Mostrar mensagens com a etiqueta vento. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta vento. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Jardim sem estátuas

 Chego a casa

A casa está fria

A casa não tem gente

Chego a casa e apenas fotografias

Pequenos insectos

Velharias e livros,

Nada mais dentro desta casa.

 

Chego a casa

A casa está fria

A casa não tem gente

Chego a casa e apenas sombras

Memórias de outros tempos

Esqueletos invisíveis

Ossos,

Nada mais dentro desta casa.

 

Chego a casa

A casa está fria

A casa não tem gente

Como chocolate

E conto o número de pulsações por minuto

Dos ramos desta árvore a bater na janela

Supostamente superior às cento e vinte pulsações por minuto do meu coração

Esquecido neste jardim sem estátuas,

Nada mais dentro desta casa.

 

 

02/11/2023

domingo, 15 de outubro de 2023

Sem tempo o vento



Desiste do tempo

Enquanto tens tempo

Insiste no tempo

Do tempo sem tempo

Desiste do vento

E do tempo

Sem vento

 

Desiste do tempo

Desiste do vento

Desiste da tempestade que traz o vento

E leva o tempo

 

Desiste do tempo

Quando o tempo se esconde na madrugada

Sem tempo

Coitada

Coitado é do vento

Que corre

Corre

E nunca tem tempo

Para nada.

 

 

15/10/2023

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Nortada

 Lateja a mingua luz da montanha

Abraça-se a mim o vento em nortada

Esta casa em aflição

Que arde

Grita

Lateja a míngua luz do teu olhar

Socalco que se esconde no doiro rio

 

Lateja a míngua luz da montanha

Às árvores de cartolina colorida

O rio em saudade

Que arde

Grita

No centro da cidade

 

Lateja a míngua luz em silêncio

No silêncio que te beija

Deste rio que corre nas tuas veias

Entre lágrimas de chuva

E de estrelas sem brilho

Que também elas latejam

Na cidade luz

Da míngua montanha

Que dorme em desespero

 

Lateja a míngua luz nos teus lábios

Que sofrem

Que procuram a liberdade

Da luz que lateja da minha nortada

Nesta triste e pobre cidade

Que traz o vento

E leva de ti o sofrimento

E a saudade.

 

 

 

31/07/2023

Alijó

Francisco

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Labirinto de insónia

 Procuro nas minhas mãos

O sono e o silêncio das primeiras lágrimas da madrugada.

Procuro nas minhas mãos

Vazias

Distantes…

Procuro nas minhas mãos

A luz diáfana das marés de engano

E todas as tristezas da alvorada,

 

Visto-me de zé-ninguém

Sabendo que um outro alguém

Também vestido de uma outra coisa qualquer…

Me persegue neste labirinto de insónia

Devoluto

Frio…

E escuro como os túneis de vento,

 

Procuro

Procuro nas minhas mãos…

A sombra

E o além,

 

Procuro nestas mãos inventadas

Por alguém que não conheço

Que nunca vi

Mas que existe

E está lá

De lá

Onde este navio apodrecido

Ainda resiste

Ainda procura nas minhas mãos…

Um pedacinho de mar

Antes que o mar…

Antes que o mar morra

E este pobre barquinho…

Adormeça

E das minhas mãos…

Um sorriso de alguma coisa…

Cresça.

 

 

 

Alijó, 15/06/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Pensamento

 

Não sei se o vento me quer

Se o vento me quer levar

Para outra cidade

Para outro mar

 

Não sei se o vento tem paciência

E vontade

De me levar

Para sempre

E sempre

Para outro mar

 

Não sei se o vento

Esses tal de vento

Homem

Mulher

Ou pensamento

Tem paciência

Tem alimento

Para me dar

E levar

Levar para outro mar.

 

 

 

 

Luís

29/05/2023

sábado, 27 de maio de 2023

Primavera

 

Se o vento soubesse

Não te levava

Se o vento gostasse de mim

Não te deixava

Se o vento soubesse

Não dizia à chuva

Que a Primavera vai regressar

 

Para que eu quero a Primavera

Se as andorinhas morrem de silêncio

E as flores

À minha passagem

Desmaiam

Ficam negras

Sem voz

 

Se o vento soubesse

Não me dizia que a Primavera vai regressar

E com ela

As árvores ficam tão tristes

Com flor

Com fruto

Se o vento soubesse

Não me dizia que a Primavera vai regressar

 

Se o vento soubesse

Não me dava palavras para escrever…

Nem a Primavera

E as flores ficam lindas

E os pássaros apaixonados

Mas eu detesto as flores

E detesto os pássaros

 

Se o vento soubesse

Desenhava na tua lápide a Primavera

Com flores prateadas

Com sorrisos de doce madrugada

Se o vento soubesse

Abraçava-me

E me levava

E me dizia

Que o vento

Nada sabe

Sem saber…

 

Se o vento soubesse…

Não me trazia a Primavera

Nem as flores

Nem os pássaros

Porque já avisei o vento

Que não quero nada

Mas o vento é teimoso

E traz-me a Primavera

E a madrugada

E se o vento soubesse

E se o vento quisesse

Nada

Como eu…

 

 

 

Francisco

27/05/2023

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Fogueira

 

Nos dias cinzentos

As palavras são lamentos

São os alegres ventos

Que brincam no silêncio sorrir,

E das palavras lamentos

Regressa a vontade de fugir

Enquanto o corpo arde nesta fogueira

Desta fogueira que teima em não partir…

Dos dias cinzentos

Das alvoradas sem nome…

As palavras são lamentos

São lamentos em fome.

 

 

Alijó, 03/05/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Flores da Primavera

 E que o vento nunca leve o teu cabelo

E o teu sorriso,

E que o vento te abrace,

Em cada doce madrugada,

 

E que do vento venham as flores da Primavera

Que escrevem em teus lábios,

E desenham nos teus lábios…

A Primavera,

 

E que o vento habite em teus sonhos

Das manhãs depois de acordarem,

E que o vento seja justo, seja sincero…

E que o vento nunca deixe…

 

Nunca deixe de te amar.

E que o vento seja eu,

Esta pobre flor sem madrugada,

E que o vento…

 

E que o vento seja apenas o vento,

O vento sem mais nada.

E que o vento…

E que o vento se deite no teu ventre,

 

E que do vento, acorde mais vento…

Mais vento em cada doce madrugada.

E que o vento nunca leve o teu cabelo

E o teu sorriso, e que o vento te traga o sono da alvorada.

 

 

 

Alijó, 01/05/2023

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Um amigo

 Peço ao vento

Um amigo

Um amigo que informe o outro senhor vento

Que não me traga mais vento

E se me trouxer mais vento

Que o faça com cuidado

Com carinho

E com amor de vento

Porque do vento que ainda me resta

Pouco vento

Algum vento

Sem lamento

E no entanto

Estou sempre sem vento.

 

Peço ao vento

Um amigo

Um amigo de vento

Quando do outro vento

Regressam as palavras do vento

E se virem o vento

Digam-lhe…

Que isto de andar pela cidade ao vento

Sem trazer na mão

O outro vento

Não é tempestade

É stressante.

 

Peço ao vento

Um amigo

E um outro pedaço de vento

Um amigo que não tenha pensamento

Assim como o vento

Porque o vento não pensa

Porque o vento não sente na cara…

Todo o outro vento.

 

Peço ao vento

Um amigo

Um cigarro de vento

E claro

O isqueiro resguardado do vento

Depois encerro a minha janela

Claro

Tudo por causa do maldito vento

Do vento

Que não entendo

Porque está sem tempo

O pobre do vento

Que não pensa

Que não tem pensamento

Um amigo

Um triste cigarro de vento

Enquanto isso

Do vento

Com vento

Este poema de vento e sempre às ordens do mestre vento.

 

Peço ao vento

Sei lá o que pedir ao vento

Chuva com vento

Sol sem vento

Pássaros enrolados no vento

Ou uma simples sandes de torresmos

E claro

Acompanhada com vento

Tinto.

 

Peço ao vento

Um amigo

Um amigo com muito vento

Um amigo entre tantos soltos no vento

E quando o vento mo trouxer

Que seja durante a noite

E que não esteja muito vento.

 

Um amigo

Um amigo de vento

Um amigo com as mãos no vento

E a cabeça no outro vento

Enquanto

Sem penso

E sem pensamento

Este amigo de vento

Este meu pobre amigo de vento

Que eu lamento

Foi-se com o vento.

 

 

Alijó, 13/04/2023

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 23 de março de 2023

Abraço

 Abraça-me, meu pedacinho de mar,

Abraça-me enquanto respiro,

Enquanto pinto no teu olhar

As noites de insónia,

Abraça-me, meu pedacinho de mel…

Enquanto nas minhas mãos brincam as flores

E os pássaros de sonhar,

Abraça-me…

Abraça-me…

Enquanto a noite tem luar,

Enquanto a noite não me assassina

Com os sonhos de um cadáver sonolento,

E nunca te esqueças de guardar…

Junto ao peito,

O meu retracto…

Nem o silêncio do vento.

 

 

Alijó, 23/03/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Vida

 Numa folha em papel branco

Podia escrever a minha vida

A minha vida

Como se a vida pudesse ser escrita

Como se a vida pudesse ser desenhada

Numa pequena folha em papel

Ou numa tela desmaiada,

 

Numa pequena folha desanimada

Nasceu a não sei quantos de Janeiro

Às sete e trinta da madrugada

Num feliz Domingo de Sol,

Cresceu

Brincou junto ao mar

Cresceu

Cresceu

E morreu a tantos do tantos

De dois mil e tantos…

A vida

A minha vida,

 

Uma merda de vida

Dentro das escarpas da solidão

A vida que é escrita

Na escrita que é vivida,

Vivida em cada mão,

 

Numa folha

Numa folha em papel branco

Quando no corpo um nenúfar de vento

Te leva a pequena folha

A pequena folha em papel branco…

E não tens onde escrever

A tua vida

A vida da tua pobre vida.

 

 

 

 

Alijó, 17/01/2023

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

O sopro do vento

 

Não peças ao vento

Que o vento te traga o vento,

Quando o vento

É o alimento,

No alimento do vento.

 

Não peças ao vento

Que o vento beije o outro vento…

Porque o outro vento,

Neste momento,

É o vento do vento.

 

E se o vento

A quem pedes o vento,

Não for o teu vento,

E o vento do outro vento…

For o veneno do teu vento.

 

 

Alijó, 13/01/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 24 de dezembro de 2022

Planeta Terra

 Vive-se e vai-se vivendo

Enquanto este planeta de loucos

Gira e não pára de girar

Vive-se

Vai-se vivendo

Uns dias alegre

Outros dias a chorar.

 

Vive-se carregando um sobretudo de insónia

Quando a noite se despe

E se deita junto ao rio

Vive-se

Vai-se vivendo

Vivendo de frio.

 

Vive-se carregando a enxada da vida

Vive-se

Vai-se vivendo…

Vivendo a poesia.

 

E se um dia

Se um dia

Dia

Esta puta de vida

For um suspiro de vento

Não vivo

Não vou vivendo

Vivendo das palavras que alimento…

 

Vive-se

Vai-se vivendo

 

Enquanto isso

A Terra não pára de girar.

 

 

 

 

Alijó, 24/12/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 10 de dezembro de 2022

A loucura de um doido pequeno cubo de vidro

 Todas as minhas noites

As pequenas noites que habitam em mim

São também elas

Um pequeno cubo de vidro

Sem janelas,

 

A noite é só minha

Saio à rua

E roubo todas as estrelas

Depois

Guardo-as,

 

E enquanto te escrevo

Semeio-as nos teus doces lábios de mel

Um dia

Um dia a noite será uma planície de vento

Em direcção ao mar,

 

E uma criança brincará na areia

Livre como os pássaros da minha aldeia

Mas enquanto houver noite

Este cubo de vidro só meu

Viverá na tua loucura,

 

Também eu

Louco

Puxando uma corda invisível

Desenhando beijos nas mãos da geada

E imaginando as tuas mãos nas minhas mãos – enquanto houver noite e geada.

 

 

 

 

 

Alijó, 10/12/2022

Francisco Luís Fontinha