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domingo, 13 de novembro de 2022

Complexas equações matemáticas

 Podíamos falar de Deus

Podíamos falar dos teus lábios

Ou dos teus olhos

E entre Deus e os teus lábios e os teus olhos

Prefiro falar dos teus lábios e dos teus olhos

 

Porque Deus

Uma complexa equação matemática

Habita no quadriculado caderno das tuas mãos

E Deus

Esqueceu-se de mim

 

Não

Não estou revoltado

Porque Deus

Nunca conseguirá escrever nos teus lábios

Nem desenhar nos teus olhos

 

E eu

Que não sou Deus

Escrevo nos teus lábios

E desenho nos teus olhos

 

Equações de sono

Movimentos uniformes em direcção às tuas coxas de silêncio

E Deus

Nunca o poderá fazer

Porque Deus é uma complexa equação matemática

 

E como todas as complexas equações matemáticas

Não escrevem nos teus lábios

Não desenham nos teus olhos

Mas posso sempre invocar a morte

 

Uma fotografia sem nome

Que com o passar do tempo

Envelhece

Como todas as fotografias sem nome

Depois recebo uma carta tua

 

Onde te despedes do meu corpo

Como eu

Todas as noites

Me despeço do meu corpo

Até que acordo e sinto na mão

 

Todos os desejos do mar

E todas as fotografias sem nome

E vejo a extinção das estrelas que os teus olhos vomitavam

Silêncios de luz

E paixões de Outono

 

Se me ouves

Desenha-me nas tristes alvoradas

Das mãos de Deus

E sempre que o dia acordar

Inventa-me neste pequeno círculo com olhos verdes

 

E se Deus um dia te visitar

Não tenhas medo

Porque como todas as complexas equações matemáticas

São apenas complexas equações matemáticas

E hoje o mar está revoltado com o meu corpo em tristes cinzas de melancolia

 

 

 

 

 

 

Alijó, 13/11/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 17 de janeiro de 2015

Verdes olhos ao mar salgado

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Verdes olhos ao mar salgado,
esta jangada de silêncio
fundeada nos braços do regresso,
às palavras a simplicidade do corpo em evaporação,
as mãos pela calçada abaixo,
sem medo,
verdes olhos ao mar salgado,
triste vida de transeunte acorrentado
às pálpebras do sofrimento,
o eterno desejo em forma de crucifixo
suspenso no gesso cansado,
a alvenaria dos teus seios...
sentem o amanhecer,
e da rua,
os murmúrios dos candeeiros apagados,
perdidos,
sempre à espreita da madrugada,
não paro,
não tenho coragem de olhar a lua,
o transatlântico enferrujado
com janelas de cartão
e portas de amar,
aos teus lábios...
o beijo dos verdes olhos ao mar salgado.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Janeiro de 2015