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sábado, 13 de maio de 2023

Cálice

 Imagino este cálice de vinho

Sozinho,

Imagino o teu corpo nas pétalas do vento

Quando junto ao mar,

Dorme o meu filho barco,

Sento-me,

E imagino-o voando sobre os quintais de Luanda,

 

Imagino este cálice de vinho

Sozinho,

Imagino os teus olhos quando dormem,

Dos teus olhos onde brincam as acácias da minha infância…

E dos teus cabelos em vento silêncio,

O mar da minha infância,

Poisa-me nos lábios…

E beija-me loucamente,

 

Imagino este cálice de vinho

Sozinho,

Imagino a lua poisada nos teus seios de desejo…

Imagino o silêncio… poisado nos teus doces lábios,

Imagino a luz do teu olhar…

A trezentos mil quilometro por segundo…

E eu…

Imagino este cálice de vinho

Sozinho,

 

Imagino o vento dançando nos teus cabelos,

Nuvens dos pincelados desejos,

Na tela teu corpo,

Teu corpo livro,

Matemática,

Equação diferencial…

Imagino este cálice de vinho

Sozinho,

 

Imagino as sílabas do teu ventre

Em maternidade luz,

Dançam os pássaros em mim,

E eu,

Imagino este cálice de vinho,

Sozinho,

Imagino a nossa galáxia em espiral teu sorriso…

 

Imagino as tempestades de medo

Dentro deste cálice de vinho

Sozinho,

Imagino o beijo do silêncio,

Em alegres coloridos lábios

Em marés de sono,

E eu,

Imagino este cálice de vinho

Sozinho,

E podia ser cada um de nós…

Eu,

Tu,

Vós…

Todos,

Todos um dia podemos ser um cálice de vinho

Sozinho.

 

 

 

 

Alijó, 13/05/2023

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Call Center

 

Sabes

Meu amor

Um dia morrerá a árvore grande

O nosso centenário plátano

Em seu lugar

Um dia

Será plantado um call center

Provavelmente

Para venderem garrafas de vinho

Ou bilhetes de cruzeiro

 

Tínhamos a fogueira de Natal

Não vamos ter fogueira de Natal

 

Um dia

Meu amor

A nossa terra

A nossa querida terra

 

Será apenas um couto de caça.

 

 

Alijó, 07/12/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 3 de setembro de 2022

Rio Douro

 

Por este rio doirado,

Entre rochedos e socalcos de perder o olhar,

Entre sombras e vinhedos,

Por este rio amado,

Afugentando enxadas e medos

No silêncio madrugar,

 

Por este rio cansado,

Onde o horizonte se esquece de acordar

E os homens labutam até à morte,

Por este rio apaixonado,

Onde crianças sem sorte

Foram condenadas a trabalhar,

 

Por este rio doirado,

Que a alma não esquece…

E o corpo sente o cansaço,

Por este rio embriagado

Pelo sol aquece

E dorme num pequeno abraço.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 03/09/2022

domingo, 15 de setembro de 2013

Sorrisos brancos

foto de: A&M ART and Photos

Excelente título para qualquer coisa com palavras...
O que pensas da paixão em dias de chuva, meu querido?
Excelente, divinal sorriso em silêncios brancos, os lenços de linho e bordados pelas tardes infindáveis das suas mãos de pergaminho, sentava-se no meu colo e abraçava-me, pedia-me
Posso beijá-lo?
Respondia timidamente que
Sim... talvez... silêncios brancos, lenços em linho, e nos lábios seda pura como lágrimas de Outono nas videiras nocturna dos socalcos virados para o rio, tudo parece existir, não existindo, as janelas de xisto
Abriam-se nas clandestinas jangadas com velas aos braços cansados nos Domingos depois do jantar, sabia-a apetecível... mas a senhora dona sobre mim absorvia todas as cores do arco-íris, comia-me a madrugada, e eu, nem com o amanhecer conseguia brincar, acariciar, nada, como se ele fosse um corpo desejado e intocável
Posso beijá-lo?
E havias as janelas de xisto suspensas nos cabelos da montanha, e havia as perdizes voando sobre os cachos ensanguentados pelo suor de quem os apanha, carrega-os, e
As janelas de xisto
E
As janelas de xisto
E
Posso beijá-lo?
E ele beijava-o e víamos o amanhecer pregado aos lábios da manhã...
E
Posso beijá-lo?
Perguntávamos-lhes se os beijos tinham açúcar, e perguntávamos-lhes se o amanhecer tinha desejos como os homens, como os homens, e como as mulheres, e as mulheres em outras mulheres, depois e os tristes homens em outros homens,
Posso beijá-lo?
E depois
As janelas de xisto
Vinham as sombras da noite anterior, entravam-nos e levavam-nos
Como crianças pela mão?
Como xistos em janelas de correr, guilhotinas simplificadas,
Quer factura?
Guilhotinas transparentes entre rochas e ruelas mergulhando a aldeia num frenesim de loucos, aviadores esqueléticos, aviadores sobrevoando imagens a preto-e-branco do teu corpo amargurado, absorvido pelo sémen nocturno dos esteios em palavras cansadas que a mão dele deixavam ficar nos lábios de outro ele, amavam-se
Amo-o, dizia-lhe entre sorrisos brancos, e no entanto hoje procura moedas de cêntimo na Calçada da Ajuda, ouve os apitos de um barco que partiu há vinte e cinco anos, para onde?
As janelas de xisto?
Beija-me,
E ele beijou,
Abraça-me...
E ele... timidamente... não abraçou... e desapareceu dentro do cacimbo como se houvesse um túnel secreto no peito dele, onde supostamente
As janelas de xisto?
Posso beijá-lo?
Que supostamente
E ele... timidamente... não acordou, e desapareceu... que supostamente lhe tinham cortado com a tesoura da dor...
O quê, o quê?
A vontade de amar, de amar como se amam as paixões envenenadas em suicídios de amêndoa...

(Não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Setembro de 2013

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O vendedor de sonhos

A vida tem destas coisas e tanto estamos na “merda” como repentinamente pertencemos ao estrelato do céu noturno de inverno, e pensava eu que terminaria os meus dias como mendigo dos tempos modernos e que engando eu estava,
- É preciso acreditar e ter esperança,
E eu perguntava-me Acreditar em quê ou em quem?, E eu perguntava-me Ter esperança em quem ou em quê? Que a noite se vestisse de dia e o dia se travestisse de noite? Que deus descesse à terra e se ajoelhasse a meus pés e me pedisse perdão? Ou que em vez de termos um túnel encravado na serra do marão tivéssemos o mar em Trás-os-Montes com gaivotas com traineiras e petroleiros e ao final do dia o pôr-do-sol?
- Nem acredito e muito menos tenho esperança murmurava eu todas as noites antes de adormecer,
E hoje precisamente enquanto tomava café pago por um dos meus amigos porreiros li na penúltima página do jornal
- Amor, Possibilidade de encontrar um grande amor. Trabalho, faça aquilo que melhor sabe fazer.,
E por grande amor entendo talvez alguém com cento e oitenta centímetros ou duzentos centímetros de altura e com cerca de cem quilogramas de peso, e nada, nada Acredite em mim Rigorosamente nada, e as únicas coisas grandes que vi hoje resumem-se a três cisternas carregadas de vinho, Vinho?, Sim vinho
- É preciso acreditar e ter esperança,
E do bom,
E dei-me conta hoje que a melhor coisa que sei fazer é sonhar e de mendigo dos tempos modernos vou começar a vender sonhos pelas ruas da cidade, e tenho-os desde cinco euros até vinte e cinco euros e de várias cores e sabores,
- É preciso acreditar e ter esperança,
E hoje também decidi mudar de marca de cigarros, do SG Filtro vou começar a fumar Tinto, é mais barato e não prejudica os pulmões e ainda ganho uma moca inteiramente grátis,
Sim vinho
Porque nos tempos que correm só com uma grande moca é que se consegue sobreviver (acreditar e ter esperança) e se for do bom,
E do bom,
E assim, senhoras e senhores, e assim se me virem pelas ruas da cidade com uma mala suspensa no braço e recheada de sonhos, não tenham medo, aproximem-se e comprem-me um,
Obrigadinho e que se faz tarde e antes que chegue a ASAE vou dar de frosques e fumar um Tinto,
Do bom.