foto de: A&M ART and Photos
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Não se importa se é navegável nas horas
anti-expediente, não me interessa se quando vem a noite, ela, se
veste de tempestade, não tenho o direito de interferir nos
pensamentos das flores, não me sinto na obrigação de abraçar os
candeeiros desertos da cidade dos bosques evaporáveis nas horas
nocturnas, não me importa se é navegável, supérfluo ou admirável,
não tenho o direito de questionar a origem dos arbustos que
circundam o quintal nem tão pouco se as mesas em granito do jardim
estão vivas, mortas... ou
Esquecidas?
Ou...
Esqueletos de seiva mergulhados em corpos de espuma,
Vejo-te insignificante morte vestida de dor, há
lágrimas no teu olhar que travestem os olhos de qualquer beldade, há
mulheres de corpo esbelto e lágrimas de papel e há papel com
lágrimas em corpos de
Papel?
As nuvens,
Os holofotes que iluminam as nuvens
Papel?
Os telhados da insónia na tua desgovernada manhã
de inércia, os teus braços nas minhas mãos de porcelana e no
entanto
As nuvens,
E no entanto vejo-te clarear como cinzentos
mergulhos de estátua nas profundezas do rio ancião quando dos
antigos veleiros sem nome navegavam
O meu corpo?
Berbigão mexendo as tuas doces noites de Inverno,
sabíamos que amanhã não tínhamos os alicerces das avenidas novas,
que amanhã deixávamos de nos conhecer e passávamos um pelo outro e
Desculpe, conheço-a?
Claro que não,
E no entanto vejo-te clarear como cinzentos
mergulhos de estátua nas profundezas do rio ancião quando dos
antigos veleiros sem nome navegavam
O meu corpo?
Navegável, profundo, em rocha maciça, em pedestal
poético abraçado a directrizes articuladas com beijos e
orangotangos malignos, mafiosos os corredores da loucura, as
injecções levavam-nos para os jardins inventados pelos homens de
bata branca
Como será o Sol quando acorda?
Desculpe, conheço-a?
Claro que não,
Os telhados da insónia na tua desgovernada manhã
de inércia, os teus braços nas minhas mãos de porcelana e no
entanto
As nuvens,
As tristezas travestidas de alegrias, as paixões
vestidas de paixões com écharpe de insónia, e quase sempre
preferíamos as sandálias em tiras de couro aos sapatos de bico
amarelo, cantavas para mim, desenhavas no meu corpo gaivotas com
sorriso de Infante adormecido, toca o telemóvel e alguém quer
impingir-me a esta hora uma doce noite de prazer
“Acaba de ganhar uma viagem ao Bairro Alto”
E eu que acreditava nas viagens interplanetárias, e
eu que acreditava nas
Meninas do sexo?
Estão em GREVE, GREVE GERAL...
“Acaba de ganhar uma viagem ao Bairro Alto”
E eu que acreditava nas viagens interplanetárias, e
eu que acreditava nas navegáveis noites de espuma sobre colchões de
areia...
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 8 de Novembro de 2013