segunda-feira, 30 de abril de 2012

A tarde


Não conheço a menina de lado algum, tão pouco a matrafona que a acompanha,
- Olá eu sou o Vasco, Qual Vasco “Caralho”?, E que eu saiba não existe nenhum Vasco na minha vida, e não entendo a razão destes dois parvalhões, durante a noite, descerem até mim e entrarem nos meus sonhos,
A menina aproxima-se, aproxima-se em silêncios de amêndoa quando a primavera rompe as montanhas e do rio ensanguentado de pólen uma abelha saltita à procura das sílabas do mar, o parvalhão do Vasco olha-me entre dois pedaços de marmelada e queijo de cabra, oiço da fazenda contigua ao palheiro os gemidos do bode, Raios o partam Grita a menina de mão dada ao Vasquinho,
- Qual Vasco “Caralho”?,
O chibo irritado às marradas contra o canastro plantado no canto esquerdo da eira, sento-me e começo a sentir a afamada comichão dos resíduos do milho, imagino o meu avó, imagino o tio Serafim, imagino os velhos com esqueletos transparentes às voltas com o malho, e uma finíssima poeira entra dentro de mim,
- E por instantes esqueço os dois parvalhões que me visitam durante a noite, a menina e o Vasquinho, e em frente ao espelho do guarda-fato vejo-me em Carvalhais – S. Pedro do Sul, e oiço o bater do malho na eira, e em gestos desorganizados digo ao meu avó Domingos (que se enervava com o nome porque dizia que Domingos era nome de preto e que todos os pretos se chamavam Domingos), e digo ao meu avó Domingos que para a tarde terminar em beleza apenas faltam os Fingertips, Que tal Avó?,
É o que eu te digo meu filho Arranja uma gaja rica, E calo-me porque não foi isso que lhe perguntei, E calo-me porque essas coisas de riqueza...,
- Prefiro mesmo ouvir os Fingertips,
Portanto à questão do porquê da visita de dois parvalhões durante o meu sonho, a menina e o Vasco,
- Olá Eu sou o Vasquinho!,
Qual Vasco “Caralho”? Arranja mas é uma gaja rica e deixa-te de “merdas”.


(texto de ficção não revisto)

Ubuntu 12.04 LTS

Aos olhos

Aos olhos
a paixão pigmentada do cansaço
o murmúrio das palavras
em sexo num vão de escada
gemidos descem do sótão
como crianças embriagadas no berço da tarde

aos olhos
dos olhos
a literatura com chá e torradas
e sumo de laranja

e palavras

e murmúrios

aos olhos

aos olhos
o silêncio da noite
dentro de uma caixa de sapatos
sem janelas
sem gatos
aos olhos

e palavras

e murmúrios

e conversa fiada.

Também sou humano

Também sou humano
tenho pernas e braços
e preciso de comer,
também sou humano
tenho pernas e braços
e preciso de viver,

também sou humano
tenho pernas e braços
e preciso de caminhar,
também sou humano
tenho pernas e braços
e preciso de trabalhar.

domingo, 29 de abril de 2012

Com asas

Um cachimbo com asas
abraçado a uma pomba tricolor
uma fogueira sem brasas
que beija as pétalas de uma flor

um cachimbo com asas
mergulhado no oceano do cansaço
um cachimbo rasca
à rasca
na sombra de um abraço

sem brasas
o cachimbo adormece sobre um livro doente
o cachimbo é eterno e infinitamente mente
com asas

um cachimbo prateado
cansado
moribundo
coitado do “Edmundo” (e não conheço nenhum)
chega a casa e sente
os gemidos do cachimbo doente
que infinitamente mente
que infinitamente com asas
em brasas
os lábios da sua amante
prateado
coitado

coitadinho do cachimbo
no limbo
sem sorte
à espera pacientemente da morte
coitado
deitado

com asas.

Vida sofrer

A esta miséria viver
a que chamam de vida sofrer

caminhar numa rua sem saída

a esta miséria viver
quando escrevo um poema sobre o mar
a que chamam de vida sofrer
a que chamam silêncio de amar.

sábado, 28 de abril de 2012

Sem nada

Nas paredes curvilíneas da memória
poiso os meus braços de prata
acaricio pacificamente
os meus lábios de incenso
e as pinceladas do meu rosto
vagueiam livremente no vidro transparente
de linho amanhecer
antes do pequeno-almoço

oiço a tua voz misturada
nas acácias do fim de tarde
oiço-te enquanto me olho nas paredes curvilíneas da memória
sem palavras sem estória

sem nada

poiso os meus braços de prata
acaricio pacificamente
os meus lábios de incenso
e nas pinceladas do meu rosto
acorda a madrugada
cresce uma rua sem saída
suspensa numa cidade imaginária
com muitas portas e janelas
e calçadas
e velhos que se esqueceram de acordar
e fingem orgasmos pulmonares
e constroem a felicidade
num vão de escada
sem nada
com barcos mergulhados
em oceanos testiculares

sem nada

de mão dada
às paredes curvilíneas da memória
os meus braços de prata
pacificamente acariciados
felizes
contentes
tal como os velhinhos
num vão de escada

sem nada...

Havia

Havia sorrisos nos livros que eu lia
havia palavras nos sorrisos
nos livros que eu lia
havia

manhãs em desespero
dias intermináveis
sem sonhos
sem poesia

havia

(um rio que se despedia
nos livros que eu lia)

havia sílabas
e vogais
e jornais
com palavras intermináveis
e desenhos de algodão
e outras coisas mais

havia

(um rio que se despedia
nos livros que eu lia)

e morreu
antes de nascer o dia...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Oceano testicular


De quem são os silêncios que habitam na minha cabeça, de quem são as árvores que fazem sombra no jardim invisível da tarde, e de quem são os barcos que adormecem no oceano testicular do desejo,
- não chove e lá fora um fio de medo atravessa as mãos silenciosas da noite, o medo, que o dia se transforme infinitamente grande, infinitamente azul, infinitamente ausente, dentro de mim
“o medo morreu em 1974” Alguém suspende numa janela um pedaço de cartão, o medo de ser feliz, o medo de amar livremente as flores, as árvores e as gaivotas,
- dentro de mim ausente a sinfonia do cansaço, sento-me sobre as acácias em flor, e oiço uma voz “ainda ele brincava no oceano testicular e já eu estava preso”, e tantas coisas que brincavam nos oceanos testiculares da insónia e hoje, e hoje o medo atravessa as mãos silenciosas da noite, antes do limite indefinido da memória, antes do circo ter aportado no cais da aldeia e uma trapezista zarolha de mini-saia e avental vermelho a impingir amêndoas e beijos cor de laranja, Não percebo digo-lhe eu, O que é que não percebe pergunta-me ela, não percebo nada de amêndoas e de beijos cor de laranja, Experimente diz-me ela, Não quero experimentar digo-lhe eu,
e eu confesso que tinha medo, tinha medo de entrar na escola e saber que dentro da gaveta da secretária carunchosa adormecia a menina dos três olhinhos, “E foda-se que doía como o caraças e a mão ficava dormente o resto da tarde”, e os meus pais tinham medo e pediam a deus que eu parasse de crescer e ficasse eternamente com oito anos, Maldita Guerra Ouvia-lhes às vezes na solidão da noite,
- e felizmente que eu não parei de crescer e felizmente que a Maldita Guerra terminou, e felizmente que eu deixei de ter medo, e felizmente que o medo morreu em 1974, e felizmente que a sinfonia do cansaço hoje não veio ter comigo, e felizmente
Maldita guerra e enquanto eu me sentava no portão da entrada a contar os carros em direcção ao Grafanil, homens morriam, jovens, muito jovens, morriam, enlouqueciam, e felizmente,
“o medo morreu em 1974”,
- e felizmente que eu cresci e não fui para a guerra, e felizmente que os silêncios que habitam na minha cabeça não têm dono, são da terra de ninguém, e felizmente que a minha terra ficou livre, e felizmente que o mar é de todos e a poesia é de todos, e a terra é de quem a trabalha e o fruto é de quem o colhe, Assim ficou escrito na cartolina sobre a horta embriagada do meu vizinho,
o medo morreu, o medo...
no oceano testicular da insónia.

Sonhos risíveis – Amores impossíveis

Sonhos impossíveis
amores risíveis (o livro dos amores risíveis, Milan Kundera)
palavras dispersas
no papel achatado pela solidão da manhã
sonhos parvos em cabeças parvas
letras
muitas letras e palavras
coisas sem nexo
sonhos
impossíveis
amores risíveis
sexta-feira sem sol
e chove
e coisas dentro de mim
e coisas...
… sonhos

sexta-feira
sem livros
sem letras
sem palavras
na algibeira

sonhos impossíveis

sem palavras
sem letras

amores risíveis
amantes complexos
em quartos caquécticos

coisas
muitas coisas
muitas coisas suspensas na parede
muitas coisas suspensas na parede da solidão

antes de terminar o dia.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Tinteiro & Aparo

Segunda-feira
a caneta pesada
terça-feira
a caneta cansada
quarta-feira
a caneta deitada
(excito-a e nada)
quinta-feira
a caneta começa a escrever
e na sexta-feira
sem eu saber
a caneta desmiolada
manda-me foder

(que saudades do tinteiro e do aparo)

A voz

Oiço a voz cansada da solidão
oiço a madrugada
poisada na minha mão
e suspiros de menta
e algodão suspiros
de quem não aguenta
a tarde em cansaços
poucos abraços
nos lábios em maldição
oiço a madrugada
oiço a madrugada da solidão
e suspiros de menta
quando uma bela flor
quando oiço a madrugada
sentada à janela
e o cortinado em clamor
afugenta
tão estranha dor
ser pedra de calçada
ou berma de estrada
ser engenheiro ou doutor
ou não ser nada.

O último adeus


O último cigarro
o último Orgasmo Pulmonar
nas tuas mãos de cinza pérola adormecida
canso-me nos teus lábios
nos teus braços
e olho-te enquanto te evaporas em mim
como a chuva que se entranha no meu corpo
como o vento que leva o teu sémen

o último cigarro
o último adeus

como o vento que sacode as tuas lágrimas
que se escondem no rio
o último cigarro
que leva o teu sémen

e te digo adeus.

(decididamente vou deixar de fumar)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

“Estás no fio da navalha. Só tens duas hipóteses: deixar de fumar ou deixar de fumar...” (o meu médico de família)
Dia de inverno. Vento, frio e chuva. Pergunto-me onde estava no dia 25 de Abril de 1974; dentro de mim respondem, Na escola só de gajos com uma bata azul, edifício caquéctico, na parede as fotografias de dois velhos caquécticos e um crucifixo, e a carteira onde me sentava possivelmente a mesma onde se sentou o meu pai, ou não.

Estrutura cansada

Há um pilar de saudade
na sapata do meu peito
há uma viga de desejo
que poisa no pilar
que vive dentro do meu peito

há um pilar de saudade
que abraça a noite
e olha as estrelas

uma laje aligeirada
sobre o pilar da saudade
à procura da madrugada

há um pilar de saudade
na sapata do meu peito
há uma estrutura cansada
perdida na cidade
e sem jeito.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O corpo achatado

Foder todas as palavras que escrevo
escrever todas as coisas que fodo
sem saber
não percebendo
que nas palavras de escrever
há um verbo moribundo
um corpo achatado
não sabendo
que todo
que todo o poema está doente
sofrendo
sofrendo nas sílabas do enforcado
foder todas as palavras que escrevo
e não sei
e não se devo
e não sei se devo desistir deste mundo...

escrevo
sem saber escrever
escrevo sem saber escrever
foder
foder todas as palavras que escrevo
em todas as coisas que fodo

que todo o poema está doente
que todo o poema está doente e não sente
não sabendo
sofrendo
não sabendo sofrendo
que todas as palavras que fodo
de todo
não são gente

são palavras
não sabendo
sofrendo
são palavras felizmente.

À porta do café

Vou ao café
fico de pé
procuro na algibeira
a maldita carteira

olho a empregada
meia destrambelhada
tanta gente
porque hoje é feira
procuro na algibeira
a maldita carteira
fico de pé
e não tomo café

contente

enrolo um cigarro
à porta do café
em pé
pego na mortalha
e o canalha
um cabrão ao passar
sem me olhar
(este filho da puta está a fazer um charro)
olho a empregada
meia destrambelhada

(Vou ao café
fico de pé
procuro na algibeira
a maldita carteira)

e o mesmo cabrão
sem coração
o canalha que passou sem me olhar
a murmurar...

(é preciso ter fé)

vai ter fé ao caralho
(porque para tomar café
preciso da carteira
na algibeira)
recheada
como a empregada
destrambelhada.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

1029


Vivo na cidade dos beijos,
- Querido Francisco, as coisas por aqui vão cada vez pior, sonhei com uma placa onde jazia o número 1029, Acreditas?, com os últimos cinco euros que me restavam comprei uma fracção da lotaria com este número, Acreditas? Não saiu, nada, portanto os sonhos basicamente são uma treta, sonho com gajas que nunca vi na vida, tão pouco sei se existem, coisas estranhas, esquisitas, e o 1029 em vão... Sim meu querido, Azar ao jogo Sorte no...
vivo na cidade dos beijos, Azar ao jogo Sorte no inferno que são as ruas da cidade dos beijos, e o 1029 não saiu, pego no número e transformo-o numa matriz e obtenho triângulos rectângulos, coisas esquisitas e sem nexo, números, matrizes, equações, triângulos, muitos triângulos,
-querido Francisco
vivo na cidade dos sonhos, e ao fundo da rua vejo o rio do desejo, entre as duas margens a ponte enfeitada com lábios vermelhos, e o cabrão do 1029 não saiu, e o cabrão do 1029 numa placa de silício a martelar-me a cabeça,
- querido Francisco, as coisas aqui vão cada vez pior, sonhei...
Não meu querido, não saiu o cabrão do 1029.

O amor sofredor

Nunca soube o significado da palavra MAR
nunca vi o mar
e o amor
com dor
ao acordar
e o amor com dor
embrulhado nos lençóis da maré
amar
amar sem fé
amar amar
o mar
quando nos olhos de uma flor
com dor
quando nos olhos de uma flor
o amor
amar
o amor finge adormecer
eternamente
com dor
eternamente ausente
nas pálpebras do amante
sofredor

escrever

o amor
e o mar
o amor com dor
amar
a dor
sem mar

eternamente ausente
não sente
o amor sem mar
amar sem dor
o amor...
o amor sofredor.

Oiço-te e não consigo ver-te

Procuro-te nas almofadas da noite
entre os lençóis do mar
oiço-te embrulhada nas ondas
a brincares com as minhas palavras...
oiço-te e não consigo ver-te
e não consigo tocar-te
porque o mar em revolta
à minha volta
roubou-me o sonho
e cerrou as janelas do meu pôr-do-sol
e até a lua deixou de brilhar
e as palavras com que brincas
aos poucos desaparecem antes de acordar a madrugada
tal como eu
um louco
suspenso entre as sandálias
e os calções de infância
um louco
tal como eu
que não consegue tocar-te
que não acredita no céu
um louco
tal como eu
às voltas com o caderno da solidão
onde escrevo
onde semeio as minhas lágrimas
e escondo
um louco
tal como eu
e escondo o meu coração
de titânio
de xisto
de argamassa
um coração estupidamente só
um coração
ao abandono
sem dono
sem destino
desde menino
sentado num banco de jardim
à tua espera
(oiço-te e não consigo ver-te
e não consigo tocar-te
porque o mar em revolta
à minha volta)
sem dono
sem destino
eu um louco
que não consegue tocar-te
sentado num banco de jardim
o meu coração
a escrever versos no caderno da solidão
assim
eu tão só
tão pouco
um louco
assim
assim entre os lençóis do mar
e as noites de inferno
onde te oiço
a vasculhar o meu caderno da solidão
onde escrevo
e semeio
os guindastes da vida...

domingo, 22 de abril de 2012

Parabéns aos que tiveram a coragem de colocar no edifício da Caixa Geral de Depósitos de Alijó a tarja com a inscrição:
"Para os Berardos jogarem na bolsa: Milhões. Para a gatunice do BPN: Milhares de milhões. Para a Adega de Alijó: Morte lenta... É este o nosso banco???"

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=2435583 

As mãos

As mãos
em desejo
os lábios à procura do beijo
quando a boca
nas mãos
quando a boca
se alimenta da madrugada
tão louca
ou quase nada
as mãos
em desejo
coisa pouca
à procura do beijo
as mãos
em desejo
entre lábios sem jeito
e uma boca amargurada
se alimenta da madrugada
em desejo
ou quase nada
coisa pouca
a boca
as mãos em desejo
à procura da cidade
na boca
o beijo
coisa pouca
sem maldade
entre lábios sem jeito
as mãos
as mãos entrelaçadas no leito
as mãos sem vaidade
na boca
na boca louca
o beijo
em desejo
na cidade
na cidade mergulhada na madrugada
coitada
coisa pouca
a boca
em desejo
as mãos
sem nada
sem nada descendo a calçada
coitada da boca
louca
amargurada...

sábado, 21 de abril de 2012

Portas sem janelas


Apetece-me caminhar sobre as montanhas desenhadas na tela do inferno, apetece-me correr dentro dos cubos de gelo que guardo religiosamente na algibeira, e aos poucos..., e aos poucos sinto as finíssimas gotas de água descerem-me pelas pernas esqueléticas, migalhas de xisto desprendem-se das nuvens em direcção à cidade,
- os cigarros ajoelham-se e pacientemente solicitam-me Solicitamos a presença de vossa excelência nas nossas instalações pontualmente às vinte e uma horas, e por favor, e por favor faça-se acompanhar de um prato de alumínio, respectivos talheres, guardanapo e um copo,
e percebo que me vão enforcar nos jardins do palácio, e não há amor que me possa salvar,
- e já agora vou levar também uma toalha de linho e um cordel E não esquecer o guarda-sol, os óculos escuros e o meu esqueleto, e já agora percebo que me vão enforcar na árvore adjacente ao caminho pedestre enfeitado de arbustos e janelas sem vidros, e portas sem janelas, e casas sem pessoas, e pessoas, e muitas pessoas a olharem-me
e não há amor que me possa salvar,
a olharem-me como se eu fosse um louco agarrado às grades de ferro invisíveis que me protegem das gaivotas suspensas no rio, Para a sua segurança está a ser filmado, vou ao espelho, componho os poucos fios de cabelo de piaçaba, molho a ponta do dedo nos lábios esbranquiçados e começo a desenhar riscos no meu rosto, riscos e riscos e riscos,
- um sorriso por favor, e por favor, e por favor faça-se acompanhar de um prato de alumínio, respectivos talheres, guardanapo e um copo,
olho a árvore e debaixo do meu pé esquerdo o prato de alumínio, olho a árvore e debaixo do meu pé direito a toalha de linho, olho a árvore, olho a árvore e do cordel preso a um ramo embalsamado vejo o meu papagaio de papel em fintas de mão dada com o vento,
- Sabe minha Senhora? Diga meu amo! A vida é uma merda mas melhor do que isto não existe, Assim seja meu amo, Assim seja,
e por favor, e por favor faça-se acompanhar de um prato de alumínio, respectivos talheres, guardanapo e um copo, e do cordel preso a um ramo embalsamado vejo o meu papagaio de papel em fintas de mão dada com o vento,
Assim seja meu amo, Assim seja.


(texto de ficção não revisto)

Eternamente só

Eternamente só
pensava eu quando da janela sem sorriso
me olhava a lua longínqua emersa nos silêncios da noite
todas as estrelas desapareceram do céu
e todos os lábios adormecem nas profundezas do oceano
à procura de barcos sem destino

(pensava eu eu)

eternamente só
dentro deste cubo de vidro
poisado nas garras da solidão
à espera que morra a manhã
que morra a tarde
e se faça noite
dentro de mim
ou não...

(pensava eu)

pensava eu que da janela sem sorriso
um finíssimo fio de alegria
se entrelaçava nos meus braços
e eu começava a voar

sem destino
à procura de barcos
e se faça noite
dentro de mim
ou não...
pensava eu.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Horrores

Horrores
das palavras horríveis
no jardim sem flores

horrores
as sílabas dos teus lábios em delírio
ao cair a noite
meu deus Que martírio
os sussurros dos tambores
na calçada

os gemidos dos amores
sem madrugada

horrores

das palavras horríveis
nas janelas sem livros
sem flores nuas
sem poesia

horrores
quem diria
os sussurros dos tambores
junto ao rio

os gemidos dos amores
sem madrugada

sem nada.

As rasantes da manhã


Lá fora entre as rasantes da manhã
procuro desesperadamente o relógio de pulso
que deixou de funcionar
lá fora entre as sombras do veleiro embriagado
desesperadamente procuro o calendário
que ficou esquecido na parede da cozinha

lá fora
desesperadamente
entre o dia e a noite
procuro o vento
entre as rasantes da manhã
que deixou de funcionar

lá fora
na parede da cozinha
o meu corpo crucificado

nos lábios do luar...

quinta-feira, 19 de abril de 2012


O meu sonho, Dizia ele, Fazer amor contigo e ler nos teus olhos a palavra amo-te, escrever no mar e abraçar a lua, brincar na areia molhada da praia, e olhar docemente o sorriso do espelho do meu quarto, antes de adormecer, antes de começar o dia...

A cidade dos livros

Qualquer coisa estranha à janela
olho as árvores imaginadas
por um miúdo em calções
olho-lhe os braços suspensos no cacimbo
e ele acena-me com um sorriso ténue
antes de adormecer a tarde

e enquanto me acena
vai imaginando árvores enormes quase a tocarem o céu
árvores que rompem a montanha
árvores que alguém esqueceu
num jardim de aldeia
ou perdidas numa cidade
sem janelas
sem portas
sem casas
uma cidade construída em papel
e com muitas palavras
a cidade dos livros

a cidade dos livros
com gajas poeticamente desejadas
e poeticamente amadas
como as flores dos jardins de Belém

uma cidade sem cigarros
e sem rimas
e todas as personagens

coisas estranhas à janela.

Matriz composta

Procuro nos olhos oblíquos da manhã
a bissectriz do cansaço
o meu corpo transforma-se em matriz composta
e dos meus braços
crescem linhas paralelas sem destino
algures suspensas no infinito

elevo ao quadrado a minha solidão
e à raiz quadrada do sofrimento
adiciono uma noite sem nome
sem horários

sem nada

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Poemas sem palavras

Dentro das ondas do mar
adormece o poema que nunca consegui escrever
sílabas perdidas
onde pinto os meus sonhos
e poiso as lágrimas do amanhecer

poemas sem palavras
que brincam no jardim

dentro das ondas do mar
poemas sem janelas
agarrados a mim

poemas

terça-feira, 17 de abril de 2012

Não vale a pena escreverem no google “Luís Fontinha pinturas”, não sou pintor, não sou escritor, apenas faço parte dos 15% de desempregados... e a aumentar.

Algibeiras da tarde

Pareço um espelho
poisado sobre o pavimento molhado
incenso e marfim
nas algibeiras da tarde
e tudo à minha volta arde
e tudo à minha volta
incenso e marfim
e fios de nylon
descem das árvores doentes
incenso e marfim
contentes
nas algibeiras da tarde,

pareço um espelho
um palhaço que brinca na esplanada do Baleizão (Luanda)
entre cadeiras imaginárias
e migalhas de pão,

pareço um espelho
made in China,

(um homem sem destino
desde menino)

entre cadeiras imaginárias
e madrugadas de cetim
antes do pequeno-almoço
ao virar da esquina
no centro do jardim
um espelho,

nas algibeiras da tarde.

A alvenaria da vida

Há uma pedra onde me sento
e descanso
há um banco de jardim onde adormeço
e descanso

mas não existe oceano
pedra
ou banco de jardim
que queira o meu veleiro

desde que me conheço

(Há uma pedra onde me sento
e descanso
há um banco de jardim onde adormeço
e descanso)

e os dias pregados na alvenaria da vida
fotocópias de fotocópias
noites de noites
numa rua sem saída

que queira o meu veleiro

onde me sento
e descanso.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Antes de acordar a noite

Se eu tivesse
um leve sorriso nos lábios
que se acorrentasse às árvores nuas e tristes

se eu tivesse
asas para voar
e sonhos...
e sonhos para sonhar

e mar
e mar para caminhar

se eu tivesse tudo isso
provavelmente estaria morto
dentro de uma rocha suspensa na montanha
antes de acordar a noite

e longe e longe e longe...
o rio
e barcos de papel

se eu tivesse
um leve sorriso nos lábios
… às árvores nuas e tristes
eu abraçava-me

Cansei-me do windows...

blog Cachimbo de Água em destaque

Oceanos desgovernados

Os sonhos
que desperdicei nas manhãs de inverno
as noites de inferno
junto ao mar
inventando barcos e marés
e oceanos desgovernados
os sonhos
que desperdicei quando na madrugada
um candeeiro a petróleo de cerrava
e desaparecia na neblina
cansada
os sonhos
que desperdicei nas mãos da dor
entre palavras e grãos de poeira
e um pedacinho de alumínio me acenava
e entrava em mim
junto à lareira

os sonhos

os sonhos
que desperdicei em todas as folhas de papel
e em todos os livros que li
e em todos os livros que me recuso a ler
porque estou cansado de sonhar
porque estou cansado de sofrer...

domingo, 15 de abril de 2012

E nunca mais desenhei árvores


Consultei as estrelas e os fios de luz ausentes na manhã de domingo, no pulso emagrece um velhíssimo relógio cansado das horas, dos minutos e dos segundos,
lá fora chove, lá fora as acácias em flor perguntando-me,
  • Porquê hoje,
porque hoje é domingo Respondi-lhes secretamente dentro das árvores alinhadas no jardim perdido no oceano, os ramos desertos, as folhas parecendo lençóis pertencentes à noite dos mendigos passeando avenida abaixo em direcção ao infinito, eu mendigo invisível abraçado a um pedacinho de silêncio que sobejou do meu último cigarro, um livro desespera e esconde-se debaixo da janela sem vidros e sem cortinados, olho-me, olho-me e pareço uma montanha que desce as escadas do amanhecer, escondo-me na sombra do rio, e o rio sou eu,
  • Porquê hoje se amanhã é mais um dia perdido nas sandálias do vento, porquê hoje quando amanhã será outro dia, outro relógio de pulso na minha mão, hoje não,
hoje consultei as estrelas e os fios de luz ausentes na manhã de domingo, hoje caminharei para o dia de ontem até evaporar-me como os grãos de pólen nos lábios das abelhas, olho-me, olho um esqueleto perdido nos dias, olho um esqueleto perguntando às acácias Porquê hoje, e ninguém, e ninguém saberá responder-lhes, nem, nem o dia de amanhã, nem tão pouco o dia de hoje, domingo, lá fora chove, lá fora chove e um homem de sobretudo e cachimbo na boca procura desesperadamente o número de polícia inscrito no olhar, batem à porta, e ninguém, e ninguém para a abrir, uma janela sem vidros e sem cortinados,
  • Solta-se da fachada em ruínas que o meu corpo transporta, os alicerces cambaleiam nas pedras desalinhadas da calçada, uma rua chora a partida do homem do sobretudo e cachimbo na boca, e solta-se da cidade um coração sem dono, um coração construído em titânio que procura sem encontrar um número de polícia inscrito no olhar,
e o desejo de ser domingo acorda em mim,
  • Porquê hoje,
(e tanta porcaria que aprendi, desde trabalhar com um computador sem disco rígido, porque ainda não existiam, passando pelo MS-Dos, dois drivers de cinco polegadas e meia em cartão, uma com o sistema operativo e a outra para guardar textos e pouco mais, e os poemas escritos no WordStar perdidos algures no esgoto da noite, C:\dir *.*, c:\del *.Amor e todos os ficheiros com a extensão amor para a lixeira, Lixeira?, qual lixeira..., para o inferno, C:\format a:, C:\move *.* a:\Noite)
e pergunto-me porquê hoje domingo, e digito tree e vejo no espelho todos os arquivos do meu corpo, alguns protegidos C:\Attrib +R francisco.exe, outros, outros desprotegidos e escondidos na algibeira juntamente com os cigarros, juntamente com os vidros e os cortinados da janela...
  • E caí na asneira de desenhar uma árvore, e ouvi da psicóloga,
Está apaixonado,
e nunca mais desenhei árvores.


(texto de ficção não revisto)

Suspiros do coração

Tanta bravura
nos espelhos silenciosos da noite
tanta ternura
nas flores dispersas pela madrugada
tantos rios selvagens
pelos meandros da longitude
e latitude
tantas belas manhãs em delírio
fingindo orgasmos nos lábios da lua...
e eu aqui sentado
a construir barcos de papel
e pétalas de solidão

Tanta bravura
nos espelhos silenciosos da noite

que me cansam
e encantam
os suspiros do coração.

sábado, 14 de abril de 2012

O marinheiro ausente

Pedacinhos de mim
acordam na alvorada

(oiço a voz invisível da tempestade)

as minhas pétalas suspensas no tecto da solidão
quando todos os barcos dormem docente
nos lábios do marinheiro embriagado
no final da tarde
levantam-se as velas de cetim
e todas as luzes do abrigo se encerram como as portas da muralha

o marinheiro ausente
deita-se nas minhas mãos
como uma criança cansada
antes de adormecer

e desce a noite
e eu
e ele
enlouquecemos abraçados à maré


(escrito no Ubuntu)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Abraço ao mar abraçado

Abraço
Ao mar abraçado
À noite cansada
No meu corpo deitado
Coitado
Eu… à procura da madrugada
Com tudo e sem nada
Finjo adormecer
Invento manhãs no meu jardim
Coitado
Com tudo e sem nada
Triste triste assim-assim…
Viver
Assim-assim
Encostado às árvores dormentes
Que mastigam nuvens de algodão
Sem dentes
Sem coração
Abraço
Sem braço
Ao mar abraçado
À noite cansada
Num barco embriagado
Abraço
Sem braço
Coitado
Com tudo e sem nada
Em círculos na calçada

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Não me conheço

Não me conheço
Debaixo destas árvores cansadas
Olho as pedras miseráveis da calçada
Sem destino a rua das amoreiras
Porque são as gaivotas roseiras
E as flores malvadas
E nas pálpebras um crucifixo adormecido
Não me conheço
E não pareço
Um cadáver apodrecido…
Não me conheço
Debaixo destas árvores cansadas
Coitadas
Parecem gaiatas brincando na seara adormecida
Perdida
Nas madrugadas

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Flores

Há flores que tombam no chão
Resistem à opressão
Flores que saltam os muros da prisão

Flores

Flores concavas e convexas
Com beijos na palma da mão
Flores de todas as cores
Flores de ambos os sexos
De mutos feitios
Flores são flores
Que galgam os montes bravios
Como os amores
Sobre o colchão
Flores
Escondidas em anexos
De prato vazio abraçadas a um cão
Flores que saltam os muros da prisão
Há flores que tombam no chão

E resistem à opressão

Morrer Quer dizer Não saber Viver

O que dizer
O que fazer

(quando a noite deixa de ser noite)

Morrer
Quer dizer
Não saber
Viver

O que dizer
O que fazer

Enquanto o país está a arder…

terça-feira, 10 de abril de 2012

A alegria

Pensava eu que a noite me trazia
Mas o dia
Levou-me a alegria

E o que a vida me deu?

O que a vida me tirou
A alegria
Sabendo eu o que sentia
Quando a noite me trazia
A fantasia
No rio que morreu

(Pensava eu que a noite me trazia
Mas o dia
Levou-me a alegria)

Mas o dia…
Quem diria
Levou-me a alegria

E a noite adormeceu
No rio que morreu
E eu
E eu não sabia.

Wordsong – AL Berto


“Com Worsong, a 101 Noites aventura-se numa nova coleção que pretende criar um diálogo entre a música e a poesia contemporânea.
AL Berto (1948-1997), uma das vozes mais singulares da poesia portuguesa do século XX, foi o poeta homenageado neste primeiro trabalho. Wordsong é um projeto da autoria de três músicos, Pedro d’Orey, Alexandre Cortez e Nuno Grácio, que procuraram criar um invólucro sonoro para os poemas de AL Berto. O resultado é uma série de canções em formato pop rock, onde a música se apropria da palavra escrita, dando-lhe uma outra liberdade cheia de novos sentidos e novas sensações. Wordsong é constituído por dois objetos que se complementam e interligam. Um livro de poemas com fotografias e ilustrações e um CD com quinze canções inéditas” 101 Noites

Excelente trabalho. Na segunda edição que possuo inclui participações de: João Peste, J.P. Simões e Sérgio Costa.
Mais informações em:

Fingertips - 2 Tour


O concerto da semana é em Aveiro dia 13 de Abril no Teatro Aveirense pelas 21:30h.O BANCO ALIMENTAR vai estar connosco a recolher os alimentos do Bilhete Social (7.50€ + 2 pacotes de alimentos). Estes alimentos são distribuídos a uma rede de instituições e famílias carenciadas.
BILHETES À VENDA NO TEATRO AVEIRENSE
Cada portador de um bilhete recebe na porta do espectáculo um voucher de desconto nas lojas Tiffosi no valor de 10€.

Nota: Nesta digressão que se iniciou no dia 2 de Março já apoiámos várias instituições e conhecemos o valioso trabalho por elas desenvolvido ao longo do País.
Hoje o vosso contributo é sinónimo de ajudar quem mais precisa!
O Workshop "Bateria na Ponta dos Dedos com Marito Marques" decorre às 18:00h no Teatro Aveirense e as inscrições estão disponíveis em http://workshop.thefingertips.com
Fingertips - 2 Tour

Março
02- Lisboa | Cinema São Jorge – 21h30
03- Torres Novas | Teatro Vírginia – 21h30
09- Coimbra | Theatrix – 23h00
16- Maia | Forum da Maia – 21h30
17- Portalegre | Centro de Artes e Espectáculos – 21h30
23- Ponta Delgada | Coliseu Micaelense – 21h30
26- Viseu | Teatro Viriato – 21h30
27- Viseu | Teatro Viriato – 21h30
29- Covilhã | Auditório da Universidade da Beira Interior (UBI) – 21h30
30- Loulé | Cineteatro Louletano – 21h30
31- Leiria | Teatro José Lúcio da Silva – 21h30
Abril
06- Guimarães | C.A.E. São Mamede - 21h30
13- Aveiro | Teatro Aveirense - 21h30
26- Mirandela | Auditório Municipal - 21h30
27- Macedo de Cavaleiros | Centro Cultural - 21h30
28- Guarda | TMG - 21h30
30- Porto | Teatro Rivoli - 21h30
Maio
11- Figueira da Foz | Casino da Figueira - 23h00
12- Vila Real | Teatro de Vila Real - 21h30
19- Montijo | Cine-Teatro Joaquim de Almeida - 21h30
24- Évora | Teatro Garcia Resende - 21h30
25- Beja | Pax Julia - 21h30

Lo que hay que decir


Por qué guardo silencio, demasiado tiempo,
sobre lo que es manifiesto y se utilizaba
en juegos de guerra a cuyo final, supervivientes,
solo acabamos como notas a pie de página.
Es el supuesto derecho a un ataque preventivo
el que podría exterminar al pueblo iraní,
subyugado y conducido al júbilo organizado
por un fanfarrón,
porque en su jurisdicción se sospecha
la fabricación de una bomba atómica.
Pero ¿por qué me prohíbo nombrar
a ese otro país en el que
desde hace años —aunque mantenido en secreto—
se dispone de un creciente potencial nuclear,
fuera de control, ya que
es inaccesible a toda inspección?
El silencio general sobre ese hecho,
al que se ha sometido mi propio silencio,
lo siento como gravosa mentira
y coacción que amenaza castigar
en cuanto no se respeta;
“antisemitismo” se llama la condena.
Ahora, sin embargo, porque mi país,
alcanzado y llamado a capítulo una y otra vez
por crímenes muy propios
sin parangón alguno,
de nuevo y de forma rutinaria, aunque
enseguida calificada de reparación,
va a entregar a Israel otro submarino cuya especialidad
es dirigir ojivas aniquiladoras
hacia donde no se ha probado
la existencia de una sola bomba,
aunque se quiera aportar como prueba el temor...
digo lo que hay que decir.
¿Por qué he callado hasta ahora?
Porque creía que mi origen,
marcado por un estigma imborrable,
me prohibía atribuir ese hecho, como evidente,
al país de Israel, al que estoy unido
y quiero seguir estándolo.
¿Por qué solo ahora lo digo,
envejecido y con mi última tinta:
Israel, potencia nuclear, pone en peligro
una paz mundial ya de por sí quebradiza?
Porque hay que decir
lo que mañana podría ser demasiado tarde,
y porque —suficientemente incriminados como alemanes—
podríamos ser cómplices de un crimen
que es previsible, por lo que nuestra parte de culpa
no podría extinguirse
con ninguna de las excusas habituales.
Lo admito: no sigo callando
porque estoy harto
de la hipocresía de Occidente; cabe esperar además
que muchos se liberen del silencio, exijan
al causante de ese peligro visible que renuncie
al uso de la fuerza e insistan también
en que los gobiernos de ambos países permitan
el control permanente y sin trabas
por una instancia internacional
del potencial nuclear israelí
y de las instalaciones nucleares iraníes.
Solo así podremos ayudar a todos, israelíes y palestinos,
más aún, a todos los seres humanos que en esa región
ocupada por la demencia
viven enemistados codo con codo,
odiándose mutuamente,
y en definitiva también ayudarnos.

Gunter Grass

Fonte: EL PAÍS
(Foto – Livros de Francisco Luís Fontinha)

Cansei-me de perguntar

Serei amado
Como eu amo as pedras
Os rios
E o mar…
Pergunto-me ao deitar
Pergunto-me ao acordar
Serei amado
Como eu amo os barcos
Os pássaros
E os livros…
Pergunto-me ao deitar
Pergunto-me ao acordar
E de tanto me perguntar
Morri antes de acordar…

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Carta a João

Meu querido irmão,
Por aqui tudo igual como no jornal,
As notícias de sempre DESEMPREGO CRISE CRISE DESEMPREGO DESEMPREGO uma loucura meu querido João,
FOME DESEMPREGO CRISE FOME e que a senhora não sei das quantas retirou as rugas como se essa merda me interessasse para alguma coisa, uma loucura meu querido João, e o dinheiro mal dá para o pão quanto mais para esconder a merda das rugas,
Olha Meu irmão Comprei um burrinho em Miranda do Douro, é giro e engraçadinho, e sempre se poupa alguns aéreos em combustível, e depois de inaugurado o IC5 é um instantinho e zás, estamos em Espanha, Vais gostar de o ver e logo que possível envio-te a foto e até podes colocar no mural do teu Facebook O BURRINHO DO MEU MANO, vai ser giro,
As galinhas morreram devido aos elevados custo de produção e trocando por miúdos Foram-se Morreram de fome, quanto à coelha está outra vez prenha, impressionante, não faz outra coisa…
De tarde fui visitar o nosso primo Augusto e na revista do jornal um cromo perguntava, Não meu querido João, Essa do beijo se está grávida já tem barbas, Que não aguentava fazer amor tantas vezes por dia, não acreditas?, mas infelizmente é verdade, e tem três hipóteses VIAGRA OFERECER UM VIBRADOR À DITA PELO NATAL ou TELEFONAR E PEDIR AJUDA AOS AMIGOS, Não é para isso que servem os amigos Meu querido João?
Meu querido João Por aqui tudo igual como no jornal, e cada vez pior…
Nem me interessam as rugas da senhora nem

“lá fora mário
longe da memória lisboa ressona esquecendo
quem perdeu o barco das duas ou se aquele que caminha
será atropelado ao amanhecer ou se o soldado
que falhou o degrau do eléctrico para a ajuda fode
ou ajuda ou não ajuda e se lisboa num vão de escadas
é isto
tão triste mário sobre o tejo um apito” (AL Berto)
O que me interessa mesmo Meu querido João é encontrar trabalho.
Abraço,
Francisco

(texto de ficção não revisto)
Desenhos de Francisco Luís Fontinha:
(https://picasaweb.google.com/102107461694958261806/DesenhosLuisFontinha?authuser=0&feat=embedwebsite#)

Sonhos

Sonhos…
Pétalas de rosa
Embalsamadas nas páginas de um livro
Bolinhas de sabão em direção ao mar

domingo, 8 de abril de 2012

“Orgasmos na Boca”



Quem pensa que aquilo que escreve no Google é secreto, engane-se. Quem pensa que por ter um blog anónimo ninguém consegue chegar até ele, engane-se. Dentro do meu blog consigo saber, além do número de visitas, os locais de onde acederam com as respetivas coordenadas (latitude e longitude), que no Google Earth, e introduzindo as coordenadas, consegue-se saber aproximadamente o local.
Mas não me interessa quem acedeu ao meu blog e de que local; mas confesso que fico aparvalhado, porque parvo já eu sei que sou, confesso que fico aparvalhado com as palavras-chave que escrevem no Google e chegam assim ao meu blog.
Hoje alguém procurava “Orgasmos na Boca” e deixou-me confuso. “E o orgasmo é atingido após a estimulação direta ou indireta do pénis ou do clitóris”.
E a boca nem tem pénis nem tão pouco clitóris… Que tal procurarem por Sexo Oral, ou melhor ainda, escreverem no Google:
- Livros publicados por António Lobo Antunes;
- AL Berto;
- Luiz Pacheco;
- José Saramago;
- Milan Kundera ou Proust;
- Escrevam POESIA;
Tanta coisa para pesquisarem…

“Governo quer reduzir oferta de cigarros”

Em entrevista à agência Lusa o Exmo. senhor secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Leal da Costa, referiu “Estamos a estudar um conjunto de medidas no sentido de diminuir a oferta do tabaco ou de alguma forma restringir a sua venda a locais próprios".
Não me vou referir aos argumentos de ser eu próprio fumador e questionar onde começa e termina a minha liberdade, já tratam os fumadores como cães à porta do café, e percebo que os não fumadores não são obrigados a levar como o fumo do meu cigarro.
Também percebo que o tabaco provoca o cancro e outras doenças, mas se eu quiser suicidar-me o problema é meu, e também percebo quando estou à porta do café a fumar, o cãozinho felpudo ao colo de sua majestosa dona pode entrar, e eu, e eu porque estou a fumar, cá fora. Concluo que alguns cães têm mais sorte que os fumadores.
Eu percebo muitas coisas, só não sei se o governo percebe que retirar as máquinas de tabaco espalhadas por todo o país vai provocar desemprego; Sabe o governo quantas pessoas trabalham em Portugal na distribuição do tabaco? E qual o consumo de combustível das viaturas na distribuição? Estes trabalhadores não pagam impostos e não fazem descontos para a Segurança Social?
Resolver os problemas não é fechar.
Daqui a pouco é mais fácil um adolescente comprar haxixe ou heroína na rua do que um fumador comprar cigarros.
Desçam à terra.

Excelente artigo de Pedro Santos Guerreiro em Jornal de Negócios Online: A OPA do Corno Manso.

Nunca escondi ter uma paixão (não secreta) pelos Fingertips. Porque gosto muito das músicas deste grupo, porque tenho descendência em Carvalhais – S. Pedro do Sul.
Dia 26 de Abril de 2012 em Mirandela no Auditório Municipal.
AMORES de MERDA
com AMIGOS de MERDA
em PAIXÕES de MERDA…

(quando o NAVIO começa a NAUFRAGAR)

Para alguns não tem qualquer valor… para mim, para mim é como se fosse uma parte do meu corpo.

Seis pedras e uma corda

Dentro da secretária uma gaveta perdida
Duas canetas sem memória
E um pedaço de papel
Seis pedras e uma corda
E um livro de mil novecentos e trinta e oito

(oiço o sol nas asas do cansaço)

E é tudo o que me resta

sábado, 7 de abril de 2012

Parker 51 “SPECIAL” & Esterbrook



O esboço da maré

Este barco sem rumo
Nas águas cansadas onde dormem as rosas vermelhas
Este barco sem rumo de âncora aguçada
Entre as nuvens e a lua atormentada
O poeta faz um esboço na maré
Com o carvão inventado das lágrimas da noite
O poeta é um parvalhão
Dentro do barco sem rumo
À procura das sandálias da infância
Teso sempre teso como o fio-de-prumo
Que liga a janela da noite à janela do dia
E o corpo do poeta
Nada mais de que as palavras em revolta
Nada mais
Poeta parvalhão
Sempre teso
Sempre sem tostão
Poeta de merda.

Há de acordar o dia

Há de acordar o dia
Nos pergaminhos do teu corpo invisível
Há de evaporar-se a noite no centro do mar
Há de fugir de mim a solidão
E a tristeza
Há de regressar
A vontade de amar
De ler
Escrever
Há de acordar o dia
E todas as janelas descerradas
E todas as luzes felizes na tua mão

Há de crescer algas nos teus lábios
E desejos na tua boca
Há de nascer um livro
Nos teus seios de cristal

Há de acordar o dia
Que serei livre de gritar que te amo

(Há de crescer algas nos teus lábios
E desejos na tua boca
Há de nascer um livro
Nos teus seios de cristal)

E não me importo que me chamem de louco
Porque quando acordar o dia
(há de acordar o dia)
Quando acordar o dia…
Gritarei que te amo.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O coveiro de Portugal

Enterra os vivos
E os mortos
E os que vão nascer
Tira aos pobres
Para dar aos ricos
Tira aos menos ricos para dar aos mais ricos
“Estás lixado Pá”
Nós é que estamos lixados Pá
Ficará na história como “O Coveiro de Portugal…”, Francisco Luís Fontinha 06/04/12


Os pássaros desassossegados

É tudo tão estranho Mãe,
As árvores parecem acorrentadas às tardes de outono, os pássaros desassossegados enlouquecem e começam à cabeçada aos desempregados, à cabeçada aos ciganos e aos pretos e aos estrangeiros, Tão triste Mãe,
Como se estes fossem os problemas deste país, como se quatro feriados fossem o problema deste país, Mãe,
E este país parece a “a conjetura de hodge” às cabeçadas à maré quando se levanta a fome e percorre todos os compartimentos do palheiro, insiro a moeda na ranhura, um fio de sémen vai à china, entra no servidor
- Tem saldo pode dar à luz,
Entra no servidor e após um pedacinho de espera, e , e ilumina-se todo o palheiro, Fantástico Mãe,
Ainda bem que já partiste Mãe, ainda bem,
- Porque garanto-te que aqui é mil vezes pior do que o sítio onde estás, mil vezes pior, olha… muito pior de que quando caíram todas as nuvens sobre o nosso quintal em luanda, e muito pior de que a nossa chegada a lisboa e ainda havia tejo, “Vende-se Rio no centro de lisboa”,
Foda-se Vão vender o rio…
- Eles vão vender as gaivotas Mãe, inserias a moeda de vinte e cinco escudos na ranhura e do outro lado uma gaja nua dançava feita louca, Que saudades Mãe Que saudades to tempo em que ainda existiam moedas na algibeira,
Não sejas Parvalhão Meu Filho vão agora vender as gaivotas!,
- As gaivotas voam não é Mãe?, E que sim Que as gaivotas voavam sobre o rio e que o pôr-do-sol era tão lindo,
Tão lindo Mãe o pôr-do-sol visto junto ao tejo, insiro a moeda na ranhura, um fio de sémen vai à china, entra no servidor Vendido ao senhor de olhos em bico, como se os problemas deste país fossem os pássaros desassossegados enlouquecidos à cabeçada aos desempregados, à cabeçada aos ciganos e aos pretos e aos estrangeiros, Tão triste Mãe,
- Deus só fez os brancos Mãe?,
Vende-se Rio no Centro de lisboa.

(texto de ficção não revisto)

Conseguirás encontrá-lo?

Saboreias o cansaço das palavras
E procuras deus nas sílabas da manhã…
Conseguirás encontrá-lo?

Saboreias a vida em pedacinhos de nada
Com o medo na algibeira
Que da noite venha até ti a escuridão,

Conseguirás encontrá-lo?

Objetos insufláveis

Ontem li um artigo no Sapo Angola (http://noticias.sapo.ao/info/artigo/1234094.html) que a transportadora aérea Ryanair pretende que as assistentes de bordo percam peso para poupar dinheiro, o tamanho das revistas será diminuído e vai usar menos gelo nas bebidas que serve.
Menos peso menor custo em combustível.
E tudo isto é absurdo, porque põe em causa os direitos fundamentais do ser humano, e neste caso estão em causa os direitos da mulher apenas porque um louco acordou de manhã e chegou à conclusão que se elas perderem peso os custos em combustível diminuem. Só um louco pode chegar a esta conclusão.
Reduzir custos começa pelos salários dos administradores, será um excelente começo.
Não tenho condições económicas para viajar, muito menos de avião, mas depois do que acabei de ler, nesta companhia NUNCA.
As mulheres não são objetos insufláveis…

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Certeza

De uma coisa eu tenho a certeza
(sem subsídio de desemprego e recusado
o rendimento social de inserção)
O enterro eles vão ter de pagar
Não preciso de um belo caixão
Nem flores de realeza
Nem tão pouco purpurinas a bailar
Mas tenho a certeza
Que o meu enterro eles vão ter de pagar

Do not cover


E eu cobri-o com o linho lençol das páginas de um livro, retirei todas as palavras e semeei-as nas entranhas da terra, chovia agrestemente nas mãos esbranquiçadas da fome que alimentavam a madrugada, e eu cobri-o
- De que me servem os livros, de que me serve o dia e a noite e os círculos suspensos no infinito da geometria desvairada dos olhos, de que me serve a janela virada para o mar se eu, se eu não consigo ultrapassar a janela e abraçar o mar,
E eu cobri-o com o linho lençol das páginas de um livro, ele desarrumado na tempestade longínqua da cidade, perdido dentro da montanha antes de nascer o sol, De que me servem os livros, o dia e a noite, a trigonometria em paixões avassaladoras nas flores da primavera e uma mulher tropeça numa pétala, Tão lindas as rosas, e os crisântemos tão lindos nos cravos de abril e de todos os meses do ano,
- Vendem-se corpos em fatias de pão, ouvem-se nas claraboias do silêncio os gemidos de um menino deixado estacionado num vão de escada, ele chora e procura o cão de infância,
Qual infância Pergunto-lhe antes de lhe poisar a mão sobre o linho lençol das páginas de um livro, A infância que se transformou em noite?, e tudo, Tudo estórias que ouvi da boca de um louco,
Do not cover, sabendo eu que a janela que me separa do dia nunca mais se abrirá, como as rosas depois de morrerem, ou, ou como a lua nas mãos da Cinderela, Qual infância questionava-se a boca do louco entre as grades imaginárias da enfermaria, e hoje tenho um medicamento novo e adormeço suavemente como as garças pintadas na paisagem, as grades de aço travestem os meus olhos verdes de papel de embrulho, um cachucho saltita no avental do rapazinho sem sonhos, e sei que na algibeira esconde religiosamente um cordel e um pião de madeira, e sobre o soalho transporta os pesadíssimos socos,
- É fodido ser pobre e não ter sonhos…,
Mais fodio é morrer antes de nascer Da boca do louco as palavras que semeei nas entranhas da terra, e hoje crescem poemas mortos, esqueletos sem sílabas, ruas sem saída, miséria, fome, alegria…
Somos todos felizes neste país!!!!!
- É fodido ser pobre e não ter sonhos…,
Quando o linho lençol de um livro desaparece na neblina da insónia, quando os olhos do rapazinho e os lábios do menino são sequestrados pela maré, quando todo o mar finge não ser mar, e a terra engole todas as palavras e todos os sonhos…
(que louco vai cobrir um radiador a óleo?)

(texto de ficção não revisto)

Caixinha de surpresas

Gosto muito de ti Como posso fazer um like no teu corpo? Todos os dias uma supressa todos os dias uma novidade, hoje, hoje que a partir de amanhã e até 2014 estão proibidas as reformas antecipadas no regime da segurança social,
Qualquer dia quando acordarmos temos um caixão na caxa do correio e uma injeção letal,
Todos os dias farto…

O povo enlouquece

Gostava de saber
Minha senhora amada
Porquê viver
Esta vida desalinhada
Porquê sofrer
Minha senhora amada
Gostava de saber
Se a vida é esta merda cansada

Um governo que manda
Um povo miserável que obedece
Gostava de saber
Minha senhora amada
Porque estão as algibeiras em chama
E o povo pá E o povo enlouquece.

Artista de circo

Sou um menino mal comportado
Sem algibeira
E desempregado,

Sou um artista de circo de feira em feira
Umas vezes contente
Outras vezes magoado,

Sou um gajo cansado
Cansado de ver gente
Sou em menino mal comportado
E desempregado
Que de feira em feira
Vive alegremente.

Nuvens de porcelana

Hoje aprendi o que significa pompoar e em que consiste o pompoarismo, na ponta dos dedinhos finíssimas gotas de orvalho despedem-se da maré, lá fora, dentro de ti um silêncio no corredor da morte, vejo no teu peito a ingrime manhã ensanguentada de desejo,
- “Contrair e relaxar os músculos ao redor da vagina Explica a doutora…”,
O desejo enlouquece a Marilú que sentada numa cadeira segue religiosamente os cinco passos, exercícios simples que qualquer mão percebe quando toda a noite vive no infinito mausoléu da miséria, um corpo embalsamado sorri quando passo descalço em direção ao rio,
- “Contrair e relaxar os músculos ao redor…”, ao redor da madrugada quando procuras debaixo da cama os ossos que sobejaram da minha partida, hoje aprendi que a lua masturba-se em frente ao espelho do sol, hoje, hoje uns dizem que os subsídios de férias e de natal são histórias do passado, outros, outros que não, e enquanto a lua finge orgasmos de cristal, o povo fodido, o povo fodido…
As ratazanas que durante a noite deambulavam pelas casernas infestadas de fumo de haxixe, ao pequeno-almoço um copo de lata recheado de vodka e erva dos jardins de Belém, e o corpo em fio-de-prumo na formatura das oito horas tombava como as árvores no outono quando se despedem dos filhos,
- “Com o Ben-wa (bolinhas) ”,
Que coisa mais estranha minha filha Pijama com Bolinhas encarnadas, nuvens de porcelana e mendigos a exercitarem o pompoarismo, E o que diria o teu pai de tudo isto? Que sou feliz mãe, muito feliz…
Desisto Não nasci para pompoar nem para o pompoarismo,
STOP.

(texto não revisto)