Imagino-me embrulhado nos suspensos
olhos dos teus lábios,
sinto-os a alicerçarem-se aos meus,
imagino-me acorrentado ao teu olhar,
pálpebra infinita da madrugada,
sinto-a e imagino-me em círculos
verdes com braços de prata,
uma louca locomotiva entra-me porta
adentro e finjo habitar nas tuas mãos de pérola adormecida,
imagino-me longamente só esperando as
personagens dos teus sonhos,
os vivos, os mortos, sonhos... e os
impossíveis de realizar,
como as tuas palavras,
difíceis de escrever,
impossíveis... impossíveis de
pronunciar,
e depois regressam todos os esqueletos
cinzentos da neblina,
Imagino-me sentado no teu ventre
desgovernado,
sílaba cansada da literatura que poisa
sobre os teus seios de sanzala,
imagino-me um menino apaixonado,
triste,
tão triste que... tão triste que
acredito pertencer aos sisudos livros do luar,
imagino-me filho da noite em
construção,
um menino rebelde, sem pátria, sem
pão,
e à minha volta gravitam as tuas
perdidas caricias perpendiculares aos relógios de pulso,
derradeira e desamada paixão, esta,
viver não vivendo, amar... amar... não amando,
e no entanto,
eu, eu invento, eu corro em direcção
aos rochedos das tuas coxas em silêncio...
imaginando, imaginando estrelas de
papel nos teus cabelos de gaivota.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 4 de Março de 2014
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