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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Supérfluo amanhecer

 

Supérfluo amanhecer

Quando as palavras

Avançam contra o peito do homem,

Quando as flores se esquecem de envelhecer,

Quando o homem deixa de ser homem,

Quando uma criança faminta,

Se ergue entre as paredes da insónia.

 

Supérfluo amanhecer

Quando as palavras

Avançam contra o peito do homem,

O mar vacila na escuridão,

Quando o homem deixa de ser homem,

Quando as palavras em combustão,

São balas para a espingarda da saudade.

 

Supérfluo amanhecer

Quando as palavras

Avançam contra o peito do homem,

Quando o homem mata o homem, quando o homem é palavra envenenada

Nos poemas de morrer;

Supérfluo amanhecer

Quando o homem dá conta que a noite é uma enxada.

 

 

 

Alijó, 16/02/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 31 de março de 2018

Amar sem vento


Amar sem vento, enquanto a Lua adormece o corpo cansado,

A viagem entre parêntesis, distante da sombreada escuridão,

O passo apressado,

Ofegante,

Que caminha na tua mão.

 

Amar sem vento,

Saltar as amarras do sofrimento,

Há gente, com lamento,

Enquanto os ossos fornecem o alimento,

 

A Paz sagrada, imune predicado,

Uns shots no mercado,

Um poema poeirento…

Que poisa no livro sangrento.

 

Amar.

 

Amar sem vento,

Correr as avenidas da tempestade,

Amar,

Amar-te sabendo que a saudade,

Vira gente,

Como o mar,

Ou um barco afundado.

 

Eu sento.

 

Eu sento no amar sem vento…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 31 de Março de 2018

domingo, 19 de novembro de 2017

Noite na alvorada de ninguém


A noite começa a perder-se nas tuas mãos, entre montanhas sinto os teus lábios emagrecidos pela solidão, adormecidos, tristes… perdidos, abençoadas estrelas que me iluminam sem qualquer tipo de perdão, uma carta não escrita, algumas palavras semeadas no teu olhar, quando lá longe, oiço o assassino do mar, mãos ensanguentadas, lágrimas disparadas pela espingarda do sono,

Um canhão evapora-se debaixo do luar, escrevo-te para me sentir feliz, invento-te para me sentir livre, rebelde e desemparado nas ruelas nocturnas do cansaço, oiço-os

Vomitam insónias, dormem no desassossego dos pássaros envenenados pelos teus lábios, os livros sofrem, os livros morrem ao nascer do Sol, e tenho no corpo um solstício amedrontado, oiço-os

Marcham Calçada abaixo, rumam aos bares não iluminados, estátuas de sombra sentadas numa esplanada, debaixo, em cima, e, no entanto, sou um soldado desgraçado, moribundo, procurando barcos nas tuas pálpebras…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19 de Novembro de 2017

domingo, 12 de novembro de 2017

O eterno acusado


Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me da chuva e do sol,

Das províncias desgovernadas,

Dos socalcos inanimados,

Tristes…

Cansados.

 

Acusais-me do cansaço,

De ser o menino dos papagaios

E das estrelas em sombreados tentáculos,

Acusais-me de o mar não regressar…

 

E de matar.

Acusais-me do eterno ventrículo agachado no musseque,

Das palmeiras envenenadas pelo silêncio,

Acusais-me das palavras gastas,

Tontas,

Nas paredes da solidão.

 

Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me do medo,

Da morte em segredo,

Acusais-me do sofrimento

Nas montanhas solidificas dos livros

E dos momentos passados na escuridão de um velho bar.

 

Acusais-me da dor,

Das metástases ensanguentadas de um corpo em delírio…

Acusais-me de nada,

De tudo,

Até da triste madrugada…

Que a sombra alimenta.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Novembro de 2017

domingo, 30 de julho de 2017

Os barcos da solidão


Nos olhos, a penumbra pomba adormecida,

Um raio de luz desce e poisa-lhe na mão amachucada pela alvorada,

O silêncio frio da despedida…

Quando o Tejo se esconde na madrugada,

Os barcos da solidão, cansados de esperar pela partida,

Uma casa abandonada, recheada de flores adormecidas,

Canções de amor, palavras esquecidas…

Não mão do escritor,

Sempre tive sonhos,

Viver sobre o mar da esperança,

Levantar bem alto o levante sofrido da escuridão…

Quando criança,

Pegava num pedaço de papel…

E escrevia-te, não percebendo que não existias…

Amanhã nova caminhada,

Amanhã nova estória…

Ensanguentada,

Liberta da memória,

E dos pilares de areia da saudade,

Nos olhos, a penumbra pomba adormecida,

Vive-se vivendo na tentativa de partir…

E nada deixar sobre a mesa… sobre a mesa sofrida.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30 de Julho de 2017

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Levante


Pequenas palavras nos versos tuas mãos,

Algumas pinceladas no teu olhar,

Um livro que poisa nos teus lábios…

A cada dia…

Ao levantar.

 

Pequenos gestos da infância,

Nos gonzos cromados da tua solidão,

Impávidos, enquanto esperamos pelo luar…

Sem pressa de caminhar.

 

O levante teus seios na ausência preia-mar,

A gaivota “Adeus” em pequeninos círculos junto ao mar…

A floreira da tua lápide recheada de flores,

E palavras de saudade,

 

A partida, meu amor,

A partida das árvores e dos pássaros,

A partida do livro em beijos e abraços…

 

Nas estátuas de sal…

 

O levante teus seios na ausência da escuridão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 13 de Julho de 2017

sábado, 8 de julho de 2017

O homem suicidado (IV)


Uma caneta cravada no peito,

Jorram palavras amargas das veias do poeta,

O homem suicidado deita-se no chão firme junto ao mar…

Uma árvore cintila no vento invisível da noite,

A morte,

O homem suicidado sorri das flores sobre o seu corpo,

A cada dia, uma amoreira dorme,

Sonha…

Inventa desenhos no silêncio da escuridão,

A viagem renasce ao nascer do Sol,

A aventura de galgar os rochedos da solidão,

Adormecidos os corpos nos fósforos da miséria…

O poema grita,

Chora…

Uma caneta cravada no peito do artista,

O fim aproxima-se enquanto lá fora uma criança brinca…

E chora,

O poeta grita…

E morre na tua mão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 8 de Julho de 2017

quinta-feira, 6 de julho de 2017

As faúlhas que dormem na escuridão


Era teu, meu amor,

Agora pertenço ao grupo dos desalojados locais,

Apátrida,

Silencioso esquecimento das nuvens em flor,

Solstício da saudade, e lá ao longe, muito longe… um jardim de silêncios envenenados pela escuridão,

Onde adormecem as faúlhas,

Onde poisam todos os pássaros em papel,

Antes do nascimento do Sol…

Terra queimada,

Húmus da liberdade condicional,

Os livros suspensos no teu olhar…

Quando cai a noite,

Ausento-me,

Desapareço no horizonte…

E aproximo-me de ti como fazem as gaivotas na Primavera,

Abraçam-te,

Abraçam-te enquanto um velho relógio se engasga entre ao catorze e as quinze horas,

E morre…

E morre no pulso do poeta,

 

As faúlhas ventiladas das noites em claro,

A clarabóia do destino encalhada nas estrelas,

Como eu, como eu depois da partida do ausentado destino…

Velho, velho de morrer.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 6 de Julho de 2017

segunda-feira, 3 de julho de 2017

O homem suicidado (II)


Uma criança de luz adormece no teu sorriso prateado,

Oiço o rosnar do fumo dos teus cigarros envenenados pela escuridão,

E o teu corpo é apenas um amontoado de ossos,

Morres-me nas mãos,

Suicidas-te com as palavras perdidas na Calçada do Adeus,

Pobre criança sem Pai,

Pobre luz sem Mãe,

E do mar regressam as cordas do teu sofrimento,

Alicerças-te a mim,

Pareço um rochedo ingrime perfurando o intestino do suicidado…

Nada mais posso desejar,

Que partas em breve….

E sejas feliz assim,

 

Assinado,

 

O homem suicidado.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 3 de Julho de 2017

sábado, 17 de junho de 2017

O esquadrão das palavras mortas


Somos poucos,

O lívido segredo da alma fica suspensa nas umbreiras da madrugada,

Silêncios muitos,

Neste exíguo espaço nocturno,

Não penso na vossa ausência, flores do meu jardim,

Em cada pedra um nome teu, em cada pedra um beijo,

Somos poucos,

Ou nenhuns…

Este exército de vespas prontas a atacar o pôr-do-sol…

Até à batalha final,

A vitória, somos poucos, ou nenhuns…

Silêncios muitos,

Quando rompe a solidão no longínquo Domingo de ninguém,

Amanhã será a derradeira despedida da cidade dos pilares de areia,

Os barcos amarrados aos teus pulsos sonegados pela escuridão,

Não me serve este destino…

Escrever não escrevendo as palavras de ninguém…

Que o coitado do menino,

Sempre oprimido pela tempestade…

Deixa ficar na terra queimada pela charrua,

Somos poucos,

Ou nenhuns…

Mas somos um exército de mendigos.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 17 de Junho de 2017

terça-feira, 17 de maio de 2016

Paisagens do sono


A paisagem despede-se de mim.

Sinto as estrelas poisarem em cada gotícula de suor do teu corpo,

Deito sobre ele a minha desnorteada cabeça,

E regressa o sono do Oriente…

Sonho com pássaros,

Sonho com barcos,

Ínfimas imagens travestidas de loucura absorvem-me,

E sou forçado a fugir para outras paragens sem escuridão.

 

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 17 de Maio de 2016

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A saudade


Deixei de pertencer aos retractos nocturnos do abismo,

Sou uma sombra aprisionada neste longínquo porto sem amarras,

À deriva,

Procuro o vento laminado das tardes de Luanda,

Não ando,

Não amo,

Não… não sei o nome da imagem que acordou neste espelho envelhecido,

Não entendo os Oceanos de insónia que brincam nos meus ombros,

Deixei de ter ossos,

Deixei de pertencer…

E do abismo

Uma flor encardida voando sobre as palmeiras,

 

Uma mão de solidão

Encalhada no meu olhar,

E onde estão as tuas palavras?

Amargas,

Cansadas das viagens ao Planeta da escuridão,

Asas em chamas,

Crocodilos em vão…

Sem janelas no sótão,

Sento-me nas escadas,

Pego levemente num cigarro inventado pelos teus lábios,

E canto,

E choro…

 

A saudade.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 26 de Junho de 2015

sexta-feira, 6 de março de 2015

Pincelados corações de pólen


O acrílico beijo
na tela do desejo
sem medo de perder
o acordar da madrugada
ele abre a janela
e percebe que afinal...
a madrugada é um fantasma
uma coisa de nada
sombras
silêncios
e
e abraços na escuridão

ela sabe que os dias morrem
e nas aldeias de granito
habitam pássaros de papel
coloridos
aventuras
sem destino
acorrentados aos gritos da caverna do adeus
ela sabe que os dias
poucos
nenhuns
absorvem a luz
disparada por um olhar invisível

e no entanto
o beijo transforma-se em fotografia
negra
como o poço da morte
na infância de uma cidade perdida
há nos seus lábios abelhas
e pincelados corações de pólen
e voam
poucos
nenhuns...
homens conseguem entranhar-se no seu corpo
e ela desaparece em cada avenida do sofrimento.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de Março de 2015

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Palavras em vão


Estas palavras
são as tuas lágrimas
disfarçadas de anoitecer,
estas palavras
pertencem ao teu corpo
suspenso na escuridão,
estas palavras
são as tuas lágrimas...
entre as palavras... as tuas palavras de viver,
estas palavras
são as raízes do teu coração,
palavras, palavras... palavras em vão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2014

sábado, 6 de dezembro de 2014

O menino da preia-mar


Há feridas invisíveis no teu sorriso
que nem o espelho da saudade consegue desenhar,
pareces uma fotografia embalsamada,
sem alma...
esquecida num qualquer lugar,
há feridas invisíveis...
e crateras de espuma
que só as tuas pálpebras alicerçam às meticulosas palavras sem destino,

em ti o menino vestido de preia-mar
que corre e correr... e corre sem se cansar,
em ti e de ti...
as feridas entristecidas dos biombos nocturnos da vaidade,

esta cidade,
o teu corpo vagueando no sexo da paixão
como um cadáver enraivecido... fundeado no rio sombreado pelo incenso...
uma carta sem destino que te bate à porta,
um carro preguiçoso em tristes aventuras,
há feridas invisíveis no teu sorriso
que os cigarros da despedida alimentam,
mas... mas no teu olhar cessaram as lágrimas de chocolate,

em ti
e de ti...

a mentira do silêncio embrulhada na portaria
de pequeníssimos fios de luz,
o teu livro preferido que arde... enquanto se extingue o dia,
dentro dos teus seios,

em ti
e de ti...

o cansaço abstracto das montanhas de papel,
os rochedos envenenados pela noite dos marinheiros
e que tu não entendes os seus medos
e inquietações,
não me ouves... porque a minha voz pertence ao cacimbo
e do cacimbo emerge como uma lâmina de sangue,
em veias de nylon
ao deitar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Dezembro de 2014

Migalhas


As migalhas do teu suor
quando há nuvens com fome
e esqueletos sem nome...
os tentáculos da tua dor
mergulhados na calçada do Adeus
há uma rosa
há uma flor
que a noite alimenta
e não quer
na lareira da solidão
mas só as estrelas conseguem
desenhar na tua mão,
há uma paisagem sem amor
no sorriso de um caixão
há jardins embriagados esquecidos na escuridão
as migalhas do teu suor
quando há nuvens com fome
e esqueletos sem nome...
há ossos de papel voando na madrugada
que só o amanhecer consegue parar
há barcos infelizes
e há barcos apaixonados...
mas as migalhas do teu suor
são os alicerces da cidade dos pássaros aprisionados.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Dezembro de 2014

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Esqueletos e escuridão


Esta casa sem mão
completamente embriagada pelo fogo da madrugada
de janelas encerradas
com portas em latão,
Esta cabeça casa sem mão
o teu corpo em desalinho
dentro da lareira...
sem perceber que há um amanhecer colorido,
Este caixão
na casa sem mão
o celibato cansaço quando há na tarde esqueletos
e escuridão...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2014

sábado, 29 de novembro de 2014

Vento sofrido


A astronomia loucura do profeta
as paredes encarceradas do guerreiro desconhecido
à força e pela força
o cansaço espaço de luz nos confins rochedos da melancolia
a astronomia
embriagada pelos momentos sem pressa
numa carta de despedida
sem palavras
ou... ou remetente
uma aventura na escuridão da cama do sonambulismo
os cigarros absorvidos pela morte do fumo colorido...
e um caixão de espuma poisado nos alicerces da canção de revolta

cessem este destino
e o silêncio
da atmosfera encarnada em comestíveis soluços de desejo
a astronomia loucura do profeta
sentado em frente ao espelho da agonia
sem sentido
sem... sem melodia
antes de acordar o dia

o vento sofrido
o corpo mordido pelos meus dedos
o odor embalsamado do prazer
em finíssimos gemidos
e uivos...
e no entanto
não existem ruas na minha mão
casas
flores
nada
apenas... um rio adormecido numa fotografia
e um Domingo desorganizado e despido...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 29 de Novembro de 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

equação sem solução


o olmo cansaço do teu peito
há em ti a penumbra escuridão
sinto-te e sei que não pertences às coisas físicas
talvez não passes de uma equação
tão pobre
e sem solução


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 15 de Maio de 2014

domingo, 23 de março de 2014

Noite em mim aos tentáculos sonoros do meu peito

foto de: A&M ART and Photos

A noite não regressa, a noite é uma prostituta convicta, fã da escuridão,
eu, eu pertenço à noite, os teus lábios são filhos da noite, e as estrelas convencem-te que existe vida nas pedras, que existe vida nas árvores e gaivotas, que existe vida nos velhos cacilheiros...
atiro-me ao rio e procuro as tuas mãos que pertenceram ao meu rosto,
vivo, respiro pigmentos coloridos de saudade, e... e como fã da noite, sofro como sofrem os veleiros quando cessa o vento,

A noite entranha-se em mim, oleia-me os tentáculos sonoros do meu peito,
finjo viver quando lá fora, quando do outro lado da rua... não vivem, não existem...
nem noite, nem estrelas... e apenas uma corda de nylon me aprisiona a este cais poético derramando palavras nas searas de Carvalhais,
e escondia-me dentro do canastro... e sonhava que um dia, eu, eu pertenceria à noite.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 23 de Março de 2014