Há feridas
invisíveis no teu sorriso
que nem o espelho da
saudade consegue desenhar,
pareces uma
fotografia embalsamada,
sem alma...
esquecida num
qualquer lugar,
há feridas
invisíveis...
e crateras de espuma
que só as tuas
pálpebras alicerçam às meticulosas palavras sem destino,
em ti o menino
vestido de preia-mar
que corre e
correr... e corre sem se cansar,
em ti e de ti...
as feridas
entristecidas dos biombos nocturnos da vaidade,
esta cidade,
o teu corpo
vagueando no sexo da paixão
como um cadáver
enraivecido... fundeado no rio sombreado pelo incenso...
uma carta sem
destino que te bate à porta,
um carro preguiçoso
em tristes aventuras,
há feridas
invisíveis no teu sorriso
que os cigarros da
despedida alimentam,
mas... mas no teu
olhar cessaram as lágrimas de chocolate,
em ti
e de ti...
a mentira do
silêncio embrulhada na portaria
de pequeníssimos
fios de luz,
o teu livro
preferido que arde... enquanto se extingue o dia,
dentro dos teus
seios,
em ti
e de ti...
o cansaço abstracto
das montanhas de papel,
os rochedos
envenenados pela noite dos marinheiros
e que tu não
entendes os seus medos
e inquietações,
não me ouves...
porque a minha voz pertence ao cacimbo
e do cacimbo emerge
como uma lâmina de sangue,
em veias de nylon
ao deitar.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de
Dezembro de 2014