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sábado, 3 de setembro de 2022

Rio Douro

 

Por este rio doirado,

Entre rochedos e socalcos de perder o olhar,

Entre sombras e vinhedos,

Por este rio amado,

Afugentando enxadas e medos

No silêncio madrugar,

 

Por este rio cansado,

Onde o horizonte se esquece de acordar

E os homens labutam até à morte,

Por este rio apaixonado,

Onde crianças sem sorte

Foram condenadas a trabalhar,

 

Por este rio doirado,

Que a alma não esquece…

E o corpo sente o cansaço,

Por este rio embriagado

Pelo sol aquece

E dorme num pequeno abraço.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 03/09/2022

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

As lâminas da paixão


Meu amor,

Quando os teus seios dormem suspensos nos socalcos do Douro

E o Rio se perde na última curva do anoitecer,

Invento-te,

Escrevo-te…

Faço-o sem o saber,

Ou querer…

Sentir em mim as tuas mãos de xisto lacrimejante,

Sentir em mim os teus lábios de uva mendigando os meus lábios de luar…

Meu amor,

Quando o teu olhar se esconde no Pôr-do-sol,

E uma gaivota alicerça-se ao meu peito,

Sinto o teu perfume vaiado sobrevoando todos os cadeados do teu corpo…

Ai… ai meu amor,

Este sol,

Este Rio…

E estes barcos em papel,

Inventando sorrisos nas lâminas da paixão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 2 de Outubro de 2015

terça-feira, 21 de julho de 2015

Fingida alegria


A velha estrada em direcção à morte,

Os plátanos das tuas pálpebras,

Cansados,

Tristes,

Revoltados de tanta geada

E tempestades de noite,

Inventas o sono

Nas paredes escuras do sofrimento,

Dormes,

Habitas neste cubículo como se fosses uma sombra envenenada pelo silêncio,

Lá fora,

Pássaros à tua espera,

E da velha estrada

Chegam a ti os Oceanos de prata

Que ofuscam o teu olhar,

Um soldado perde-se nas margens do Tejo,

O caderno acorrentado à mão

Vagueia sobre os cinzentos espelhos da dor,

E todas as palavras voam sobre os esqueletos de papel

Que brincam no teu peito,

A janela do teu quarto encerrada,

A porta dos vinhedos descendo o Douro,

Também ela…

Encerrada,

Não há um número nos seus braços,

Incógnitas manhãs sobre um lençol de linho,

As flores queixam-se da tua alegria,

Cessou,

Como cessaram as pontes para a outra margem…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 21 de Julho de 2015

sábado, 3 de janeiro de 2015

estas mãos de ninguém


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


estas mãos se cruzam no Oceano tua pele
mergulhando nas tuas pálpebras de madrugada
estas mãos te amam
e acariciam
nas tardes envenenadas pelo desejo
estas mãos de ninguém
com todos os cheiros da sanzala
estas mãos de ninguém
com todos os sons do amanhecer
que só o perfume de uma rosa consegue desenhar
e... e escrever
nas sombras do mar
estas mãos se cruzam no Oceano tua pele
que o barco do meu amor suavemente desliza...
como todas as palavras soltas
como todos os vinhedos suspensos no sorriso de uma enxada
estas mãos te amam
e acariciam
estas mãos de ninguém
que o tempo come
e despoja as suas cinzas no cemitério nocturno das gaivotas sem nome...
estas mãos
estas mãos se cruzam
quando todas as luzes se apagam e todos os corpos morrem...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 3 de Janeiro de 2015

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Vinhedos sombreados


Inventei-te numa noite de solidão,
escrevi o teu nome fictício numa muralha de xisto
que a tempestade tombou,
havia no teu olhar socalcos cansados
e vinhedos sombreados
de... paixão...

Havia na tua mão
uma carta por escrever,
e lá dentro...
um beijo,
um beijo desenhado no meu sorriso
com lágrimas de sofrer,

Inventei-te numa noite de solidão,
abri os cortinados e olhámos as estrelas de papel crepe...
havia luar nos teus cabelos
e neblina cinzenta nas tuas pálpebras de adormecidos rochedos,
e quando me abraçaste... a cidade morreu,
como morreram todas as cidades onde habitámos,

hoje, somos dois esqueletos vadios...
vagueando pela embriagada poesia de um louco,
dois pássaros sem árvores para poisar...
hoje, somos dois esqueletos vadios... sem Oceano para navegar,
e esperamos,
impacientemente que acorde a madrugada.

(e hoje... nada me apetece escrever...)



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2014