Duzentos e seis ossos
Sentados na esplanada do
sono,
Sob a álgebra da insónia,
Mesmo junto ao rio,
Um fio de sémen desenha a
tempestade;
Rodas dentadas
entrelaçam-se
E amam-se no espelho do
luar.
Regressa, pela noite, o
cansaço,
Traz com ele a ínfima
equação do desejo
Que percorre as ruas da
cidade,
Que acaricia com a sua
mão
Os seios tempestuosos do
silêncio.
Escreve-se o poema
Na tela argamassada do
abraço,
Quando uma fina névoa de
suor
Lhe percorre as coxas de
aço.
O poeta solda uma pequena
chapa de saliva
À boca do púbis,
E, todos os pássaros da
aldeia
Dormem abraçados aos
parafusos do gemido;
E o poeta cansado,
Desenha no corpo da amada
sombra,
Uma língua de solidão,
Com janela para o abismo.
Transcreve para o jardim
das pilas mortas
Todos os sonhos da
infância,
E todos os brinquedos,
E todas as palavras,
Suicidam-se no hotel do
sofrimento.
Eles morrem.
Elas, não morrem.
O luar deita-se nas coxas
do poema
Como se fosse uma corda
em nylon
Suspensa nos lábios da
manhã;
Batem à porta e,
Trazem-lhe um punhado de
fome,
E, trazem-lhe uma equação
de cansaço.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 16/10/2021