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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Marés de insónia


O cansaço

Das palavras tuas

Que vives dentro de mim

Acordas-me

E manipulas-me

Nas tuas mãos

Sou um boneco de sombra

Um esqueleto envelhecido

Sem tempo para amar

Amado

O sofrimento

O cansaço

Acordas-me

Nas tuas mãos

Sinto a alvorada voando em pedaços de cinza

A alma dos cigarros

Suspensa no meu peito

A vida é um espelho sem nome

Um coração de pedra

Esfomeado

Galgando as ruas desta cidade

Embriagada pelo silêncio nocturno

Dos corpos sobrepostos

Entre paredes

Os gemidos da madrugada

Sentidas

Manhãs em sargaços nevoeiros de espuma

Os teus lábios

Meu amor

Sem sílabas para conversar

Os teus olhos

Despedidos pela sonolência da paixão

Amar

Amar

Meu amor

Sem saberes

Que as cancelas da solidão

Apodrecidas

Viajam

Na morte

E mesmo assim

Dizes que amas os candeeiros de prata

Escondidos nos edifícios anónimos

Dos pássaros de papel

Da morte

As viagens

Entre rios

Mares

E marés de insónia

Apaixonadas lareiras do prazer

Quando o sémen de chocolate

Invade os textos não escritos

Secretos

Sem dedicatória

Meu amor

(O cansaço

Das palavras tuas

Que vives dentro de mim

Acordas-me

E manipulas-me

Nas tuas mãos)

O autógrafo no teu rosto

Para…

Com amizade

Abraço

Beijos

Amo-te?

Talvez sejas um cortinado melódico

Na boca do poeta

Talvez sejas uma metáfora

Entroncada na ferrugem da vertigem

Quando as articulações cedem…

E o extinto luar

Se despede do teu corpo

Ficas louca sobre a cama do saber

E nas personagens invisíveis de mim

Sobre ti

O cansaço

De estar vivo

E olhar-te

Sem saber

Que

Amanhã

Serei um pequeno parágrafo esquecido numa folha de papel…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 10 de Abril de 2015

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Desintegração


Desintegro-me na desilusão das imagens adormecidas
pareço um velho palhaço gritando para a multidão
palavras
e canções
e noites perdidas,

Viagens enigmáticas com odor a madrugada
rios embriagados correndo nas minhas veias
dilatadas
tristes
tristes como as lágrimas da calçada,

Desintegro-me sem o saber
enquanto sonho nas planícies lunares
desintegro-me lentamente como o vento nas tardes de liberdade
recebo uma carta... lá dentro habita a saudade...
e desintegro-me nas palavras por escrever,

As rosas que disparam sorrisos encarnados
o oceano levitando nas mãos de alguém que é amado
o barco do desejo... navegando
navegando nos cortinados da mentira...
e desintegro-me nos planaltos prateados,

Há no teu olhar rochedos vadios comendo mendigos engravatados
das tuas pálpebras ancoradas
despem-se os seios da manhã sem despertador
maldito relógio que nunca morre...
e todas as luzes poisam nos ombros dos alegres desgovernados...




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 20 de Novembro de 2014

domingo, 16 de fevereiro de 2014

criança dos teus olhos

foto de: A&M ART and Photos

há silêncios nos teus olhos
existe uma mão que absorve as lágrimas dos teus olhos
tens cabelos semeados pelo vento que cerram os teus olhos
o medo que cruza os teus braços que aprisionam os teus olhos...
há silêncios nos teus olhos
há palavras que descrevem a cor dos teus olhos
imagens
negras
a noite
o dia
a morte... que brinca nos teus olhos
há silêncios de amor nos teus olhos

há silêncios de ciume nos teus olhos
searas campos montanhas árvores nuas
despidas cidades amargas ruas cansadas
que os teus olhos vêem e se calam como pedras silenciosas
há rios mares barcos e gaivotas
há desejo nos teus olhos
há corpos em cio que magoam os teus olhos
há madrugadas onde habitam os teus olhos
bares mesas de bares copos recheados de uísque em bares dos teus olhos...
jardins inclinados
tristes tristes como os teus olhos chorados
há seios que me esperam na criança dos teus olhos


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Fevereiro de 2014

sábado, 21 de dezembro de 2013

Um monstro com olhos em xisto

foto de: A&M ART and Photos

O pormenor emblemático do corpo composto por luz, pétalas encarnadas e algumas insónias margaridas, o jardim parece um monstro recheado de nozes, vozes, um monstro com olhos em xisto, socalcos, montanhas... e nas veias, o rio
O Douro?
O sorriso das madames com plumas desiguais sobre os ombros sombreados pelas nuvens que a noite constrói depois de todas, ou apenas uma ou outra, luzes de néon vomitarem as palavras encravadas nas montras da cidade, oiço-te vaguear como uma gaivota ferida, doente, oiço-te mergulhar no meu Douro que odeio, confesso... que sempre odiei, vivi para ser uma cidade, com bares, ruas e ruelas, travestis, putas, e donzelas... o Douro enerva-me, desiludiu-me quando o encontrei pela primeira vez... como me desiludiram algumas das mulheres que eu tive
(como desiludiste algumas das mulheres que tiveste)
Como me desiludiram algumas das calçadas empedradas com acesso ao rio, outro rio, um rio com vida, um rio com esqueleto de marinheiro, em cio
O Douro?
A ponte iluminava-se, a ponte voava sobre os espaços exíguos da minha cabeça, acordava com pequenas grandes tonturas, acordava a fumar cigarros proibidos e deitava-me a fumar
Cigarros proibidos?
O Douro enerva-me, desculpem-me, mas amo a cidade do Tejo, amo a ponte, os charros que fumei enquanto choramingava... e depois caía num qualquer bar em Cais do Sodré, depois era madrugada, deambulava pelas ruas mais profundas, mais escuras, mais... mais amadas em mim, depois cambaleava, tropeçava no paralelepípedo e vomitava sons inaudíveis dos carris frios, tão frios como o teu corpo de menina enquanto descia Setembro sobre uma sombra em Trás-os-Montes, odeio-te sabendo que sou prisioneiro de ti, odeio-te sabendo que só serei livre quando
Pegar na tua mão, acariciar-la como se fosse a folha de um dos livros do António Lobo Antunes, ou um dos pares de luvas de lã que tive em miúdo, depois deixei de sentir frio porque as minhas mãos transformaram-se em rochas, pedaços de granito, eles também gélidos, eles também... sós, depois vieram os olhos verdes que a pouco e pouco ficaram sem cor, hoje são daltónicos e precisam de lentes para ler as tuas palavras das tuas cartas que eu te reenviei... e hoje, hoje sinto saudades
Da cidade do Tejo,
A ponte iluminada balançava quando o vento vinha para me levar e sempre que me preparava para partir, não partia, um carro de brincar iluminava a ruela dos candeeiros mortos, movimentava-se por quatro pilhas de um volt e meio, redopiava em círculos, usava a voz das minhas palavras na boca das outras palavras, aquelas que nunca consegui escrever, dizer amo-te é mentira, ilusão, despedida,
Saudades?
Do Tejo,
Dizer desejo-te é mentira, ilusão, despedida,
Saudades?
Do Tejo,
(dedico esta música a todos os meus amigos)
Amigos? Quais amigos... dás-te conta que não tens amigos, e que se vivesses na cidade do Tejo não tinhas um cão com catorze anos, caquéctico, rabugento... mas engraçado, porque só ele percebe porque choro, quando choro...
(qual é a frase?)
O pormenor emblemático do corpo composto por luz, pétalas encarnadas e algumas insónias margaridas, o jardim parece um monstro recheado de nozes, vozes, um monstro com olhos em xisto, socalcos, montanhas... e nas veias, o rio, a heroína em ebulição sentia-se e no tombar das árvores doidas, como sonâmbulos corpos emagrecidos havia sempre alguém que não regressava,
(ai a frase... a frase...)
O Douro?
A límpida água dos sonhos e da esperança voltam à panela de pressão e evaporam-se nas avenidas encantadas dos guindastes com braços em aço e lábios em pergaminho,
Hoje temos beijos,
(quer uma ajudinha... senhor Francisco?)
Hoje temos beijos, saudades e nada mais do que isso... e redopiava em círculos, usava a voz das minhas palavras na boca das outras palavras, aquelas que nunca consegui escrever, dizer amo-te é mentira, ilusão, despedida,
Saudades?
Do Tejo,
(diga comigo senhor Francisco... “Com os voos nocturnos da menina Amélia a sobremesa adormece sobre a mesa-de-cabeceira”)
Hoje temos beijos, saudades e nada mais do que isso... e redopiava em círculos, usava a voz das minhas palavras na boca das outras palavras, aquelas que nunca consegui escrever, dizer amo-te é mentira, ilusão, despedida,
Saudades?
Do Tejo,
E dizer amo-te é pura loucura, desilusão... sei lá que mais...
(à escolha)
E diziam-me que aqui existiam verdejantes barcos com asas em porcelana... pode lá ser...
E é, e é... é assim desde que partiste...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Dezembro de 2013

domingo, 10 de novembro de 2013

sentir não sentindo as velhas noites de cetim

foto de: A&M ART and Photos

senti-te despregada dos sonhos em castelos de veludo
desci as escadas da solidão à tua procura
mergulhei no incenso magusto das castanhas embebidas em pétalas de amor
dormi na rua por tua causa
subi às árvores para buscar-te as asas que te prometi
e por lá fiquei
senti
e sem ti
senti-te mais tarde dentro de mim como se sente o rio quando corre nas nossas veias de onomatopeias desgovernadas
tristes
e simples espada nas cantigas das janelas em ruelas empobrecidas
senti-te despregada dos sonhos em cubos de areia vestidos com bonecos em palha seca
sabia-te perdidamente nas cidades em volta dos relvados nocturnos dos néons castrados como abelhas fundeadas no cais das aranhas e noites em dormitórios de marés rochosas ou das malignas coberturas de zinco nas cabeças sem coloridas manhãs de Outono
amar-te-ei depois dos terramotos de cetim em cobertores de chita?
e por lá fiquei
senti
e sem ti
imaginava-te louca com brincos de centeio dos campos de Carvalhais
imaginava-te nua dentro do espigueiro junto à eira
e sentia-te entre as frestas do dia em delírios poemas como gotículas de suor que o teu corpo derramava sobre a minha sombra
e por lá fiquei
senti
e sem ti
às caravanas esplanadas do rio embrulhado em pontes de concreto armado
vagueavas-me na ponta dos dedos como objectos minúsculos do edifício da rua dos apaixonados mosquitos de arame
sentia-te fervilhar no meu sangue
sentia-te a desfrutares as palavras dos meus suspiros quando acordava o pôr-do-sol...
e um barco se sémen poisava sobre as tuas coxas envergonhadas
absorvendo o prazer da tarde como uma equação diferencial esquecida dentro do caderno quadriculado
e por lá fiquei
sem saber que tu eras como as espigas de milho
sem saber que tu sonhavas com clarabóias de insónia depois dos terramotos de cetim em cobertores de chita
amar-te-ei?


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 10 de Novembro de 2013

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Esqueletos de seiva mergulhados em corpos de espuma

foto de: A&M ART and Photos

Não se importa se é navegável nas horas anti-expediente, não me interessa se quando vem a noite, ela, se veste de tempestade, não tenho o direito de interferir nos pensamentos das flores, não me sinto na obrigação de abraçar os candeeiros desertos da cidade dos bosques evaporáveis nas horas nocturnas, não me importa se é navegável, supérfluo ou admirável, não tenho o direito de questionar a origem dos arbustos que circundam o quintal nem tão pouco se as mesas em granito do jardim estão vivas, mortas... ou
Esquecidas?
Ou...
Esqueletos de seiva mergulhados em corpos de espuma,
Vejo-te insignificante morte vestida de dor, há lágrimas no teu olhar que travestem os olhos de qualquer beldade, há mulheres de corpo esbelto e lágrimas de papel e há papel com lágrimas em corpos de
Papel?
As nuvens,
Os holofotes que iluminam as nuvens
Papel?
Os telhados da insónia na tua desgovernada manhã de inércia, os teus braços nas minhas mãos de porcelana e no entanto
As nuvens,
E no entanto vejo-te clarear como cinzentos mergulhos de estátua nas profundezas do rio ancião quando dos antigos veleiros sem nome navegavam
O meu corpo?
Berbigão mexendo as tuas doces noites de Inverno, sabíamos que amanhã não tínhamos os alicerces das avenidas novas, que amanhã deixávamos de nos conhecer e passávamos um pelo outro e
Desculpe, conheço-a?
Claro que não,
E no entanto vejo-te clarear como cinzentos mergulhos de estátua nas profundezas do rio ancião quando dos antigos veleiros sem nome navegavam
O meu corpo?
Navegável, profundo, em rocha maciça, em pedestal poético abraçado a directrizes articuladas com beijos e orangotangos malignos, mafiosos os corredores da loucura, as injecções levavam-nos para os jardins inventados pelos homens de bata branca
Como será o Sol quando acorda?
Desculpe, conheço-a?
Claro que não,
Os telhados da insónia na tua desgovernada manhã de inércia, os teus braços nas minhas mãos de porcelana e no entanto
As nuvens,
As tristezas travestidas de alegrias, as paixões vestidas de paixões com écharpe de insónia, e quase sempre preferíamos as sandálias em tiras de couro aos sapatos de bico amarelo, cantavas para mim, desenhavas no meu corpo gaivotas com sorriso de Infante adormecido, toca o telemóvel e alguém quer impingir-me a esta hora uma doce noite de prazer
“Acaba de ganhar uma viagem ao Bairro Alto”
E eu que acreditava nas viagens interplanetárias, e eu que acreditava nas
Meninas do sexo?
Estão em GREVE, GREVE GERAL...
“Acaba de ganhar uma viagem ao Bairro Alto”
E eu que acreditava nas viagens interplanetárias, e eu que acreditava nas navegáveis noites de espuma sobre colchões de areia...

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 8 de Novembro de 2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A cidade perpétua

foto: A&M ART and Photos

Mergulho na cidade perpétua, ambígua e solitária, mergulho-me como se eu pertencesse à classe dos aços carbono, um ser estranho, diletante, companheiro e amante de melodias poéticas, das flores carnívoras e das árvores em desenhos herbívoros, poisava-me no varandim com quatro cadeira de vime, uma mesa também ela de vime, e na companhia de três invisíveis cadáveres de areia, sobressaia um sorriso defunto com lágrimas de incenso, ouvíamos tocar o telefone, propositadamente, não atendíamos, tínhamos medo da cidade perpétua, tínhamos medo às sombras das sombras que subtraiam à cidade as saborosas multiplicações e divisões,
o miúdo dos calções, multiplicava beijos e dividia abraços, conclusão
Empobreci, quase tudo perdi, porque ninguém, a não ser numa outra cidade, ninguém enriquece multiplicando beijos e dividindo abraços, ninguém engorda lendo poesia, e ninguém, ninguém...,
conclusão, pertenço à classe dos aços carbono, tenho cento e setenta e cinco centímetros e vivo numa casa com silêncios em pedaços de rés-do-chão, na rua dos milagres, sem número, cidade perpétua, as pessoas apelidam-me de barra de ferro, e quando entro no café, quando tudo parece adormecido, ouvem-se os murmúrios das cadeiras vazias
Ninguém na sala, um exemplar espaço exíguo, liminarmente penumbro, vazio, ninguém se levanta à minha passagem, ninguém se recorda da minha existência, ouvíamos os candeeiros a petróleo quebrarem os vidros de gelo das janelas com inclinação a norte, um edifício de quase trinta e cinco andares, tão alto, meu deus, alto, tira-nos a visibilidade, acorda a neblina, e nem com os faróis de nevoeiro conseguimos ver o mar,
vazias?
Porquê?
vazias, e tristes, e longas manhãs de doce claridade, e
Traziam-nos os pães de leite em réstias de desassossego, e como hoje, e como agora
(um terramoto sonolento entranha-se-me)
e como agora, ontem, o nevoeiro entrava-nos porta adentro, brincava no corredor e depois de algumas horas, sentíamos-lo deitado no nosso sofá, vestido de criança, uma criança amena, simpática como todas as crianças, como todos os apitos dos petroleiros quando se fazem à costa, ao longe, ouvíamos-lhes os cigarros de enrolar perdidamente perdidos nos corações dos marinheiros com âncoras de plátano bordados com fio doirado,
e
Traziam-nos...
(um terramoto sonolento entranha-se-me)
… pequenas borboletas de papel, e ouvíamos-lhes os sonoros ruídos das montanhas ensanguentadas pelos perfumes marinhos, coisas tristes com roupa de uma cidade perdida e ausente, farta em alturas, até que quase, não nós, mas eles, quase que chegavam com as pontas dos dedos da mão ao céu,
Ao céu?
pode lá ser isso possível,
Nem que a cidade mude de nome, e de perpétua passe a chamar-se “a cidade da neblina encarnada” onde vivem barcos de porcelana, onde vivem meninas de olhar castanho com cabelos negros, meninas, e meninos, o circo, esta cidade, a cidade dos circos, palhaços, malabaristas, a minha apaixonada trapezista, e claro
pode lá ser possível, amanhã chover, amanhã acordarem as sobrancelhas e depois de levantadas, e depois do duche, voltarem para a cama, embrulharem-se nas pálpebras quebradas e numa voz húmida
Até amanhã, meu querido,
e numa voz húmida, cansada, (um terramoto sonolento entranha-se-me), e claro, o imprescindível AGENTE, o nosso querido Alberto, aquele que nos sustenta, aqueles que ainda acredita nas nossas capacidades, aquele... parvalhão, e de um até amanhã, meu querido, depois, descem os grandes rios às íngremes ruas da cidade, e claro
A tua inconfundível voz
até amanhã, meu querido,
Sem perceberes que amanhã já não vivo nesta cidade,
“mergulho na cidade perpétua, ambígua e solitária, mergulho-me como se eu pertencesse à classe dos aços carbono, um ser estranho, diletante, companheiro e amante de melodias poéticas, das flores carnívoras e das árvores em desenhos herbívoros, poisava-me no varandim com quatro cadeira de vime, uma mesa também ela de vime, e na companhia de três invisíveis cadáveres de areia, sobressaia um sorriso defunto com lágrimas de incenso, ouvíamos tocar o telefone, propositadamente, não atendíamos, tínhamos medo da cidade perpétua, tínhamos medo às sombras das sombras que subtraiam à cidade as saborosas multiplicações e divisões”,
sem perceberes que amanhã já não sou eu.
(ficção não revisto, o sono em decomposição, o cansaço sobrepõe-se ao livro que ultimamente tem vivido sobre a mesa-de-cabeceira, e em vez de folhear as páginas com sabor a “Abraço” de José Luís Peixoto, certamente folhearei os tristes lençóis com pronuncia de insónia... - Pronuncia? Sim, claro, propositada, e não Prenúncia...)

@Francisco Luís Fontinha

domingo, 2 de setembro de 2012

livres como os pássaros pintados no mural do esquecimento

atravessávamos o espelho do amor
e com a tua mão entrelaçada na minha
viajávamos como crianças loucas
em direcção aos pontos de luz

brincávamos com os teus cabelos suspensos no topo das estrelas
e um silêncio lânguido crescia no coração de uma flor
vivíamos dentro de uma seara sem fronteiras
e éramos livres como os pássaros pintados no mural do esquecimento

os rios emagreciam
choravam

e longas filas de mel
adormeciam nas janelas da noite
os rios emagreciam
como emagrecem os meus sonhos

(e tenho a certeza que nunca irei abraçar-te).