sábado, 31 de maio de 2014

O abstracto


O abstracto,
quando o sorriso se transforma em chuva,
o abstracto silêncio das tuas palavras,
desfasadas,
misturadas nas pálpebras de um fio de luz,

O abstracto meu corpo, laminado pelas garras do amor,
o sítio negro do teu peito,
o cofre das tuas flores de papel,
o abstracto mar que corre no teu abdómen,
como neblina sobre o rio da saudade,

O abstracto...
o dia morre,
o relógio nocturno das tuas coxas..., abstractas, mergulham em mim como a âncora de madeira cansada,
e tudo parece adormecer em nós...
a cidade, a rua onde existe um quiosque de algodão e arde,

O abstracto facalhão que traveste a solidão em paixão,
a ressaca do esqueleto em módicas trinta e seis prestações,
o abstracto corpo sem alicerces,
dançando na copa da árvore das tuas tristes lágrimas...
e um barco entra em ti,

Vives no abstracto espelho,
suspenso nas gaivotas cinzentas das searas envenenadas,
uma fotografia diz-me que tu deixaste de ser menina,
hoje és uma pedra, abstracta e sem nome,
que desce a montanha do meu olhar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Maio de 2014

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