terça-feira, 1 de novembro de 2022

Esta folha em branco

 Escrevo-te nesta folha em branco,

Triste, frágil e só,

Nesta folha de onde oiço as tuas lágrimas,

Desta folha onde crescem as palavras…

Escrevo-te, enquanto o sol sorri

 

E a lua não cessa de chorar.

Escrevo-te nesta pobre folha em papel cansado,

Nesta folha lapidada pelo silêncio da madrugada,

Escrevo-te, sabendo que no teu peito de menina

Dormem as flores das noites de insónia,

 

E brincam todas as pedras cinzentas da alvorada.

Escrevo-te, enquanto as sanzalas da minha infância

Ardem nas mãos de um louco,

Enquanto as sanzalas da minha infância são apenas

A saudade de um menino suspenso nos calcões de uma tarde de chuva.

 

Escrevo, nesta frágil folha,

Escrevo-te sabendo que jamais irás ler estas rasuradas palavras

Que deixei morrer junto ao mar;

E junto ao mar

Acredito que ressuscitarás,

 

Como um qualquer Jesus Cristo.

Escrevo-te, hoje, porque apenas tinha esta pobre folha

Que andava esquecida na minha algibeira,

Nesta pobre algibeira

Onde dormem os cigarros que me irão matar.

 

 

 

Alijó, 1/11/2022

Francisco Luís Fontinha

Sem comentários:

Enviar um comentário