sábado, 31 de janeiro de 2015

Beijos em flor

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Roubaste-me o sorriso nocturno dos beijos em flor
pegaste nas minhas palavras e transformaste-as em solitárias andorinhas
depois
trouxeste a Primavera
e o amor
do poema
de amar o poema
e sentir no peito as equações do destino...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Janeiro de 2015


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Os murmúrios da noite


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Tenho medo meu amor
quando os murmúrios da noite caem sobre os teus seios poéticos
e o fantasma do poema acaricia o teu corpo
como se fossem as minhas mãos encardidas pelo passado
tenho medo
meu amor
quando chove
tempestades...
e tu
não estás
ausente
viajante

dos círculos de gesso
e das acrílicas esferas que dormem nos teus cabelos
tenho medo do teu silêncio
e dos teus lábios de pergaminho
a rua deserta meu amor
um cigarro despede-se de mim
como se esta fosse a nossa última noite
juntos
e tu
não estás
ausente
viajante

do cúbicos orgasmos literários
tenho
medo
meu
amor
das pedras
dos pássaros
… e das flores
tenho medo que regresses
em formato digital
a preto e branco
a fotografia da teu destino...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 29 de Janeiro de 2015

Insónia madrugada


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Perco-me nas avenidas de cartão,
levo nos ombros o peso das tardes húmidas,
carrego a insónia madrugada
como se fosse um corpo invisível,
sem palavras,
perdido,
a humilhação do amanhecer
quando eu não queria acordar
e olhar
as avenidas de cartão,
e perde-se o cansaço
num simples sorriso de luar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 29 de Janeiro de 2015


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O teu nome


O teu nome
uma vírgula
encalhados na Península das palavras
o teu nome
uma vírgula
e... e a solidão desalmada do meu triste olhar
quando anoitece
e o vento me rouba o sorriso
ficam nas pálpebras o silêncio amor das quatro paredes graníticas
da prisão esquecida nos teus lábios
perco-me
e corro

uma vírgula
entranhada no teu peito
o dardo venenoso da insónia
a arte acorda nas paredes límpidas do meu corpo

ardo
sinto as cinzas a alicerçarem-se nas avenidas
da cidade
uma vírgula
solteira
cansada
da cidade os teus beijos envergonhados
desenhados
solteira
uma vírgula
apaixonada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2015

Amargos lábios do poema

Nunca soube o que era o amor, acreditava nas gaivotas em papel da minha infância, recordo o triciclo enferrujado, o boneco estúpido que apelidei de “chapelhudo”..., que parvalhão apelidava o seu fiel amigo de “chapelhudo”, eu, claro,
As palavras misturados entre orgasmos e flores, gemidos cirílicos suspensos nas andorinhas em flor,
Eu?
Nunca,
O amor,
Poemas escritos debaixo da embriaguez
Freguês?
Nem uma modinha habita na minha algibeira, e o amor sossegado debaixo de uma mangueira, crescia, brincava e...
Nunca,
E embrulhava-se na timidez de um novo dia, e lentamente, os meus ossos alimentados pelos sulcos solitários da noite, a barriga crescia-lhe, é menino? Menina?
Freguês?
Eu, simulador de voo quando as estrelas dormem, e habita na minha algibeira uma película fina de desejo,
O que é o desejo...!
Não
Nunca soube o que era o amor,
Não pai, não pode ser,
A vida é viver, um dia, dois dias, um quatro de dia..., percebes?
VIVER...
E amar?
Não sei, meu pai, não... sei,
O frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas de desejo, António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos como se de um reza se tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe suspenso nos ombros um fino silêncio de noite, imaginava vãos de escada em cada esquina, desenhava na geada pequenos quadrados, depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,
Um cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes se abraçaram a ele
E ele?
Incrédulo,
Vocês. Aqui?
Sim, pá, nós aqui,
António florescia, António corria calçada abaixo até ao rio, sorria... e regressava,
Não,
Não acredito que os meus irmãos estejam aqui, comigo, só nós,
Não,
Um cigarro, tem lume? Que não, que não,
Vocês aqui...
Meus Deus, tanta solidão, frio, fome...,
Foste tu que quiseste, ou não?
E António fulminava o irmão Miguel com as pálpebras inchadas,
Eu é que quis...!
Quase como lâminas afiadas, depois, o acordar da cidade, os primeiros automóveis do dia, depois os últimos bêbados da noite, e depois
Não, não acredito,
Os Primeiros cheiros de Lisboa,
O fumo argamassou todas as palavras... Meus Deus, vocês aqui...
O amor é uma noite escura, imagens tridimensionais vagueiam nos teus seios de Inverno, a geometria do prazer inventa-se,
E transforma-se em películas de desejo, o corpo vacila, sente a tempestade íngreme do desespero, amanhã não há madrugada, amanhecer, horas, sorrisos... e beijos,
O amor?
Uma parábola esquecida no mural de xisto junto ao rio, lá longe os barcos embalsados, aqueles que ninguém ama, quer...
Geometria, equações trigonométricas com odor a poesia
Possível
E no entanto o amor é uma noite escura, sombria, habitada pelo medo da paixão, uma rua, uma avenida... e embriagados transeuntes olhando monstras desertas, as insinuações acomodadas do dia, sentado, de pé... correndo,
Escrevo palavras para não morrer, e o amor é uma noite escura, imagens, retratos, e... e quadros desconexos,
Avenida,
Sem sentido,
Correndo
Possível?
Correndo sobre as tempestades de areia, e acordo sobre a imensidão do impossível, dos amargos lábios do poema,
Palavras,
Mortas... encaixotadas nos teus lábios...



(texto de ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Janeiro/2015

Maré dos enganos


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Este caixote sem janelas
que habita o meu cérebro cinzento
as palavras belas
que sinto
quando acorda o amanhecer
e não encontro o teu corpo na minha cama,

As imagens do silêncio
reescritas na tua mão de porcelana
regressar é impossível
viver...
sonhar
sem saber que amanhã não existe mar,

Maré dos enganos
sílabas assassinadas pela caneta negra...
um desenho
(uma porcaria de desenho...)
suspenso na forca da idade
como serpentes em pedacinhos descendo a montanha,

As sombreadas verrugas do Adeus
quando o caixote arde na cinza madrugada
o meu cérebro morre
e leva as minhas palavras...
o meu cérebro morre...
e leva o meu corpo.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2015

Sem sentido – O Amor -

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O amor é uma noite escura, imagens tridimensionais vagueiam nos teus seios de Inverno, a geometria do prazer inventa-se,
E transforma-se em películas de desejo, o corpo vacila, sente a tempestade íngreme do desespero, amanhã não há madrugada, amanhecer, horas, sorrisos... e beijos,
O amor?
Uma parábola esquecida no mural de xisto junto ao rio, lá longe os barcos embalsados, aqueles que ninguém ama, quer...
Geometria, equações trigonométricas com odor a poesia
Possível
E no entanto o amor é uma noite escura, sombria, habitada pelo medo da paixão, uma rua, uma avenida... e embriagados transeuntes olhando monstras desertas, as insinuações acomodadas do dia, sentado, de pé... correndo,
Escrevo palavras para não morrer, e o amor é uma noite escura, imagens, retratos, e... e quadros desconexos,
Avenida,
Sem sentido,
Correndo
Possível?
Correndo sobre as tempestades de areia, e acordo sobre a imensidão do impossível, dos amargos lábios do poema,
Palavras,
Mortas... encaixotadas nos teus lábios...


(…)


(texto de ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2015


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Orvalho de ossos


Porto, 27 de Janeiro de 2015


Não te oiço
olho os pássaros suspensos nas árvores
e imagino-te um poema em construção
não te oiço
mas sinto o ranger do teu corpo
como um comboio descontrolado
triste...
tão triste que não sabe o significado da dor
tão triste... que se aprisiona no silêncio de um longínquo corredor
tens nos olhos a noite estampada
e não existem estrelas nas tuas mãos...
nem luar no teu sorriso
não te oiço
invento horas num relógio imaginário
os dias
as manhãs
tudo não passa de um sonho
e não te oiço
meu querido
porque imagino-me nos teus braços
passeando as ruas de Luanda
víamos os barcos
e as sanzalas...
sem que eu percebesse o que era a morte.


Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O encontro


O frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas de desejo, António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos como se de um reza se tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe suspenso nos ombros um fino silêncio de noite, imaginava vãos de escada em cada esquina, desenhava na geada pequenos quadrados, depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,
Um cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes se abraçaram a ele
E ele?
Incrédulo,
Vocês. Aqui?
Sim, pá, nós aqui,
António florescia, António corria calçada abaixo até ao rio, sorria... e regressava,
Não,
Não acredito que os meus irmãos estejam aqui, comigo, só nós,
Não,
Um cigarro, tem lume? Que não, que não,
Vocês aqui...
Meus Deus, tanta solidão, frio, fome...,
Foste tu que quiseste, ou não?
E António fulminava o irmão Miguel com as pálpebras inchadas,
Eu é que quis...!
Quase como lâminas afiadas, depois, o acordar da cidade, os primeiros automóveis do dia, depois os últimos bêbados da noite, e depois
Não, não acredito,
Os Primeiros cheiros de Lisboa,
O fumo argamassou todas as palavras... Meus Deus, vocês aqui...


(…)


(Texto ficção)
25/01/2015
Francisco Luís Fontinha – Alijó

Viajante secreto – o homem sombreado

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O desejo cansado do solstício envenenado
das palavras o ranger da porta sem habitantes
que a noite comeu
o desejado corpo nos pindéricos rochedos de papel
voando sobre a cidade dos machimbombos
o entardecer não regressa nunca
o viajante secreto enlatado num caixote em madeira
o homem sombreado dos alicerces de prata
afogado num pedaço de terra...
hoje
hoje não vi o mar
nem os barcos de esferovite construídos por crianças junto à ribeira...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 26 de Janeiro de 2015


domingo, 25 de janeiro de 2015

Poemas escritos debaixo da embriaguez


Nunca soube o que era o amor, acreditava nas gaivotas em papel da minha infância, recordo o triciclo enferrujado, o boneco estúpido que apelidei de “chapelhudo”..., que parvalhão apelidava o seu fiel amigo de “chapelhudo”, eu, claro,
As palavras misturados entre orgasmos e flores, gemidos cirílicos suspensos nas andorinhas em flor,
Eu?
Nunca,
O amor,
Poemas escritos debaixo da embriaguez
Freguês?
Nem uma modinha habita na minha algibeira, e o amor sossegado debaixo de uma mangueira, crescia, brincava e...
Nunca,
E embrulhava-se na timidez de um novo dia, e lentamente, os meus ossos alimentados pelos sulcos solitários da noite, a barriga crescia-lhe, é menino? Menina?
Freguês?
Eu, simulador de voo quando as estrelas dormem, e habita na minha algibeira uma película fina de desejo,
O que é o desejo...!
Não
Nunca soube o que era o amor,
Não pai, não pode ser,
A vida é viver, um dia, dois dias, um quatro de dia..., percebes?
VIVER...
E amar?
Não sei, meu pai, não... sei.

(…)


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Janeiro de 2015

O suicídio do amor


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Trazíamos no corpo as feridas da luz,
havia silêncio nos teus olhos
e na pedra fulminante da paixão,
tínhamos nas estrelas o cansaço das palavras
roubadas do jardim sem coração,
desenhávamos o amor na areia fria da insónia,
como se houvessem lençóis de prata nos teus ombros...
equações,
geometria invisível galgando a ardósia da tarde,
e sabíamos que o suicídio do amor
aconteceria um dia,
como acorrentadas mãos a uma caneta,
uma corda em lágrimas imaginada pelo abstracto objecto das arcadas envergonhadas,
as rochas frias que alimentavam o desassossego do poema,
e nos teus braços...
as sílabas que sentiam as tristes pontes metálicas
e os animais enraivecidos,
trazíamos no corpo as feridas da luz,
o poço da morte iluminado pela tua pele em pedaços de suor...
o desejo de ti quando lá fora alguém gritava pela alvorada,
e não tínhamos horário para navegar nas ondas secretas do mar,
vadiávamos a cidade,
comíamos sombras de nada...
e amávamos a literatura.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Janeiro de 2015

O invisível sorriso

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


esqueci as palavras e os peixes do teu Oceano,
rasguei o teu sorriso numa noite ventosa,
imaginei loucos passeando num arame invisível,
atravessando as montanhas da solidão,
esqueci os barcos,
as pessoas,
e os dias encaixotado no aquário,
fui pássaro desgovernado,
rio com braços de bambu,
fui nuvem,
fui caixão...
transportando ossos sem nome.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Janeiro de 2015


sábado, 24 de janeiro de 2015

Hoje... a noite...


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Não tenho tempo para te amar, meu amor, flutuo nas ombreiras madrugadas travestido de dor, navego no teu corpo como um transeunte mendigo, sem-abrigo, poeta insignificante das palavras sem nome, e navego
Amanhã vou chorar,
E navego no teu corpo esculpido...
E na solidão do abrigo, as espátulas da insónia, o sexo embriagado, os teus seios crismados na fogueira da mendicidade,
Hoje?
Hoje vou amar-te, prometo, meu amor...
Tínhamos na algibeira o fio invisível, a luz o desejo
Amanhã?
De penetrar em ti como uma agulha de aço, um poema clandestino das
ruas de Lisboa,
Amanhã?
O sol, a noite, o teu ventre pergaminho saboreando os meus dedos, e amanhã?
Tínhamos,
Na algibeira os candeeiros da saudades,
Os beijos,
A geometria do teu olhar inseminado na madrugada, os beijos fluem como amêndoas de chocolate em brasa...
O teu corpo,
Os teus lábios...

(…)


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Janeiro de2015

Círculos de papel


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


sentíamos o peso do clítoris amanhecer
suspenso nas telhas de vidro do silêncio
tínhamos nos braços o suor das palavras
consumidas pelo fogo da paixão
havia um abraço de luz
nas verdejantes lápides da solidão
e apenas um finíssimo orgasmo de iões brincavam nas pálpebras da escuridão
havia o medo de não regressar
estávamos em círculos de papel
quando do espelho corpo em evaporação
uma gaivota soletrava os gemidos da maré...
os barcos arrependidos choravam como choram as crianças em flor.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Janeiro de 2015

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Gladíolo adormecido


As imagens tridimensionais da fotografia a preto e branco
há no seu rosto a melancolia da cúbica equação
as sílabas castanhas do primeiro amor
a equação em dor
a metáfora linhagem do sangue embriagado
cintilando
amar
não tenho vida
sou um desabitado eterno apaixonado...
pelas palavras
sorrisos
e riscos

havia outro comboio para regressar aos teus lábios
perdi-o passivamente
como um gladíolo adormecido
derrubei muros invisíveis
palhotas de silencio
antes de nascer o dia
fui habitante da cidade dos mabecos
menino desenhando círculos
na húmida saudade
que só a chuva consegue abraçar...
e hoje
hoje pertenço às imagens tridimensionais da fotografia a preto e branco.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2015

Criança de porcelana

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


preciso das tuas asas para sorrir
vivi numa casa que apelidaram de “borboleta”
nada tinha
às janelas faltavam os vidros
os cobertores tinham partido em viagem silenciosa
e nunca mais regressaram
quando ia à janela via o mar
e a Baía de Luanda
não mar
não asas para sorrir...
a “borboleta” tinha medo das minhas mãos
e quando encostava a cabeça às frestas do gesso cansado
sentia um barco atrapalhado descendo as escadas
correndo
como uma gaivota
que nunca
nunca... quis entrar dentro da “borboleta”...
porque ela era filha de um papagaio imaginado pela criança de porcelana.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2015


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Infâmia


A maré que chora
e
grita
o esperma emancipado da poesia adormecida
a lágrima
o sorriso de uma ferida
a maré que inventa meninos ao amanhecer
o mar endurecido
o mar... o mar a morrer
a sílaba
e
grita
a palavra
na vagina do silêncio...
a maré
cinzenta
a ratazana dos armários de vidro
a infâmia quando acorda o mendigo.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2015

O que é o amor?

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


quando o corpo se despe das palavras
e os ossos se vestem de sombras
o amor existe ou não existe dentro de um copo com água...
o que é o amor?
uma palavra
um sorriso
ou... um transeunte olhar reflectido no espelho da madrugada
com asas em papel flamejante...

não respondas!
não pronuncies a minha alvorada
quando eu nunca tive uma alvorada só minha...
nada
nem cidades
nem nomes
abstracto este retracto esculpido no tronco da árvore dorida
que só o silêncio consegue abraçar,

e o amor
amar...
mar
barcos com lábios de azimute embriagado
a água que habita o vidro sulfuroso... dorme
inventa plataformas de vinil
e a corda transparente do desejo
enfestada de vírgulas e traços e riscos e... e pontos de interrogação...

O que é o amor?


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2015


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Poema de luz

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


a náusea palavra aprisionada nos lábios da dor
trazes nas veias o poema de luz
que dorme nas raízes do medo
o silêncio do teu sofrimento
folheando um livro sem imagens
melancólico
abstracto
a ilha
sem árvores
sem casas de pano
como tínhamos no Inverno
sem percebermos o que era a saudade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2015


Clandestino


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


não imagino a tua ausência
meu amor
sou o espelho do sofrimento
da tua luta
imagino as tuas lágrimas de silêncio
no pergaminho sono da clandestinidade
vais morrer
e nada tenho para escrever na tua lápide....


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Jardim de pedra


Esta paixão não arde
não termina
não existe,

e teima em suicidar-se...

ausente
sinto-me
árvore
pássaro doente
sinfonia
caixão...
melodia enfaixada nas palavras do Adeus
não pensa
e não quer
beijar o mar
como se o mar fosse os lábios de uma mulher
sem nome

e teima em suicidar-se...

o poema
o poeta
e todas as flores do jardim de pedra.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O cansaço da noite

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Encosto-me a este infeliz candeeiro
com sorriso de néones,
percebe-se do seu esqueleto enferrujado
o cansaço da noite,
há nele as carícias invisíveis do pavimento térreo
e das flores aprisionadas aos seus braços,
uma corda acorda
e passeia-se junto ao rio,
fumam-se cigarros nas sombreadas alvenarias de verniz
que o vento transportará para o silêncio dos teus seios,
uma lágrima de enxofre cai suavemente sobre o meu peito...
e amanhã não haverá alvorada,
encosto-me...
e escondo-me das tuas garras,
dos teus lábios com sabor a palavras,
e...
e encosto-me ao teu corpo
das canções à lareira,
hoje... hoje é Domingo?
não sei... meu amor!
uma corda acorda
e dança dentro da madrugada cinzenta
como uma balança...
velha e rabugenta.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2015


Poeta sem nome

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


desenhei o teu corpo com os meus dedos de acrílico desassossego
escrevi nos teus lábios o poema da morte
e a separação inventada que só a noite compreende
abri a janela e ao longe os pincelados cheiros do Tejo
que aos poucos se entranhavam em mim
como uma gabardina de aço
e sem eu o saber
tu... desmaiavas na tela do ciume
desenhei
e escrevi
o suicídio perfeito
do poeta sem nome...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2015


domingo, 18 de janeiro de 2015

A tela íngreme das tuas coxas

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Só desejo fazer amor contigo
e embrulhar-me nos teus lábios,
desenhar círculos verdes
nos teus seios,
mergulhar dentro de ti
como uma nuvem apaixonada,
uma cidade embriagada
pelo silêncio do sexo,
a beleza de um olhar na tela íngreme das tuas coxas,
e à janela, um copo de uísque abraçado aos meus sonhos,
princesa das montanhas orgânicas do abismo...
perdoai-me o meu desejo e a minha vergonha.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Janeiro de 2015


Diário


Não sabia que o teu corpo era um rochedo sem asas
que tinhas nas mãos um barco em papel
sem marinheiros
sem passageiros
depois
acreditei que habitavam no teu peito os beijos nocturnos dos pássaros
sem árvores
sem... sem marinheiros
a tua casa parecia uma cidade de mendigos
recheada de sombras
e cordas invisíveis
havia o ruído em pedacinhos gemidos dos teus lábios
o sangue que vagueava nas tuas veias...
dormindo como dormem os rios e as ribeiras
sem passageiros
depois...
sem árvores
despindo as montras iluminadas das ruas acrílicas
doentes
e cordas
acreditando nas tuas fáceis palavras
deitavas-te no meu cadáver ausente
encostavas a cabeça na ombreira da minha língua
e esperavas
sonâmbula
humilde
como uma porta apaixonada
fumávamos os cigarros dos jardins de vidro
entrelaçávamos as mãos no luar
e mais nada...
e esperávamos pelo acordar da manhã
trazias na garganta um petroleiro
sem gaivotas
a morte
os cães inquietos nos socalcos dos teus seios...
voavam como silêncios de nata
tenho pena do teu corpo de rochedo sem asas
a tília embriagada na sucata diurna da solidão
havia sempre no teu corpo
uma chama
claridade fundeada na lentidão dos círculos
que a madrugada desenhava no teu púbis
tínhamos a paixão na algibeira dos corvos
o negro
as paredes cintilantes do teu sorriso
voavam
alegremente em mim
como um diário sem rumo...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Janeiro de 2015

sábado, 17 de janeiro de 2015

Ausência do invisível


Absorvo o tesão intelectual,
tenho nas palavras o orgasmo da insignificância,
os momentos perdidos nos teus braços...
não me esperes hoje, meu amor,
sinto a maré do teu sémen voando entre personagens invisíveis...
e equações matemáticas,
apaixonadas,
pois claro,
e ainda,
o prometido automóvel do sorteio da TV,
e no entanto, sofres,
com a minha ausência.


Francisco Luís Fontinha
Sábado, 17 de Janeiro de 2015

Verdes olhos ao mar salgado

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Verdes olhos ao mar salgado,
esta jangada de silêncio
fundeada nos braços do regresso,
às palavras a simplicidade do corpo em evaporação,
as mãos pela calçada abaixo,
sem medo,
verdes olhos ao mar salgado,
triste vida de transeunte acorrentado
às pálpebras do sofrimento,
o eterno desejo em forma de crucifixo
suspenso no gesso cansado,
a alvenaria dos teus seios...
sentem o amanhecer,
e da rua,
os murmúrios dos candeeiros apagados,
perdidos,
sempre à espreita da madrugada,
não paro,
não tenho coragem de olhar a lua,
o transatlântico enferrujado
com janelas de cartão
e portas de amar,
aos teus lábios...
o beijo dos verdes olhos ao mar salgado.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Janeiro de 2015


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Grito

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Não me perguntes que horas são!
Não fazes ideia do papel gasto gritando o teu nome em vão...
os desenhos,
as sombras calcinadas no espelho do prazer,
o orgasmo envaidece-se e foge,
restam apenas algumas palavras de sémen,
as migalhas das torradas,
e algum café embriagado gatinhando sobre os nossos lençóis,



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015