quinta-feira, 22 de agosto de 2024
domingo, 6 de agosto de 2023
quarta-feira, 28 de junho de 2023
Madrugada
Tudo arde
Tudo arde dentro deste
pedaço de nada
E no entanto
Desenho o fogo na minha
mão…
Tudo arde
Tudo…
Tudo arde
E apenas o silêncio dorme…
Nada mais consegue dormir
dentro de mim…
Os meus poemas
suicidam-se ao nascer do dia
Os meus desenhos…
Esses…
Morrem envenenados pela
luz das estrelas
E desta fogueira…
Apenas encontro as cinzas
que a lua lançou ao mar
Numa triste manhã de
Primavera…
Tudo arde
Tudo arde dentro deste
pedaço de nada
E é tão lindo o fogo…
O fogo que consome a
madrugada.
28/06/2203
terça-feira, 4 de outubro de 2022
Quando tudo arde
Enquanto
tudo arde,
As
minhas palavras são assassinadas,
Enquanto
tudo arde,
As
minhas telas… também elas, ardem,
Enquanto
tudo arde,
O
sono transforma-se em insónia,
A
paixão…
A
paixão também arde,
E
pego nas cinzas,
Semeio-as
nas encostas do Douro,
Sento-me
sobre este rio…
E
também eu, sinto-me em chamas,
E
espero que a noite me leve.
Enquanto
tudo arde,
As
minhas palavras,
As
minhas telas… morrem.
Alijó,
04/10/2022
Francisco
Luís Fontinha
sexta-feira, 8 de julho de 2022
As sílabas da inocência
Éramos só nós. Trazíamos no
dorso a triste enxada da saudade, quando logo pela manhã, aos Domingos, íamos
visitar os barcos, que após uma longa noite de sono, aos poucos, acordavam como
acordam as palavras do poema quando este, depois de zarpar do cais, se abraçava
à baía que hoje, muitos anos depois, é apenas uma lágrima de sangue.
No Mussulo, escrevíamos na
lápide areia branca as palavras envenenadas que só o silêncio consegue ressuscitar,
após o almoço, um barco de espuma erguia-se da montanha do sono, aqui e ali,
sabíamos que os meninos de calções, aqueles que sobreviveram à noite, começavam
a voar em direcção aos sonhos.
São as lágrimas, quando o
teu sorriso é uma tela pincelada de Inverno, como a nobre e labirinta geada que
após o luar começava a poisar nas nossas mãos e, do teu rosto, os pássaros
sabiam que sobre as árvores, que sobre as marés infiéis dos distantes
musseques, os velhos ditadores, um dia, morreriam de tédio; amém.
Éramos só nós, trazíamos
na algibeira a revoltada fome que emergia das tristes mangueiras que depois das
chuvas, o cheiro da terra se impregnava nas roupas como dentes caninos da
solidão; éramos só nós. Éramos só nós quando o barco começou a distanciar-se de
uma cidade engolida pelo sono, que após passar a linha do equador e, em
pequenos engasgamentos, a orquestra limitava-se a escrever na espuma, as
sílabas da inocência.
São as lágrimas, quando o
teu sorriso é uma tela pincelada de Inverno, são as lágrimas que guardo no
peito, as tuas lágrimas das manhãs de cacimbo.
Alijó, 7/07/2022
Francisco Luís Fontinha
sábado, 2 de julho de 2022
Nuvem adormecida
Não saíamos onde
habitavam os sonhos.
Tínhamos na mão, depois
da tempestade,
Todas as palavras envenenadas
pelo silêncio e,
Mesmo assim, pertencias
aos velhos muros em xisto,
Onde pequenos pássaros em
papel…
Dormiam depois de
regressarem do luar.
Erguia-me.
Perante o altar da
solidão,
De punhos cerrados ao
vento,
Suplicava que as minhas
palavras,
Que os riscos que deixava
no chão,
Partissem em direcção ao
mar,
Como fazem todos os rios.
Depois, talvez em frente
ao espelho,
Cruzava os braços,
Puxava de um cigarro
invisível…
Sabendo que ontem, depois
da chuva,
Partiram os teus cabelos
de nuvem adormecida.
´
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 02/07/2022