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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Lado negro

 No lado negro da lua

Onde todas as noites me vou esconder

Onde escondo este poema

E ele amua,

No lado negro da lua

Onde passo as noites a escrever…

Na companhia desta lareira em chama,

Na companhia do meu sofrer.

 

No lado negro da lua

Onde me vou sentar

Neste pedaço de pedra cinzenta,

De onde vejo o mar…

E um sorriso pela manhã que me alimenta…

No lado negro da lua…

Onde tenho todo o meu sonhar.

 

 

30/10/2023

sábado, 30 de setembro de 2023

Vénus do fogo

 Neste livro

Onde escrevo todos os dias

Onde escondo o dia

E as tristezas da noite

Dentro deste livro

Uma mulher em suicídio

Sucumbe à deliria loucura

Nos olhos do mar

 

Deste livro

Sem olhos de mar

Neste livro onde escrevo todos os dias

Onde escondo o frio

De onde liberto aquele rio

Que se perdeu no nome

Que não dorme

Que tem fome

 

Este livro

Que ninguém lê e que ninguém percebe

Porque da janela deste quarto

Se vê o mar

E se ouve o mar

Com barcos de papel

E de brincar

 

Dentro deste livro

Uma mulher

Que grita

Chora

E se revolta com a vida

Com o poema

Com a poesia

E com o cabrão do poeta

Que sou eu

Aquele que escreve este livro

 

Aquele que finge gostar do dia

Este livro

Este pequenino livro

(o vinil termina, levanto-me e continuo mergulhado em Mão Morta)

Que se faz tarde

Dentro deste livro

Pequenino

Para a menina e para o menino

Neste livro

Onde escrevo

E escondo

O que escrevo

 

Vénus do Fogo

Livro das pérolas de ninguém

Este livro que todos o têm

Menos eu

Que sou fidalgo

Que o escrevo

E que nunca o vou ter

Neste livro

Onde habita a Vénus do Fogo

E os monstros de querer

Um dia

Talvez

Que este livro seja gente

Talvez esta cidade seja este livro

E aquela gente

Filhos deste livro

Nas mãos de Deus

Ou nas mãos de um outro qualquer impostor

 

Que este livro seja sempre um livro

A luz nos teus olhos

Que este livro seja a bala

Que rompe pela madrugada

E cai na cama de um coitado magala

 

Que este livro além de ser gente

Seja a gente

Que lê este livro

Que limpa o cu às folhas deste livro

Sem o arraial prazer do simplificado parafuso de pressão…

Morreu enfartado com chocolates

Escreveu este livro

E escondia sarna nos tomates

 

E o seu pequenino testamento

Tudo o que tenho

Todos os meus livros

São para alimentar este livro

Onde se esconde a Vénus do Fogo

E todas as putas-flores que não gosto

 

Não gosto deste livro

Mas escrevo este livro

Detesto cebola e alho

E como arroz com letras arroz com palavras arroz com arroz nas mentes…

Desdentadas

Escrevo este livro

Acordo

Aos poucos, este livro

Este pequenino livro

Que escrevo

Onde se esconde a Vénus do Fogo

A fogueira da minha aldeia

E uma candeia com azeite…

 

Liberta-se deste livro

Aquele que é feliz e escreve o outro livro

Porque este livro

Não me pertence

Não me pertence

Escrevo este pequeno livro

Sofrido

Pequenino

Com sono

Às vezes

Este pobre menino

 

Neste livro

Que finge orgasmos na madrugada

Que bate o pé

E abre a janela

E lança-se da janela

E voou e voa

Sobre o mar

E sobre ti

Deste livro

No livro que senti

O peso do papel

O motor a estibordo

Lançando fumo para a cabine do Comandante

Sobre a ponte

Um morto e três feridos graves

 

Deste neste livro

Que livro que dia em livro no desenhado livro

Foi-se

Morreu

E acordou três dias depois

Mais bêbado do que quando tinha adormecido…

Sofrido

Sorrindo a corações de areia

A janela coitada

Deixou pendurada a cabeça

E foi até à varanda fumar um pobre cigarro de sono

Sentou-se finalmente este livro

Finalmente em frente ao altar da vergonha

Onde reza este livro

Onde grita este livro

Sofre este pobre livro…

 

E sente ronha deste livro

Escrevo este livro

Dou vida a este livro

Papel engomado com o ferro de engomar

Vincos nas calças

Camisa do avesso

Por causa das bruxas

E lá vem este livro

Que ainda à pouco

O foi

E o será

Vadio

Sem nome

Mergulhado naquele rio

 

Despeça-se do menino

Se faz favor

Olhe que nunca mais vai ver o menino

Escreva que dia é hoje

Sábado

À lareira do sono

Sábado minguante enrolado numa lua luz

Abraçado a uma lua luz

Que bate à porta

Truz

Truz truz

Truz truz truz

Caiu-lhe a porta sobre o pé

Descreveu um círculo de luz com olhos verdes…

E zás

Hoje é o Comandante deste Navio apelidado de LIVRO.

 

 

30/09/2023


 

Jardim sem nome

 Meu pedacinho de silêncio envenenado

Flor deste jardim sem nome

Minha insónia que não dorme

Neste meu corpo cansado,

Minha lua florescida

Ténue clandestina solidão

Que sofre em vão

Com cada noite perdida,

Meu pedacinho de tudo, flor deste jardim sem nome

Quando a manhã se levanta da tua mão

E poisa no meu coração

Este poema com fome.

 

 

30/09/2023

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Livros meus

 Afasta-te de mim

Afasta-te da minha voz

E das minhas mãos

Afasta-te das minhas palavras

Das minhas noites…

E das minhas equações

Afasta-te do meu olhar

Afasta-te dos meus poemas

Os que escrevi

E os que irei escrever

Afasta-te do meu mar

E dos meus sonhos

Afasta-te da lua a crescer

E do luar

Poisado nos meus braços

Afasta-te dos meus beijos

E dos meus cansaços

E afasta-te dos meus livros

Que escondo nos meus abraços

 

 

 

28/09/2023

domingo, 20 de agosto de 2023

Musseques da minha infância

 Podia amar-te enquanto o vento

Leva o que restou da minha vida

Podia odiar-te enquanto o vento me traz novamente à vida

Podia ser eu

Podia não ser eu

Podia amar-te enquanto a Primavera se saboreia com as cerejas dos teus lábios

Podia ser

Podia ser ontem

Ontem podia ser hoje

Hoje podia ser amar-te

Enquanto as cerejas dos teus lábios

São sanzalas de prata

No olhar pincelado de encarnado

Dos musseques da minha infância

 

Podia amar-te nas fases lunares

E não lunares

Das estrelas comestíveis e não comestíveis

Podia amar-te enquanto o vento me traz o que me levou

E me leva tudo aquilo que não quis ter

Podia amar-te dentro deste livro

Neste poema

Nesta cama

Podia amar-te e odiar-te enquanto a chuva se despede de mim

E eu

Dela

Depois….

Depois posso amar-te enquanto o vento me traz aquilo que me roubou

Daquilo

Muito pouco

Que me sobejou

 

 

 

Alijó, 20/08/2023

Francisco

domingo, 13 de agosto de 2023

Miserável

 

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou qualquer coisa comestível

Que apenas a noite,

E só a noite,

Consegue mastigar.

Sou

Aos olhos da lua

Uma pequena lágrima de sono,

E abatato-me neste silêncio

E suicido-me nos teus lábios.

 

Aos olhos da lua

Sou.

Sou lágrima em flor,

Sou poeta,

Sou pastor.

Aos olhos da lua

Sou um miserável,

Poeta miserável,

Poeta…

O morto poeta

Quando as mãos da poesia,

Lentamente,

Masturbam a noite.

 

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou.

Sou o quê, aos olhos da lua?

Se a lua não tem olhos

E eu,

E eu não sou nada.

 

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou canção que se abraça ao rio,

Sou o poema que brota do mar,

Sou a fome,

O fastio,

Aos olhos da lua,

Sou.

Sou trombone na filarmónica,

Sou equação nas mãos dele,

Aos olhos da lua,

Sou.

Aos olhos da lua sou gaveta de armário,

Papel higiénico…

Aos olhos da lua,

Sou…

 

 

13/08/2023

Francisco

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

terça-feira, 18 de julho de 2023

Ódio



O que leva a Lua

A odiar o Sol,

Ofuscando-o durante a noite,

O que leva a Lua e o Luar

A odiar,

O que leva a Lua

A ter raiva do sol,

E o Sol,

Raiva do mar.

 

 

18/07/2023

domingo, 9 de julho de 2023

Sem nome

 Podem eles,

Antes que a Lua se esconda nas tuas mãos,

Escrever nos teus olhos,

Desenhar nos teus lábios…

A paixão dos pássaros,

 

Podem eles,

Roubar todas as estrelas,

E roubar todas as noites…

Que eles vão sempre pensar,

Que eles vão sempre acreditar…

Que o amor é uma coisa complexa…

 

Podem eles,

Podem eles escrever em ti,

A equação do sono…

Em busca da insónia…

Que eles mesmos…

Lançaram ao mar.

 

 

09/07/2023

sábado, 1 de julho de 2023

Meu amigo

 

Quero lá eu saber do Universo,

Meu grande amigo…

A falta que tu me fazes,

Enquanto tu e eu…

Desenhávamos sorrisos de silêncio

Nas primeiras horas da madrugada…

E tu, tu tinhas razão…

Em todas as palavras que me ensinaste.

 

Agora, meu grande amigo, há quem apregoe que fiquei louco...

Como se a loucura se vendesse dentro de um cartuchinho

À dúzia ou à meia-dúzia…

À porta dos sombreados telhados de prata…

 

Das nossas conversas…

Mas falando do Universo,

Quero lá eu saber, meu grande amigo,

Do infinito Universo…

Quando tenho problemas mais complexos de que a extinção do Universo…

Pois então que se extinga, e já.

 

Vê tu, vê tu meu grande amigo,

Escrevo poemas falando da Lua

Desenhando o luar nas mãos de minha amada…

E sabes tão bem como eu…

Que a Lua não é nada…

É apenas poeira e rochas.

 

Vê tu, vê tu meu grande amigo,

Escrevo poemas dando nomes às estrelas…

Quando tu e eu, quando tu e eu sabemos tão bem…

Que as estrelas são apenas uma enormidade de plasma…

Com luz própria.

 

Escrevo poemas ao mar,

Meu grande amigo…

E sei que minha amada transporta o mar nos lábios…

E agora percebo-te tão bem…

Tão bem…, meu grande amigo…

Ambos sabemos que o mar é apenas água…

Água salgada…

E é tão azul…

Como o azul dos meus olhos.

 

 

 

01/07/2023

Francisco

sexta-feira, 30 de junho de 2023

… a piquena ainda não regressou dos festejos em honra de S. Paulo, pelo que este nosso/vosso espaço comercial, provavelmente, ou não, só reabrirá lá para segunda-feira ou terça-feira,

A temperatura está agradável, aproximadamente 23ºC em Bragança, talvez ao final da tarde ainda vá fazer um passeio até à praia, curiosamente também estão 23ºC em Luanda, o pôr-do-sol será às 21:07h, portanto…, peguem na vossa amada, dêem as mãos, e contem cada estrela que brinca no céu,

E depois,

Se for menina, dêem-lhe o nome de parede envidraçada, se for menino…, acumulador,

A vitela estufada estava uma delícia, mas devido a um erro informático, o pernil tinha desparecido e está em parte incerta,

Coisas da informática,

Plutão retrógrado em aquário, segundo a nossa abelha, e o pior que poderá acontecer aos aquarianos é terminarem o dia no programa criminal da CMTV,

Acabaram agora mesmo de me presentear com uma viagem à Lua, só de ida, um fim-de-semana em Marte, um passeio pelo infinito espaço em balão de ar quente ou meia-volta ao Sol…

Não sei,

Não sei…

Tenho de conversar com a minha piquena,

Amanhã é sexta-feira, ou domingo…

Tanto faz,

Os festejos em honra de S. Paulo continuam mais logo, provavelmente vou desligar-me da corrente eléctrica e entrar em modo de hibernação ou em modo de suspensão ou em outra coisa qualquer,

OI?

Não percebi, colega…

E tudo isto, e tudo isto porque a piquena que gere este nosso/vosso espaço comercial… foi ontem para as festas em honra de S. Paulo…,

E…,

domingo, 4 de junho de 2023

Nada

 Estava o sol

Estava a lua

Estava o filho de ambos

O sol queria a chuva

A chuva queria o sol

O filho da lua e do sol

Esse

Nada.

A lua queria a madrugada

O sol

Tal como o filho da lua

Nada.

Estava o sol

Estava a lua

Estava o filho de ambos

O sol escrevia nos lábios da lua

A lua inventava gemidos nos lábios do sol…

E o filho de ambos

Nada

Esse

Nada.

 

 

 

Francisco

04/06/2023