeiras voláteis em voos nocturnos,
Certo! E claro que não percebeste nada do que eu te disse, como sempre, imaginas-me louco, criança ainda, porque devido ao desfasamento entre o tempo e o espaço, eu vivo na infância, e tu, infelizmente, já ultrapassaste a velhice,
és defunta, vives num cemitério perto da Ajuda, e todas as noites, sempre que a neblina desce até à cidade, contas as gaivotas que entram e saem do cais de embarque, um dia, vou crescer, vou ser adulto, talvez, talvez um marinheiro salteando de cais em cais, os alicerces das tabernas com mesas e toalhas em plástico, serviam-nos pedaços de churrasco e bata frita, depois, sofríamos a azia, o cansaço, o delírio das distâncias, desde a montanha longínqua até mim,
Certo, sofro porque ainda sou pequeno, brinco num quintal imaginário com um triciclo imaginário, no quintal percebo que existem muitas árvores, são reais, porque lhes toco, e elas, falam comigo, segredam-me o futuro e choram o passado, há um portão em ferro onde Às vezes, quando me sinto cansado, prendo o cordel que me dá acesso a um papagaio de papel esquecido no céu quase nocturno, são cinco da tarde, o dia escoa-se-me por entre os meus finíssimos dedos, que não sei se algum dia crescerão, se algum dia, eu crescerei, se algum dia tu acordarás do teu sono eterno, tão pouco
és defunta, vives num cemitério perto da Ajuda, e ouvíamos os murmúrios das garças, chegada a noite, sempre uma janela que se encerrava, uma porta com os gonzos empenados, talvez sofrendo de bicos de papagaio, espondilose lombar ou artrose, ou dobradiças enferrujadas, ou
de coração frágil
E a tua imagem, anos luz depois, chegava até mim, e docemente, abraçava-me.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Claro que podia ser pior

Talvez, um dia, quem sabe, junto ao cais da rocha conde de Óbidos, zarpe, visto-me de marinheiro, pego num pequeno barco, de preferência, em madeira prensada, por causa do peso, e zarpo, sem rumo, destino, endereço físico ou electrónico, deixo ficar tudo
Não acredito que o faças, e enquanto a oiço penso nas ruas onde brinquei, me sentei, caí e chorei, penso, recordo, e enquanto a oiço vejo-me sentado em cima de uma grade de madeira onde alguém tinha trazido maçãs, ou pêssegos, talvez laranjas, foi há tempo suficiente para não me recordar, e sei que junto ao portão eu o esperava, abraçava-o e ele dava-me um beijo, pegava na minha mão trémula, e desaparecíamos entre as sombras das mangueiras,
Deixo ficar tudo, e mergulho no vácuo
Sem rumo eu, hoje, dele, quando o mar, talvez laranjas, o mar pegava nele e levava-o a passear pelas ruas invisíveis da cidade iluminada por candeeiros a petróleo e flores com olhos verdes, dele, o mar vestia-o de marinheiro, e zarpava, corria e descia a calçada, sempre apressadamente abraçado à loucura, esquecia-se sobre a mesa da cozinha do fuso horário, parava sobre o equador, toda a noite, o baile de gala, dançavam, dele, nunca lhe ouvi uma palavra de amor, nunca, nunca lhe ouvi um sorriso nos lábios, nunca, sem rumo, eu, hoje, quando o mar, oiço-lhe os lamentos solitários das noites mórbidas que um desenhador constrói com um esquadro e uma régua, os lamentos
Que puta de vida a minha,
Claro que podia ser pior, dizia-lhe eu, e um dia deixo ficar tudo, e mergulho no vácuo, e um dia deixo ficar tudo e mergulho no plasma das tuas veias e vou em direcção ao arco da lua, cerras os olhos, cerras os olhos e oiço-te
Que puta de vida a minha,
E digo-te, e digo-o e escrevo-o para que nunca o esqueças
Que podia ser pior?
E escrevo-o, e digo-o para que um dia nunca o esqueças, nunca, nunca acreditei que o fizesses, e enquanto te ouvia pensava nas ruas onde brincávamos, nos sentávamos, caíamos e chorávamos, pensava, recordo, e enquanto te ouvia via-me sentado em cima de uma grade de madeira onde alguém tinha trazido maçãs, ou pêssegos, talvez laranjas, foi há tempo suficiente para não me recordar, e sei que junto ao portão ele me esperava, abraçava-me e dava-me um beijo, pegava na minha mão trémula, e desaparecíamos entre as sombras das mangueiras, hoje não
E digo-te, e digo-o e escrevo-o para que nunca o esqueças
Que podia ser pior?
Muito pior.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Marinheiro de Luz


Achas-te superior
indigente
com falta de amor
como muita gente,

achas-te superior
rainha das coisas boas
montanha de luz
achas-te uma flor
uma simples flor
com pernas de cansaço
e braços
aos abraços
oiço o balançar da porta de entrada
truz truz truz
ninguém será certamente para me dar nada
nem uma simples corda de aço,

um prato com sopa de legumes encarnados
vinho do porto velho como os pássaros com asas de mar
(achas-te superior
indigente
com falta de amor
como muita gente)
e às vezes
multiplicam-se as manhãs de inverno
cresce o inferno
maré de marinheiro
quando eu sentado no barbeiro
penso solitariamente nas nuvens de barbear,

sinto-te em espuma no meu rosto envelhecido
e das saudades
as pequenas saudades
correr amar correr livremente
e voar
e amar
voar até cair nos teus braços
abraços
uma corda de aço
do tão construído cansaço
a espuma de ti mergulhada no meu simples desenho da alvorada
e tão triste e tão só tudo aquilo que foi esquecido,

achas-te superior
indigente
com falta de amor
como muita gente,

mas continuarás a ser uma resma de palavras
sem nexo
moribundas quando a mergulhada canção de amor
não é uma flor
é uma canção
que sofre
que dói
e mói
as pedras finas da calçada dos amores proibidos
e dói
mói
a doçura tristeza do desejo.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha