sábado, 13 de dezembro de 2014

A minha rua


Esta rua que me alimenta
esta rua que me corre nas veias
esta rua sem sombras
esta rua sem candeias,
tem plátanos embalsamados
tem gaivotas em papel
esta rua que me alimenta
esta rua dos silêncios embriagados,
das plumas enfeitiçadas
esta rua construída com sorrisos de vento...
a minha rua tem casas
e... e flores em sofrimento,
esta rua das noitadas
e dos cinzentos olhares com odor a poesia
na minha rua habitam canções...
e palavras em agonia,
ai... esta rua dos alentos em evaporação
e das barcaças em melodia
esta rua é vida
... esta é a rua da fantasia,
sinto a sinfonia
das tristezas disfarçadas de madrugada
esta rua nunca está cansada
esta rua... esta é uma rua apaixonada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 13 de Dezembro de 2014

Sonolência saudade


Sou o carrasco adeus
da sonolência saudade
tenho nas mãos o papiro
e no olhar
uma espada invisível
não percebo porque choram as acácias
e os plátanos da minha terra
não percebo porque gritam os rochedos
que se alicerçaram aos meus braços...
se eu sou frágil
se eu... se eu sou um simples fio de luz
embrulhado numa lápide sombreada,

sou o carrasco adeus
da sonolência saudade,

sou o presente envenenado
que deambula pela cidade
sento-me junto ao rio
e imagino barcos em papel
que não regressam mais...
quem parte
quase sempre não regressa...
como os comboios de areia
esquecidos no mar
sou o carrasco adeus
da sonolência saudade
… sou a madrugada antes de acordar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 13 de Dezembro de 2014

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Palavras em vão


Estas palavras
são as tuas lágrimas
disfarçadas de anoitecer,
estas palavras
pertencem ao teu corpo
suspenso na escuridão,
estas palavras
são as tuas lágrimas...
entre as palavras... as tuas palavras de viver,
estas palavras
são as raízes do teu coração,
palavras, palavras... palavras em vão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A prisão do “Adeus”


Na prisão do “Adeus”
velhas flores são torturadas pelo silêncio da luz,
não existem janelas, não existe uma porta,
frestas,
ou... ou literatura,
lá fora, na rua,
ouvem-se os gritos dos pássaros e das abelhas,
há um subscrito negro onde alguém escreveu...
“para a morte”
as velhas flores não precisam de saber qual é o significado da morte,
elas são velhas flores torturadas...
pelo silêncio da luz,
(e a morte é o anoitecer de cheiros e sons
que só as velhas flores conseguem desenhar
nas húmidas paredes da prisão do “Adeus”)
na prisão do “Adeus”
velhas flores são torturadas pelo silêncio da luz,
não existem janelas, não existe uma porta,
frestas,
ou pedaço de areia com sabor a mar...
e as grades de ferro transformam-se em madrugada vestida de branco.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2014

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sou um estranho… no teu peito


Sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou a manhã na boca da insónia...
e perco-me nas tuas mãos
como um pássaro em sofrimento,
surpreendo-me com o teu olhar entranhado na escuridão,
pareces um cortinado invisível,
uma espingarda de papel...

sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou os rochedos incinerados
que escondem as tuas palavras,
e nunca tenho tempo para abrir a janela
do teu coração,
sou um emaranhado de estrelas
sem passado nem canseiras,

Sou um estranho...
… no teu peito,
visto-em de negro
e confundem-me com a noite,
sou o silêncio dos teus cabelos
e a cartilha dos teus medos...
sou a clarabóia do teu sorriso
quando lá fora...

gritam o meu nome em vão,
e eu, e eu nunca tive um nome,
uma pátria,
uma bandeira,

nem... nem paixão...

gritam o meu nome em vão,
e o teclado estranho
que habita no teu peito...
chora... chora como a bala de um canhão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2014

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Jardim de transeuntes


As manhãs são límpidas tristezas
Que só o vento consegue abraçar,
Parar no semáforo e olhar a rosa mais bela
Do jardim de transeuntes em movimento,
Tem no sorriso a bandeira da paixão
E nos lábios…
A doçura inseminada das palavras,
Do vermelho…
O verde verdade
Da esperança…
As manhãs são límpidas tristezas
Que vergam o frágil esqueleto da cidade,
Não tenho tempo para desenhar
A saudade na mão de quem me espera,
Não tenho vontade de abrir a janela
Deste quatro latas cansado,
As manhãs são límpidas tristezas
Que só o vento consegue abraçar,
São rosas transeuntes suspensas no mar…
São palavras ignoradas,
Sombras deitadas na estrada,
As manhãs
São… límpidas tristezas
Sem tempo para amar…



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 9 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

As pálpebras do poema


Não sabia que o teu nome
era apenas um nome
uma solitária palavra
sem alma
sem coração
sem... sem barcos ao anoitecer,

não sabia que o teu nome
era apenas um nome
sem corpo
sem sombra...

não sabia que o teu nome
era apenas um silêncio
sem imagens
sons
ou... ou fotografias
em constante mutação,

não sabia
não sabia que o teu nome
era apenas uma assombração
uma cidade esquelética voando no pôr-do-sol,

(Não sabia que o teu nome
era apenas um nome
uma solitária palavra)

como as pálpebras do poema antes de ser o poema,

não sabia que o teu nome
era apenas um nome
um soluço mastigado nas sílabas do Diabo...
não sabia
que... que o teu nome
é como a areia húmida
e o mar apaga todos os seus desenhos
como a morte... apaga todos os seus corpos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2014

Sinfonia da paixão


Sou um ignóbil cemitério de cinzas
recheado de falsos amanheceres
e de tristes madrugadas,
sou um pirata
que tem medo da noite,
sou... um pirata
de lata,
que chora e branca
nas sanzalas da infância,
sou uma sombra com odor a insónia
que não se cansa de lutar,
sou um ignóbil cemitério de cinzas,

prateadas
amadas
e cansadas...

arde a cidade do meu corpo
como plumas de sílabas enraivecidas,
tenho um livro na algibeira
sem palavras...
sem... sem brigas, sem... sem vírgulas,
sou um covarde vestido de luar
sou um desalmado com medo...
com medo de amar,

sou um ignóbil cemitério de cinzas
recheado de falsos amanheceres
e de tristes madrugadas,

sou a bailarina do desejo
em busca do sexo barato,
sou rua,
sou... sou lagarto,
sou... sou prostituta,
sou a âncora dos teus abraços
quando emerge em ti a sinfonia da paixão,
e todo o amor morre em tesão...

simplificado
os meus lábios inseminados pelos teus seios,
esta cidade que saltita no meu amor...
e me acolhe nos seus rochedos.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2014

domingo, 7 de dezembro de 2014

Gaivotas & Revoltas


Oiço as tuas palavras mastigadas em prazer,
sinto o círculo das tuas coxas alicerçado ao centro geométrico do meu corpo,
somos apenas um ponto perdido no espaço...
traçamos parábolas na cintilante areia do Mussulo,
e há na tua pele de neblina adormecida... flores,
gaivotas,
revoltas,
palavras gritadas em vão...
e gemidos rochedos ao pôr-do-sol,
não habito em ti... mas há barcos nas nossas veias,
cansados de amar...
marinheiros sem pátria,
toda a gente nos apedreja com silêncios
e medos desgovernados,
somos um ponto em movimento,
temos coordenadas,
e... massa,
a luz que nos ilumina esconde-se entre a chuva miudinha do fim de tarde,
e toda a gente,
em delírio...
chicoteando as nossas sombras,
em pedaços de fotografias embriagadas pelo suicídio...
oiço as tuas palavras mastigadas em prazer,
nesta cidade em ruínas...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 7 de Dezembro de 2014

Palavras sem paixão


Todos nós
somos anfíbios poetas,
algas de acariciar...
todos nós somos estrelas em solidão
nuvens por catalogar...
palavras sem paixão...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 7 de Dezembro de 2014

sábado, 6 de dezembro de 2014

O menino da preia-mar


Há feridas invisíveis no teu sorriso
que nem o espelho da saudade consegue desenhar,
pareces uma fotografia embalsamada,
sem alma...
esquecida num qualquer lugar,
há feridas invisíveis...
e crateras de espuma
que só as tuas pálpebras alicerçam às meticulosas palavras sem destino,

em ti o menino vestido de preia-mar
que corre e correr... e corre sem se cansar,
em ti e de ti...
as feridas entristecidas dos biombos nocturnos da vaidade,

esta cidade,
o teu corpo vagueando no sexo da paixão
como um cadáver enraivecido... fundeado no rio sombreado pelo incenso...
uma carta sem destino que te bate à porta,
um carro preguiçoso em tristes aventuras,
há feridas invisíveis no teu sorriso
que os cigarros da despedida alimentam,
mas... mas no teu olhar cessaram as lágrimas de chocolate,

em ti
e de ti...

a mentira do silêncio embrulhada na portaria
de pequeníssimos fios de luz,
o teu livro preferido que arde... enquanto se extingue o dia,
dentro dos teus seios,

em ti
e de ti...

o cansaço abstracto das montanhas de papel,
os rochedos envenenados pela noite dos marinheiros
e que tu não entendes os seus medos
e inquietações,
não me ouves... porque a minha voz pertence ao cacimbo
e do cacimbo emerge como uma lâmina de sangue,
em veias de nylon
ao deitar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Dezembro de 2014

Migalhas


As migalhas do teu suor
quando há nuvens com fome
e esqueletos sem nome...
os tentáculos da tua dor
mergulhados na calçada do Adeus
há uma rosa
há uma flor
que a noite alimenta
e não quer
na lareira da solidão
mas só as estrelas conseguem
desenhar na tua mão,
há uma paisagem sem amor
no sorriso de um caixão
há jardins embriagados esquecidos na escuridão
as migalhas do teu suor
quando há nuvens com fome
e esqueletos sem nome...
há ossos de papel voando na madrugada
que só o amanhecer consegue parar
há barcos infelizes
e há barcos apaixonados...
mas as migalhas do teu suor
são os alicerces da cidade dos pássaros aprisionados.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Dezembro de 2014

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Esqueletos e escuridão


Esta casa sem mão
completamente embriagada pelo fogo da madrugada
de janelas encerradas
com portas em latão,
Esta cabeça casa sem mão
o teu corpo em desalinho
dentro da lareira...
sem perceber que há um amanhecer colorido,
Este caixão
na casa sem mão
o celibato cansaço quando há na tarde esqueletos
e escuridão...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2014

Não consigo imaginar


Não consigo imaginar
As lágrimas de uma criança
Quando tem fome
Medo… que cresce sem infância
Não consigo imaginar
As lágrimas de um menino
Sozinho
Esquecido no centro da cidade
Não consigo imaginar…
A mãe do menino
Com medo
Com fome… sem nada para lhe dar.

Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2014

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Fotografia


A lentidão do desejo sonífero
que mergulha nos teus abraços sem sentido
o espelho da insignificância em pedaços de papel
que do vento regressam os fios loucos do teu cabelo iluminado pelo luar
trazem alegria
trazem poesia...
e tu pareces não perceber
que a lentidão do desejo
é uma digital fotografia
que arde
e que grita
a cada novo dia...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 4 de Novembro de 2014

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Vinhedos sombreados


Inventei-te numa noite de solidão,
escrevi o teu nome fictício numa muralha de xisto
que a tempestade tombou,
havia no teu olhar socalcos cansados
e vinhedos sombreados
de... paixão...

Havia na tua mão
uma carta por escrever,
e lá dentro...
um beijo,
um beijo desenhado no meu sorriso
com lágrimas de sofrer,

Inventei-te numa noite de solidão,
abri os cortinados e olhámos as estrelas de papel crepe...
havia luar nos teus cabelos
e neblina cinzenta nas tuas pálpebras de adormecidos rochedos,
e quando me abraçaste... a cidade morreu,
como morreram todas as cidades onde habitámos,

hoje, somos dois esqueletos vadios...
vagueando pela embriagada poesia de um louco,
dois pássaros sem árvores para poisar...
hoje, somos dois esqueletos vadios... sem Oceano para navegar,
e esperamos,
impacientemente que acorde a madrugada.

(e hoje... nada me apetece escrever...)



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2014

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Palavras de zarcão


Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão
que a manhã come enquanto dormes e finges sonhar
não permitas que entre o mar dentro de ti
e se alicerce aos teus desejos
não tenhas medo dos cortinados cinzentos
que a madrugada esconde nas pálpebras do vento
como quem morre
em sofrimento...

Não saboreies os meus lábios encaixotados
como pedaços de cacos e miudezas...
que galgaram o Oceano em direcção ao teu coração
não digas que a noite é uma mistura gasosa de iões e positrões...

Não
não saboreies os meus tentáculos de espuma
como se eu fosse uma cidade voando na preia-mar
não confundas o amor com a amizade
não
não confundas as palavras tontas com as palavras embriagadas
pelo cansaço
ou... ou pelo Inverno em desassossego,

Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão,

Inventa amanheceres de cartão
gaivotas de porcelana...
mas... não
não saboreies as milhas tristes palavras de zarcão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 2 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Equação de amor


Arcaico silêncio que finge adormecer nas minhas mãos
saboreiam o teu corpo pincelado de luz
como a névoa pálpebra de papel voando sob o púbis da madrugada
a mendicidade dos teus lábios quando o meu espelho se parte em teu sorriso
o verme poema enrolado nos teus seios...
em curvilíneos cansaços
traçando lágrimas de sémen no triângulo nocturno da insónia
da janela... o teu perfume em pequeníssimas lâminas de suor,

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

Arcaico silêncio que finge...
minhas mãos indiferentes à parábola do teu cabelo
se existes... é porque pertences às telas invisíveis do amanhecer
como andorinhas ancoradas às cordas da solidão
que ardem
e se evaporam...

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

E tu não percebes que há na matemática a paixão secreta do desejo
que na ardósia tarde junto ao rio
o teu corpo pertence-me na plenitude simetria de uma canção
que te revoltas
nos meus braços
como uma criança em distantes birras...
desenhando círculos na areia
ou... ou escrevendo sílabas numa rua sem saída.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2014

domingo, 30 de novembro de 2014

Em fuga – (o medo de arder)


A cidade a arder
quando os teus lábios se entranham nos meus lábios
alguém liga o interruptor da noite
e ela cai sobre os teus seios
como a tempestade
ou... ou a destruição do muro que nos aprisiona
e come a cidade a arder
e as ruas em fuga
para a outra margem
o barco escondido nas tuas mãos
nos leva
e desaparecemos na neblina,

A fogueira que há em ti
e faz do teu corpo o aço em delírio
o sino da aldeia nos acorda
e alimenta
e encanta...
como um jardim despido à nossa espera
tenho medo das tuas garras de serpente sem nome
envenenada pela paixão
a cidade a arder...
na cidade com fome
da cidade sem coração
da cidade dos rochedos em liberdade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 30 de Novembro de 2014

Candeias da saudade


Sinto as tuas mãos
meu marinheiro iletrado
ensanguentadas
poisadas nos meus ombros de xisto
o rio se entranha nas minhas veias
no meu peito socalcos se embriagam
e sentem
o peso da despedida,

a lentidão da esperança
mergulhada no lixo poético do meu cansaço
e há mulheres tão lindas... esperando um abraço,

e há mulheres tão lindas... esperando um beijo
e sinto
as tuas mãos meu marinheiro iletrado
quando as candeias da saudade acordam
e fingem
que hoje é dia dos tentáculos de sal
das palavras enxertadas de insónia
e meu querido...
as minhas palavras são a febre que alimentam as hélices do corpo em cio
e do clitóris da estória...
sinto as tuas mãos...
meu querido!




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 30 de Novembro de 2014