sábado, 28 de abril de 2012

Sem nada

Nas paredes curvilíneas da memória
poiso os meus braços de prata
acaricio pacificamente
os meus lábios de incenso
e as pinceladas do meu rosto
vagueiam livremente no vidro transparente
de linho amanhecer
antes do pequeno-almoço

oiço a tua voz misturada
nas acácias do fim de tarde
oiço-te enquanto me olho nas paredes curvilíneas da memória
sem palavras sem estória

sem nada

poiso os meus braços de prata
acaricio pacificamente
os meus lábios de incenso
e nas pinceladas do meu rosto
acorda a madrugada
cresce uma rua sem saída
suspensa numa cidade imaginária
com muitas portas e janelas
e calçadas
e velhos que se esqueceram de acordar
e fingem orgasmos pulmonares
e constroem a felicidade
num vão de escada
sem nada
com barcos mergulhados
em oceanos testiculares

sem nada

de mão dada
às paredes curvilíneas da memória
os meus braços de prata
pacificamente acariciados
felizes
contentes
tal como os velhinhos
num vão de escada

sem nada...

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