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quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Poema

 Faz das tuas lágrimas

Um presépio de luz,

Um jardim florido,

O meu jardim.

Faz das tuas lágrimas

Um poema,

O meu poema,

Um pedaço de mim.

Faz das tuas lágrimas

Uma equação,

Que eu consiga resolver,

Que eu com a minha mão…

Afugente o teu sofrer.

 

 

12/10/2023

domingo, 24 de setembro de 2023

Despedida dos teus olhos

 Cai a noite

Nos teus olhos

E pouco tempo disponho

Para olhar os teus olhos

Cai a noite nos teus olhos

E pouco tempo tenho de respiração

E pouco tempo tenho de vida

Quando cair a noite nos teus olhos

Todo o mar ficará à deriva

E nos meus braços

Ficarão todos os barcos

 

E as lágrimas dos teus olhos

Cai a noite

Cai a noite nos teus olhos

Pergaminho doirado

Silêncio endiabrado nas mãos de Deus

Quando cai a noite nos teus olhos

E pouco tempo tenho de vida

E quase não tenho tempo para me despedir

Dos teus olhos.

 

 

24/09/2023

sábado, 22 de julho de 2023

Cidade de enganos

 Procuro-te nesta cidade de enganos

Procuro-te a cada noite que acorda

A cada noite que dorme

Procuro-te no sorriso das estrelas

Ou nas lágrimas do luar

Procuro-te no infinito

Se ele existe

Que acredito

Não desistir de te procurar

 

Procuro-te nesta cidade de enganos

De tormentos

Procuro-te na primeira luz da manhã

Procuro-te nesta cidade de enganos

E pergunto a esta cidade de enganos

Porquê procurar-te

Se cada vez que te procuro

Uma estrela silencia-se no Universo

 

Procuro-te nesta cidade de enganos

De invisíveis lágrimas

E negros panos

Procuro-te sabendo que no teu olhar habita um pedaço de insónia

Que esconde um poema

Um lindo poema;

Onde te posso procurar

 

Dentro desta cidade de enganos.

 

 

22/07/2023

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Destes barcos sem nome

 Abraço-me a este pobre rio

Onde poisam os barcos sem nome

O comandante

Bebe as lágrimas dos subúrbios da insónia

E sobre os ombros

 

Os dedos imaginários das tuas mãos

A serpente de Deus

Brinca no teu pescoço

E um beijo voa sobre o mar

A casa

 

A casa é indivisível

E um portão de ferro

Apreende as primeiras lágrimas da manhã

Batem à porta

Senta-se sobre a sombra e enforca-se com o poema

 

Em pedacinhos de sono

A mesinha-de-cabeceira geme

Como gemem os gonzos das portas por onde entro

E destes sonhos que me despeço

O mar leva-me

 

E parto em busca dos teus cabelos

Que semearam as planícies do teu diário

E dos dias das minhas mãos de luz

O silêncio

Deste rio onde poisam os barcos sem nome.

 

 

 

 

Alijó, 25/11/2022

(Francisco)

sábado, 12 de novembro de 2022

Lágrima de sono

 Meu amor, hoje pertenço-te como me pertencem as estrelas em papel das tuas lágrimas, quando da noite, sem que ninguém percebesse, trazias a mim as palavras semeadas das primeiras chuvas da manhã, e sabíamos que os pássaros nocturnos do Inverno poisavam nas tristes árvores das tuas mãos,

E sabíamos que um dia vinham a nós os triângulos da madrugada,

Meu amor, hoje pertenço-te como pertencem as espingardas das alegres marés do infinito amanhecer,

Um dia,

Tristes,

As palavras do teu olhar.

Vivíamos nas margens invisíveis do rio sem nome, e entre as pontes do sono, vinham a nós as sombras dos velhos aviões que sobrevoavam as mangueiras entre danças no quintal de Luanda, o triciclo, ensonado, cantava quando o miúdo dos calções lhe pegava na mão

E ele,

Não, mãe, não.

O medo.

A LHÁ lá ao fundo, e suspenso no pescoço da mãe, que ambos não ultrapassavam os quarenta e cinco quilogramas, desenhava pequenos círculos de luz sobre uma LHÁ até perder de vista, depois, vinha novamente o triciclo, e ambos sabíamos que em breve regressaria a noite aos lábios da Princesa lunar, como regressaram muito mais tarde todas as pedras e todas as folhas das árvores em despedida,

O medo.

Da LHÁ, todas as tardes de Domingo, erguiam-se pequeninos corações de prata e percebia-se que dos seus olhos lacrimejantes da maré dos sonhos, um pedaço de paixão poisaria na sua mão, como muitos anos mais tarde, poisaram as nuvens sem nome.

Depois, um dia, esqueceu-se de acordar.

A janela tinha ficado aberta, e a noite quase a terminar, escrevia poemas sobre o lençol desossado do corpo putrefacto na infinita madrugada, e como todas as madrugadas, uma fina lâmina de paixão abraçava-a e beijava-lhe cada pedacinho de milímetro quadrado do corpo, e o caule e as folhas, murchas, deitavam-se sobre a sombra de sémen que um ausentado crucifixo envenenado tinha derramado, enquanto sobre a mesinha-de-cabeceira, um velho relógio engasgava-se entre as dez e as doze horas, e nunca percebemos porque morreu,

Como morrem os relógios, meu amor?

Morrem como a LHÁ,

E brincam como a LHÁ…

Meu amor, hoje pertenço-te como me pertencem as estrelas em papel das tuas lágrimas, quando da noite, sem que ninguém percebesse, trazias a mim as palavras semeadas das primeiras chuvas da manhã, e sabíamos que os pássaros nocturnos do Inverno poisavam nas tristes árvores das tuas mãos,

E sabes, mãe?

Percebi que uma mãe nunca tem nojo do filho,

Até que ele se transforme em poeira,

Acordávamos de mãos entrelaçadas como entrelaçados sonhos acordavam nos nossos lábios, depois, um beijo despedia-se,

Maldita mosca!

Não percebi, meu amor…

Ninguém percebeu,

Do rosto encharcado de sangue, as feridas silenciosas viviam como vivem as flores no meu pobre jardim,

E como viviam as flores do teu pobre jardim, meu amor?

Ensonadas, meu amor, ensonadas como todas as nossas noites.

Ele chorava.

Ela rezava.

Eu…

Pedia a Deus que uma equação qualquer resolvesse o meu problema, mas tal como ela, nenhuma equação veio a mim,

Ele,

Ela,

Lágrimas de sangue, meu querido.

E de sangue,

Eram feitas as palavras dele, quando se escondia debaixo da colcha como se fosse uma criança; uma criança que acabava de fazer uma qualquer asneira, coisas sem interesse, coisas de criança.

E do peito, uma lágrima de sono acordou.

 

(LHÁ=água do mar)

 

 

 

Alijó, 12/11/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Palavras entre marés

 Estávamos no Inverno

E das tuas mãos finas longas e frias

Vinham a mim as palavras entre marés adormecidas

Sobre a frágil melancolia dos teus olhos

Um pedacinho de sorriso meu

 

Caía sobre o mar de insónia

Como crianças em brincadeira

À volta de uma fogueira invisível

E percebia-se das nuvens que nos abraçavam

As gloriosas flores em combustão

 

Todas as manhãs

Abro a janela para o mar

Limpo a poeira nocturna que sobre os meus livros dorme

E numa carícia

Invento o sono nos teus olhos de poesia

 

Guardo as tuas lágrimas de luz

Desço as escadas que me levam durante a noite

Às esplanadas dos grandes rochedos

Saltamos o muro da infância

E na tua mão acordam as madrugadas simples sem sótãos

 

O poema que trazes no corpo

Aos poucos

Puxa a minha triste mão

E de um cigarro anónimo

Regressam a mim as lareiras das tardes sem literatura

 

 

 

 

Alijó, 10/11/2022

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Olhos de amar

 Há um pequeno sorriso

Nos teus olhos de amar

Há uma manhã que se despede

Dos eternos jardins em poesia

Há uma lua sem luar

 

Em cada novo dia

Há uma árvore

Que se deita na tua mão

Uma árvore sem pássaros

E um pássaro sem pão

 

Há um pequeno sorriso

Nos teus olhos de amar

Uma casa inabitada

Perto de uma ponte com fome

Há um rio sem nome

 

Que se abraça aos socalcos da madrugada

Um rio que nunca se cansa

Das minhas tristes palavras

Um rio que inventa

As lágrimas dos teus lábios

 

E as lágrimas da tua boca

Há um beijo no teu corpo

Um beijo desenhado por um sem-abrigo

Um beijo desejado

Um beijo em perigo

 

 

 

Alijó, 09/11/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Menina do além-mar

 

Menina do além-mar

Que habitas no castelo desejo

Transformas as lágrimas de chorar

Em estrelas de papel colorido

E nos lábios lanças um beijo

E nas mãos tens os barcos de brincar

Menina do além-mar

Que semeias no vento

Palavras de encantar

E desenhas no luar

As marés infinitas das noites de insónia

Menina do além-mar

Que transformas as lágrimas de chorar

Em estrelas de papel colorido

E trazes no olhar

Os sonhos de sonhar

Menina do além-mar

Não tenhas vergonha de chorar

Porque as tuas lágrimas

São estelas que sabem voar

 

 

Alijó, 08/11/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Esta folha em branco

 Escrevo-te nesta folha em branco,

Triste, frágil e só,

Nesta folha de onde oiço as tuas lágrimas,

Desta folha onde crescem as palavras…

Escrevo-te, enquanto o sol sorri

 

E a lua não cessa de chorar.

Escrevo-te nesta pobre folha em papel cansado,

Nesta folha lapidada pelo silêncio da madrugada,

Escrevo-te, sabendo que no teu peito de menina

Dormem as flores das noites de insónia,

 

E brincam todas as pedras cinzentas da alvorada.

Escrevo-te, enquanto as sanzalas da minha infância

Ardem nas mãos de um louco,

Enquanto as sanzalas da minha infância são apenas

A saudade de um menino suspenso nos calcões de uma tarde de chuva.

 

Escrevo, nesta frágil folha,

Escrevo-te sabendo que jamais irás ler estas rasuradas palavras

Que deixei morrer junto ao mar;

E junto ao mar

Acredito que ressuscitarás,

 

Como um qualquer Jesus Cristo.

Escrevo-te, hoje, porque apenas tinha esta pobre folha

Que andava esquecida na minha algibeira,

Nesta pobre algibeira

Onde dormem os cigarros que me irão matar.

 

 

 

Alijó, 1/11/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 30 de outubro de 2022

Terra sonâmbula dos parêntesis em lágrimas

 Naquela terra de ninguém, num corredor frio e escuro, minúsculo, habitava uma janela para o quintal, do outro lado, uma criança semeava o teu rosto na terra agreste e recheada de pedregulhos onde existiam algumas árvores com folhas em papel e arbustos com sorriso de prata, depois, sem perceber porque tínhamos uma pequena jarra com flores, onde te sentavas junto a ela, via-te desenhar círculos de luz na terra sonâmbula dos parêntesis em lágrimas; e voaste abraçada aos pássaros da noite.

Quantos barcos cabem no mar, meu querido.

Depende.

Depende de quê, meu querido.

Do tamanho dos barcos.

Como assim?

Se os barcos forem magros, cabem muitos. Se os barcos forem gordos, cabem menos.

Não percebo.

Naquela tarde, depois da despedida, fui para o quarto, cerrei a porta e, chorei muito. Peguei num livro com poemas de AL Berto, abri-o na página quinze e percebi que o mar poderia entrar pela janela, não tive medo, pois a minha janela era tão pequenina que seria impossível que este entrasse e se abraçasse ao meu peito.

Trago no peito o silêncio da noite, um porto de acolhimento abraça todos os barcos, mas aqueles que eu mais gosto de abraçar, são os petroleiros com olhos pincelados de rímel, e que nas mãos transportam telegramas sem remetente. Afundo-me nos teus braços, meu amor.

Porque todos os poços têm uma saída, porque todos os braços têm um ramo de flores, ergui-me da cama, abri a minúscula janela e lancei-me contra os rochedos das lágrimas em combustão, depois, abri os braços e comecei a voar…

E fui semeando flores sobre o rio.

Depende.

Depende de quê, meu querido.

Do tamanho dos barcos.

Como assim?

Esquece, nunca irás perceber.

 

 

 

Alijó, 30/10/2022

Francisco Luís Fontinha

(ficção)

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A janela do teu olhar

 Quando abres a janela

Do teu olhar,

E um lençol de lágrimas

Poisa na vidraça da manhã,

Não te apoquentes,

 

Há dias de chuva

Onde um lindo sol está a brilhar,

Há dias frios,

Dias quentes…

Quando abres a janela

 

Do teu olhar,

E num lindo dia de sol,

Trazes contigo as lágrimas

Que poisam na vidraça da manhã,

Lembra-te do mar…

 

Sempre em movimento,

Sempre acorrentado às marés…

e… amado por todos,

e sempre a sonhar.

E se um lençol de lágrimas

 

Poisa na vidraça da manhã,

Fica tranquilo, porque há sempre um poema

Na tua mão,

Um poema proibido,

Um poema de um lindo dia de sol…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

17/10/2022

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

A espingarda do silêncio

 Desta pedra onde me sento

E olhas,

Oiço as tuas lágrimas

Que tão bem sabias misturar com as orações,

E do alto da montanha

 

Me envias as palavras do silêncio.

Pego na espingarda,

Alimento-a de saudade…

E disparo contra a madrugada,

Enquanto nas tuas mãos, o pequeno terço

 

Corre de conta em conta,

De suspiro em suspiro.

Desta pedra onde me sento

E olhas,

Oiço as Ave Marias em pedaços de tristeza,

 

E certamente não estás feliz,

Porque as minhas palavras são as minhas palavras…

E quando disparadas pela espingarda do silêncio,

Todo o teu olhar arde,

E despede-se das telas em cinza.

 

E que feliz éramos quando tínhamos tardes intermináveis,

Quando entre Ave Marias e o Pai Nosso,

Tinhas fé e rezavas por aqueles que amavas;

O teu filho mimado e a tua grande paixão (o meu pai),

E quando precisaste do teu Deus, a pedra onde me sento… ardeu.

 

 

(como ardem todas as pedras onde me sento)

Alijó, 14/10/2022

Francisco Luís Fontinha

Os teus olhos de arco-íris

 

Nos teus olhos de arco-íris

Escondem-se as estrelas,

Brincam os exoplanetas do cansaço,

Dos teus olhos, em lágrimas paixão,

Fogem os plátanos da madrugada,

 

São luar,

Os teus olhos de arco-íris,

São tristeza,

São poema ao cair da noite,

Nos teus olhos

 

Há pedaços de silêncio,

Das frases que se escondem no pôr-do-sol,

E esses olhos de arco-íris,

São canção no leito em revolta…

Cerejas que a Primavera escreve nos teus lábios,

 

Dos teus olhos de arco-íris,

Também se escondem as flores aprisionadas,

Também se esconde nos teus olhos de arco-íris

Um coração em delírio,

Um castelo invisível,

 

Uma Princesa inventada pelo sono,

E nos teus olhos de arco-íris,

Vejo o rio que acaba de acordar,

E não sabe, desconhece,

Que os teus olhos de arco-íris… são o silêncio do mar.

 

 

Alijó, 14/10/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 11 de outubro de 2022

A manhã dos olhinhos tristes

 

Acordas na tela das noites sem estrelas, percebo que é noite quando o meu cigarro se extingue no negro sonho e o meu rosto é afagado pela fotografia do mar que habita sobre a secretária, ela, só e vazia, e percebo que é o mar pelo cheiro e barulho dos peixes de brincar enquanto dançam junto aos barcos em cartolina cansada, sem cores, sem olhinhos.

Do branco algodão, emergem da clarabóia suspensa no tecto, as estrelas que fugiram da noite e teimam infernizar-me com os conselhos parvos de sempre, e sou forçado a disparar a espingarda da solidão para as afugentar; como eu te compreendo, meu querido, como eu te compreendo…

E antes de acordar, esta triste manhã que todos os dias, a todas as horas, semana após semana, mês após mês, abraça-me como se eu fosse um pedacinho de geada em hipotermia, depois de descer do telhado da insónia e em pequenos gritos, e em pequenos uivos, vai esconder-se junto à fotografia do mar. É certo que um dia, este mar vai partir, como partiram todas as minhas fotografias.

Como partiram todos os meus mares.

Acordas na tela, indiferente aos meus desejos, porque nas minhas palavras inventadas, quando as invento, desenho desejos, e tu, abraças-me com um olhar silenciado que vindo de uma manhã, quando acorda, parece a tempestade em pequenos voos sobre os plátanos da saudade. E a tela, continuará branca. E de branca,

Deitas-te em mim,

Milagre das noites ensonadas, princesa da saudade.

Depois, ergues-te da tela branca e desapareces como desapareceram as estrelas da noite, como desapareceram todas as palavras que guardava naquela caixa em cartão, e hoje, são apenas palavras. E hoje são apenas lixo.

E de olhinhos tristes, esta manhã que todos os dias acorda na minha branca tela, foge, e transforma-se em mulher; a menina dos olhinhos tristes.

Invento então, nas pequenas ardósias da saudade, os traços que lanço contra as paredes de vidro onde habitam pequenas figuras de rosto fingido, que depois do sono, são apenas figuras; algumas, pertencem aos rios que deixaram de correr para o mar, e nos olhos, levam as lágrimas dos tristes socalcos, onde uma enxada, às vezes em revolta, escreve no difícil xisto o mais lindo poema de amor.

Ergue-se, sem perceber que a minha branca tela, é apenas uma simples branca tela, sem perceber que depois de misturar todas as cores possíveis e imaginárias, uma cabeça negra, como são todas as noites, como são todas as cabeças, deita-se na minha mão.

E um dia, a manhã de olhinhos tristes, será a mais bela branca tela que a Primavera deu à luz. Como todas as mais belas andorinhas que a Primavera lança contra as manhãs de olhinhos tristes.

 

 

Alijó, 11/10/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 9 de outubro de 2022

Poema em ruínas

 Acabo de sepultar

As tuas palavras neste vaso de porcelana,

Cerro-o para jamais chorar,

E lanço-o na lareira em chama,

 

Assassino o poema,

Ergo-o sobre as lágrimas do mar,

E enquanto olho aquele vaso de porcelana,

Finjo que as minhas palavras são pedacinhos de luar…

 

São um pedacinho de nada.

Sepulto o poema na tua mão,

E espero que acorde a madrugada,

 

São as minhas ruínas em tristes palavras de abraçar,

São janelas que se cerram no meu coração,

Sem perceber que este poema é um pedaço de lágrima a chorar.

 

 

Alijó, 09/10/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 1 de outubro de 2022

Palavras em flor

 Trazes a mim

Os ruídos silenciados das palavras em flor,

Como um triste jardim

Que se esconde na dor,

 

Como um triste luar

Quando dança sob as nuvens da madrugada.

Trazes a mim o triste mar

E todas as tristes palavras da alvorada,

 

E todos os tristes rostos das tardes em delírio…

Porque somos apenas pequenos instantes em construção,

Porque somos apenas um pequeno rio

 

Na mão dos aciprestes enforcados;

Trazes a mim esta canção

Onde poiso os meus olhos amarrotados.

 

 

 

 

Alijó, 1/10/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

O que pensas da paixão, em dias de chuva, minha querida?

  

Descem sobre mim as lágrimas do Céu; percebo que transporto no olhar o pequeno silêncio da manhã e sempre que me descuido, um pedacinho de tristeza se alicerça ao meu peito. E as palavras parecem balas disparadas pela espingarda do desejo.

O que tem paixão em comum com as lágrimas do Céu, meu querido?

Talvez tudo. Talvez nada. Sabias que dentro da paixão existe uma equação sem resolução?

Não. Não sabia, meu querido.

E que a paixão tem vida, tem nome, tem sexo, idade, religião…

És parvo, meu querido.

E que Deus não sabe matemática?

Parvo, parvo, parvo…

Tenho medo da tua mão silenciosa, tenho medo dos teus olhos em profunda tristeza, quando ambos sabemos que dentro de ti habitam as mais lindas recordações de uma infância pincelada pelas marés em cio. Onde anda aquele menino dos calções que se deliciava a olhar o mar e os barcos e a areia branca do Mussulo?

Vive dentro de um álbum de fotografias a preto e branco… e dizem que voa sobre um rio curvilíneo embrulhado em socalcos de medo.

A paixão, meu querido, é o silêncio entre dois olhares e separados por duas rectas paralelas…

Mas duas rectas paralelas encontram-se no infinito, minha querida…

Pois… não sei o que diga.

Imagina dois olhares suspensos na manhã

Sim, estou a imaginar.

Imagina que sobre esses dois olhares, em pedacinhos de mel, descem as lágrimas do Céu

Sim, consigo imaginar.

Imagina agora, meu querido, que esses dois olhares têm um corpo, têm desejos, têm mãos que se entrelaçam nos lábios do mar

Sim, minha querida.

E esses olhares e esses corpos e essas mãos e esses desejos… voam sobre o mar pincelado de beijos, enquanto no peito desses dois olhares, sem que alguém perceba, há um triângulo rectângulo em que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos e

Não percebo, minha querida.

E descem as lágrimas do Céu sobre mim…

Não. Não sabia, meu querido.

E que a paixão tem vida, tem nome, tem sexo, idade, religião…

És parvo, meu querido.

E que Deus não sabe matemática?

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15/09/2022

(Ficção)