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sábado, 16 de setembro de 2023

Gaivota

 Em teu cabelo de mar ondulação

Brinca uma gaivota de papel

Tem um sorriso nos olhos

Tem nos lábios um batel

Em teu cabelo

De mar

Cinzenta tempestade

De ondas na mão

Em pedacinhos de fúria

Em teu cabelo de mar ondulação

Brinca uma gaivota de papel

Tem o silêncio na boca

E sobre os ombros embriagados de luz…

O sino da aldeia.

 

Em teu cabelo de mar ondulação

Brinca uma gaivota de papel´

Tem nas mãos o feitiço da lua

E nas asas

A doce liberdade.

 

Em teu cabelo de mar ondulação

Brinca uma gaivota de papel

Tem no sorriso um poema

Tem no poema um sorriso de mel

Em teu cabelo

Em mar ondulação

Brinca uma gaivota em papel

E um pobre coração.

 

 

 

16/09/2023

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Anjo azul

 Semeio nos teus lábios de pétala

Os beijos que o luar desenhou

Beijo os teus lábios em pétala…

Flor do meu castelo

Vinhedo com vista para o Douro…

Socalco da tua maré em sono

Enxada do cansaço

No teu corpo misturado

Semeio nos teus lábios

O abraço

A palavra que grita

E grita

Grita…

 

A palavra em finos traços

Gemido na madrugada

Semeio nos teus lábios

A Primavera

E todas as árvores que acordam com a Primavera

Coração ao vento

Enquanto a barcaça do desejo

Rodopia em pequenos círculos

Semeio a palavra

Semeio

Semeio na tua mão

O silêncio

Enquanto o teu anjo azul escreve no teu olhar…

Amo-te

Enquanto o teu anjo azul…

Pincela os teus lábios de doce mar

E uma gaivota em liberdade…

Voa em direcção ao Sol

Sem perceber que o Sol...

Que o Sol é a paixão disfarçada de luz.

 

 

 

Alijó, 17/04/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

A casa


Sinto-te nesta casa fria e escura.

Neste casebre abandonado,

Sinto-te nas paredes cansadas desta espelunca,

Na sombra de um qualquer coitado; eu.

Sinto-te em perfeita brancura,

Das palavras que escrevo e pronuncio…

Que nunca,

Vou desenhar uma gaivota em cio.

 

Sinto-te como se fosses uma pomba.

Sinto-te como se fosses uma bomba,

Esquecida no mar,

Esquecida de rebentar.

 

Sinto-te e não te vejo.

Pareces invisível neste labirinto.

Pareço o Tejo.

Voando baixinho, quando não minto.

 

Sinto.

Sinto tudo isto enquanto não consigo adormecer.

Sinto a calçada chorar.

Sinto o meu corpo sofrer…

Com medo de morrer.

Com medo de acordar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

02/12/2019

quarta-feira, 19 de julho de 2017

O apeadeiro da solidão


Tão longe entre montanhas e socalcos,

Cravado na terra cremada da saudade,

O comboio se perde nas curvas do amanhecer,

O apeadeiro da solidão agachado junto ao rio…

Sem conseguir adormecer,

Uma voz se perde na caminhada como se fosse apenas uma gaivota amedrontada…

Tão longe entre montanhas e socalcos,

Finge acordado,

Esperando os apitos aflitos do maquinista…

Até que o pôr-do-sol regressa,

E amanhã novo dia, nova noite, e a tarde sempre igual…

Nem vivalma para entreter o estômago do desassossego.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19 de Julho de 2017

sábado, 26 de julho de 2014

A Calçada do Adeus


Esta vida que não me esquece,
cai a noite e me absorve, e me evapora,
desço a calçada como poeira cansada,
e aos poucos, despeço-me do rio,
despeço-me da alvorada,
sento-me, e espero o regresso do amanhecer,
folheio um livro, leio um poema amaldiçoado,
dói-me o corpo, e esta vida que não me esquece,

Desenho uma gaivota apaixonada pelo silêncio do mar,
há uma cabana sem lareira, uma cabana atraiçoada,
e eu sentado, converso com a gaivota, converso com a cadeira...
sobre esta vida que não me esquece,
e me evapora,
folheio, folheio... e o livro do poema amaldiçoado... me deseja,
me leva para o solstício do beijo,
e sendo eu sou um ausente,
que não sente, que não ama...
pergunto-me... o que é o amor?
É uma cidade destruída? É uma canção com poemas de chorar?
que a vida não esquece, que a vida não me esquece... de me recordar...

Esta vida que não me esquece,
quando lá fora há estrelas à minha espera,
quando lá fora a gaivota apaixonada... chora,
porque foi maltratada, porque foi espancada...
pelo vento da clareira cinzenta,
que desce comigo a calçada, e... e me atormenta.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 27 de Julho de 2014

terça-feira, 15 de julho de 2014

Dentro de ti


Imagino-me dentro de ti,

O sonho, o sonho invade a clarabóia das serpentes,
há uma montanha, uma montanha desenhada na rocha submersa da solidão,
imagino-me dentro de ti,
sentir o odor do papel amarrotado, triste...
cansado,
o sonho tem um nome,
vive dentro de um corpo anónimo, diluído nas asas de uma gaivota,
há um esqueleto em revolta,
faminto,
tão... tão desgraçado...
escreve, e das palavras se alimenta,
e vive, e sonha...

Imaginando-se dentro de ti!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 15 de Julho de 2014

segunda-feira, 26 de maio de 2014

marinheiro naufragado


acordar sobre o titânio amanhecer
pegar nas tuas mãos de andorinha selvagem
agarrar o mar
se possível
esconder o mar na tua algibeira de cartão

sentir os teus braços no rio que corre dentro de mim
acariciar todas as rosas das tuas pálpebras de marinheiro naufragado
descansar sobre o teu peito
beijar-te
simplesmente beijar-te... gaivota adormecer.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 26 de Maio de 2014

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Esqueletos cinzentos


Imagino-me embrulhado nos suspensos olhos dos teus lábios,
sinto-os a alicerçarem-se aos meus,
imagino-me acorrentado ao teu olhar,
pálpebra infinita da madrugada,
sinto-a e imagino-me em círculos verdes com braços de prata,
uma louca locomotiva entra-me porta adentro e finjo habitar nas tuas mãos de pérola adormecida,
imagino-me longamente só esperando as personagens dos teus sonhos,
os vivos, os mortos, sonhos... e os impossíveis de realizar,
como as tuas palavras,
difíceis de escrever,
impossíveis... impossíveis de pronunciar,
e depois regressam todos os esqueletos cinzentos da neblina,

Imagino-me sentado no teu ventre desgovernado,
sílaba cansada da literatura que poisa sobre os teus seios de sanzala,
imagino-me um menino apaixonado,
triste,
tão triste que... tão triste que acredito pertencer aos sisudos livros do luar,
imagino-me filho da noite em construção,
um menino rebelde, sem pátria, sem pão,
e à minha volta gravitam as tuas perdidas caricias perpendiculares aos relógios de pulso,
derradeira e desamada paixão, esta, viver não vivendo, amar... amar... não amando,
e no entanto,
eu, eu invento, eu corro em direcção aos rochedos das tuas coxas em silêncio...
imaginando, imaginando estrelas de papel nos teus cabelos de gaivota.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 4 de Março de 2014

quinta-feira, 20 de março de 2014

Gaivota madrugada

foto de: A&M ART and Photos

Voas nos meus olhos, gaivota madrugada,
procuras em mim, palavras,
voas porque sentes nos teus lábios o vento em desejo,
e no teu prometido beijo, uma simples canção, melódica... e adormeço,
e esqueço que lá fora habitam telhados de vidro, esqueletos de prata,
bairros em lata,
lá fora, na imensidão nocturna da embriaguez,
e um dia, talvez... talvez percebas as minhas tristes palavras,
como pertence aos muros o xisto envenenado,
dos socalcos... o cansaço humano vestido de negro,
e no rio... no rio o meu corpo ensanguentado pelas nobres estrelas da cidade,
voas, voas sem saber que estou vivo...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 20 de Março de 2014