(desenho de
Francisco Luís Fontinha)
deixei de sentir a
tua fotografia nos meus lábios
vi uma lágrima de
vácuo galgando o teu rosto
em direcção ao mar
pertencíamos aos
peixes sem asas
brincando sobre a
árvore das palavras
havia uma tempestade
de aço
sobre as tuas
pálpebras amordaçadas
e não sabíamos que
o amor era um fugitivo
um cadastrado
destino
um homem suspenso na
gravata dos cintilantes amanheceres
um cadastrado
destino
acorrentado à tua
fotografia
sem tu o saberes
perdemos os abraços
os beijos
e as caricias
defeituosas da madrugada
perdemos o orgasmo
literário de uma janela em Belém
sem tu o saberes
a noite construída
de infinitos gemidos
e nem tempo tivemos
para desamarrar o luar que nos cercava...
o fugitivo amor
um cadastrado
destino
a noite construída
de mimos
e armadilhas
e simples ruínas
como o vómito da
cidade depois de acordar...
sem tu o saberes
o exilado casaco de
couro balançando na ponte da angústia
o cheiro sulfuroso
das avenidas em flor...
e da tua fotografia
que vivia alicerçada aos meus lábios...
nada
desapareceu na
neblina
talvez cansada
talvez... talvez
talvez ensanguentada
nas mãos em ciúme.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de
Janeiro de 2015
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