Tínhamos uma árvore de papel
das palavras com sabor a prata
tínhamos uma sílaba de lata
com pingos de mel
e nas tardes em silêncio que
brincávamos com o mar
tínhamos um punhado meigo de
melancolia
e versos de amar
que cantávamos até nascer o dia,
Tínhamos que ainda não esqueci
a harmonia
que às vezes disfarçava-se de alegria
e outras tantas vezes inanimadas
vi
e senti
o sorriso das lindas madrugadas
que eu inventava nas planícies
acorrentadas,
Às bocas submersas no cais das
merendas (livro de Lídia Jorge, O cais das merendas)
e murmurávamos na língua escura da
solidão
os sons do piano bar
com os poemas da paixão
antes do jantar
murchava o coração
e das mãos pegajosas os textos loucos
que a luz escreve nas paredes de betão
que um louco aldrabão esqueceu na
sombra de uma árvore de papel,
Tínhamos sabão
e óleo vegetal com sabor a pimenta
tínhamos o amor e os lábios
pigmentados com sandes de salpicão
e mesmo assim
no jardim
tínhamos sexo dentro de uma caixa de
cartão
comíamos sem sabermos que as viagens
para Marte eram pingos de saliva da tua imaginação
antes de regressarmos à morte que
adormece nas lamentações de uma triste sebenta.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó
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