És construída de medos
enraizados nos silêncios azuis que a
noite sem destino
tece nas palavras que habitam os
poemas,
toco-te e acaricio o papel de veludo
dos teus cabelos
dentro do sorriso das estrelas
no centro da cidade
sem perceber que choras
e estás triste
cansada talvez
talvez moribunda como os relógios
empoleirados nas árvores de domingo
quando a tarde mergulha no espelho do
guarda-fato,
escondes-te no quarto escuro
negro como o universo infinito
das rectas paralelas
os carris da solidão
abraços
beijos
um simples olhar nas persianas do teu
peito
bate o teu coração sem destino
furioso porque estupidamente eu caminho
sobre o mar invisível
construída de medos
silêncios muitos
beijos,
eu
eu o homem de palha com cabeça de
vidro
perdido na margem do rio
à procura da tua mão
deliciosa no meu rosto embaciado pela
neblina da paixão
o teu corpo estremece na terra húmida
que o púbis da literatura
escreve na madrugada
sem olhar para a lua da tua boca.
(poema não revisto)
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