domingo, 20 de agosto de 2023

Musseques da minha infância

 Podia amar-te enquanto o vento

Leva o que restou da minha vida

Podia odiar-te enquanto o vento me traz novamente à vida

Podia ser eu

Podia não ser eu

Podia amar-te enquanto a Primavera se saboreia com as cerejas dos teus lábios

Podia ser

Podia ser ontem

Ontem podia ser hoje

Hoje podia ser amar-te

Enquanto as cerejas dos teus lábios

São sanzalas de prata

No olhar pincelado de encarnado

Dos musseques da minha infância

 

Podia amar-te nas fases lunares

E não lunares

Das estrelas comestíveis e não comestíveis

Podia amar-te enquanto o vento me traz o que me levou

E me leva tudo aquilo que não quis ter

Podia amar-te dentro deste livro

Neste poema

Nesta cama

Podia amar-te e odiar-te enquanto a chuva se despede de mim

E eu

Dela

Depois….

Depois posso amar-te enquanto o vento me traz aquilo que me roubou

Daquilo

Muito pouco

Que me sobejou

 

 

 

Alijó, 20/08/2023

Francisco

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