quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Quando o mar deixa de sonhar


Posso ser o sabonete que voa sobre a tua pele cansada
meu querido amor suspenso na madrugada
do silêncio o teu corpo emagrece lentamente
como as pálpebras das árvores no Outono
posso ser a caneta desgovernada
com que escreves as palavras que vivem nos meus olhos
os verdes
os teus
os braços encardidos da rua que dorme na cidade
ou as janelas com vidros de cetim
e estrelas brilhantes
o céu onde poisa o teu peito cintilante

posso ser as arcadas escurecidas do templo em ruínas
as músicas que recusas ouvir
ou simplesmente os livros
posso ser os livros que nunca irás escrever
(por falta de tempo
porque não tens vontade)
quando pensas em mim
vagueando pelo corredor da casa sem velas para navegar

sem rumo
ou cais para aportar

posso ser meu querido amor
o banco onde te sentas no final do dia
as palavras
semeadas nas nuvens do desejo

sem rumo
ou cais para aportar

a mulher simples enrolada na clandestinidade da maré
quando o mar entra na algibeira

posso ser meu querido amor
os poemas que me escreves
sem nexo
sem sentido
simplesmente porcarias
com asas de pétala
e sorrisos de sílaba abandonada
em pequeníssimos movimentos de vento

se quiseres... posso ser o beijo disfarçado de sol
sem rumo
ou cais para aportar
a mulher simples enrolada na clandestinidade da maré
quando o mar entra na algibeira
quando o mar deixa de sonhar.

(A. Alexandra – Lisboa)

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