O
frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas
de desejo, António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos
como se de um reza se tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe
suspenso nos ombros um fino silêncio de noite, imaginava vãos de
escada em cada esquina, desenhava na geada pequenos quadrados,
depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,
Um
cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes
se abraçaram a ele
E
ele?
Incrédulo,
Vocês.
Aqui?
Sim,
pá, nós aqui,
António
florescia, António corria calçada abaixo até ao rio, sorria... e
regressava,
Não,
Não
acredito que os meus irmãos estejam aqui, comigo, só nós,
Não,
Um
cigarro, tem lume? Que não, que não,
Vocês
aqui...
Meus
Deus, tanta solidão, frio, fome...,
Foste
tu que quiseste, ou não?
E
António fulminava o irmão Miguel com as pálpebras inchadas,
Eu é
que quis...!
Quase
como lâminas afiadas, depois, o acordar da cidade, os primeiros
automóveis do dia, depois os últimos bêbados da noite, e depois
Não,
não acredito,
Os
Primeiros cheiros de Lisboa,
O
fumo argamassou todas as palavras... Meus Deus, vocês aqui...
(…)
(Texto
ficção)
25/01/2015
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Sem comentários:
Enviar um comentário