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foto de: A&M ART and Photos
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senti-te despregada dos sonhos em
castelos de veludo
desci as escadas da solidão à tua
procura
mergulhei no incenso magusto das
castanhas embebidas em pétalas de amor
dormi na rua por tua causa
subi às árvores para buscar-te as
asas que te prometi
e por lá fiquei
senti
e sem ti
senti-te mais tarde dentro de mim como
se sente o rio quando corre nas nossas veias de onomatopeias
desgovernadas
tristes
e simples espada nas cantigas das
janelas em ruelas empobrecidas
senti-te despregada dos sonhos em cubos
de areia vestidos com bonecos em palha seca
sabia-te perdidamente nas cidades em
volta dos relvados nocturnos dos néons castrados como abelhas
fundeadas no cais das aranhas e noites em dormitórios de marés
rochosas ou das malignas coberturas de zinco nas cabeças sem
coloridas manhãs de Outono
amar-te-ei depois dos terramotos de
cetim em cobertores de chita?
e por lá fiquei
senti
e sem ti
imaginava-te louca com brincos de
centeio dos campos de Carvalhais
imaginava-te nua dentro do espigueiro
junto à eira
e sentia-te entre as frestas do dia em
delírios poemas como gotículas de suor que o teu corpo derramava
sobre a minha sombra
e por lá fiquei
senti
e sem ti
às caravanas esplanadas do rio
embrulhado em pontes de concreto armado
vagueavas-me na ponta dos dedos como
objectos minúsculos do edifício da rua dos apaixonados mosquitos de
arame
sentia-te fervilhar no meu sangue
sentia-te a desfrutares as palavras dos
meus suspiros quando acordava o pôr-do-sol...
e um barco se sémen poisava sobre as
tuas coxas envergonhadas
absorvendo o prazer da tarde como uma
equação diferencial esquecida dentro do caderno quadriculado
e por lá fiquei
sem saber que tu eras como as espigas
de milho
sem saber que tu sonhavas com
clarabóias de insónia depois dos terramotos de cetim em cobertores
de chita
amar-te-ei?
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 10 de Novembro de 2013