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terça-feira, 11 de outubro de 2022

A manhã dos olhinhos tristes

 

Acordas na tela das noites sem estrelas, percebo que é noite quando o meu cigarro se extingue no negro sonho e o meu rosto é afagado pela fotografia do mar que habita sobre a secretária, ela, só e vazia, e percebo que é o mar pelo cheiro e barulho dos peixes de brincar enquanto dançam junto aos barcos em cartolina cansada, sem cores, sem olhinhos.

Do branco algodão, emergem da clarabóia suspensa no tecto, as estrelas que fugiram da noite e teimam infernizar-me com os conselhos parvos de sempre, e sou forçado a disparar a espingarda da solidão para as afugentar; como eu te compreendo, meu querido, como eu te compreendo…

E antes de acordar, esta triste manhã que todos os dias, a todas as horas, semana após semana, mês após mês, abraça-me como se eu fosse um pedacinho de geada em hipotermia, depois de descer do telhado da insónia e em pequenos gritos, e em pequenos uivos, vai esconder-se junto à fotografia do mar. É certo que um dia, este mar vai partir, como partiram todas as minhas fotografias.

Como partiram todos os meus mares.

Acordas na tela, indiferente aos meus desejos, porque nas minhas palavras inventadas, quando as invento, desenho desejos, e tu, abraças-me com um olhar silenciado que vindo de uma manhã, quando acorda, parece a tempestade em pequenos voos sobre os plátanos da saudade. E a tela, continuará branca. E de branca,

Deitas-te em mim,

Milagre das noites ensonadas, princesa da saudade.

Depois, ergues-te da tela branca e desapareces como desapareceram as estrelas da noite, como desapareceram todas as palavras que guardava naquela caixa em cartão, e hoje, são apenas palavras. E hoje são apenas lixo.

E de olhinhos tristes, esta manhã que todos os dias acorda na minha branca tela, foge, e transforma-se em mulher; a menina dos olhinhos tristes.

Invento então, nas pequenas ardósias da saudade, os traços que lanço contra as paredes de vidro onde habitam pequenas figuras de rosto fingido, que depois do sono, são apenas figuras; algumas, pertencem aos rios que deixaram de correr para o mar, e nos olhos, levam as lágrimas dos tristes socalcos, onde uma enxada, às vezes em revolta, escreve no difícil xisto o mais lindo poema de amor.

Ergue-se, sem perceber que a minha branca tela, é apenas uma simples branca tela, sem perceber que depois de misturar todas as cores possíveis e imaginárias, uma cabeça negra, como são todas as noites, como são todas as cabeças, deita-se na minha mão.

E um dia, a manhã de olhinhos tristes, será a mais bela branca tela que a Primavera deu à luz. Como todas as mais belas andorinhas que a Primavera lança contra as manhãs de olhinhos tristes.

 

 

Alijó, 11/10/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 21 de abril de 2022

As andorinhas do meu País

 

Onde poisam as andorinhas

Do meu país!

Onde brincam os poetas

Do meu País!

Onde habitam

As pedras do meu País!

 

Onde estão os sonhos do meu País!

 

E bebo deste rio

A saudade do meu País,

E alicerço no meu olhar

A revolta do meu País,

 

E sonho com as madrugadas

Do meu País…

 

Todos os dias!

A todas as horas!

 

Onde poisam as andorinhas

Do meu país,

Que no papel amarrotado

Escrevo ao meu País,

E enquanto pinto este rio,

Uma enxada,

Despede-se do meu País;

Com fome. Com sede.

 

E sonho com as madrugadas

Do meu País…

E sonho com os rios

Do meu País.

 

E esta andorinha que não voa,

Porque no meu País

Roubaram as madrugadas,

Porque no meu País,

Roubaram as palavras,

Porque no meu país já somos poucos… ou quase nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21/04/2022

terça-feira, 10 de março de 2015

Em farrapos... as palavras


Em farrapos
as palavras desenhadas no teu corpo
entranham-se na tua pele
os cubos e os círculos do desejo
tens no olhar o espelho da saudade
saudade de...
em farrapos
as palavras
e a cidade
que morrem na clandestinidade
as ruas dormem docemente nas tuas pálpebras cinzentas
como pássaros embriagados pela madrugada

não oiço o sino da Igreja
porque o teu sorriso
deixa-me surdo
cego...
sem... sem palavras... cansado
em farrapos
de ninguém
ao acordar
o pequeno-almoço dispensa-me
fui despedido pela boca do sono
e alimento-me de cigarros
e palavras... em farrapos... a arder...

as migalhas inventadas por um livro de poesia
o livro de poesia poisa sobre a secretária
e o teu corpo nos meus braços
baloiça
dança
e sinto
a Primavera e a esperança
e a esperança
esperança...
esperança...
nos lábios das andorinhas
em flor... em cio... antes de partir o dia.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 10 de Março de 2015

sábado, 31 de janeiro de 2015

Beijos em flor

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Roubaste-me o sorriso nocturno dos beijos em flor
pegaste nas minhas palavras e transformaste-as em solitárias andorinhas
depois
trouxeste a Primavera
e o amor
do poema
de amar o poema
e sentir no peito as equações do destino...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Janeiro de 2015


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Sombras de aço


Os orgasmos poéticos
quando do chão esfomeado
se levanta
a matriz
ouvem-se as vozes disformes das andorinhas em flor...
ouvem-se... as sombras de aço nos lábios de uma abelha!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 25 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O flamejante sorriso do abismo


Porque dormem no meu olhar
os traços coloridos de silêncio?

Porque existe um veleiro desgovernado
no Oceano meu sofrimento,
se o vento,
se o vento deixou de correr junto às palmeiras...

Porque vagueiam na minha mão
as palavras nocturnas da dor,
quando o livro poisado na minha mesa-de-cabeceira...
ardeu,
morreu,
e hoje é apenas cinza como os traços coloridos de silêncio...

Porque dormem no meu olhar
os traços coloridos de silêncio?

Se nas tuas pálpebras crescem andorinhas sem asas!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 13 de Outubro de 2014

quinta-feira, 1 de maio de 2014

anónimo no meu peito

foto de: A&M ART and Photos
não o sei
às vezes desce sobre mim a voz do silêncio
o rio com mãos de porcelana
acorda
deita-se na nossa cama
chora...
olha-se ao espelho e grita
não o sei
e às vezes
pergunto-me porque há barcos em papel com coloridas manhãs de Primavera
e às vezes
não o sei

os sonhos sonhados quando a noite deixa de nos pertencer
as palavras escritas amadas e desamadas
e o palheiro da madrugada invadido pelos odores do jardim anónimo
não o sei
acorda
e às vezes
tantas vezes... meu Deus
percebo que há andorinhas com fome
e fome vestida de gaivotas
chora...
não o sei
porque vives escondida no meu peito.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Maio de 2014

domingo, 2 de março de 2014

Asas pinceladas

foto de: A&M ART and Photos

Há asas pinceladas nos teus verdes olhos de andorinha,
uma colmeia de palavras emerge da solidão nocturna,
há de ti as marés envergonhadas, tristes, marés... marés dos telhados de vidro,
sinto-te cambaleando sobre as nuvens cinzentas das janelas amarelas,
o jardim deixou de sorrir,
e partiu em direcção ao mar,
o amor de ti em mim... sem mim, uma coisa estranha, amarga, diluindo as ditas palavras castanhas,
há asas pinceladas,
há asas a arder sobre os teus ombros de melancolia,
e sei que no fundo do mar, vives, dormes... e passeias-te nua como ventos de nortada,
acendo a luz da paixão, e ao meu lado apenas uma imagens de néon...
gemendo sílabas e bebendo carícias de madrugada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Março de 2014

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A lareira da paixão

foto de: A&M ART and Photos

Perceber o fogo do corpo em suspenso
aquele que arde entre a morte e as palavras enraivecidas
escrever no corpo que arde em suspenso quando os lábios do fogo
não morrem... e permanecem inconstantes como um círculo descendo a calçada da Ajuda
perceber que o homem arde
fervilha
e dorme no colo de outro homem...
ergue-se o cansaço argiloso das andorinhas de papel
vem a nós os desejos preguiçosos das saudades de ontem
e fervilhas
como um pedaço de madeira nas mãos de Deus...
porque o rio se despediu de ti e tu permanecerás dentro da lareira da paixão.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2014

domingo, 23 de junho de 2013

O homem de papel

foto: A&M ART and Photos

Tão só como as andorinhas em papel
que brincam na tua mão exagerada
as migalhas do xisto mendigo correndo montanha abaixo
e depois
as carícias que a tua pele de neblina inventam no meu corpo de Primavera,

Vejo a névoa que os teus olhos alimentam à roldana das horas
voando entre finas esparsas manhãs com chocolate em pó...
dos ponteiros do meu relógio sem pulso
uma deslumbrante doentia pulsação esmorecendo nos finais de tarde
e entra-me o rio no meu corpo de madeira,

Encharca-me o peito
e sinto a inundação do meu coração... coitado
… à deriva como uma barcaça perdendo as letras do nome
em cada esquina da cidade com as sombras árvores em silêncios nocturnos
e eram assim os meus dias aprisionado em ti não o sabendo,

Em mim perdido como um charco de lama derretido no musseque da lentidão
desce a noite
cobrem-se-me as pálpebras com as palavras de ti
vagueando no cansaço espelho do guarda-fato o meu destino imaginário
….............
tão só,

As andorinhas em papel ardendo na lareira dos teus seios
submersos no meu peito
se ainda o tenho
porque não o sinto
porque... também eu transformei-me em homem de papel...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 28 de maio de 2013

Como tu em ripas do jejum anunciado

foto: A&M ART and Photos

Queria ser como tu não sorrido como eu
queria ser um veneno que habitasse no teu peito
um construtor de insónias
um transeunte faminto combinando encontros nas paragens do eléctrico
sem bilhete e despido e ausente deprimido,

Queria ter-te e ser como tu não sabendo que lá fora choram as garças
que amanhã é quarta-feira e as nuvens deixaram de ser em algodão
e as horas não são não
mais torrões de açúcar deitados na tua mão
queria ser como tu e não saber que existem noites em noites como noites...

Assim nuas despidas contínuas e semeadas entre planícies e almas desesperadas
como tu eu um esqueleto de vento saboreando pipocas
numa cadeira junto ao rio
sonhando não sonhando com frio em cio
como tu quando acordas e dás-te conta que eu nunca existi em ti,

Porque sou um banco simples de jardim
como tu em ripas do jejum anunciado
queria voar como voavam os teus cabelos no silêncio dos paquetes em movimento
como tu eu assim... deambulando na ponte para o amanhã não sabendo dizendo
como tu que as rosas têm espinhos de porcelana e lábios de andorinha,

Porque sou um camelo desorganizado
não como tu porque tu és sossego e plenitude prometida
palavras em degraus de escada
contra o corrimão assim como tu deitada
à espera que regresse a madrugada dos ilustres corredores da paixão...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha