terça-feira, 9 de abril de 2024
sexta-feira, 1 de março de 2024
Sono
Dormi
acreditando que era um
pássaro
vestido de sapato
que a seiva dos teus olhos
me abraçava
dormi
acreditando que te amava
que me amavas
e que o teu cabelo me
odeia
Dormi
acreditando que a charrua
que trago na mão
é uma pedra para eu
lançar contra a janela do teu olhar
que o rego que leva a
água aos teus seios
é um pequeno fio de luz
incendiado pelo sono
dormi
acreditando que a palavra
que trazes nos lábios
ainda não foi escrita
e vou ser eu a escrevê-la
Dormi
acreditando que o mar é o
teu corpo sofrido
mastigado pela ausência
de uma vírgula
ou de um ponto de
exclamação
dormi
acreditando que os teus
beijos são magnólias
são estrelas
são peixes
e são flores
dormi
acreditando que era um
pássaro apaixonado
sexta-feira, 3 de novembro de 2023
Dúvida
Não sei meu amor
O que Deus reservou para
nós
Se é que reservou alguma
coisa para nós,
Não sei o que Deus pensa
de ti
De mim
Mas eu sei o que penso de
ti,
Meu amor (menina com
olhos de mar e lábios de mel),
Não sei meu amor
O que Deus escreve sobre
nós
Sobre mim
Sobre ti,
Mas eu sei o que escrevo
sobre ti…
Quando desce a noite
sobre esta lareira,
Que me aquece,
Que me inspira,
Que me abraça…
Não sei meu amor
O que Deus faz enquanto
penso em ti,
E os meus lábios escrevem
em cada milímetro quadrado do teu corpo,
E as minhas mãos desenham
no teu corpo
O silêncio vestido de
saudade,
Não sei meu amor
Se Deus algum dia vai
compreender-me,
Se é que alguém consegue
compreender-me,
Se Deus algum dia me vai
oferecer
Um pedacinho de noite,
Com estrelas em papel,
Não sei meu amor
Se Deus sabe matemática
(Einstein dizia que não),
Mas isso também não nos
interessa
Meu amor,
Não sei
Meu amor
O que Deus reservou para
nós…
(Se é que reservou alguma
coisa para nós,
Não sei o que Deus pensa
de ti
De mim
Mas eu sei o que penso de
ti)
Mesmo assim,
Acredito…
E sonho!
03/11/2023
segunda-feira, 16 de outubro de 2023
Montanha
Sonho-te junto a este amontoado de sombras
De riscos invisíveis
Suspensos no tecto da
insónia
Sonho-te junto a este
amontoado de sombras
De palavras adormecidas
De poemas
E dias
E poesia envenenada
Sonho-te cansaço nocturno
da madrugada
Flor em papel
Lâmina de sono
Nos teus lábios
Sonho-te junto a este
amontoado de sombras
De corações de púrpura
manhã sem nome
Tal como eu
Que também não tem nome
Tal como eu
Que também sonho
Que desenho
E me escondo
No cimo da montanha
Sonho-te junto a este
amontoado de sombras
De inúmeras janelas viradas
para o mar
Do mar dos teus olhos
Aos olhos do teu mar
Pertinho dos rochedos
Pertinho do céu
Sonho-te acreditando que
as nuvens são os teus lábios
E nos teus lábios há uma
janela
Uma janela especial
Onde te sonho
E beijo
No cimo desta montanha.
16/10/2023
quarta-feira, 27 de setembro de 2023
Sonho desejar-te no sonho
Sonho-te em constante amar-te desejo
Sonho-te inventando
noites sem dormir
Sonho-te desejando-te
desejar-te
Nos meus braços
Ao lado do meu livro de
poemas,
Sonho-te em constante
amor-beijo
Que brinca nos caniçais
Que brinca na tua sombra
De sonhar-te amar e amar
desejando
Que também tu me sonhes,
Que também tu me desejes
desejando
Que me sonhas
Que me desejas nos teus
secretos sonhos
Sonho-te na vergonha do
poema
Quando ele acredita que
te sonha,
Que também ele te deseja
tanto ou mais do que eu…
Sonhando-te
Desejando-te
Neste sonho em papel
Deste sonho mergulhado na
ausência,
Sonho-te enquanto te
sonho
Que te beijo
E desenho na tua boca
O silêncio nocturno dos
pássaros sem nome…
Que te sonho tanto… que
te sonho tanto e fico com fome.
27/09/2023
terça-feira, 18 de julho de 2023
Poeta só,
Procuro-te neste amontoado de esqueletos em papel
Onde te escondes
quando acorda a noite,
Procuro-te no
silêncio que me abraça
Quando o mar dos
teus olhos
Poisa na janela
do meu sonhar,
Procuro-te nas
palavras que te escrevo,
Das palavras que
jogas ao vento,
Nas palavras que
habitam o meu pensamento,
Procuro-te
enquanto acorda o pôr-do-sol
E os teus lábios
de mel
Se dependem de
mim,
Deste poeta inconformado,
Deste poeta só…
E envergonhado.
18/07/2023
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
Mão do sono
Às vezes, são as palavras que não acordam,
Dormem profundamente no
silêncio de uma flor,
Outras vezes, são as
manhãs dos alegres sorrisos
Que descem do céu e
poisam junto ao rio,
Às vezes, olho os
pássaros que habitam no teu cabelo,
Árvore sofrida do Inverno…
E nas outras vezes,
Aquelas vezes em que esqueço,
das vezes que recordo…
A mão do sono,
E percebo que de todas as
vezes, tantas vezes,
O meu corpo balança nos
teus lábios,
Dos teus lábios,
Que às vezes, de quase
todas as vezes,
Roubo os beijos,
Todos os beijos que de
tantas vezes…
Em todas as vezes,
Desenham em mim…
Escrevem em mim…
O pôr-do-sol,
Nas vezes que me sentei,
Nesta pedra de silêncio…
Desta pedra onde chorei;
Às vezes, são as palavras
que não acordam,
Dormem profundamente no
silêncio de uma flor,
Quando das tuas mãos, meu
amor,
Das tuas mãos em delírio…
Regressam a mim as
estrelas.
Alijó, 03/02/2023
Francisco Luís Fontinha
segunda-feira, 16 de janeiro de 2023
O desejo
Não sou o que desejei ser,
Tão pouco desejei ser o
que sou.
Desejar que amanhã
Esteja um lindo dia de
sol
Com vinte e oito graus de
temperatura
E humidade mínima,
Mas sei que estamos em
Janeiro
E é Inverno,
E amanhã nunca estará um
lindo dia de sol
E tão pouco com vinte e
oito graus de temperatura,
Para quê desejar?
Desejar que o mar entre
pela minha janela
Sabendo eu que não tenho
janela
Que vivo longe do mar,
E mesmo que tivesse uma
janela
E vivesse pertinho do
mar,
O mar nunca entraria pela
minha janela,
E se eu gritar mar
(como no poema de AL
Berto)
O mar todo não entra pela
minha janela,
Para quê desejar?
E quando me perguntavam
O que queria ser quando
fosse grande
(o que desejava, o que
sonhava)
Respondia com o silêncio…
Agora percebo que não
queria ser nada
Então para quê desejar
Ou sonhar
Ou sonhar que se deseja
Quando o desejo morreu
Morre
Como morrem os sonhos ao
acordar…
Para quê desejar,
Desejar o sonho de
sonhar?
Alijó, 16/01/2023
Francisco Luís Fontinha
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022
Se és o vento,
Leva-me.
Se és um abraço,
Abraça-me.
Se és um beijo,
Beija-me.
Se és um livro,
Deixa-me escrever em ti,
Desenhar os teus lábios
Na manhã quando acorda.
Se és a lua,
Semeia a luz no meu corpo
cansado,
Quando chora.
Se és uma tela,
Deixa-me pintar em ti a
Primavera,
Como fazem os pássaros,
Ou as flores,
Como fazem as palavras,
Se és uma lágrima,
Diz-me que o poema não
morreu,
Diz-me que as palavras
São fertilizante para as
tuas tristes noites;
Se és sol…
Não te canses de me
iluminar.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 23/02/2022