quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cidade dos sonhos


Os fios de oiro que a noite embrulha no teu cabelo
rua sincera da cidade dos sonhos
nas palavras a verdade
e nos lábios
o sorriso lunar das árvores que navegam no oceano amor,

há pessoas sentadas nos pedaços de pedra
que deus deixou junto ao cais
as coisas dela nos coisos dele
sofregamente o eterno açude das frestas do desejo
e no entanto a noite entranha-se na carne esponjosa dos livros em poesia,

ele sentia
as acácias flor das paisagens íngremes do infinito capim de vidro
com as janelas apaixonadas
nas lágrimas palavras do oceano amor
que fingem travessias de rios invisíveis,

os fios de oiro que a noite embrulha no teu cabelo
sílaba por sílaba
carícia em carícia
as minhas mãos em migalhas de nada
na fronteira madrugada às abelhas da cidade dos sonhos...

(poema não revisto)

Os barcos da Ajuda


Procuro nas minhas mãos de iodo
os pequeníssimos gemidos dos barcos da Ajuda
dentro dos muros invisíveis da solidão,

procuro
e não encontro os teus lábios de desejo
que a minha boca
pouca
às vezes um pouco louca
nas veredas janelas de pano cor de madrugada,

procuro nas minhas mãos de iodo
os pigmentos siderais da tua pele
onde escreverei os meus loucos poemas
em chama
a fogueira do teu púbis construído de marés longínquas
da voz cansada do luar,

desenharei abraços com sabor a mel
e chocolate
com laços de braços
em redor do teu pescoço submerso no meu peito...
nas minhas mãos de iodo
o teu amor vestido de noite com estrelas no loiro cabelo.

(poema não revisto)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ardente a tua singela cama


Às areias clandestinas da tua cama
os braços de silêncio
nas doces rosas que transpiram tua dor
os cansaços diversos
amargos
doidos quando os sentidos fictícios correm nas esplanadas da fome
cansaços teus lábios ou desejo
dos gemidos tua boca,

Às areias clandestinas
onde dormem os beijos abraços
da tua cama amargos traços
que o tempo inventa em loiras meninas,

Às areias clandestinas da tua cama
o submerso pedaço de xisto enferrujado nas oliveiras apaixonadas
os barcos os barcos em sítios proibidos pelas palavras cansadas
do prazer corpo teu delírio em chama,

Ardente
a tua singela cama
à areia clandestina que sente
os verdes olhos do mar que ama,

Às areias clandestinas da tua cama
os versos meus apenas com carícias na tela teu corpo de chocolate
as coisas belas
as rosas amarelas
que do jardim do amor crescem como palavras na boca minha gente
tão feliz eu contente
com o significado inexplicável do prazer de quem não sente
o prazer de sentir as coisas belas da minha amante.

(poema não revisto)

A saliva púrpura das carícias invisíveis


Procuras-me nas pálpebras cinzentas húmidas da madrugada
como se eu fosse um livro de poemas
adormecido sobre a tua mesa-de-cabeceira ausente da claridade
os petroleiros atravessando o Tejo
fundeados no teu peito
a saliva púrpura das carícias invisíveis que teces nas folhas das árvores
quando gaguejas os gemidos das manhãs dos pássaros cansados
nas rosas perfume colorido,

Senti as magrezas ósseas das sombras
sem ti nos meus abraços de porcelana
ao longe as pedras da escrita
perpétuas nas sílabas infinitas que as coxas tuas escondem
quando a noite misturada com a lua
dorme docemente sem saber que na rua sem saída
saltitam lágrimas de choque
na borracha clandestina das gargantas dos oceanos de Belém,

As tuas cartas semeadas na planície das palavras
oiço a tua voz no transverso esforço do Outono
quando os socalcos imaginados por abelhas estonteantes
e em pequeníssimos voos rasantes
rasgam as nuvens cor de vinho
da tarde transfigurada no alimento desejado
das tão afamadas telas de pó de xisto e neblinas de oiro...
e cai a noite nos arcos de vidro da tristeza.

(poema não revisto)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A noite circunflexa das amêndoas com chocolate


Acreditava ela na paixão dos homens
e nas sílabas zangadas que a manhã de Outono constrói sobre o mar
acreditava ela que a cidade flutuava nas calçadas enferrujadas
que sobejavam dos pedaços de saliva
que o aço inoxidável da boca
transportava para o jardim da solidão,

Acreditava ela na paixão dos homens
que os espelhos dos quartos enfeitados com as luzes dos sonhos
desenhavam na lareira ardósia do silêncio
sem perceber que a paixão existe dentro das mãos de vidro
que os homens
que os homens trazem nas algibeiras de pano amarrotado,

o verde incenso das folhas de papel que as árvores comem na madrugada
com todos os pássaros sofrendo os cansaços do vento
da chuva sobre o pequeníssimo orgasmo das palavras
poisam na secretária de madeira
com as fotografias cadáver
da casa abandonada no centro da eira do medo,

acreditava ela
a noite circunflexa das amêndoas com chocolate
que os homens vivem nas janelas de papel
com as rosas púrpuras do desejo
acreditava ela
a noite sem os homens de palha com as estrelas de orvalho...

(poema não revisto)

Cachimbo de Água em destaque


Manhãs de vidro


Escrevia sonhos nas mandíbulas insaciáveis das palavras de prazer
ao húmus transversal que alimenta o coração esmigalhado
a estrada esconde-se na montanha do medo
e há árvores em fila de espera para comerem a refeição mínima do dia invernal,

Saio de casa e as sombras de tristeza
agarram-se-me aos dedos de cristal que as minhas mãos de feldspato
transportam quando acorda a manhã cansada de poesia
e papagaios de papel encarnado,

Escrevo-te sabendo que a tua boca
vive numa nuvem de algodão construída pelas infinitas gaivotas do Tejo
quando barcos em solidão
dormem sossegadamente no travesseiro da paixão,

Escrevia os sonhos
em insaciáveis mandíbulas que o coração de vidro
às palavras
tristemente adormecidas.

(poema não revisto)

domingo, 28 de outubro de 2012

O perfume dos cigarros sem nome


Desenhava as espadas do inferno
nas húmidas janelas que as fotografias inventavam
na claridade poeirenta dos dias em solidão
e os corações de vidro
choravam em sílabas de sangue misturados às vezes na obscuridade
das palavras que a saudade alicerça no silêncio pequeno-almoço,

No peito esverdeado pela nascença de uma nova flor
abriam-se-lhe todos os espinhos da infância adormecida
no pilares de madeira que a noite come
abriam-se-lhe os poemas escondidos nas mãos de nevoeiro
que o amor escreve no cadáver da tarde dentro do rio sem barcos de papel,

Desenhava as espadas do inferno
como se as estrelas suspensas nos jazigos imaginários
escondessem verdadeiramente os duzentos e seis ossos de mim
pedaços de xisto mergulhados nas lágrimas
que os lábios de desejo
constroem sentados nas cadeiras de cartão
oferecidos pela loucura manhã de domingo
e nas longínquas taças de champanhe com bolinhas encarnadas
os disfarces de Marilú no poeirento espelho caquéctico da cave com grades em gemidos
e o perfume dos cigarros sem nome
em busca do sítio encantado das árvores azuis e nuvens de chocolate
que o poema esconde na garganta do boneco de palha.

(poema não revisto)

Teorema do amor


Atravesso a planície do teu olhar
com as sombras infinitas que a noite constrói
nas rochas salgadas do teu peito
do mar tua mão que dói
a saliva maré sem jeito
e a manhã se destrói
dentro das árvores imperfeitas
malignas palavras de amar
na boca da mulher as flores contrafeitas
pintadas de luar
atravesso a planície do teu olhar
e o meu coração dorme sem perceber o teorema do amor.

(poema não revisto)

sábado, 27 de outubro de 2012

Gritos uivos dos gemidos cansaços


O muro da paixão submerso nos alicerces das pequeníssimas gotinhas de luz
deitadas sobre a mesa-de-cabeceira
é sexta-feira e todas as coisas morrem quando acorda o dia
mergulhado na solidão aprisionada no sótão da casa,

Ouvem-se gritos uivos dos gemidos cansaços
dos sexos dilacerados nas nuvens de algodão
que a feiticeira rosa de sorriso encarnado
desenhou na areia fictícia que os cortinados escondem na algibeira dos sonhos,

O muro constrói-se de palavras e folhas de papel timbrado
com as insígnias íris do louco apaixonado pelas árvores sem soutien
descem da alvorada sifilítica as manhãs sem poesia
dos livros escondidos e proibidos pelos desejos dos relógios de pulso...

(poema não revisto)

Os jardins da saudade no meu peito de vidro


Levaste o coração de pedra
que se escondia no meu peito de vidro
agora sou um rio sem rochas
e quando aporta a noite nos meus olhos sem luar
sinto o vento esconder-se nas cavidades invisíveis da minha boca
como se as abelhas do oceano
sorrissem às esplanadas cansadas da velhíssima rua das janelas apodrecidas de tédio
e as mini saia cor da Primavera nos livros do segundo esquerdo,

Às coxas do poema vêm os milímetros cúbicos de desejo
que as mãos de um louco desenham no círculo verde
sobre a porta de entrada,

Há flores moribundas em processo de despedimento nos jardim da saudade
o chocolate lábio ao beijo no cardápio das sílabas enfeitadas com laços de mel
e sombras de silêncios no quintal da infância
um barco rompe debaixo das mangueiras a claridade da paixão
morta a paixão
sobejando os ossos do amor
e as palavras em lápides de cartão
no meu peito de vidro.

(poema não revisto)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mágoa cansada noite de Outono


Não tenho nada para te oferecer
mágoa cansada noite de Outono
não tenho luzes que iluminem a tua boca em desespero
luar emagrecido sem destino das clareiras adormecidas
não tenho nada
meu amor em traços oblíquos dos beijos alimentados pelas cicatrizes do orvalho
quando deixo aberta a janela da morte
e sobre a mesa da doença
acorda o magro esqueleto da paixão
nas paredes frias e nuas da tua pele
e crescem as lágrimas enfeitiçadas das mãos assustadas que o vento constrói
no cais lento da despedida,

Não tenho nada dentro do meu peito
e o meu coração é um pedaço de xisto
odiado por uns
esquecido por tantos míseros desejos
nas majestosas tardes abraçado ao rio
não tenho nada para te oferecer
nem paixão
nem telas com muitas cores
nem as palavras poema
ou os poemas canção
na mágoa cansada noite de Outono
que inventa a tua boca.

(poema não revisto)

Despedida paixão impedida madrugada sem sentido


Em mim as chamas invisíveis dos vulcões imaginados
pelas árvores sem amanhecer
crucificadas nas fotografias do vento,

Em mim as cordas ondulantes que amarram os oceanos
às tábuas inclinadas da paixão
antes de adormecer,

Em mim a noite disfarçada de lua
com fios de água
nos lábios de incenso
às janelas cansadas que a cidade alimenta,

Em mim a tua boca em palavras
embrulhada nas vogais de algodão
e sílabas de mel
como se a infância regressasse do abismo infinito da terra amedrontada,

Em mim todas as coisas belas
e menos belas
na terra húmida do amor
em mim
para ti flor queimada na cintilante
madrugada
o meu beijo de despedida
e mais nada...

(poema não revisto)

Olhos lacrimejantes


Era noite e dentro do caderno preto
saltitava o rio ensanguentado
com as palavras desiludidas
na manhã chuvosa e fria,

O espelho dos silêncios
entranha-se no meu peito ferido
dorido
pelas sílabas abandonadas,

Salgadas
as tuas palavras de sofrimento
na minha boca doce,

Alimento
minhas cansadas mão de cetim
com o vento dos teus olhos lacrimejantes.

(poema não revisto)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Neblina do primeiro amor


Diziam que ele atravessava as paredes da insónia
quando os holofotes da fome desciam sobre o leito de madeira
e pedacinhos de xisto embrulhados em lágrimas de incenso,

Havia frestas nos silêncios pegajosos dos beijos em construção
desmesuradamente cansados da ausência tempestuosa dos sorrisos envergonhados
das rosas vermelhas em perfume cintilante com bolinhas cor de amêndoa,

Diziam que ele conversava com as sombras da cidade
e bebia o suor do rio solitário escondido nas ilhargas flutuantes do sono,

Diziam que ele era homem em corpo de mulher
à procura dos paralelepípedos da Ajuda
e cerrava os olhos
e escondia as lágrimas dentro da neblina do primeiro amor...

(poema não revisto)

A serpente feiticeira da paixão


Amargas as mandíbulas da paixão
na boca expressa da serpente feiticeira
os olhos desmesuradamente em direcção ao infinito
no silêncio da água ribeira,

As palavras comem as sombras do rodapé da algibeira
quando os sonhos brincam na madrugada
da serpente feiticeira
sereia carícia dos lábios da aldeia abandonada,

Amargas as mandíbulas da paixão
entre flores e beijos em cadências amanhecer
na boca o coração
em gemidos de prazer.

(poema não revisto)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Beijos da tua boca em desenhos de açúcar


O corpo solidifica-se nas nuvens de açúcar
das películas transparentes que brincam infinitamente
nas ondas cansadas do mar,

Preciso urgentemente das palavras do orvalho
que nas noites de inverno
as canções de silêncio apaixonado
transportam o vento às algibeiras do sonho,

Caiem sobre mim as luzes selvagens da cidade
nas damas de corações emagrecidos pela solidão da vida amarga e desmedida
que cresce nas madrugadas dos olhos do ciúme
saltitando de socalco em socalco,

O corpo solidifica-se nas entranhas sombras do amor
quando baixinho murmuras AMO-TE
e fico impacientemente sentado nos lábios do teu sorriso
para desenhar beijos na tua boca.

(poema não revisto)

A cidade dos cadáveres em pedras frias


Existiam sorrisos de dor
nas tuas palavras
pequeníssimos beijos de luz
na madrugada sem destino
o eu ausente
caminhando sobre o mar em flor
em menino
o amor
que a chuva sente
nas tardes de Outubro
o poema transforma-se em pedacinhos de xisto
e mel poisado nos lábios da amêndoa,

Procuro a cidade
dentro da algibeira dos cadáveres quando dormem sossegadamente
nas pedras frias do destino
a cidade cresce dentro das ruas sem saída
que o rio engole das janelas da manhã enfeitada com fios de papel,

Oiço vagarosamente os sorrisos de dor
nas tuas palavras,

e uma corda de sono
entrelaça-se nas minhas mãos esquecidas nas árvores do inverno
cai a noite sobre nós
e descem as estrelas até aos teus olhos de luar.

(poema não revisto)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Coisas belas


Tantas coisas belas
que dormem no centro da terra
coisas com asas de vidro
e olhos de prata
ruas com janelas
e telhados de chapa

tantas coisas belas
infinitamente apaixonadas
pelas madrugadas
elas
as flores engraçadas
que a noite alimenta

tantas coisas belas
docemente voando nas montanhas do mar
coisas com palavras de amar
belas de embalar
quando a lua e o luar
beijam as luzes da paixão silenciosa

tantas coisas belas
que brotam das tuas mãos de sílaba distraída
coisas e coisas belas elas
entre os parêntesis do beijo
sem jeito
no peito em ferida.

(poema não revisto)

As folhas cansadas do Outono


Apareces, desapareces, inventas sombras nas entranhas do xisto douro em socalcos de oiro, teces nos lábios do rio as palavras bronzeadas que a noite transpira, e inspira, o poeta que dança nos braços de uma canção, apareces, desapareces, e constróis desejos nos tentáculos do poema, o poeta enlouquece nos olhos enamorados dos plátanos ternos e meigos dos loiros fios de luz que a manhã desenha na areia,
e desce a noite sobre ti,
desapareces, apareces,
nos versos das folhas cansadas do Outono,

E dizem que a lua cor de amêndoa navega nas gaivotas do Tejo, apareces, desapareces, inventas sombras, inventas-me quando a janela do minguante silêncio aquece na tua pele de água adormecida, oiço-te voar debaixo do tecto da saudade, eu corro, eu procuro-te desenfreadamente no Rossio depois de se despedir a tarde dos sótãos suspensos na solidão,
inventas, e dizes-me depois de adormecerem todos os sonhos da cidade que o poeta enlouquece a madrugada e enrola-se nos candeeiros invisíveis que os pássaros trazem do outro lado do rio,

Apreces, e inventas-me, inventas a saudade, inventas o desejo, e desapareces dentro da neblina cinzenta dos cigarros quando vêm os barcos ao teu submerso corpo de papagaio de papel no cordel enfeitado que o miúdo lança contra o vento.

Francisco
23/10/2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O tempo infinitamente ausente


Ernesto F. acreditava nas mentiras envergonhadas que todas as tardes de sábado cresciam entre as amoreiras e as finitas palavras de Teresa que transportava nos lábios o medo do mar, e frente ao espelho da noite, antes de adormecer,

- E se o mar me comer, ouviam-se-lhe os gemidos poisados na proa transversal do esquelético poeta que inventava cigarros nas páginas rasuradas do livro de poemas esquecido na casa de banho do sótão sem janelas, e sem janelas não parapeitos, e não parapeitos, não pássaros nas fotografias da madrugada,

- um dia assassino todas as canetas de tinta permanente e o papel mata-borrão que me irritam, e sem sentido, fogem nas ilhargas cansadas da morte, Ernesto F. detestava a mentira escrita na ardósia sorridente dos palhaços pintados com acrílicos embrulhados na salgada água da boca da criança perdida junto ao rio encalhado na algibeira do velho Armindo, de manivela em riste, a dar corda ao tempo infinitamente ausente,

um dia, um simples dia, tudo e todos vão parar, fim da linha cruzada dentro dos anzóis solidificados que o amor constrói nas plantas imaginadas pelo ciúme do vidro enraizado no peito do crucifixo suspenso na luz abstracta da maré antes da lua mergulhar dentro das coxas fantasiadas de rosmaninho e alecrim doirado, sinto-o-as quando abro o livro dos sonhos e todas as mentiras perfiladas na parada da Ajuda, sobre o céu azul invisível do sofrimento encarnado que as gaivotas deixam cair nas ruas desabitadas de homens vestidos de cacilheiro em círculos no pequeno quarto do sótão,

escrevo-te como se fosse hoje o meu último dia, de vida, de sonhos, de prazer, o último de qualquer coisa palpável, o último sorriso, o último adeus quando sofregamente o cavalo de aço em pequeníssimos milímetros desaparece na ponte de madeira envernizada e que toda a vida me perseguiu na clandestina areia do Mussulo,

- tão branca mãe, e os castelos de desejo no pescoço frágil da mulher silenciosa e docemente feliz depois de me olhar pela primeira vez embrulhado nos ossos catalogados das janelas da maternidade, tão branca mãe, branquíssima mãe, toda a areia do Mussulo, e os lugarejos de amêndoa às mangueiras de sombra nocturna,

os pássaros caiam sobre a terra queimada de Janeiro.

(texto de ficção não revisto)

manhã de Outono fictícia


cessam as luzes dos teus olhos
manhã de Outono fictícia
sem perceberes que da janela da saudade
rompem lágrimas envergonhadas
tímidas
madrugadas
quando a paixão entra no orifício circunflexo da solidão
e no cubo do medo a tua voz mergulha nas bocas em desejo,

cessam as luzes
e os olhares das plantas
cessam todos os silêncios que a lua constrói
na mão clandestina de uma abelha,

tímidas
madrugadas
envergonhas
lágrimas
todas elas
à janela com cortinados de sémen
o amor dorme docemente nos teus lábios
manhã de Outono fictícia .

(poema não revisto)

domingo, 21 de outubro de 2012

Carris da solidão


És construída de medos
enraizados nos silêncios azuis que a noite sem destino
tece nas palavras que habitam os poemas,

toco-te e acaricio o papel de veludo dos teus cabelos
dentro do sorriso das estrelas
no centro da cidade
sem perceber que choras
e estás triste
cansada talvez
talvez moribunda como os relógios empoleirados nas árvores de domingo
quando a tarde mergulha no espelho do guarda-fato,

escondes-te no quarto escuro
negro como o universo infinito
das rectas paralelas
os carris da solidão
abraços
beijos
um simples olhar nas persianas do teu peito
bate o teu coração sem destino
furioso porque estupidamente eu caminho sobre o mar invisível
construída de medos
silêncios muitos
beijos,

eu
eu o homem de palha com cabeça de vidro
perdido na margem do rio
à procura da tua mão
deliciosa no meu rosto embaciado pela neblina da paixão
o teu corpo estremece na terra húmida que o púbis da literatura
escreve na madrugada
sem olhar para a lua da tua boca.

(poema não revisto)

sábado, 20 de outubro de 2012

Beijos de café com natas


As rosas envenenadas que se escondem nas palavras
escritas
em todas as madrugadas
entre espinhos e bocas aflitas

as rosas de ti
que os lábios em beijos de café com natas
deambulam circularmente nas raízes dos pássaros com asas de xisto
voando clandestinamente sobre os socalcos do cansaço

mergulham no rio
e desaparecem na musicalidade poética dos beijos
vêm tristemente apaixonadas as palavras
que a noite esconde na algibeira dos cigarros encostados às cinzas das árvores solitárias

erguem-se em mim de ti algumas sílabas amargas
desejando voar nos teus olhos com silêncios de mar
e cubos de vidro
com janelas de amêndoa e portas de gelo

e o Douro em milhões de cores
vive sofregamente nas encruzilhadas das imagens
negras que da garganta do poema
alimenta docemente os pilares de aço da saudade.

(poema não revisto)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O pergaminho do desejo


As moléculas fantasiadas de amor
em toques superficiais no pergaminho
que as manhãs constroem
debaixo da paixão,

enfurecido
o orvalho poisado na pele elegante da dor
que as plantas do teu olhar
transpiram em fios de medo,

pego nos sonhos
e semeio-os nas áridas coxas do inferno
quando todos os relógios de pulso
dormem docemente na maré sem luar,

e finjo adormecer
nas lágrimas do desejo
que brincam nas finíssimas películas
das moléculas fantasiadas de amor...

(poema não revisto)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Círculos de vento


Hoje perdi definitivamente a alegria
de abraçar os olhos da lua
e de todas as estrelas que viviam
no tecto da minha solidão
à procura da saudade
nas planícies sem destino,

queimei todos os livros
e os cortinados da infância
na lareira que sobejou da viagem ao fundo do rio,

hoje sem perceber a claridade
dos relógios suspensos nas paredes da sala de jantar
as fissuras de chocolate em crucifixos cansados
das amêndoas amargas na noite dos poemas
as árvores doentes poisadas no meu sorriso fingido
de avião sem motor
redopiando os círculos de vento
sobre as clareiras da doença,

tão frágil o esqueleto do tempo
com a voz melancólica
do poeta sem vida.

(poema não revisto)

Noite inventada


Trazes-me as palavras de dormir
para eu alimentar
a noite inventada,

trazes escrito no teu submerso olhar
os beijos encarnados da madrugada
quando os jardins sem destino
profundamente encalhados no poço da morte
húmidos todos os homens abraçados ao sargaço menino
sem sorte
escrito em sôfrego cigarro desvairado
coitado
do poema desalmado
na corda do vento,

sem o tempo definido
nas paredes das tardes de sorrir,

tão querido
o meu cão a latir
percebendo que nas minhas mãos de nada
a maldita madrugada
(a dos beijos encarnados)
escreve nas sílabas de sonhar
as palavras amarguradas
que alimentam a noite
a noite inventada.

(poema não revisto)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Cai sobre mim das pálpebras azuis


O sono dos livros sem o destino prometido
na mão do menino querido
vêm da noite os silêncios de luz
que a boca trasfega na planície das palavras cansadas,
deixo de ver o olhar dos pássaros
e o sorriso das flores
não oiço mais o sofrimento dos homens de branco,
cai em mim o sono travestido de sílabas finíssimas
como fios de água
na garganta do xisto encaixado nas masmorras infinitas dos sonhos
cai em mim
as línguas do poema profanado
com a dor indistinta das manhãs sem o orvalho,
cai sobre mim
o perfume das tuas pálpebras azuis
iluminadas pelas lágrimas de um coração esmigalhado...

(poema não revisto)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A nossa misera madrugada dos relógios infinitos


Mergulho nos cansaços das pedras doridas
com o coração prisioneiro num cubo de aço
quando o sorriso da revolta
dos pássaros
as flores que a noite come em pedacinhos de nada
a madrugada
a nossa misera madrugada dos relógios infinitos
o tempo escoa-se nas escarpas visíveis das rochas amargas
a boca
sem o beijo indesejável da aranha
abelhas
nas colmeias da insónia,

gostava de preencher os espaços vazios do medo
com os barcos envelhecidos
que o rio engole
com a língua do mar,

as abelhas nas colmeias da insónia
quando a madrugada
quarta-feira em desalinho,

ontem eu percebia que as árvores dançavam sobre as mesas de mármore
que no cemitério das ervas daninhas
as agulhas das tardes de Outubro
brincam com os comboios de papelão...

(as abelhas nas colmeias da insónia
quando a madrugada
quarta-feira em desalinho),

e descem sobre mim as lágrimas das nuvens incolores
nas persianas que o sol tece
e a tua mão semeia na terra vendada das palavras.

(poema não revisto)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O eterno Etón


Milimetricamente encerrado num cubo fictício
com o tecto abraçado a integrais triplas
com desejos infinitos de água límpida da manhã

iluminam-se-me as mãos quando na minha rua sem saída
passam os teus olhos em pérola de amêndoa
e algodão doce
e o limo do cansaço
o eterno Etón dificilmente sairá da minha algibeira

milimetricamente as línguas de incenso
na janela do poema envenenado pelas sílabas assassinas
que a neblina semeou nas arcadas do sonho

penso dentro das noite escondidas nos fios de luz
que os teus lábios emanam na cegueira dos traços grossos da Lua
dentro do teu peito
absolvidos todos os palhaços de pano
com a flanela amarrotada
o azul silêncio das árvores
e a musicalidade do sorriso que deixas ficar sobre a mesa-de-cabeceira
na parede
na parede pregado o medo
que todas as palavras morram
porque
porque as palavras ressuscitam nas coxas do Mussulo.

(poema não revisto)

Cachimbo de Água em destaque


domingo, 14 de outubro de 2012

As espadas do sonho

-->
Experimento as espadas do sonho
quando rompem as ondas desgovernadas
das manhãs de Outono
na janela com fotografia a preto e branco
os cotovelos alicerçam-se
e das raízes da solidão
ao longe
os socalcos de xisto mergulhados no infinito cansaço

se eu tivesse um barco
voava sobre as nuvens de prata
quando o sol na minha mão
se extingue contra as rochas da noite em findos minutos de nada

percebia-se pelos olhos do boneco de palha
que as estrelas tinham deixado de brincar
e que a lua menina
saltitava nos assobios dos melros

que era noite no lençol de linho
e alimentava as locomotivas com círculos e palavras
que era sábado nos sábados embrulhado no cobertor à procura da lareira
sabendo que um qualquer livro espera por mim

e me abraça
nas salas despovoadas com mesas e cadeiras mortas
e flores
flores mergulhadas no cio da neblina

(Experimento as espadas do sonho
quando rompem as ondas desgovernadas
das manhãs de Outono)

e flores
flores mergulhadas no cio da neblina
duas horas antes de eu adormecer...

(poema não revisto)

O sótão de sombras


As lágrimas das árvores
brincam no silêncio da tarde sem nome
na penumbra viagem do vento
acariciam-se os sorrisos das pedras
nos lábios do poema
fingindo orgasmos abstractos
que uivam dentro do cubo de vidro
e o homem com o chapéu construído de sonhos
leva na algibeira a moeda finíssima
para atravessar o rio da morte
quando chovem os teus cabelos
sobre a eira de Carvalhais,

oiço o sino da igreja
a enrolar-se nos pinheiros de papel
colados no muro da insónia
as palavras
as palavras dos pássaros voadores,

dentro do céu
as escadas que me transportam para o sótão de sombras
onde o candeeiro a petróleo
dorme vagarosamente no tecto da aldeia,

e cessam as sílabas
de todas as portas e de todas as janelas
que fervilham antes de cair a noite
em desejo.

(poema não revisto)

sábado, 13 de outubro de 2012

Em abraços de aço os barcos e os paquetes


As manhãs eram de líquido cambaleando dentro da noite
no vidro do cansaço
o dardo das tuas palavras contra o meu peito
a singela e triste árvore dos sonhos
na proa de um paquete sujo e nu
obeso como as rochas aprisionadas no tecto das coxas tuas lua de cor,

amanhã vou sentar-me sobre as sombras húmidas que os ponteiros do relógio
constroem nas asas de um moinho de vento,

cai a chuva imaginada pela boca
a tua boca em gritos herméticos
a tua boca nas carícias dos lábios perpendiculares ao beijo
da aranha de vinte e cinco patas,

(amanhã vou sentar-me sobre as sombras húmidas que os ponteiros do relógio
constroem nas asas de um moinho de vento),

e o círculo do desejo
em movimento circular e uniforme...
em abraços
de aço
os barcos e os paquetes
quando o púbis das sílabas
dorme sobre o mar
e as manhãs solidificam.

(poema não revisto)

Cansados às vezes esquecidos


O mar a enrolar sorrisos
nas mortalhas dos lábios adormecidos
cansados,

às vezes
esquecidos,

e nos silêncios perdidos
caminha a noite sem destino
porque nas mãos de um menino
vive e cresce a madrugada,

cansadas
às vezes,

as equações diferenciais
suspensas no desejo das matrizes compostas
que o dia constrói
e a tarde alimenta,

o mar
e os cigarros em migalhas
antes de fumados,

o mar a enrolar sorrisos
nas mortalhas dos lábios adormecidos
cansados,

cansados
às vezes,
às vezes cansadas,

as vozes dormentes da Primavera.

(poema não revisto)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O poema adormecido


A lua
tua
minha apaixonada lua
nua

a lua dos silêncios que habita nas profundezas da tua dor
despede-se a noite
com beijos curvilíneos
ou não
as ardósias das esplanadas junto ao rio

o sol incandescente alimenta a tua voz cintilante
apaixonada
lua
a tua
janela acorrentada às luzes fictícias do orvalho
nua às vezes habilmente só

e tão bela

connosco o mar é enorme
enormemente infinito
o amor às palavras
com as tuas palavras
nua
a lua
tua
dentro do poema adormecido.

(poema não revisto)

Os uivos rangidos da geada


Pela pequeníssima fissura do meu peito
entra sorrateiramente o sol
e os pássaros da madrugada,

oiço-lhes os uivos rangidos da geada
caindo a noite sobre os cobertores da insónia
deixo de sonhar
e começo a ver desenfreadamente os soluços das palavras
em constante borbulhar de solidão
que os beijos constroem sobre as nuvens do mar,

descem dos teus doces lábios de desejo
as cancelas da dor embrulhadas em papel de incenso
e mirra
oiro
na mão vazia de um barco clandestino
moribundo
e oiro
às vezes quando do cansaço acordam os gritos dos homens embalsamados,

os meninos
deles
coitados
à janela do ciume.

(poema não revisto)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Os relógios da inocência


Vivo numa casa assombrada
com uma cama cansada
vivo numa casa transformada pelos verbos difíceis de conjugar
onde as flores de amar
dormem docemente no centro da madrugada

vivo numa casa com uma eira despenteada
uma casa sem janelas
uma casa sem portas
sem telhado
uma casa desgovernada
cansada
assombrada
nos telegramas sem resposta que a noite envia para o meu leito
o rio não passeia na minha rua
e as mulheres que vendem palavras em quilogramas disfarçados de migalhas
chamam as gaivotas poisadas no oceano
que saboreiam a fome da manhã

a cidade extingue-se no pensamento das cigarras
e as formigas
coitadas
à espera das metralhadoras apontadas
ao pôr-do-sol
(enquanto existe pôr-do-sol e é grátis)
com a ordem inventada de fuzilamento de todos os livros
e de todos os desenhos
nas ruas enfeitadas com lágrimas de borboleta

hoje descobri a beleza da saudade
e brinquei nas esplanadas de Belém
não vi o mar
porque cerrei os olhos
não me apetecia olhar os barcos

porque na minha casa assombrada
vive a madrugada
brincam as flores da extinta Primavera
bebericando o pólen de amêndoa das sílabas abandonadas
pelos relógios da inocência.

(poema não revisto)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Quando o mar deixa de sonhar


Posso ser o sabonete que voa sobre a tua pele cansada
meu querido amor suspenso na madrugada
do silêncio o teu corpo emagrece lentamente
como as pálpebras das árvores no Outono
posso ser a caneta desgovernada
com que escreves as palavras que vivem nos meus olhos
os verdes
os teus
os braços encardidos da rua que dorme na cidade
ou as janelas com vidros de cetim
e estrelas brilhantes
o céu onde poisa o teu peito cintilante

posso ser as arcadas escurecidas do templo em ruínas
as músicas que recusas ouvir
ou simplesmente os livros
posso ser os livros que nunca irás escrever
(por falta de tempo
porque não tens vontade)
quando pensas em mim
vagueando pelo corredor da casa sem velas para navegar

sem rumo
ou cais para aportar

posso ser meu querido amor
o banco onde te sentas no final do dia
as palavras
semeadas nas nuvens do desejo

sem rumo
ou cais para aportar

a mulher simples enrolada na clandestinidade da maré
quando o mar entra na algibeira

posso ser meu querido amor
os poemas que me escreves
sem nexo
sem sentido
simplesmente porcarias
com asas de pétala
e sorrisos de sílaba abandonada
em pequeníssimos movimentos de vento

se quiseres... posso ser o beijo disfarçado de sol
sem rumo
ou cais para aportar
a mulher simples enrolada na clandestinidade da maré
quando o mar entra na algibeira
quando o mar deixa de sonhar.

(A. Alexandra – Lisboa)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Palavras ilegíveis


Húmus meu cansaço
alegremente apaixonado
das árvores com braços de chocolate
a mão madrugada em flor
o cheiro
entre lábios e beijos da cidade do sofrimento,

absorvia-se a noite nos cigarros inventados
por um louco à janela do poema
vem do mar a claridade húmida das palavras
deitadas sobre os lençóis de linho
coitadas
as palavras
sem madrugada
sem carinho,

escrevia e deixou de escrever
nas paredes da inocência
brincava alegremente com os ossos de papel
a que chamavam esqueleto de livros
duzentas e seis páginas indesejadas pela boca doente
dos homens que lutavam contra a ditadura do aço inoxidável,

a garganta da morte mergulhava nas pequeníssimas gotículas de sémen
que das estrelas do sonho
acordava a aldeia encalhada no cais da solidão
e a janela do poema
partilha as flores que a terra alimentou
com cinco palavras ilegíveis.

(poema não revisto)

Os teus olhos em noite vestida de azul


Numa tela vazia
nasce a noite vestida de azul
descem do céu os anzóis clandestinos do sorriso

numa tela vazia
vou construindo a minha vida de nada
e no rio cansado que dorme à minha porta
brincam as sombras semeadas pela tua mão perfeitamente cintilante
que a noite vestida de azul ilumina
e transforma em corpo de mulher

azul
perfeitamente cintilante
a noite onde escreves os gritos de revolta
na areia fina e escura
o meu nome alicerça-se nos silêncios de Angola
azul
a noite
fina e escura
em corpo de mulher
numa tela vazia
sem cor
os teus olhos.

(poema não revisto)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Cais do amor


Um dia vou esquecer-me das palavras
um dia os livros deixarão de me olhar
como todos os dias
nasce a luz em finíssimos fios de neblina

um dia a espada da morte
entra no meu peito
e deixo de ouvir a musicalidade das manhãs
um dia os livros
esquecerei os centímetros de solidão
e os milímetros de desejo

sem perceber que um dia
as palavras
um dia dos livros

os lábios doces da Lua apaixonada
viverei desacorrentado
sentado
esperando por ti no cais do amor...

(poema não revisto)

Retrato submerso no castanho cansaço


As outras coisas que a noite constrói
ou
à noite o vento come as nuvens do sonho
o coração de açúcar dói
desgraçados todos os pássaros sem nome
residentes na penumbra madrugada
hoje
hoje lembrei-me das tuas palavras do poema destruído
pelas manhãs de inverno
o rio
ou
hoje lembrei-me dos teus lábios de algodão

as outras coisas sem significado
desenhando silêncios na garganta do pôr-do-sol
um barco chora
magoa-se nas montanhas do amor
e da solidão dos cabelos castanhos da Primavera
ou
hoje
adormeço abraçado ao teu retrato.

(poema não revisto)

domingo, 7 de outubro de 2012

Em beijos à boca


Às pálpebras azuis do sorriso
desce a noite embriagada
dorme docemente o livro apaixonado
nas palavras desejadas
ao mar tristemente embaladas
às pálpebras inventadas
trazes nos lábios uma flor
em sofrimento

os beijos
às pétalas poesia na infinita noite
em beijos
à boca
os fios de dor
inalados pelos teus cabelos dissolvidos no vento
desenhas a manhã na montra de um café
os beijos

às pálpebras azuis do sorriso
quando os cigarros vêm até ao cais das sílabas mortas
sonhas
inventas a manhã
de um café
a esplanada de vento
voa sobre as árvores doentes com lágrimas de mel
em sofrimento

e percebo que semeias os beijos
nas minhas mãos longínquas tracejadas da solidão
e percebo
que as pálpebras azuis do sorriso
sorriem como as algas encantadas
pela música de uma flauta embrulhada nas tuas manhãs inventadas
em beijos
à boca .

(poema não revisto)

O silêncio do desejo


Não haverá abraços de Primavera
e beijos da Lua
papeis submersos na claridade da insónia
e lábios
de luz
da Lua quando a noite cai sobre a cidade das amoreiras
com imensas ruas de acácias
e janelas de porcelana

não haverá abraços
e beijos da Lua
tua boca adormecida

e eu cambaleio dentro do silêncio do desejo

não
não haverá abraços
e beijos da Lua
e eu
e eu canso-me de procurar a sombra lilás dos teus seios
que o rio evapora ao pequeno-almoço

e eu cambaleio dentro do silêncio do desejo.

(poema não revisto)

sábado, 6 de outubro de 2012

Mar de Março


Me alimento da voz cansada
embrulhada nas palavras parvas
minhas às vezes enfeitadas
me alimento
em ti
minha noite abeliana
e às vezes
sinto o grito da revolta
a garganta funde-se como o gelo depois de caminhar sobre o mar de Março
a garganta morre nos barcos depois de morrerem
acorda o dia
minhas às vezes enfeitadas

as flores da tua mão
e os sinos circunflexos das árvores abandonadas
me alimento da voz cansada
embrulhada

há na madrugada
palavras sem dormir
rosas encalhadas nas metamorfoses do sonho

as coisas
belas
nelas às vezes
me alimento
dos teus lábios de papel
ou apenas no desejo de te olhar

mar de Março.

(poema não revisto)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Areia de chocolate


A casa dorme
e eu procuro no compartimento dos sonhos
a saudade das flores e dos jardins e do mar de Inverno

oiço as eternas luzes da solidão
contra os vidros da janela do desejo

oiço a espuma dos oceanos
dentro da cabeça dos pássaros
e das gaivotas sem namorado

a casa dorme
e das escadas que dão acesso ao céu
as nuvens
as nuvens em pedaços de silêncio
suspensas no tecto da vida

o meu corpo estremece
cai na areia de chocolate onde brincava nas tardes de Janeiro

cai
a casa
e todo o sono desaparece entre as rochas do cansaço
a casa
cai
o meu corpo pergaminho sem as palavras do cacimbo
o cais
cai
e todos os barcos e todas árvores
felizes no orgasmo da terra depois da chuva miudinha
balançando no capim crucificado das paredes da noite
a casa voa e cai o cais nas entranhas do sono

(poema não revisto)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sessenta segundos de solidão


Desejo-te
silêncio suspenso nos teus lábios de amêndoa
desejo-te quando a Lua corre sobre o mar
e a noite
e a noite brinca nos teus olhos loiros

desejo-te nas tardes da cidade
o rio
enrola-se nas caravelas desdentadas
desejo-te quando poisa na minha janela
o papel colorido
em forma de papagaio
às voltas no céu de Luanda
e os barcos nervosos

a desejarem-te
como eu te desejo
dentro de um relógio de pulso

não adianta
não me parece correcto quando a manhã desaparece
e tu adormecida no leito dos sonhos
e esperas pelas madrugadas desassossegadas

e esperas
esperas
esperas pela chegada da minha sombra
que alguém te enviará numa caixa de sapatos

(parvalhão eu)

não sabendo que a neve
que a neve era neve
e que os dias de Inverno
se escreviam nas paredes da miséria

(parvalhão eu)

e esperas
esperas
que nos ponteiros do relógio de pulso
(que a neve era neve)
o teu rosto sobreviva a sessenta segundos de solidão.

(poema não revisto)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O amor desencontrado


Será o amor
um texto
um poema sem sentido
desorganizado
perdido
achado
o amor desencontrado

será o amor uma canção sem palavras
um destino infinito mergulhado na solidão das noites sem livros
quando o sono teimosamente voa sobre as árvores desempregadas
procurando nas calçadas da cidade as gotas de suor que o outono deixa cair nas ardósias da madrugada

será o amor
um texto
um poema sem sentido

achado
desencontrado
desesperadas

o amor das pessoas tristes que vagueiam nas roseiras do jardim da tristeza
vem do cansaço
o perfume do papel
um texto
um poema sem sentido

será o amor
um mendigo
ou será o amor
um desejo sem abrigo
sentido
achado
cansado
perdido

perdidamente apaixonado.

(poema não revisto)