foto de: A&M ART and Photos
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A noite não regressa, a noite é uma
prostituta convicta, fã da escuridão,
eu, eu pertenço à noite, os teus
lábios são filhos da noite, e as estrelas convencem-te que existe
vida nas pedras, que existe vida nas árvores e gaivotas, que existe
vida nos velhos cacilheiros...
atiro-me ao rio e procuro as tuas mãos
que pertenceram ao meu rosto,
vivo, respiro pigmentos coloridos de
saudade, e... e como fã da noite, sofro como sofrem os veleiros
quando cessa o vento,
A noite entranha-se em mim, oleia-me os
tentáculos sonoros do meu peito,
finjo viver quando lá fora, quando do
outro lado da rua... não vivem, não existem...
nem noite, nem estrelas... e apenas uma
corda de nylon me aprisiona a este cais poético derramando palavras
nas searas de Carvalhais,
e escondia-me dentro do canastro... e
sonhava que um dia, eu, eu pertenceria à noite.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 23 de Março de 2014