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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Têm poesia, meu amor… poesia das tuas mãos

 (a todas e a todos que me foderam a cabeça durante este ano, desejo-lhes um ano de merda, aos outros, um feliz ano e que todos os seus sonhos se concretizem. E aos que falam de mim, que lhes nasça um pinheirinho no cu)

 

 

 

Levas-me ao céu, sabias?

Olha, do céu venho eu e não trago nada, subi, desci escadas, sentei-me junto à casa dos milagres, puxei de um cigarro, peguei num livro de Gogol e nem almas mortas eu vi.

Não digas isso, levas-me mesmo ao céu, e desenhas em mim o silêncio da noite, e quando estou nos teus braços sinto-me uma gaivota sem terra para poisar, um pedacinho de sono à espera do luar, ou uma gigantesca onde de mar, nos teus braços sou um barco sem vontade de aportar, pássaro, nos teus braços sou foguetão em direcção a Marte, Saturno, nos teus braços sou as luas de Júpiter, e se o tempo parasse, ou mesmo se a Terra deixasse de girar, eu, a tua eterna amada, era a criança mias feliz do Universo.

Olha, do céu venho eu e não trago nada. Nada. Tudo está caro, e até o dinheiro está caro. Por um grama de desejo, dois quilogramas de prazer e mil beijos, paguei uma noite de silêncio e dois orgasmos.

Ouvíamos Pink Floyd, lá fora, uma cascata de lágrimas que se desprendiam das tristes nuvens, poisava docemente sobre o pavimento faminto do sonho, as tuas mãos silenciadas pelas minhas, percorriam-me o corpo como se eu fosse uma lâmina de sono em pequenos voos sobre as alegres planícies de centeio que propositadamente deixamos ficar na fotografia da noite passada, e sim, levas-me ao céu, ergues-me sobre a meticulosa mediatriz do desejo, e quando sinto as tuas mãos no meu ventre sei que a manhã não acordará mais, como nunca mais acordaram as tílias do nosso jardim.

Escreves no meu corpo o mais belo poema de amor, e quando as tuas mãos em desejo abraçam o meu desejo, sim, levas-me ao céu, levas-me ao céu sem que eu precise de coisas complicadas, as simples chegam-me, não preciso de mais nada; tenho tudo.

Quero ser a tua tela, a tela onde deixas as tuas cores e os teus sonhos, a tela onde sei que habitam sóis, estrelas da tarde e todos os mares da tranquilidade, quero ser a música que ouves, ou o livro que pegas com todo o carinho, que manuseias sem qualquer pressa, e olha… podes fazer de mim o teu livro, o teu sono, podes…

Subi, desci escadas, sentei-me junto à casa dos milagres, puxei de um cigarro, peguei num livro de Gogol e nem almas mortas eu vi, ao menos se eu tivesse visto uma, uma só alma. E é do céu que eu venho e nada trago, nem consegui conversar com Deus, mas também para que eu queria conversar com Deus… eu que quase não converso com ninguém, eu que não acredito em Deus, no diabo, nas almas de Gogol, eu que apenas sou uma palavra disfarçada de insónia, que quase não come, que quase não voa… como posso eu, eu, levar-te ao céu?

Mas levas-me, meu querido.

Daqui oiço o silêncio, olho pela janela e vejo um gajo com uma bilha de gás às costas, como se a Terra esteja quase a deixar de ser Terra e passar a ser…

As tas mãos, meu amor?

Que têm as minhas mãos, minha querida?

Sei lá… têm tanta coisa…

Têm palavras, têm cor, têm todas as madrugadas e têm poesia…

Poesia, meu amor.

Poesia?

Poesia das tuas mãos…

 

 

 

 

 

Alijó, 30/12/2022

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Árvore feiticeira

 

Dentro de ti, a silenciada espada do amanhecer, os solstícios do desejo, quando acorda o luar e, sem o perceberes, lança-te às estonteantes palavras que semeio na alvorada. Uma das portas de entrada, aquela em que é visível a madrugada, voa sobre o infinito céu um pedacinho de nada, do outro lado do quintal, nas traseiras junto ao muro, habita o poço desprovido de luz, apenas mais um buraco, como tantos outros; negro.

O poço negro acorda. Ergue-se e, depois da sua higiene diária, toma o pequeno-almoço nas sombras da tela pintada na noite anterior. Do pincelado negro, observa-se na tela um pedacinho de saudade, não muita, mas percebe-se que está lá; assim seja, como todos os poemas excluídos do grande livro, como todas as abelhas, extintas na neblina.

Dentro de ti, as paisagens imaginadas numa noite sem sono, dentro de ti, todas as alvoradas que estão para nascer, que vão nascer, como se fossem mais um filho, como se fossem mais uma desculpa para adormecer.

E, no silêncio desejo, acorda o abraço. O ingreme corpo, que te pertence, saltitando entre a pilha de livros, junto à janela, e a árvore feiticeira, aquela onde brincam, durante a noite, os teus gemidos.

Desce sobre nós o infinito e, de régua e esquadro, o homem de bata branca traça pequenos triângulos, rectângulos e círculos de luz.

Um dia, um dia percebi que tinha sobre mim um círculo com olhos verdes; porquê verdes? Porque sim, apenas.

Era um calmeirão de um círculo, trazia na algibeira uma pequena caixa de fósforos e um cinzeiro, depois, muito mais tarde, percebi que ele era eu; hoje.

Vivíamos junto ao aeroporto. Logo que abri os olhos, depois de estar em casa, habituei-me a olhar os pássaros que logo em seguida poisavam numa pista inventada pelo sono: porque choras!

Dentro de ti, as pequenas parcelas sombreadas de um velho espantalho, sentado no meio do trigo e, quando vinham os pássaros, estes mesmos homens de trapos, vacilavam; não percebiam se deveriam disparar a espingarda do sono, ou correr em direcção a eles. Quase sempre, ou sempre, desistiam de viver.

Como desistem os gemidos que habitam na árvore feiticeira.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 04/02/2022

sábado, 17 de janeiro de 2015

Ausência do invisível


Absorvo o tesão intelectual,
tenho nas palavras o orgasmo da insignificância,
os momentos perdidos nos teus braços...
não me esperes hoje, meu amor,
sinto a maré do teu sémen voando entre personagens invisíveis...
e equações matemáticas,
apaixonadas,
pois claro,
e ainda,
o prometido automóvel do sorteio da TV,
e no entanto, sofres,
com a minha ausência.


Francisco Luís Fontinha
Sábado, 17 de Janeiro de 2015

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

fugitivo


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


deixei de sentir a tua fotografia nos meus lábios
vi uma lágrima de vácuo galgando o teu rosto
em direcção ao mar
pertencíamos aos peixes sem asas
brincando sobre a árvore das palavras
havia uma tempestade de aço
sobre as tuas pálpebras amordaçadas
e não sabíamos que o amor era um fugitivo
um cadastrado destino
um homem suspenso na gravata dos cintilantes amanheceres
um cadastrado destino
acorrentado à tua fotografia
sem tu o saberes
perdemos os abraços
os beijos
e as caricias defeituosas da madrugada
perdemos o orgasmo literário de uma janela em Belém
sem tu o saberes
a noite construída de infinitos gemidos
e nem tempo tivemos para desamarrar o luar que nos cercava...
o fugitivo amor
um cadastrado destino
a noite construída de mimos
e armadilhas
e simples ruínas
como o vómito da cidade depois de acordar...
sem tu o saberes
o exilado casaco de couro balançando na ponte da angústia
o cheiro sulfuroso das avenidas em flor...
e da tua fotografia que vivia alicerçada aos meus lábios...
nada
desapareceu na neblina
talvez cansada
talvez... talvez
talvez ensanguentada nas mãos em ciúme.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A colegial sem nome

foto de: A&M ART and Photos

A colegial sem nome que esconde os lábios na madrugada
o livro da colegial dorme como uma criança cansada
o cansaço inventa sorrisos nas mãos do desejo
e este
às vezes como um poço sem fundo
também como a colegial
sem nome
voa sobre as praças com candeeiros de prata,

Os lábios foram-me oferecidos pela madrugada
e a noite constrói-se nas lágrimas da chuva
dos orgasmos fingidos
que a colegial também esconde
não na madrugada
não no corredor da morte...
mas... mas esconde-os na alma do Diabo
como pétalas de insecto mergulhadas nas manhãs de Inverno,

A colegial é transparente
é imóvel
saboreia-se nas candeias que o destino lhe roubou
ela desconhece que a lareira existe apenas para a aquecer
despe-se para o espelho...
a colegial sem nome diz que quando for grande quer ser uma fotografia a preto-e-branco
perplexa
descobre o veneno dos zincos telhados que acordam a criança cansada...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2013