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domingo, 14 de abril de 2019

A enxada da vida


Trago nas mãos a enxada da vida,

Tenho nas mãos o silêncio da vida,

Tenho no meu corpo o círculo da vida,

Sem viver, esta vida de sofrer.

Trago nos lábios o sofrimento de respirar,

O ar purificado das planícies perpendiculares ao quadrado…

Quando durmo, e não consigo sonhar.

Trago em mim todas as flores do teu jardim,

Todas as árvores do teu cabelo…

Caminhando pela cidade.

Trago em mim todos os barcos, todas as marés do teu sorriso…

Dançando na chuva,

Brincando na chuva,

Como uma criança sem nome.

Trago em mim todas as palavras que te vou dizer,

Numa tarde de vento,

Junto ao rio a correr…

Trago em mim todos os socalcos do Douro,

Todas as sombras do Douro…

Quando nasce o Sol, quando nasce a saudade de te beijar.

Trago em mim os livros que vamos ler,

À lareira,

Enquanto pego na tua mão…

E nela, semeio as palavras que não tenho coragem de te dizer,

Apenas escrevo,

Que trago em mim todo o meu saber.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

14/04/2019

terça-feira, 9 de abril de 2019

O círculo


Desenho o círculo, o quadrado e o triângulo, nos teus lábios de papel quadriculado,

Escrevo-te enquanto brincas na chuva, como uma criança mimada,

Tenho pena dos jardins e das flores,

Quando me sinto abandonado,

Pela tempestade, quando acorda a madrugada,

Na sanzala dos amores.

Leio-te.

Todas as palavras escritas no teu corpo de cerâmica, e na tua pele, o perfume do silêncio amargurado,

Leio-te, como se fosses um livro de poesia,

Quando o poeta está triste,

Com heresia,

Na chuvinha que não resiste,

Ao beijo da alvorada.

Sinto a paixão das palavras no meu corpo cansado.

Desenho o círculo, o quadrado e o triângulo, nos teus lábios de papel quadriculado,

Percorro socalcos,

Pego no xisto,

Sei que existo,

Porque dos teus lábios, brotam a neblina da loucura,

Na cidade, encontro-me encurralado,

Como uma arma de fogo, uma navalha… apontada ao Sol,

E, no entanto, gosto das nuvens de algodão.

Tenho na mão o fogo do amor,

As luvas da paixão,

Tenho na mão a dor,

Quando a espada se entranha no chão.

O círculo,

O quadrado,

O triângulo…

Todos.

Apaixonados.

Todos.

Cansados.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

09/04/2019