Não tínhamos dentro de
nós
O sono transverso do
silêncio,
Não tínhamos o pão,
Não tínhamos as palavras
que hoje semeio…
Não tínhamos nada,
Não tínhamos medo.
Não tínhamos as lágrimas
que hoje crescem
Sob a sombra infinita da
solidão,
Não tínhamos as nuvens,
Não tínhamos este rio que
nos abraça,
Que nos beija,
Não tínhamos estes velhos
E cansados socalcos.
Não tínhamos o desejo
Que habita nesta
insignificante pedra,
Não tínhamos o vento
Que nos embala…
Não tínhamos uma
espingarda
Que disparasse o prometido
pão.
Não tínhamos a fome,
Não tínhamos a lareira
que o corpo consome,
Não tínhamos nada…
Não tínhamos tempo
Que hoje nos enforca,
Que hoje nos levanta
Deste chão envenenado.
Não tínhamos o poema,
Não tínhamos os livros
que hoje temos…
Não tínhamos a espingarda,
Não tínhamos o texto
embriagado
Pelo cansaço da manhã.
Não tínhamos as lágrimas,
Não tínhamos o silêncio
Das eiras em construção;
Não tínhamos nada,
Nada que hoje temos.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 25/06/2022
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