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terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Perdão

 Abraço-me a este rio ensonado,

Olho as montanhas do teu olhar,

Sento-me neste socalco abandonado…

À espera de que a lua me venha resgatar,

 

E se a lua me levar,

Deito fora a tristeza

E todo o silêncio do mar,

Abraço-me a este rio de enorme beleza,

 

E cruzo os braços no meu silenciar,

Acendo este cigarro invisível e inventado…

Que o meu corpo vai matar,

 

E se eu morrer nos lábios deste cigarro assassino,

Deste maldito cigarro envenenado,

Peço a Deus o perdão… que perdoe este pobre menino.

 

 

 

 

Alijó, 31/01/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 29 de janeiro de 2023

Destino menino

 Um pedaço de mim,

É o vento que vagueia sobre o mar,

Outro pedacinho,

Muito mais pequeno de que o pedaço que vagueia sobre o mar,

Que também me pertence,

Dorme nos lábios do luar,

 

Numa das mãos, na minha mão esquerda,

Brinca uma criança mimada…

Na minha outra mão,

Cresce uma flor,

Em papel crepe,

 

E se eu pedir à madrugada

As palavras semeadas,

A madrugada não me dará nada,

 

Pelo contrário,

A madrugada dar-me-á as palavras envenenadas,

Que da minha mão esquerda,

A criança mimada,

Lança ao meu olhar,

 

Um pedaço de mim,

É xisto que dança nos socalcos do Douro adormecido,

Um pedaço,

Um pedaço de mim…

Que eu transportava sobre o meu corpo dorido,

 

Agora, em todos os meus pedacinhos,

Há um rio rectilíneo,

Sem curvas,

Sem medo…

O medo do destino,

De ser o eterno menino.

 

 

 

Alijó, 29/01/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 23 de julho de 2022

Os pássaros da madrugada

 Desciam as escadas enquanto mergulhávamos nas palavras escritas que só o velho mendigo conhecia e depois acordávamos entre os pássaros da madrugada e depois olhávamos a maré em tons de cinzento sem percebermos que a noite é a morte vestida de estrelas abraçada à dor que apenas o corpo consegue desenhar na madrugada porque de luas e percebes estávamos fartos de desenhar na alvorada ora porque diziam que estávamos mortos se ainda conseguíamos escrever na areia molhada dos teus seios suspensos as canções de revolta enquanto uma enxada brincava no silêncio do deserto antes de acordarem os pássaros da madrugada?

 

És flor deste jardim construído nos socalcos do desejo. Abro a janela do medo enquanto oiço as acácias que brincam no teu corpo, depois, percebo que ninguém habita a tua mão onde deixo ficar as minhas palavras como se estas fossem a despedida; o poeta vai partir em direcção ao mar, porque neste porto apenas vagueiam barcos em papel e fotografias da tua dor.

Desciam as escadas enquanto mergulhávamos nas palavras escritas que só o velho mendigo conhecia e depois acordávamos entre os pássaros da madrugada, sem percebermos que dentro do círculo com olhos verdes, as palavras semeiam-se como se semeia o medo de acordar junto ao velho plátano de uma infinita infância entre montanhas e socalcos e seios de luz e lágrimas de luar; e aos poucos percebia da tua respiração que em breve voarias como voam os pássaros quando percebem que o silêncio é uma equação sem resolução. E que ainda hoje voas.

Diziam que estávamos mortos se ainda conseguíamos escrever na areia molhada dos teus seios suspensos as canções de revolta enquanto uma enxada brincava no silêncio do deserto antes de acordarem os pássaros da madrugada, depois, ouviam-se as canções de despedida embrulhada nas lágrimas que apenas o poema consegue descrever, quando sentado num qualquer banco de jardim…

À dor que apenas o corpo consegue desenhar na madrugada.

Nada mais.

E que ainda hoje voas.

 

 

 

Alijó, 23/07/2022

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 20 de junho de 2022

A casa poema de sonhar

 

Verde são estes olhos de dormir

Enquanto há palavras na fogueira,

Verde são os poemas de amar,

São as lágrimas de chorar;

Verde são as noites sem dormir,

São as noites junto à ribeira…

Verde são as ondas do mar

Que brincam na lareira.

 

Verde é a solidão

Sob o tórrido silêncio de escrever,

Verde é a palavra envenenada

Que tento adormecer na alvorada.

Verde sentido só possível neste coração…

Verde as nuvens do entardecer,

Que escondem socalcos enxada,

Como se o universo fosse morrer,

 

Como se o universo fosse verde aldeia.

Verde cansaço madrugar,

Que escondo no Ujo luar,

Verde que sofre, verde das almas roubadas,

Verde alegre das lágrimas semeadas.

Verde são os olhos de chorar,

Verde são os versos das janelas arrombadas

Na casa verde, na casa poema de sonhar.

 

 

Alijó, 20/06/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 7 de julho de 2020

Lua mulher corpo de luz


Lua mulher,
Corpo de luz,
Palavras vadias,
Cansaço dos dias,
Luz,
Corpo de lua,
Luar,
Em desejo,
Nua…
Abraçada ao mar.
Luar de mulher,
Palavras de vento,
Sorriso de gente,
Papel quadriculado,
Lua,
Corpo abençoado,
No tempo,
Quando desce a ribeira a montanha da fome,
Em delírio,
Sem nome.
Corpo,
Olhos de pergaminho,
Pássaro cantante,
Dançando no ninho,
Socalcos nos braços,
Enxada na mão,
Mulher em poesia,
Mulher em abraços.
Soluços da madrugada,
Luar,
Mulher desejada,
Na luz,
No poema…
Na alvorada.


Francisco Luís Fontinha
07/07/2020

domingo, 16 de junho de 2019

Todos os livros


Constrói o teu tumulo no silêncio da noite.

Alicerça no teu sorriso todas as palavras da tarde,

Como se fossem cadáveres…

Suspensos nas arcadas da solidão.

Grita.

Corre.

Desce os socalcos até ao rio, senta-te, e, dorme.

Constrói o poema na tua mão,

Abraça-o e foge.

Leva contigo os lábios da madrugada,

Todas as lâmpadas da cidade,

Esconde-te na face oculta da montanha,

Para que ninguém te veja,

Observe,

Absorve,

Os telegramas das ruelas sem saída…

Todas as noites.

Todos os dias.

Constrói em ti os livros não lidos,

Os lidos,

E aqueles que não tens vontade de ler,

Porque são cansativos,

Monótonos…

Ou sorrisos de sofrer.

E nunca te esqueças que o amor,

Todo o amor,

É um espelho cansado,

Perdido na cidade….

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

16-06-2019

quinta-feira, 11 de abril de 2019

O cacifo do 44


Toquem os sinos e anunciem a minha partida.

Cada charco no pavimento é um poema sem nome,

Metáforas…

As palavras são pequenas gotículas do teu suor,

O alimento preferido da paixão,

E dos livros, e dos violinos, vomitam-se melódicos sons que abraçam socalcos.

Pareço um louco transeunte desorganizado, sem apeadeiro,

E, no entanto, atraco a minha barcaça às tuas mãos de fada.

(enquanto escrevo, oiço Doors)

Toquem, toquem todos os sinos que eu vou fugir,

Levo a minha barcaça,

E em terras longínquas vou procurar o amor…

Nada levo.

Apenas preciso de cigarros, cigarros e cachimbos.

Cada charco no pavimento é um poema sem nome,

Uma alma penada,

(como se eu acreditasse em almas, muto menos, penadas)

Palerma.

Palhaço.

O circo regressa sempre na Páscoa…

Espero-te, aqui, sentado, nesta pedra de xisto invisível.

E quando eu morrer, não quero fato e gravata e sapatos pontiagudos,

Não, não quero flores do teu jardim,

Não, não quero a presença do Senhor Abade…

Quero ir só.

Como sempre fui…

Só.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

11/04/2019

domingo, 26 de agosto de 2018

As escadas da morte


O louco sou eu.

Aquele que te acolhe nas noites de Inferno, recheadas de vento e veneno…

O louco sou eu,

Agachado nos socalcos olhando o Douro encurvado,

Pego na enxada da loucura, rezo pelo teu corpo e desespero-me em frente ao espelho envergonhado,

O louco sou eu, o teu eterno louco das tardes de poesia…

E sentia,

Dentro do meu peito, os apitos dos teus lábios afastando-se das marés de Inverno,

O sol que mergulha no xisto amarrotado pelo vento,

E as cidades que se escondem no poema…

Hiberno,

E para a semana que vem, fujo do teu sorriso,

Subo as escadas da morte,

E com um pouco de sorte,

Desprovido de juízo…

Uma caravela deita-se na minha cama,

Dispo-a,

Adormeço-a na minha mão…

Até que a tempestade nos separe.

 

 

 

Alijó, 26/08/2018

Francisco Luís Fontinha

domingo, 9 de abril de 2017

A casa dos espirros


Vagabundos,

Sonâmbulos

Cromos

E outros cromados,

Assim avança a vida do poeta…

Sobre a janela da solidão,

Desamados,

Triângulos de prata no papel amachucado

Correndo pela paixão na juventude das pirâmides sonolentas,

Vagabundos,

Sonâmbulos

Cromos

E outros cromados,

Enigmáticos circos de terra em terra,

Palhaços,

Candidatos a palhaços…

Num empobrecido poste de iluminação,

A forca miserável do inventor

Entre círculos e cubos de sombra…

A inquietude neblina que assombra a mão

Do palhaço candidato a palhaço,

As bocas de esperma descendo a calçada

Até se sentar junto ao rio,

Ouvem-se os socalcos do amanhecer

Quando as enxadas do prazer batem no xisto esfarrapado,

O circo não tem fim,

O fogo adormece as almas dos condenados,

E sobre o papel amachucado…

A casa dos espirros,

Os vampiros telhados das cidades em chamas…

Tudo arde no teu olhar

Como arderam as minhas palavras nas náuseas do sono…

Ergo-me,

Faço-me vagabundo como eles…

E vivo apaixonadamente no cubículo da idade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 9 de Abril de 2017

sábado, 1 de abril de 2017

Entre mim em ti… meu amor


Os mares envergonhados da solidão

Que caminham durante a noite nos meus braços cansados,

Sinto no corpo as cancelas imaginárias da saudade

Como um sonâmbulo tresloucado,

Inferioridade minha das terras envenenadas

Da terra queimada,

Hoje, nada tenho para te oferecer,

Nem palavras,

Nem… nem amanhecer,

Os mares envergonhados…

Que as canibais laranjas deixam ficar nos teus lábios

E do sumo apedrejado pela loucura

Regressam as sonolências viagens sem destino…

Tenho no corpo o peso doirado da lua

Que alimentam as minhas mãos

Do silêncio vergado pelas pedras da paixão,

Não preciso da tua boca,

Dos teus beijos,

Das… das tuas palavras vãs…

Queria ter no peito o sol amargurado das ribeiras clandestinas

Que descem os socalcos do sono,

Envergar na lapela as sombras tumultuosas que poisam na minha janela,

Os pássaros destinos das árvores enganadas por mim,

Os papéis secretos do voo frenético e engasgado das gaivotas libertinas,

Às vezes tenho medo,

Às vezes pareço um menino aprisionado no cais da esperança,

Abraço-te imaginariamente como um louco veleiro encalhado na sombra inocente do esplendor amigo da rua sem nome…

Os vidros em cacos escorregam pelo meu corpo de pedra lascada

E suicido-me quando cai a noite em ti,

Meu amor, em ti…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 1 de Abril de 2017

quinta-feira, 16 de março de 2017

Pálpebras de xisto


Saboreei a paixão convexa do desejo
Percorri os caminhos esconderijos do sofrimento
Como os livros que escrevi
E os que não quero escrever…
Saltei a ponte do esquecimento
Num voo frenético nunca antes alcançado
Em direcção ao mar
Em direcção ao abismo
Senti no corpo o peso do amanhecer
Senti nas mãos a enxada da vergonha
Descendo socalcos
Saltando montanhas desenhadas…
E as palavras
As palavras do sono inventando pálpebras de xisto
Como se inventam os rios
Quando cai a noite sobre a escuridão.


Francisco Luís Fontinha
16/03/17

sábado, 10 de setembro de 2016

O medo dos teus olhos


Tenho medo dos teus olhos

Quando a noite inventa tempestades nos teus lábios,

Tenho medo do silêncio,

Medo do luar…

Tenho medo de amar…

Quando próximo do teu rio

Um tubarão espera por ti,

Tenho medo das tuas mãos

Quando os socalcos sobem à aldeia

E o teu corpo se transforma em perfume…

Tenho medo do teu cabelo

Entrelaçado no xisto da manhã

E um fino fio de oiro…

Vive na tua boca,

O beijo acorda do sonâmbulo relógio de prata,

Temos um horário moribundo,

Caquéctico

E sujo…

No pulso da solidão,

Tenho medo da cidade

Que habita nos teus seios

E expulsa todos os corações apaixonados…

Tenho medo dos bichos de papel

Que invadem os teus braços

E lançam sobre o oceano o medo…

O medo de ter medo

Dos teus olhos

Das tuas lágrimas,

Tenho medo da tua sombra

Incandescente

E triste

Nos jardins imaginários…

Tenho medo dos teus olhos

Que me alimentam a insónia…

Tenho medo dos amigos

Que inventam amigos e de amigos nada têm…

Tenho medo das pedras

Dos triciclos em pedra

E das madrugadas sem dormir…

Tenho medo da partida…

E de não regressar mais a mim

O medo dos teus olhos.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 10 de Setembro de 2016

domingo, 24 de julho de 2016

menino rabelo


menino rabelo

galgado o rio até ao mar,

traz nos lábios a saudade

e nas mãos palavras de amar,

desembarca na cidade

com dois caixotes em madeira…

menino rabelo

que se deita junto à ribeira…

descalço e sem vaidade

o menino abraça-se à madrugada

como uma barcaça assombrando a alvorada,

menino rabelo

galgando socalcos de papel

e rochedos de cartão…

menino sem destino

que transporta no coração

um livro de mel,

menino rabelo

menino sem medo

das falanges de poeira…

menino que acorda cedo

o menino rabelo

menino que brinca na eira.

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 24 de Julho de 2016

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

As lâminas da paixão


Meu amor,

Quando os teus seios dormem suspensos nos socalcos do Douro

E o Rio se perde na última curva do anoitecer,

Invento-te,

Escrevo-te…

Faço-o sem o saber,

Ou querer…

Sentir em mim as tuas mãos de xisto lacrimejante,

Sentir em mim os teus lábios de uva mendigando os meus lábios de luar…

Meu amor,

Quando o teu olhar se esconde no Pôr-do-sol,

E uma gaivota alicerça-se ao meu peito,

Sinto o teu perfume vaiado sobrevoando todos os cadeados do teu corpo…

Ai… ai meu amor,

Este sol,

Este Rio…

E estes barcos em papel,

Inventando sorrisos nas lâminas da paixão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 2 de Outubro de 2015