segunda-feira, 23 de abril de 2012

Oiço-te e não consigo ver-te

Procuro-te nas almofadas da noite
entre os lençóis do mar
oiço-te embrulhada nas ondas
a brincares com as minhas palavras...
oiço-te e não consigo ver-te
e não consigo tocar-te
porque o mar em revolta
à minha volta
roubou-me o sonho
e cerrou as janelas do meu pôr-do-sol
e até a lua deixou de brilhar
e as palavras com que brincas
aos poucos desaparecem antes de acordar a madrugada
tal como eu
um louco
suspenso entre as sandálias
e os calções de infância
um louco
tal como eu
que não consegue tocar-te
que não acredita no céu
um louco
tal como eu
às voltas com o caderno da solidão
onde escrevo
onde semeio as minhas lágrimas
e escondo
um louco
tal como eu
e escondo o meu coração
de titânio
de xisto
de argamassa
um coração estupidamente só
um coração
ao abandono
sem dono
sem destino
desde menino
sentado num banco de jardim
à tua espera
(oiço-te e não consigo ver-te
e não consigo tocar-te
porque o mar em revolta
à minha volta)
sem dono
sem destino
eu um louco
que não consegue tocar-te
sentado num banco de jardim
o meu coração
a escrever versos no caderno da solidão
assim
eu tão só
tão pouco
um louco
assim
assim entre os lençóis do mar
e as noites de inferno
onde te oiço
a vasculhar o meu caderno da solidão
onde escrevo
e semeio
os guindastes da vida...

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