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quarta-feira, 28 de junho de 2023

Madrugada

 

Tudo arde

Tudo arde dentro deste pedaço de nada

E no entanto

Desenho o fogo na minha mão…

Tudo arde

Tudo…

 

Tudo arde

E apenas o silêncio dorme…

Nada mais consegue dormir dentro de mim…

Os meus poemas suicidam-se ao nascer do dia

Os meus desenhos…

Esses…

Morrem envenenados pela luz das estrelas

 

E desta fogueira…

Apenas encontro as cinzas que a lua lançou ao mar

Numa triste manhã de Primavera…

Tudo arde

Tudo arde dentro deste pedaço de nada

E é tão lindo o fogo…

O fogo que consome a madrugada.

 

 

 

28/06/2203

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Quando tudo arde

 

Enquanto tudo arde,

As minhas palavras são assassinadas,

Enquanto tudo arde,

As minhas telas… também elas, ardem,

 

Enquanto tudo arde,

O sono transforma-se em insónia,

A paixão…

A paixão também arde,

 

E pego nas cinzas,

Semeio-as nas encostas do Douro,

Sento-me sobre este rio…

E também eu, sinto-me em chamas,

 

E espero que a noite me leve.

Enquanto tudo arde,

As minhas palavras,

As minhas telas… morrem.

 

 

Alijó, 04/10/2022

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 8 de julho de 2022

As sílabas da inocência

 

Éramos só nós. Trazíamos no dorso a triste enxada da saudade, quando logo pela manhã, aos Domingos, íamos visitar os barcos, que após uma longa noite de sono, aos poucos, acordavam como acordam as palavras do poema quando este, depois de zarpar do cais, se abraçava à baía que hoje, muitos anos depois, é apenas uma lágrima de sangue.

No Mussulo, escrevíamos na lápide areia branca as palavras envenenadas que só o silêncio consegue ressuscitar, após o almoço, um barco de espuma erguia-se da montanha do sono, aqui e ali, sabíamos que os meninos de calções, aqueles que sobreviveram à noite, começavam a voar em direcção aos sonhos.

São as lágrimas, quando o teu sorriso é uma tela pincelada de Inverno, como a nobre e labirinta geada que após o luar começava a poisar nas nossas mãos e, do teu rosto, os pássaros sabiam que sobre as árvores, que sobre as marés infiéis dos distantes musseques, os velhos ditadores, um dia, morreriam de tédio; amém.

Éramos só nós, trazíamos na algibeira a revoltada fome que emergia das tristes mangueiras que depois das chuvas, o cheiro da terra se impregnava nas roupas como dentes caninos da solidão; éramos só nós. Éramos só nós quando o barco começou a distanciar-se de uma cidade engolida pelo sono, que após passar a linha do equador e, em pequenos engasgamentos, a orquestra limitava-se a escrever na espuma, as sílabas da inocência.

São as lágrimas, quando o teu sorriso é uma tela pincelada de Inverno, são as lágrimas que guardo no peito, as tuas lágrimas das manhãs de cacimbo.

 

 

Alijó, 7/07/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 2 de julho de 2022

Nuvem adormecida

 

Não saíamos onde habitavam os sonhos.

Tínhamos na mão, depois da tempestade,

Todas as palavras envenenadas pelo silêncio e,

Mesmo assim, pertencias aos velhos muros em xisto,

Onde pequenos pássaros em papel…

Dormiam depois de regressarem do luar.

 

Erguia-me.

Perante o altar da solidão,

De punhos cerrados ao vento,

Suplicava que as minhas palavras,

Que os riscos que deixava no chão,

Partissem em direcção ao mar,

 

Como fazem todos os rios.

Depois, talvez em frente ao espelho,

Cruzava os braços,

Puxava de um cigarro invisível…

Sabendo que ontem, depois da chuva,

Partiram os teus cabelos de nuvem adormecida.

´

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 02/07/2022

domingo, 27 de outubro de 2019

Censura



Este meu quadro; colagens de lábios, como podem verificar, foi confundido pelo Facebook como vaginas e foi bloqueado. Censurado. Vergonha.

 

 

Francisco Luís Fontinha


terça-feira, 1 de agosto de 2017

A janela com vista para o mar


Uma janela com vista para o mar,

O barco da despedida espera-me, e brevemente estarei nos teus braços,

Um livro recheado de imagens a preto-e-branco,

Renasce na tua mão. Posso manuseá-lo, mas perco os desenhos imaginados pelo louco autor das searas imaginárias,

Enquanto o trigo se despede da planície…

 

Eu brinco com o teu olhar escondido na sombra das árvores.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 1 de Agosto de 2017

domingo, 2 de agosto de 2015

Fogueira dos beijos

Apago o apito da sinalização em direcção à paixão,
Percorro os trilhos construídos pelo cansaço,
Não tenho medo…
O salivar réptil das janelas do sonho,
O amor debruçado nas clarabóias da insónia,
Habito em ti, meu amor,
Pareço uma folha de papel brincando na fogueira dos beijos,
E nos teus lábios…
A seara envenenada por um rio clandestino,
A ponte,
A passagem para os teus seios,
Neste jardins de arbustos enganados,
Dormem,
Sentem o peso do teu corpo,
Voando como uma gaivota,
Tenho pregos no meu peito, meu amor,
Apago o apito das recordações,
Vivo nesta cidade procurando a tua sombra,
Nunca mais,
Vi barcos no Tejo,
Nunca mais, meu amor,
Vi os cadernos guardando as minhas palavras,
Estou só, meu amor,
Amando, meu amor, estarei sempre só…
Como as fotografias da minha infância,
Como eu te amo… meu amor,
As madrugada debruçadas nas carcaças da poesia,
Abutres comendo os meus olhos,
Sinto-te, meu amor, junto a mim…
A ponte,
A luz que acaricia a ponte,
Ela geme,
E grita,
O orgasmo metálico das treliças,
O masturbar dos pilares em cada olhar,
Firme,
Ela sabe que amanhã não haverá noite,
Palavras,
E desejo…
Mesmo assim, meu amor,
Lisboa é a minha amante secreta…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Agosto de 2015


quarta-feira, 27 de maio de 2015

Cidade em lágrimas


Os ossos envenenados pela paixão do desejo,

 

A poeira do cansaço

Entre envidraçados

E pilares de areia,

As lágrimas do incenso…

Fundeadas nos teus braços,

E não há maneira de acordar a madrugada,

Deito-me na cidade em lágrimas,

Sou absorvido pelos guindastes da solidão,

Os barcos,

O corpo sem coração…

Loucos

E poucos,

 

No calendário sem amanhecer,

Sinto-me um livro a arder

No centro do Tejo,

Sou abalroado pelos cacilheiros em papel,

Não tenho medo do silêncio,

E das casas sem telhado,

Não tenho medo das palavras

E dos desenhos não desenhados,

Os ossos

Masturbam-se no líquido pincelado do Adeus

Também ele… docemente

Envenenado pela paixão do desejo…

 

E amanhã

Uma cancela de sombra será derrubada,

Tomba,

E desaparece dos jardins onde poisam os teus cabelos,

 

E para quê?

 

O dizer

Sem o querer

Apenas porque estou sentado sobre um corpo sem coração…

E pum. Termina o dia. Apagam-se todas as luzes. E pum…

Docemente

Uma pomba dorme no parapeito da minha janela.

 

E pum.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 27 de Maio de 2015

domingo, 5 de abril de 2015

Para ti meu amor


Desce a noite pelos teus ombros de silício

Percebo na tua voz

O silêncio poema da paixão

O falso livro

Embrulhando-se nos teus seios

Em prata

A sombra

O prateado fugitivo

Descansando o olhar numa livraria

Livros

AL Berto

Lobo Antunes

 

Saramago

Pacheco

Livros

Estórias

Cesariny

A sombra

Lapidando o teu corpo

Oceano de palavras

Mergulhadas no teu púbis

A madrugada

Livros

Perdidos

 

E achados

O amor

Meu amor

O significado verdadeiro da saudade

Nos dardos envenenados da solidão

A fala

Não

A sanzala mergulhada em lágrimas de cartão

O vento trazendo as coxas do capim

Oiço-a enquanto durmo

Os seios minúsculos

Masturbados na poesia nocturna da alegria

 

A noite

Não

A fala

Os lábios incinerados na lareira do prazer

O suor alicerçado à tua pele

A húmida vagina em imagens tridimensionais

O PET

O maldito PET

O juízo

A mentira

A insónia

Novamente

 

Triste


As ruas do teu sofrimento

A lotaria da vida

Morres

Não morres

Vives

Em mim

Meu amor

Vives nas minhas veias semeadas de tempestade

A saudade

Novamente

 

No meu corpo

O pénis encarcerado numa estrofe

O enjoo da solidão

Quando à nossa volta gravitam

Sombras…!

A penumbra tarde de Novembro

Nas janelas do Hotel da Torre

Belém

A vagina procurando cacilheiros de luz

Um cigarro

Dentro de mim

Aso beijos

 

E eu sabia que a carta

Sem destino

Morreu

O amor das sílabas encarnadas…

Travestis amigos numa mesa

A vertigem do amanhecer

Acariciando pássaros e cavernas de medo

Não tenho morada

Cidade

Casa

Rua…

Mas tenho um poema para ti meu amor.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 5 de Abril de 2015

sexta-feira, 3 de abril de 2015

O carteiro


Vivíamos como dois círculos

Descendo a madrugada

Tínhamos no olhar

Todas as palavras do Universo

O corpo

Teu

Fervilhava entre duas rectas transversais

As paralelas sombras dos teus seios

Em cubos de medo

Quando a mão te acariciava

E da mão

A húmida esfera de sémen

As gaivotas pinceladas no teu ombro esquerdo

Voávamos nas montanhas do abismo

O exílio da luz

Que as tuas coxas absorviam

Nas imagens prateadas

Encarceradas num cinzeiro de vidro

Escrevia-te uma carta

Esquecia-me das palavras

Respondias-me

Nada

Como poderias responder-me

Se a cidade se tinha transformado em morte

Camuflada nas ruas e avenidas dos teus gemidos

O carteiro dizia-me…

Respondias-me

Nada

O carteiro respondia-me que hoje

Nada

Como poderias responder-me

Se deixaste de ter alvorada

Secretária onde escrever

E papel

Ardeu

Na tua boca em baloiços beijos

A loucura atravessava a cidade

Vivíamos entre cartas

E

E desenhos de chocolate

Em finas películas

Dormindo na tua pele

Domingo

A cancela do desejo

Encerrada

Reabrimos amanhã

Hoje

Nada

Papel

De parede

Com olhos de centeio

O vento abraçava-te e tu

E tu Domingo

Sem fala

Escondida nos barcos clandestinos da saudade

A água nas pétalas do teu sorriso

Tínhamos

A vida na vida

E a vida em papel

Hoje

De parede

Enferrujados poemas no púbis da maré

A casa inanimada

Dói-lhe?

Sem resposta

Nada

Sem fala

E tu Domingo

Suspensa no calendário da solidão…

Uma criança de luz

Nos teus braços

Fim.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 3 de Abril de 2015