Mostrar mensagens com a etiqueta jardim. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta jardim. Mostrar todas as mensagens

sábado, 4 de novembro de 2023

Musseque

 Ao longe o som da lareira

Abraçada aos barcos da minha infância mimada

Flautas de néon melodiam o teu olhar

Ao longe o sorriso da ribeira

Que não se cansa da madrugada

E corre sempre para o mar

 

Ao longe o teu cabelo em silêncio vento

Insónia noite ao despertar

Como as flores da Primavera adormecida

Ao longe o faminto alimento

Que o homem procura num pincelado olhar

Ao longe a luz prometida

 

Aos barcos da minha infância mimada

Ao longe as cubatas envenenadas pelo capim

Que a tarde construía em volta do musseque zincado

Ao longe o teu peito em tardes animadas…

Trazendo os cheiros do jardim

Quando o vento é apenas um sonho sonhado

 

 

 

04/11/2023

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Flor do meu jardim

 Pareces um anjo do meu sonhar,

Flor do meu jardim,

Poesia

Do meu dia,

Pareces uma estrela-do-mar

Quando dormes assim,

Embrulhada no perfume da insónia,

Pareces um anjo do meu sonhar,

Pintura da madrugada,

Pareces uma flor,

Uma flor do meu jardim…

Que nunca se cansa de te olhar.

 

 

27/10/2023

sábado, 30 de setembro de 2023

Jardim sem nome

 Meu pedacinho de silêncio envenenado

Flor deste jardim sem nome

Minha insónia que não dorme

Neste meu corpo cansado,

Minha lua florescida

Ténue clandestina solidão

Que sofre em vão

Com cada noite perdida,

Meu pedacinho de tudo, flor deste jardim sem nome

Quando a manhã se levanta da tua mão

E poisa no meu coração

Este poema com fome.

 

 

30/09/2023

domingo, 27 de agosto de 2023

Dos teus olhos

Nos teus olhos,

Meu amor,

Acorda o silêncio de um novo dia,

Desenha-se nos teus lábios a madrugada em flor,

Nos teus olhos,

Meu amor,

Ergue-se um jardim vestido de poesia…

 

 

Alijó, 27/08/2023

sábado, 12 de agosto de 2023

O teu poema

 

Do teu poema

Flor que se esquece de acordar

Flor do teu poema

No teu poema de amar

 

Do teu poema de sonhar

Esta flor que cresce

E se ergue no teu olhar

Como uma fogueira branda e que aquece

 

As sílabas da madrugada

Do teu poema

Ouve-se a canção da ribeira brava

 

O teu poema que lanças contra mim

Quando no teu poema

Aos poucos acorda um jardim.

 

 

 

12/08/2023

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Flor

 Desta flor

Em flor do distante sorriso

Em flor

Da flor

À flor sem juízo,

 

Pobre flor

Da flor nas tuas mãos

Em flor

Sem flor

As estrelas em flor

Da flor

Em corpos sãos,

 

Misera flor

Da flor tristeza

Em flor

Na flor

Em teu corpo em flor

Da flor a sua beleza,

 

E de flor

Em flor

De mão à flor

E da flor à mão

Ofereço-te esta flor

Esta flor do meu coração.

 

 

Alijó, 21/04/2023

Francisco

domingo, 2 de abril de 2023

Flor sem mim

 Desenhei no teu olhar

Uma flor sem idade,

Uma flor com medo de amar…

De amar… amar a saudade.

 

Desenhei nos teus lábios de amendoeira

A cidade antes de acordar,

Uma cidade que dorme na fogueira…

Na fogueira do mar.

 

Desenhei em ti uma lágrima de chorar,

Enquanto a manhã se despede de mim…

Uma flor sem rosto, uma flor cansada de amar…

 

Amar as manhãs em poesia,

Desenhei no teu olhar o meu jardim

E o silêncio do dia.

 

 

 

Alijó, 2/04/2023

Francisco

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Sol

 Há-de nascer o sol nas árvores do meu jardim

Onde me visitam os pássaros da manhã

Há-de nascer a alegria

E um rio sem fim

Para levar a minha poesia,

 

Há-de resolver-se na minha mão

A complexa equação da madrugada

Onde habitam mares

Onde brincam as crianças,

 

Há-de crescer neste vazio de viver

A flor da alvorada

Sem medo de morrer

Sem medo de nada,

 

Há-de nascer o sol…

O sol que ilumina a manhã de Inverno

O sol que afugenta as tempestades,

 

Há-de nascer o sol nas árvores

Do meu jardim

Onde guardo as palavras…

As palavras de mim.

 

 

 

 

Alijó, 18/01/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Flores do meu jardim

 Enquanto a manhã está em despedida

E o meu esqueleto envidraçado

(já em poeira)

Oiço o som da saudade

Aquele que ouvi durante a partida

E poisa docemente no meu passado,

 

E da manhã se vai o sono

O sono das tristes flores do meu jardim

Onde me sento

Onde me deito,

 

E esta manhã enervada

Abraça-se ao meu pescoço

Sufoca-me,

 

E depois de a manhã partir

Fico a olhar os pássaros

E as árvores,

 

E depois…

Depois vem a noite.

 

 

Alijó, 09/01/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 11 de dezembro de 2022

As sílabas da insónia

 Deste jardim de flores envenenadas

Onde oiço as pequenas sílabas da insónia

E vêm a mim as envergonhadas estrelas

Deste jardim sem sono

Onde semeio as lágrimas do luar

E planto a solidão do mar.

 

Neste jardim

Abandonado

Onde habita uma ponte invisível

Que me levará ao teu olhar.

 

Neste jardim de medo

Sem janelas

Sem casas

Sem ruas para caminhar

E deste jardim onde tenho pássaros em silêncio

E tenho o vento a soprar;

Neste jardim sem barcos…

Os meus barcos de brincar.

 

 

 

 

 

Alijó, 11/12/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 4 de outubro de 2022

rochedo da saudade

 

no rochedo da saudade vive o teu meu coração repatriado
escondíamo-nos do amanhecer quando todas as estrelas cessavam de brilhar
quando sentia o teu sorriso no espelho da paixão
comestíveis beijos insufláveis desciam das árvores em solidão
no rochedo da saudade
vivia
amava
e comestíveis beijos com esqueletos de prata

no rochedo da saudade vive o teu meu cansaço
quando tínhamos noites intermináveis sentados num banco de jardim
conversávamos sobre tudo e sobre nada
e sentia o brilho do teu olhar
como uma donzela tela
pincelada com acrílicas cores
depois tínhamos a sombra dos plátanos
de livro na mão

liam-nos poemas
escrevíamos-lhes poemas
sentados num banco de jardim...
e imaginávamos à nossa frente o palpitar do rio furioso por ter perdido o mar
víamos veleiros pintados na claridade da aurora boreal em comestíveis chamas de suor
liam-nos poemas
escondidos caracteres minúsculos sobejavam das rosas de papel
e diziam-nos que a lua amava o silêncio

como nós
um piano vadio brincava no soalho da biblioteca
e tínhamos acabado de regressar das montanhas alicerçadas às gaivotas desgovernadas
sentadas
como nós
num simples banco em madeira
e liam-nos poemas
e escrevíamos-lhes poemas como se fossem migalhas de pão depois do pequeno-almoço...

não acordávamos porque a noite embriagava-nos com palavras
textos
e comestíveis beijos
e poemas
por comestíveis pinceladas acrílicas saborosas que os teus lábios iluminavam
e víamos o rochedo da saudade
chorar
e pigmentos sólidos de vento balançavam nos teus cabelos de limalha incandescente...

não sabíamos que existia a teoria da relatividade
e desconhecíamos a trigonometria
pensávamos que os círculos eram mulheres deitadas
nuas
sobre a geométrica cama com lençóis de porcelana
e lá
no teu peito
os rochedos da saudade vomitando cinza de velhos cigarros como poemas envenenados pelo ciúme...


Francisco Luís Fontinha – Alijó

Outubro/2017

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Manhãs de Outono

 

Poisam na tua voz

Os beijos das flores aprisionadas,

Sentam-se na tua voz

As tardes de mim, distantes e cansadas,

 

Deitadas

Nas andorinhas floridas.

Poisam na tua voz

As lágrimas perdidas…

 

Enquanto estas tristes palavras

Morrem junto ao mar;

Poisam na tua voz

Os barcos que não conseguem zarpar…

 

Porque se sentem sós,

Porque estão amargurados…

Poisam na tua voz

Os corpos amarrotados,

 

Invisíveis pelas manhãs de Outono.

Poisam na tua voz as pedras cinzentas

Que brincam no meu jardim,

E onde todas as noites te sentas…

 

E ficas longe de mim.

Poisam na tua voz todos os poemas em revolta,

Poisam as estrelas, poisa o luar…

E tudo aquilo que não volta.

 

 

 

Alijó, 03/10/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 1 de outubro de 2022

Palavras em flor

 Trazes a mim

Os ruídos silenciados das palavras em flor,

Como um triste jardim

Que se esconde na dor,

 

Como um triste luar

Quando dança sob as nuvens da madrugada.

Trazes a mim o triste mar

E todas as tristes palavras da alvorada,

 

E todos os tristes rostos das tardes em delírio…

Porque somos apenas pequenos instantes em construção,

Porque somos apenas um pequeno rio

 

Na mão dos aciprestes enforcados;

Trazes a mim esta canção

Onde poiso os meus olhos amarrotados.

 

 

 

 

Alijó, 1/10/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 24 de outubro de 2021

As flores do meu jardim

 

Não preciso das estrelas do amanhecer

Quando tenho os teus lábios para beijar.

Não preciso dos meus poemas de escrever

Porque tenho a tua mão para acariciar.

 

Não preciso destas palavras semeadas

Nas páginas do vento;

Tenho todas as manhãs contadas,

E todas elas são meu alimento.

 

Não preciso das estrelas do amanhecer

Que dormem no meu jardim;

Vejos as flores a crescer,

 

A crescer junto a mim.

São em papel são em cetim…

São ténues, as flores do meu jardim.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24/10/2021

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Beijos de amar

 

Batem à porta

E o carteiro não é certamente,

Porque já é noite,

E o carteiro

Já dorme docemente.

Será a flor do meu jardim

Que acaba de acordar?

Não é a flor

Nem é a mim,

Que querem fazer levantar.

São palavras suspensas

Nas árvores do mar,

São batimentos

São pancadas,

Pancadas de embalar.

Batem à porta

E o carteiro não é certamente,

O carteiro já dorme,

Dorme felizmente,

Batem à porta

Da porta de embalar,

Batem na porta da porta,

Beijos de amar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21/10/2021

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

As palavras

 

Oiço destas pedras frias e sonolentas

Todas as palavras de amor.

Escrevo todas as palavras cinzentas

Que habitam no jardim verso flor.

 

Pincelo os teus lábios de amêndoa adormecida

Quando acorda o amanhecer,

- Eis o perfume de mim, poesia perdida

Na esplanada do adormecer.

 

Os versos que dormem na tua mão,

Corpo cansado das palavras envenenadas,

Quando acordam, os livros e, sobre o chão

 

Uma fina película de nada.

Que vergonha, as pedras cansadas,

Quando choram na calçada.

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó-27/01/2021

domingo, 17 de janeiro de 2021

Rosa geada

 

Flui o amor

Na rosa pétala geada,

Nasce nos teus lábios o sabor a amêndoa cansada.

Desparece a madrugada,

Nas páginas do poema flor;

Eis a manhã do meu sonhar.

Todas as horas e, todos os relógios a cantar,

Todas as flores na tua mão

Dançando a cantiga de embalar…

Flui o amor

Na rosa pétala geada,

Entre conversas de conversar

Entre murmúrios de adormecer.

Pobre coração!

O teu.

Janela para o jardim do amor,

Fotografia em flor,

Máquina volátil de enganar,

Revoltam-se todas as flores

Deste jardim de madrugar.

Flui, flui o amor

Nesta mão pétala rosa geada,

Canção de embalar,

Sorriso de nevão,

Cantiga,

Lágrima água ao acordar;

Dai-me a vossa mão,

Senhor, senhora, menina de brincar.

O doce lençol de linho,

Na triste cama da Donzela adormecida,

Menino,

Menina…

Foto muito querida.

Flores,

Paus,

Pedras de atirar,

Canções de mendigar

Quando a aldeia está a arder,

O fumo alimenta-a

Como todas as rochas de sofrer.

Encontrarás um dia o alegre destino?

Só aos Sábados,

Só aos Sábados, menino.

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó-17/01/2021

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

O beijo é uma fotografia

 

Uma casa cansada despede-se da saudade.

Todas as portas e,

Todas as janelas,

Dormem docemente na umbria da tarde.

O beijo louco das árvores,

Quando o louco amor,

Desce a calçada,

Quando a boca, da casa, beija a tarde em despedida.

E essa mesma casa,

Cansada,

Dorme docemente na tua mão.

Sabes, amor? Todas as flores do teu jardim e,

Todas as árvores do teu jardim,

Alimentam-me quando o sono desaparece na alvorada,

Uma pomba, voa entre pedaços de papel,

Até à claridade do dia,

Uma casa,

O amor da casa pelo pobre jardineiro,

Uma carta escrita entre parênteses e,

Fica sempre aquém um simples ponto final.

O rio foge das suas margens,

Os peixes agradecem todos os rochedos que encontram,

Todos os dias,

Ao meio-dia.

O café encerrado,

A esplanada entre pontas de cigarro e,

Lâmpadas de néon…

Tristes, como a aldeia dos chocolates.

Sabes, amor?

O beijo é uma fotografia,

Como a casa,

Cansada da saudade.

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó 31/12/2020

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Do meu jardim

 

Sabes, meu amor, as rosas também se comem

(as de papel, as rosas de açúcar e as rosas de sombra).

As rosas são palavras que dormem no meu jardim imaginário,

Tem pássaros, o meu jardim, tem livros, o meu jardim e, tem roas, o meu jardim.

O meu jardim é a minha casa e,

A minha casa, são os teus lábios de amêndoa doirada,

Suspensos na infinita luz, das lágrimas, das rosas, do meu jardim.

Sabes, meu amor,

Hoje escrevi uma carta aos pássaros do meu jardim,

Os mesmos, que há pouco viviam abraçados às rosas, do meu jardim.

O meu jardim, meu amor, tem uma janela virada para o mar,

O mar, meu amor, que beijas antes de adormecer e,

Me envias em sonhos, todas as noites, debaixo das estrelas que cobrem o meu jardim.

Amanhã, não sei se tenho o meu jardim,

(porque as rosas podem não acordar) e,

A janela do meu jardim, virada para o mar,

Pode, no entanto, amanhã, também ela, não acordar.

E, e se eu não acordar, como as rosas do meu jardim?

Ai meu amor, com é bom ter um jardim,

Rosas para cheirar… e,

Os teus lábios para beijar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó, 03/11/2020

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

As camufladas palavras do sonho


Roubaram-me o sono e os sonhos.

Roubaram-me a noite,

E todos os veleiros da marina.

Roubaram-me todas as palavras que tinha,

E não tinha,

E agora sinto a falta delas.

Roubaram-me os livros, a saudade, e a madrugada.

Hoje, nada tenho.

Roubaram-me a Calçada,

O rio,

E todos os Cacilheiros em viagem.

Roubaram-me as flores, as árvores e o meu próprio jardim…

Também ele, saqueado pelos piratas vestidos de negro.

Trouxeram-me a morte,

Adormecida em papel vegetal,

Num Sábado de Setembro,

Roubaram-me,

E se bem me lembro,

Ontem,

Nada me tinham roubado.

Roubaram-me as lágrimas, e todo o sofrimento.

Roubaram-me o alimento,

Das palavras gastas,

Entre parêntesis e pontos de interrogação.

Roubaram-me tudo.

Tudo.

Que hoje, sentido a falta da presença das palavras do sonho,

Não estou triste;

Mas roubaram-me os pássaros da minha cidade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

25/11/2019