Converso com as vozes
Que conversam comigo
E escrevo-lhes na calçada da noite
Sobre os lençóis de malmequer
No jardim da saudade
Converso com as vozes e oiço as árvores
Quando me sento no jardim da saudade
E desenho gaivotas nas folhas cansadas dos plátanos
E desenho as conversas das vozes
No sorriso do silêncio
Antes de adormecer
Sobre mim o ténue cortinado disfarçado de abraço
Que as vozes
Semeiam palavras na terra árida da minha mão
E se deitam na charrua de aço
Que corre que corre que corre para o mar
E dos rochedos perplexos e nos rochedos agoniados
Pelo cansaço da manhã
As vozes
Esqueletos travestidos de areia
Atravessam o limite da lua
E desaparecem entre os pingos sedosos da chuva
As vozes calam-se e alguém as censura
Dentro de um caderninho amordaçado no jardim da saudade