quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sessenta segundos de solidão


Desejo-te
silêncio suspenso nos teus lábios de amêndoa
desejo-te quando a Lua corre sobre o mar
e a noite
e a noite brinca nos teus olhos loiros

desejo-te nas tardes da cidade
o rio
enrola-se nas caravelas desdentadas
desejo-te quando poisa na minha janela
o papel colorido
em forma de papagaio
às voltas no céu de Luanda
e os barcos nervosos

a desejarem-te
como eu te desejo
dentro de um relógio de pulso

não adianta
não me parece correcto quando a manhã desaparece
e tu adormecida no leito dos sonhos
e esperas pelas madrugadas desassossegadas

e esperas
esperas
esperas pela chegada da minha sombra
que alguém te enviará numa caixa de sapatos

(parvalhão eu)

não sabendo que a neve
que a neve era neve
e que os dias de Inverno
se escreviam nas paredes da miséria

(parvalhão eu)

e esperas
esperas
que nos ponteiros do relógio de pulso
(que a neve era neve)
o teu rosto sobreviva a sessenta segundos de solidão.

(poema não revisto)

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