Desejo-te
silêncio suspenso nos teus lábios de
amêndoa
desejo-te quando a Lua corre sobre o
mar
e a noite
e a noite brinca nos teus olhos loiros
desejo-te nas tardes da cidade
o rio
enrola-se nas caravelas desdentadas
desejo-te quando poisa na minha janela
o papel colorido
em forma de papagaio
às voltas no céu de Luanda
e os barcos nervosos
a desejarem-te
como eu te desejo
dentro de um relógio de pulso
não adianta
não me parece correcto quando a manhã
desaparece
e tu adormecida no leito dos sonhos
e esperas pelas madrugadas
desassossegadas
e esperas
esperas
esperas pela chegada da minha sombra
que alguém te enviará numa caixa de
sapatos
(parvalhão eu)
não sabendo que a neve
que a neve era neve
e que os dias de Inverno
se escreviam nas paredes da miséria
(parvalhão eu)
e esperas
esperas
que nos ponteiros do relógio de pulso
(que a neve era neve)
o teu rosto sobreviva a sessenta
segundos de solidão.
(poema não revisto)
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