Os braços morreram, enquanto estes parvos pássaros
Parecem felizes e
contentes,
Os rios secaram, mas
quanto aos peixes, brincam
Nos teus olhos de
milhafre,
E do mar,
As pobres geadas das
manhãs de Inverno.
Os barcos minguam sob o
luar dos teus lábios,
As palavras que vêm a mim…
Tal como os braços,
também elas morreram,
E ficou apenas uma velha caneta
de tinta permanente
Esquecida sobre a
secretária da insónia.
Os papeis, todos os
desenhos e todas as sombras…
Ardem na tua boca
infestada de desejo;
Os braços morreram, as
palavras morreram,
Apenas restam as pequenas
janelas do sótão
Onde habitam ratazanas, árvores
e desejos…
Os braços morreram, os
pássaros contentes
Escondem-se nas pequenas
sílabas do inferno,
E uma sanzala de medo
diverte-se nas tristes manhãs
Onde poisam os socalcos
da saudade,
E as enxadas do silêncio.
Ergo-te as mãos enquanto
oiço a morte dos braços
E as brincadeiras dos
parvos pássaros,
Invento-me e escondo o
mar
Na algibeira das tardes
sem poesia.
Alijó, 31/10/2022
Francisco Luís Fontinha
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