O poeta, durante a
vindima, aproximadamente trinta dias, andou com um garrafão de água na
bagageira do carro, pois este perdia água e aquecia; coisas de mecânica que não
assustam um poeta.
Fi-lo porque não tinha
tempo para ver de que se tratava a perda de água, e também porque o poeta não é
nada endinheirado, e do pouco dinheiro que tem,
Prefere comprar livros.
Digamos que sou um
miserável, que nalgumas coisas, mais parece o Pacheco.
Terminou a vindima. Com alguma
coragem, consegui descobrir a razão de o carro perder água; uma peça danificada
e o respectivo tubo.
Tirei a peça, fiz uma
gambiarra como o dizem os nossos amigos brasileiros, e com uma puxadinha
Liguei os tubos
directamente e assim resolvi a perda de água.
Fui dar uma volta até às belíssimas
corres do Outono do nosso deslumbrante Tua, para experimentar se o carro
deixava de aquecer, e
Bom, ao fundo tudo
funciona,
Até a poesia.
O problema foi subir o Tua.
Começou a aquecer, muito, parei, abri o capô, e verifiquei que o depósito da
água parecia uma panela de pressão, e que quase explodia.
Fechei o capô. Pois o
poeta tem de dar a graça de feliz, não de miserável que é, e a cada
Carro que passava por
mim,
Eu sorria.
Arranquei e parei três ou
quatro vezes, até que enquanto fumava um cigarro lembrei-me dos conhecimentos
de termodinâmica, e resolvi muito devagarinho abrir o depósito da água, muito
devagarinho
O vapor subia em direcção
ao sol.
E percebi que se viesse com
a tampa do depósito apenas meia apertada, havia saída de vapor, e o carro não
aquecia.
Funcionou. Deixou de
aquecer. E a função da peça danificada, é mesmo essa.
A parvoíce disto tudo,
ontem, 19/10.
Era o aniversário da
Cristina, e foi esta a tarde que lhe proporcionei; mas ela estava feliz. E o
poeta sentiu-se amado.