terça-feira, 9 de outubro de 2012

Palavras ilegíveis


Húmus meu cansaço
alegremente apaixonado
das árvores com braços de chocolate
a mão madrugada em flor
o cheiro
entre lábios e beijos da cidade do sofrimento,

absorvia-se a noite nos cigarros inventados
por um louco à janela do poema
vem do mar a claridade húmida das palavras
deitadas sobre os lençóis de linho
coitadas
as palavras
sem madrugada
sem carinho,

escrevia e deixou de escrever
nas paredes da inocência
brincava alegremente com os ossos de papel
a que chamavam esqueleto de livros
duzentas e seis páginas indesejadas pela boca doente
dos homens que lutavam contra a ditadura do aço inoxidável,

a garganta da morte mergulhava nas pequeníssimas gotículas de sémen
que das estrelas do sonho
acordava a aldeia encalhada no cais da solidão
e a janela do poema
partilha as flores que a terra alimentou
com cinco palavras ilegíveis.

(poema não revisto)

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