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terça-feira, 9 de abril de 2019

O círculo


Desenho o círculo, o quadrado e o triângulo, nos teus lábios de papel quadriculado,

Escrevo-te enquanto brincas na chuva, como uma criança mimada,

Tenho pena dos jardins e das flores,

Quando me sinto abandonado,

Pela tempestade, quando acorda a madrugada,

Na sanzala dos amores.

Leio-te.

Todas as palavras escritas no teu corpo de cerâmica, e na tua pele, o perfume do silêncio amargurado,

Leio-te, como se fosses um livro de poesia,

Quando o poeta está triste,

Com heresia,

Na chuvinha que não resiste,

Ao beijo da alvorada.

Sinto a paixão das palavras no meu corpo cansado.

Desenho o círculo, o quadrado e o triângulo, nos teus lábios de papel quadriculado,

Percorro socalcos,

Pego no xisto,

Sei que existo,

Porque dos teus lábios, brotam a neblina da loucura,

Na cidade, encontro-me encurralado,

Como uma arma de fogo, uma navalha… apontada ao Sol,

E, no entanto, gosto das nuvens de algodão.

Tenho na mão o fogo do amor,

As luvas da paixão,

Tenho na mão a dor,

Quando a espada se entranha no chão.

O círculo,

O quadrado,

O triângulo…

Todos.

Apaixonados.

Todos.

Cansados.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

09/04/2019

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Fotografia


Sobre a poeira adormecida,

Deito o meu corpo putrefacto,

Cansado da escuridão,

Sobre a poeira esquecida,

Caminho inventando ruas…

E solstícios de solidão,

Sobre a poeira da vida…

Os míseros sorrisos do amor,

Que invadem na noite o meu coração,

Sobre a poeira emagrecida,

Sinto o teu corpo em papel…

Ardendo na fogueira minha mão,

Sobre a poeira ardida…

Os meus braços de xisto algemado…

Galgando as planícies do Verão.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 2 de Setembro de 2016

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Os outros, o monstro das quatro cabeças brincando dentro de mim, saltava à corda, subia aos pinheiros pintados em papel cenário..., e havia sempre um pigmentado sorriso nos seus lábios, era Sexta-feira, daquelas Sextas-feiras que iluminam as imagens a preto e branco, o sono, a agonia de olhar o mar desenhado numa das paredes do quarto, escuro, ainda boiava a noite nas veias da adrenalina constelação do amor, aquele amor inventado apenas para adormecer na poesia, nada mais do que isso...
Isso o quê, meu amor!
Os outros, o monstro
Batem à porta,
Livros, livros nas mãos cardume do carteiro, assine aqui se faz favor, assinei, foi-se embora, escondido no arvoredo comecei a acariciar o envelope, lá dentro percebia-se que alguém existia para me abraçar, daqueles abraços trigonométricos, sabes?
Sei, os outros, o monstro, a perfeita nostalgia ,sebes de papel laminado voando sobre o jardim
O gajo passou-se, dizem...
Que sim, livros, Isso o quê, meu amor! Batem à porta, e falou comigo.



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2015

domingo, 28 de setembro de 2014

Amanhecer amar


Se eu voasse
não atravessava o Oceano para em ti poisar...

se eu voasse
não me levantava deste banco de silêncio
com mãos de pérola adormecida
não gritava
não... não chorava
porque as palavras são searas de insónia sobre um papel queimado,

um punhado de trigo
voando
sonhando...
na planície dos corpos embalsamados,

se eu voasse
não atravessava o Oceano para em ti poisar...

não escrevia
não lia...
não
não acreditava no amanhecer amar!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 28 de Setembro de 2014

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Hoje

foto de: A&M ART and Photos

Hoje preciso de sorrir,
simplesmente... hoje, um simples olhar, como as pálpebras do silêncio entranhada nos teus olhos,
hoje sinto-me como uma gaivota apaixonada,
alegre,
não cansada, pelo contrário... cessaram os cansaços,
os... cessaram os triste segundos de tristeza...
hoje, hoje apenas um sorriso,
hoje... como ontem sentíamos os desejos em pequenos pedaços de papel...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 7 de Fevereiro de2014
(só agora percebi que tenho andado a publicar poemas escritos em Fevereiro e coloco-lhes a data de Janeiro... coisas da vida)

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

cansaços de amêndoa

foto de: A&M ART and Photos

(detesto rosas
porque picam
porque podem ser em papel
e ardem)

detesto as madrugadas envenenadas pelos teus beijos vestidos de mendigo
quando poisam sobre o tabuleiro do pequeno-almoço
e na mesa-de-cabeceira espera por ti uma fina e tímida folha
com a débil despedida
abro a janela e começo a voar em direcção ao vazio
percebendo que em ti
e de ti
as palavras são como pedaços de cigarro semeados no cemitério do medo
e há paixão no teu corpo
uma lareira de desejo percorrendo as minhas mãos de areia húmida
como dizem que às gaivotas aparecem durante a noite vómitos de sobejadas paixões
em cansaços de amêndoa

(detesto rosas
porque picam
porque podem ser em papel
e ardem)

ardem as rosas
e o corpo das rosas
ardem os filhos das rosas
e os filhos do corpo das rosas
ardem os poemas
e as canetas de tinta permanente...
ardem...
como limalha de aço suspensa nos teus lábios
beijar-te sabendo que és um corpo vulnerável
incendiável
um corpo... volátil como a minha voz quando sinto a tua presença
… assim... como o teu... como as sílabas decalcadas nos seios do amanhecer...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 30 de Agosto de 2013

domingo, 23 de junho de 2013

O homem de papel

foto: A&M ART and Photos

Tão só como as andorinhas em papel
que brincam na tua mão exagerada
as migalhas do xisto mendigo correndo montanha abaixo
e depois
as carícias que a tua pele de neblina inventam no meu corpo de Primavera,

Vejo a névoa que os teus olhos alimentam à roldana das horas
voando entre finas esparsas manhãs com chocolate em pó...
dos ponteiros do meu relógio sem pulso
uma deslumbrante doentia pulsação esmorecendo nos finais de tarde
e entra-me o rio no meu corpo de madeira,

Encharca-me o peito
e sinto a inundação do meu coração... coitado
… à deriva como uma barcaça perdendo as letras do nome
em cada esquina da cidade com as sombras árvores em silêncios nocturnos
e eram assim os meus dias aprisionado em ti não o sabendo,

Em mim perdido como um charco de lama derretido no musseque da lentidão
desce a noite
cobrem-se-me as pálpebras com as palavras de ti
vagueando no cansaço espelho do guarda-fato o meu destino imaginário
….............
tão só,

As andorinhas em papel ardendo na lareira dos teus seios
submersos no meu peito
se ainda o tenho
porque não o sinto
porque... também eu transformei-me em homem de papel...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Os textos loucos nas paredes de betão


Tínhamos uma árvore de papel
das palavras com sabor a prata
tínhamos uma sílaba de lata
com pingos de mel
e nas tardes em silêncio que brincávamos com o mar
tínhamos um punhado meigo de melancolia
e versos de amar
que cantávamos até nascer o dia,

Tínhamos que ainda não esqueci
a harmonia
que às vezes disfarçava-se de alegria
e outras tantas vezes inanimadas
vi
e senti
o sorriso das lindas madrugadas
que eu inventava nas planícies acorrentadas,

Às bocas submersas no cais das merendas (livro de Lídia Jorge, O cais das merendas)
e murmurávamos na língua escura da solidão
os sons do piano bar
com os poemas da paixão
antes do jantar
murchava o coração
e das mãos pegajosas os textos loucos que a luz escreve nas paredes de betão
que um louco aldrabão esqueceu na sombra de uma árvore de papel,

Tínhamos sabão
e óleo vegetal com sabor a pimenta
tínhamos o amor e os lábios pigmentados com sandes de salpicão
e mesmo assim
no jardim
tínhamos sexo dentro de uma caixa de cartão
comíamos sem sabermos que as viagens para Marte eram pingos de saliva da tua imaginação
antes de regressarmos à morte que adormece nas lamentações de uma triste sebenta.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó