Estávamos no Inverno
E das tuas mãos finas
longas e frias
Vinham a mim as palavras
entre marés adormecidas
Sobre a frágil melancolia
dos teus olhos
Um pedacinho de sorriso
meu
Caía sobre o mar de
insónia
Como crianças em
brincadeira
À volta de uma fogueira
invisível
E percebia-se das nuvens
que nos abraçavam
As gloriosas flores em
combustão
Todas as manhãs
Abro a janela para o mar
Limpo a poeira nocturna
que sobre os meus livros dorme
E numa carícia
Invento o sono nos teus
olhos de poesia
Guardo as tuas lágrimas
de luz
Desço as escadas que me
levam durante a noite
Às esplanadas dos grandes
rochedos
Saltamos o muro da
infância
E na tua mão acordam as madrugadas
simples sem sótãos
O poema que trazes no
corpo
Aos poucos
Puxa a minha triste mão
E de um cigarro anónimo
Regressam a mim as
lareiras das tardes sem literatura
Alijó, 10/11/2022
Francisco Luís Fontinha